O 6º REBE – Rabi Yossef Yitschac – Rebe Rayátz  
     
 

Rabi Yossef Yitschac Schneersonh –
Rebe Rayátz

Conhecido também como "O Rebe Anterior"
Filho único do Rebe Rashab e sogro do Rebe
12 de Tamuz, 5640 (1880) - 10 de Shevat, 5710 (1950)

Os Primeiros Anos
Intercessão em Prol dos Judeus da Rússia
O Czar, a KGB, etc.
Lidando Com as Autoridades Comunistas
Irrompe a Segunda Guerra
Chega aos Estados Unidos
O homem que rompeu a Cortina de Ferro (PDF)
Diário do Rebe – O Báal Teshuvá
Genealogia
Links no site

 




Os Primeiros Anos

Rabi Sholom DovBer, o quinto líder do crescente Movimento Chabad, estava sempre ocupado com o crescente número de encontros públicos, conferências e importantes convocações rabínicas aos quais tinha de comparecer. O desfile interminável de delegações chassídicas, pessoas em busca de conselhos e orientação, a necessidade de supervisionar e instruir seus seguidores, além de sua necessidade pessoal de estudos bíblicos e chassídicos, aumentavam cada vez mais seus dias de trabalho, que já se alongavam do início da manhã até tarde da noite.

Ele resolveu designar um secretário pessoal para aliviá-lo de parte do seu pesado fardo. Sua escolha recaiu no seu filho de quinze anos, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn. Nascido a 12 de Tamuz de 5640 (1880) em Lubavitch, na Rússia, o jovem já provara sua capacidade no campo dos estudos, e era reconhecido como um brilhante erudito. Ele em breve provaria ser também um competente administrador, com enorme talento para atividades comunitárias e cívicas.

Em 5655 (1895), o jovem Rabino participou da grande conferência de líderes religiosos e leigos em Kovno, e novamente no ano seguinte em Vilna.

No dia 13 de Elul de 5657 (1897), aos dezessete anos, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn casou-se com Nehamah Dinah, filha de Rabi Abraham Schneersohn, um homem importante de grande erudição e religiosidade (e neta do Tsêmach Tsêdec).

Durante a semana de festividades que se seguiu à cerimônia de casamento, Rabi Sholom DovBer anunciou a fundação do famoso seminário Yeshivá Tomchei Temimim, e no ano seguinte nomeou seu filho como diretor executivo. Sob a hábil direção de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, e orientado pelo seu pai sempre atento, a Yeshivá Lubavitch floresceu e desenvolveu-se em muitos seminários em toda a Rússia.

As duas primeiras décadas do século vinte foram para testar ao máximo a ilimitada energia, zelo e capacidade do jovem rabino. Pode-se somente fazer uma breve menção dos eventos mais importantes contidos naqueles vinte anos.

Como parte dos extenuantes esforços feitos para melhorar o status econômico dos judeus na Rússia, Yossef Yitschac Schneersohn foi incumbido pelo pai de conduzir uma intensa campanha para o estabelecimento de uma indústria têxtil em Dubrovna.

Esta campanha, em 5661 (1901), levou Rabi Schneersohn a Vilna, Lodz e Koenigsberg. Ele obteve a cooperação de rabinos importantes e de famosos filantropos, os irmãos Jacob e Eliezer Poliakoff, e a tecelagem foi realmente aberta, com cerca de 2.000 empregados judeus.

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Intercessão em Prol dos Judeus da Rússia

Já conhecemos a situação difícil dos judeus sob o regime czarista e como os Rebes de Lubavitch intercederam continuamente em prol de seus irmãos, tanto com o Governo como com o Tribunal. Rabi Yossef Yitschac Schneersohn aceitou muitas dessas missões e viajava freqüentemente para S. Petersburgo e Moscou.

Quando a Guerra Russo-Japonesa irrompeu no Leste em 5664 (1904), Rabi Yossef Yitschac Schneersohn tornou-se ativo na campanha iniciada por seu pai para prover os soldados judeus na Frente Leste com matsot para Pêssach.

Na confusão que se formou no desenrolar daquela guerra, uma nova onda de pogroms varreu os Assentamentos Judaicos. Rabi Yossef Yitschac Schneersohn foi enviado pelo pai à Alemanha e Holanda, e conseguiu obter a intercessão de importantes homens de estado em prol dos judeus da Rússia.

No ano 5668 (1908), ele participou novamente na convocação rabínica em Vilna, No ano seguinte, foi à Alemanha para reunir-se com líderes judeus locais. Na volta, ele tomou parte nos preparativos para a convocação rabínica de 5670 (1910).

Suas atividades públicas enérgicas e abrangentes, sua vigilante defesa dos direitos dos judeus russos e sua luta constante contra as autoridade locais e centrais despertaram a inimizade do regime czarista da época.

Entre os anos de 5662 e 5671 (1902-1911), Rabi Schneersohn foi preso em Moscou e S. Petersburgo em quatro ocasiões. Como as investigações do Governo nada descobrissem de ilícito em suas atividades, ele foi libertado todas as vezes com uma severa advertência.

Estes incidentes não detiveram Rabi Schneersohn de continuar sua obra, mas o estimularam a esforços ainda maiores. Nos anos de 5677 (1917) e 5678 (1918) ele novamente tomou parte na assembléia de Rabinos e leigos em Moscou e Kharkov.

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O Czar, a KGB, etc.

O corpo físico de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, sexto Rebe de Lubavitch, foi encarcerado na infame Prisão Spalerno, porém seu espírito indomável continuou completamente livre.
Apesar das severas torturas físicas e psicológicas a ele infligidas pelos cruéis e rudes carcereiros, ele jamais vacilou na sua crença em D'us e na sua devoção ao Judaísmo.

Em 15 de Sivan, após uma noite interminável de tortura, ele exigiu que lhe entregassem seus tefilin. "Esqueça!" riram os torturadores. "Jamais os receberá enquanto estiver aqui!"

"Nesse caso, declaro que vou entrar em greve de fome. Até que me entreguem meus tefilin, não vou comer nem beber nada, e os prisioneiros da minha cela serão testemunhas do meu jejum."

O Rebe ficou na cela escura rezando em voz alta, enquanto seus companheiros de cela permaneciam num silêncio respeitoso.

Nem o ambiente assustador nem as coisas profanas gritadas pelos guardas conseguiam permear as profundas meditações do Rebe.

O Rebe continuou sua greve de fome durante os dois dias e noites seguintes. Às dez horas daquela noite foi levado para um interrogatório. Havia três interrogadores: dois judeus – Lulov e Nachmanson – e um não-judeu, Dachtriov. A sala era grande e as paredes de mármore alinhavam-se tubos grandes que permitiam aos agentes da GPU na sala adjacente ouvir e transcrever o interrogatório.

Quando o Rebe entrou na sala, voltou-se aos seus interrogadores e disse:
"Esta é a primeira vez que entro numa sala e nem uma única pessoa se levanta do seu lugar!"
"Você sabe onde está?" perguntaram a ele.
"Claro. Sei que este é um lugar onde NÃO é preciso colocar uma mezuzá. Existem outros locais assim, como por exemplo, um estábulo e um banheiro."

O Rebe recusou-se a ficar intimidado e declarou furioso: "Vocês não têm o direito de acusar-me! Devolvam meus objetos!"

Porém eles começaram a ler as acusações contra o Rebe.

Enfrentar as forças reacionárias da URSS; contra-revolução; exercer influência sobre judeus russos; divulgar a religião; corresponder-se com estrangeiros e passar informação sobre a União Soviética, etc.

O Rebe explicou que ele não impunha sua vontade sobre ninguém; a Chassidut influencia pelo exemplo, não pela força ou poder.

Cento e oitenta anos antes, seu ancestral, Rabi Shneur Zalman, tinha sido forçado a explicar os dogmas da Chassidut aos interrogadores do Czar; agora Rabi Yossef Yitschac tinha de fazer o mesmo aos interrogadores soviéticos.

O Rebe respondeu a todas as acusações, e então lançou palavras duras a Lulov, dizendo: "Escute. Talvez você pense que vai dar início a um novo caso Beilis [a infame acusação de libelo de sangue], mas lembre-se como aquela tentativa falhou." O Rebe continuou a refutar dessa maneira todas as palavras deles.

Naquele momento, Nachmanson entrou na sala e relatou o seguinte caso: "Lulov, você sabia que meus pais não tinham filhos até que foram pedir uma bênção ao Rebe de Lubavitch? Este é o homem, bem aqui… e eu sou o filho que nasceu." Os interrogadores riram desbragadamente pela ironia.

O interrogatório durou a noite toda.
Ao final, Lulov explodiu furioso: "Mais 24 horas e você será fuzilado!" Esta era uma possibilidade real naquela época.

Sofrendo dores lancinantes pelas surras que tinha recebido, o Rebe continuou sua greve de fome até sexta-feira, quando seus tefilin e livros lhe foram devolvidos.

Naquela hora, o Rebe anunciou que comeria apenas alimentos trazidos de sua casa. Naquele Shabat, recebeu três chalot inteiras assadas em casa (um exemplo do novo tratamento que passaria a receber).

O guarda que anteriormente tinha sido tão cruel, agora saía de seu caminho para acomodar o Rebe. Como o Rebe tinha pedido, o guarda batia à sua porta para indicar a hora da prece noturna, e na conclusão daquele Shabat, o Rebe recebeu dois fósforos para a santidade do Shabat e a semana mundana.

Em 12 de Tamuz, Rebe Yossef Yitschac foi libertado da prisão e da morte certa.
Treze anos depois, o Rebe chegou aos Estados Unidos. Sua chegada assinalou o início de uma nova era no Judaísmo americano. Tinha-se presumido que a Torá jamais poderia florescer na América como tinha feito na Europa, mas com seu famoso pronunciamento "A América não é diferente", o Rebe.

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Lidando Com as Autoridades Comunistas


Com o falecimento de seu pai em 2 de Nissan de 5680 (1920), Rabi Yossef Yitschac Schneersohn foi convidado por todo o mundo Chabad a aceitar a liderança do Movimento e tornar-se o próximo Rebe de Lubavitch.

Naquela época as condições tinham mudado bastante. Como resultado da Guerra e da Revolução de Outubro, a Rússia estava em constante conflito interno. Como sempre, os judeus eram quem mais sofria.

Naqueles dias, Rabi Schneersohn viu-se praticamente sozinho, enfrentando uma tarefa que exigia um esforço sobre-humano – a reabilitação da vida comunitária e religiosa dos judeus na Rússia.
Ele enfrentou sua luta em duas frentes, a material e a religiosa. Os judeus russos tinham sido reduzidos à mais abjeta pobreza e sofrimento, e o futuro do Judaísmo tradicional era ameaçado pela política atéia da Yevsektzia (o ramo judaico do Partido Comunista Soviético, responsável pelas atividades anti-judaicas. Posteriormente foi dissolvido pelo Governo Soviético).

Durante sua luta solitária pela preservação do Judaísmo tradicional na Rússia, Rabi Yossef Y. Schneersohn percebeu que um novo país teria de superar a Rússia como grande centro de Torá. Portanto, ele fundou um Seminário Talmúdico Lubavitch (yeshivá) em Varsóvia, em 5681 (1921), e ali continuou sua obra. A yeshivá Lubavitch na Polônia, como sua similar na Rússia, desenvolveu-se rapidamente num sistema completo de seminários, e centenas de estudantes foram matriculados em suas várias filiais.

Enquanto isso, Rabi Yossef Y. Schneersohn conduzia corajosamente sua obra na Rússia, fundando e mantendo seminários, escolas de Torá e outras instituições religiosas.

Naquela época Rabi Schneersohn tinha sua sede principal em Rostov sobre o Don, mas devido a acusações caluniosas foi preciso mudar-se dali. Ele fixou residência em Leningrado (S. Petersburgo), de onde continuou incansavelmente a dirigir suas atividades. Ele organizou um comitê especial para ajudar artesãos judeus e operários que desejavam observar o Shabat, e enviou professores, pregadores e outros representantes às mais remotas comunidades judaicas na Rússia, para fortalecer sua vida religiosa.

Percebendo a necessidade de organizar comunidades Chabad fora da Rússia, o Rebe formou a Agudat Chassidei Chabad dos Estados Unidos e Canadá, mantendo contato regular com seus seguidores no Novo Mundo.

Em 5687 (1927), o Rebe fundou o seminário Lubavitch no Usbequistão, uma província remota da Rússia. Sua posição contra aqueles que desejavam minar a religião judaica tornou-se ainda mais arriscada. A Yevsektzia estava determinada a contê-lo, e recorreu até mesmo a intimidação e tortura mental.

“Certa manhã, quando o Rebe estava observando yahrzeit pelo seu pai, três membros da Yevsektzia entraram na sinagoga, armados de revólveres, para prendê-lo. Calmamente, o Rebe terminou suas preces e seguiu-os.

Enfrentando um conselho de homens armados e determinados a tudo, o Rebe novamente reafirmou que não desistiria de suas atividades religiosas, sem temer ameaças. Quando um dos agentes apontou um revólver para ele, dizendo: “Este brinquedinho já fez muitos homens mudarem de idéia”, o Rebe respondeu calmamente: “Este brinquedinho pode intimidar somente o homem que tem muitas paixões e deuses, e apenas um mundo – este mundo. Como eu tenho somente um D’us e dois mundos, não estou impressionado pelo seu brinquedinho.”

Sua luta chegou ao auge no verão de 5687 (1927), quando o Rebe foi preso e colocado em confinamento solitário na famosa prisão Spalerno em Leningrado. Ele foi sentenciado à morte, mas a intervenção oportuna de estadistas estrangeiros salvou sua vida. Em vez de ser executado, ele foi banido para Kostroma, nos Urais, por três anos.

Cedendo à pressão feita por aqueles estadistas, as autoridades decidiram libertar o Rebe. Ele foi informado desta decisão no dia de seu aniversário, 12 de Tamuz. No dia seguinte ele teve permissão de partir e se alojar na aldeia de Malachovka, nas vizinhanças de Moscou. Outra intervenção resultou na permissão para o Rebe deixar a Rússia e ir para Riga, na Latvia. No dia seguinte à Festa de Sucot, juntamente com sua família e sua biblioteca histórica e valiosa, o Rebe partiu para Riga.

Sem fazer uma pausa para descansar, ele retomou suas atividades, estabelecendo um seminário talmúdico em Riga, Em 5688 e 5689 (1928/29), ele assegurou a provisão de matsot para os judeus da Rússia.

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Irrompe a Segunda Guerra

No ano de 5689 (1929), o Rebe visitou Israel e em seguida foi aos Estados Unidos. Em Nova York ele teve uma recepção cívica, e lhe foi concedida liberdade na cidade. Centenas de rabinos e líderes leigos deram as boas vindas ao Rebe, e pediram entrevistas pessoais com ele. Durante esta visita, ele foi recebido pelo Presidente Hoover na Casa Branca.

Voltando à Europa, ele continuou suas diversas atividades, mas para ter melhores facilidades em seu trabalho ele fixou residência em Varsóvia em 5694 (1934). As atividades dos seminários Lubavitch na Polônia tinham agora recebido um impulso considerável. O seminário central em Varsóvia e na vizinha Otwosk atraíam centenas de eruditos de todas as partes da Polônia e de outros países, incluindo os Estados Unidos. Dois anos depois, o Rebe fixou residência em Otwosk e passou a dirigir suas atividades daquele local.

Quando irrompeu a Segunda Guerra Mundial em setembro de 1939 (5699), o Rebe recusou muitas oportunidades de deixar o inferno de Varsóvia até que tivesse cuidado de seus seminários e feito todo o possível para ajudar seus irmãos sofredores da capital polonesa. Ele permaneceu lá durante todo o terrível cerco e bombardeio a Varsóvia e sua capitulação final aos invasores nazistas.

Mesmo durante esta época, ele conseguiu evacuar muitos de seus alunos para regiões mais seguras, e todos os meninos americanos que estavam estudando no seminário Lubavitch em Otwosk foram transportados em segurança de volta para os Estados Unidos.

Sua coragem e temeridade (ele teve uma sucá construída e cumpriu a mitsvá de “habitar na sucá” no auge do bombardeio) foram uma fonte de inspiração para a sofrida comunidade judaica de Varsóvia.

Com a cooperação do Departamento de Estado em Washington, os amigos e seguidores do Rebe trabalharam incansavelmente para organizar sua viagem de Varsóvia a Nova York. Finalmente, o Rebe e sua família receberam uma salvo-conduto para Berlim e dali para Riga na Latvia, que ainda era neutra na ocasião. Uma vez lá, o Rebe continuou a auxiliar os numerosos refugiados que tinham conseguido escapar da Polônia para a Lituânia e Latvia.

Em 9 de Adar Sheni de 5700 (19 de março de 1940), o Rebe chegou a Nova York no S.S.
Drottningholm. Foi entusiasticamente recebido por milhares de seguidores e muitos representantes de diversas organizações, bem como autoridades civis.

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Chegada aos Estados Unidos


1923 chega aos EUA

Quando o Rebe chegou aos Estados Unidos, não perdeu tempo para estabelecer um fundo de ajuda para os judeus do outro lado do oceano. Entrou em contato com funcionários do governo e dos departamentos de Estado, fazendo enorme pressão para validar o máximo possível de vistos, à medida que a guerra ficava mais perigosa e mais portões de fuga se fechavam. Ele trabalhou com organizações humanitárias para tentar conseguir ajuda para muitos dos campos, antes que se soubesse sobre o genocídio em massa.

Uma ênfase especial foi dada aos judeus nos Países Bálticos e na União Soviética, de onde milhões fugiam em busca de segurança. Estes refugiados não tinham alimentos, um local para viver ou para onde fugir. O governo russo os mandava executar ou deportar para a Sibéria, onde milhões estavam desaparecendo. O Rebe enviava secretamente pacotes de alimentos e itens religiosos para estes judeus através de operações subterrâneas, enquanto fazia campanhas oficiais juntamente com outros rabinos proeminentes e organizações judaicas para receber permissão oficial e acesso à União Soviética durante o tempo de duração da Guerra.

O Rebe respondeu a muitos pedidos de campos de refugiados judeus durante a Guerra, enviando-lhes artigos religiosos vitais, bem como representantes para encorajá-los a não desistir, dizendo que haveria um futuro para a nação judaica.

A década que se passara entre a primeira e a segunda visitas do Rebe aos estados Unidos tinha deixado cicatrizes em sua saúde. Porém, embora ele estivesse minado pelo sofrimento e martírio, Rabi Schneersohn devotou-se à nova missão de transformar os Estados Unidos num centro vibrante de estudo de Torá.


Imprensa divulga sua chegada

O Seminário Talmúdico Central “Tomchei Temimim Lubavitch” logo foi fundado, e tornou-se o precursor de muitos seminários e escolas em todos os Estados Unidos. O Rebe continuou seus esforços em prol de seus irmãos afligidos pela guerra do além-mar, e ao mesmo tempo concentrou-se na sua intenção de provocar um renascimento religioso nos Estados Unidos.
Após uma breve estadia em Nova York, o Rebe transferiu a sede para o Brooklyn. A primeira edição da revista mensal Hakriah Vehakdusha fez sua aparição como órgão oficial da Agudat Chassidei Chabad Mundial e continuou durante toda a Guerra.

Durante os dez anos de sua vida nos Estados Unidos, a influência e as realizações de Rabi Yossef Yitschac Schneersohn no fortalecimento do Judaísmo, na melhoria da educação judaica, e na criação de instituições de estudos judaicos foram tão notáveis, que o Judaísmo e o estudo de Torá nos Estados Unidos, e posteriormente em outros países, assumiram uma feição totalmente diferente.

Além do estabelecimento das yeshivot Tomchei Temimim Lubavitch nos Estados Unidos e Canadá, o Rebe fundou Machne Israel, Merkot L’Inyonei Chinuch, Beth Rivkah e Beth Sarah, escolas para meninas, e a Editora Kehot, dedicada à publicação de livros no verdadeiro espírito e tradição de Torá.

Foram criados também os grupos Mesibot Shabat para meninos e meninas, para tornar crianças e adolescentes judeus conscientes de seu grande legado espiritual. Encontrar-se todo Shabat numa atmosfera agradável, ser liderados por uma pessoa na mesma faixa etária e de seu próprio bairro, imbui estas crianças com os fundamentos da religião judaica, da santidade do Shabat e de outros preceitos.

Ao final da Guerra em 5705 (1945), Rabi Yossef Y. Schneersohn estabeleceu sua Organização para Ajuda e Reabilitação a Refugiados, Ezras Oleitim Vesidurom, com um escritório regional em Paris. Muitos refugiados foram ajudados por este escritório a emigrar para Israel. Em 5708 (1948), o Rebe estabeleceu a aldeia Chabad (Kfar Chabad) perto de Tel Aviv.

Pouco antes de sua morte, Rabi Yossef Y. Schneersohn voltou sua atenção às necessidades do Judaísmo na África do Norte. Foi lançado o alicerce para uma rede de instituições educacionais, incluindo seminários, escolas primárias para meninos e meninas, das quais todas continuaram a prosperar sob o nome “Oholei Yossef Yitschac Lubavitch”.

Uma rede semelhante de instituições foi estabelecida em Israel, e escolas de tempo integral em Melbourne, Austrália.

Muitos líderes comunitários e trabalhadores judeus se inspiraram com o sucesso da obra de Rabi Yossef Y. Schneersohn e redobraram seus próprios esforços. Novas organizações e instituições brotaram no campo da educação judaica e observância do Shabat, e sua influência está se fazendo sentir cada vez mais. Pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que este homem notável foi um dos pilares do Judaísmo mundial em nossa geração.

Rabi Yossef Y. Schneersohn faleceu no Shabat 10 de Shevat de 5710 (1950), após trinta anos de esforços infatigáveis como líder de Chabad e dos judeus de todo o mundo.

A notícia de sua morte entristeceu judeus em todos os países, que prantearam com uma sensação de perda pessoal o falecimento de um líder tão inspirador, iminente e devotado. No entanto, eles encontraram consolo ao saber que seu espírito vive na corrente inquebrável de liderança Chabad; e que as instituições que ele fundou continuam a florescer e se expandir sob a liderança de seu sucessor, o atual Rebe e líder do Movimento Chabad, Rabi Menachem Mendel Schneerson, de abençoada memória.

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Diário do Rebe – O Báal Teshuvá
(Do diário de Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch)

Nota:
Em 1936, o sexto Rebe de Lubavitch, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn (1880-1950), entregou estes trechos de seu diário (em hebraico no original) para publicação em Hatamim, um periódico chassídico publicado em Varsóvia na década de 1930. A tradução aqui apresentada foi feita a partir de Links in the Chassidc Legacy, por Shimon Neubort, numa versão condensada (a versão completa pode ser acessada em nossa biblioteca online).

Petersburgo, Terça-feira, 11 de Shevat (30 de janeiro, 1912); Hotel Estari, Apto. 527, 11:30.
Acabei de chegar pelo expresso Paris-Petersburgo. Este trem viaja pelas costas francesa e italiana, fazendo o seguinte itinerário: paris, Marselha, Nice, Monte Carlo, Menton, Ventimiglia, Gênova, Frankfurt, Berlim, Konigsberg, Kovna, Petersburgo. Passei cerca de duas horas na cidade, e informei todos os meus associados que eu tinha chegado. No entanto, estou exausto da viagem, e também quero registar tudo que ocorreu em minha viagem. Portanto, disse a eles que somente os encontraria hoje às 9 horas da noite.

Viajei pelo trem expresso num compartimento privado. Na verdade, todas as cabines neste trem são individuais. O trem deixou Paris às 11:30 da noite de sábado. Chegando à minha cabina, de nº 3, descobri que estava mobiliada com mesa, cadeira e cama, além de um lavatório compartilhado com o quarto vizinho. Havia também uma lâmpada forte, o que me levou a acreditar que seria possível escrever. Mas quando o trem começou a se mover, vi que a velocidade tornava impossível escrever mais que alguns rabiscos, e mesmo esses com alguma dificuldade.

A viagem ao longo da costa foi linda; os sentimentos evocados por este cenário glorioso realmente merecem ser registrados por inteiro. Infelizmente, o tempo não permite isso, e descreverei apenas minhas impressões sobre um encontro casual com um chassid da família M., qie por vários motivos tinha passado por uma progressiva descida espiritual (que possamos ser poupados desse destino). Porém a Divina Providência arrumou as coisas para que ele não continuasse perdido, e pudesse se reabilitar…

Às seis horas, entrei no carro-restaurante para tomar uma xícara de chá enquanto lia diversas cartas urgentes que me foram passadas por meu pai em Menton, À uma das mesas estava um judeu idoso apreciando seu jantar, que incluía carne e vinho (não-casher). Assim que entrei no restaurante, o homem colocou o chapéu e me abordou, estendendo a mão numa saudação de Shalom Aleichem! “Você é o filho do Rebe Maharash1, ou talvez seu filho?” perguntou ele.
Meu primeiro impulso foi não responder a ele, pois eu estava muito aborrecido com esta pessoa que não comia comida casher. Mas como sua expressão facial era muito simpática, logo mudei de idéia. “Sim” – respondi – “sou o neto do Rebe Maharash de Lubavitch.”

Ao ouvir minha resposta, seu rosto ficou rubro e seus olhos se encheram de lágrimas. Sem dizer mais nada, ele voltou à sua mesa, chamou o garçom e pagou a conta, partindo sem terminar a refeição.

Às onze da noite, o trem chegou a Frankfurt, onde ficou durante algum tempo. Desci do trem para tomar ar fresco, e percebi que aquele homem tinha feito o mesmo, e estava caminhando em minha direção. Ele aproximou-se e disse que gostaria de me contar uma história interessante, Porém, ele foi rapidamente dominado pela emoção, e lágrimas rolaram de seus olhos, deixando-o incapaz de falar. Enquanto isso, chegou a hora da partida do trem, Embarquei em meu vagão, e ele entrou no seu.

Cedinho na manhã seguinte chegamos a Berlim. Quando desci do trem para tomar ar, o homem abordou-me outra vez e desejou-me “Bom dia”, reclamando que fora incapaz de dormir a noite inteira.

Quando o trem deixou Berlim, levantei-me para rezar; não houvera oportunidade de fazê-lo mais cedo, pois ainda era antes da alvorada. Antes que eu terminasse minhas preces, o cabineiro entrou no compartimento, informando que um dos passageiros desejava visitar-me. Disse a ele que pedisse desculpas pela demora, e que informasse ao homem que eu o receberia dali a meia hora.
Na hora aprazada o homem entrou e desculpou-se por me perturbar. “Estou tão dominado pela emoção que não consigo falar” – disse ele. Começou a chorar abertamente, e isso provocou grande impressão em mim. O homem aparentava ter mais de cinqüenta anos, e vestia-se de maneira elegante. Não usava barba, apenas um bigode curvo, num estilo enfeitado.

De repente, sem uma palavra, cobriu o rosto com as mãos e explodiu em lágrimas amargas.

Fiquei confuso com esta cena, não sabendo se tentava confortá-lo ou se o deixava chorar. Enquanto eu o observava, seu corpo inteiro tremia, Pensei que talvez ele tivesse ficado louco, ou que alguma outra desgraça lhe acontecera. Incapaz de suportar aquilo por mais tempo, comecei a consolá-lo. Passados alguns instante, ele começou a falar em voz trêmula: “Faça-me um favor espiritual, empreste-me seu tefilin.”

Mal pude acreditar naquilo que ouvia: ele estava me pedindo para emprestar-lhe meu tefilin! Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele exclamou: “Ach, mein G’t! Nem sei quantos anos faz que não coloco tefilin” – e chorava sem parar.

Abri minha mala, tirei meus tefilin Rashi, e os entreguei a ele, dizendo que poderia rezar em minha cabina. Saí, deixando que abrisse seu coração a D’us sem ser perturbado. Ele continuou rezando por um longo tempo. Quando terminou, entrei no compartimento e ele devolveu os tefilin com profusos agradecimentos, pedindo emprestado meu sidur. Presumi que ele quisesse recitar alguns capítulos de Tehilim, e usar o sidur para as preces vespertinas.

Ele então voltou para seu próprio vagão, sem dizer-me seu nome. Era evidente que o homem tinha passado por alguma reviravolta interior, mas eu continuava sem saber quem era esta pessoa ou o que lhe acontecera.

Às três horas da tarde, o cabineiro me procurou novamente, relatando que o mesmo passageiro que me visitara naquela manhã queria ver-me novamente. Consenti, e ele entrou na minha cabina. Seu rosto estava pálido, com uma expressão muito triste. Numa voz fraca, como se estivesse doente, começou a falar.

A história de Y. M.
Meu nome é Y.M, sou filho do Reb Leib M., nascido na cidade de S., e fui um dos chassidim de seu avô. Durante minha infância e adolescência, estudei na cheder, e aprendi com os melhores melamdim, que eram chassidim e homens de bem. Os chassidim se reuniam na casa de meu pai em todas as ocasiões festivas, e eu era, obviamente, o primeiro a comparecer.

Por fim, no entanto, meu pai mudou-se de S. para Petersburgo. É verdade que mesmo ali o seu estilo de vida estava baseado nos princípios da Torá e Chassidismo, e mesmo lá os chassidim se reuniam regularmente em sua casa. No entanto, fui influenciado pelos filhos de nossos vizinhos, e comecei a seguir os seus caminhos.

Um dia, quase no fim do verão, enquanto eu estava na nossa casa de veraneio num subúrbio de Petersburgo, Papai disse-me que quando ele viajasse a Lubavitch para o próximo Rosh Hashaná, ele me levaria consigo. Eu contava cerca de quinze anos, e já tinha copiado o estilo de vida de meus jovens vizinhos, que não tinham restrições à satisfação de seus apetites. Obviamente, não gostei dos planos de Papai para levar-me a Lubavitch.

Quando chegou o dia, meu pai foi para Lubavitch com dois outros chassidim, levando-me com ele. Cerca de dez outras pessoas, membros de famílias conhecidas, juntaram-se a nós. Outros cinco ou seis, cujas despesas eram pagas pelos abastados irmãos K., também viajaram a Lubavitch.
Contemplar o rosto de seu avô, o Rebe, causou uma impressão indescritível em mim. Quando entre no aposento junto com meu pai para a yechidut, ele deu-me uma bênção explícita para sucesso em tudo que eu fizesse. Porém ele me advertiu para lembrar-me que era um judeu, pois a companhia que eu tinha então era um tanto arriscada.

As impressões de minha viagem a Lubavitch afetaram-me por muito tempo depois de nossa volta a Petersburgo, e deixei de associar-me aos filhos de nossos vizinhos não-judeus. Para grande surpresa deles, abstive-me até de freqüentar suas festas e jogos durante os feriados deles, como tinha feito nos anos anteriores. Esta situação continuou até o verão seguinte, quando fomos novamente para nossa residência de férias.

Quando estávamos em nossa casa de veraneio, eu já era um estudante do Ensino Médio, e pouco a pouco comecei a associar-me com meus jovens contemporâneos. Alguns deles eram instruídos e tinham qualidades refinadas, ao passo que outros buscavam uma vida de prazeres. Porém todos eles me influenciaram no sentido de me afastar do estilo de vida seguido em nossa casa.

Em certa ocasião cheguei em casa tarde, e deixei de rezar as preces Minchá e Maariv. De outra vez, como tinha pressa para juntar-me a meus amigos na piscina, deixei de rezar a prece Shacharit. Numa terceira ocasião, fiz uma refeição com eles. Assim, no decorrer dos meses de verão, abandonei o estilo religioso de vida ao qual tinha sido acostumado na casa de meus pais.
Quando voltamos da residência de verão para nossa casa na cidade, Papai começou a preparar-se para sua viagem anual de Rosh Hashaná a Lubavitch, mas eu permaneci em casa. Lembro-me como se fosse hoje: quando fui à sinagoga durante Rosh Hashaná e Yom Kipur, aquilo tudo parecia estrangeiro para mim.

Durante a estação de férias dos não-judeus, passei todo meu tempo com eles, raramente indo para casa. Certa vez, quando fui para casa, foi para ver minha mãe e pedir-lhe algumas centenas de rublos. Por duas vezes, visitei o escritório de meu pai para pedir ao caixa da forma algum dinheiro de que precisava.

Quando terminou a estação dos feriados e voltei para casa, Papai repreendeu-me e disse que estava pronto a dar-me todo o dinheiro que eu precisasse. Porém ele exigia que eu cortasse a amizade com meus jovens companheiros, os estudantes delinqüentes. Repliquei que já estava crescido, e viveria como fosse de meu agrado, pois meus pais não tinham direito de interferir com minha vida privada.

Para demonstrar minha independência, saí da casa de meus pais, e encontrei um apartamento para mim. Assim, passaram os próximos seis anos. Terminei o Colegial, casei-me e levei a vida totalmente secular que tinha escolhido para mim, quase esquecendo por completo meu estilo de vida anterior na casa dos meus pais.

A Influência do Maharash
Naquela época, foi fundada uma associação chamada “Os Jovens Progressistas”. O objetivo desta sociedade era patrocinar a causa dos oprimidos, prover seu bem-estar e fornecer-lhes apoio material e moral. A maior parte dos esforços da associação estava devotada à situação econômica dos nossos irmãos judeus.

Um dia, em dezembro de 1881, encontrei um conhecido e ele me disse que o Rebe estava visitando Petersburgo, e tinha ido falar com vários oficiais do governo para discutir a situação econômica do povo judeu. Como membro dos Jovens Progressistas, fiquei curioso para descobrir o que seu avô tinha conseguido em prol da comunidade. Tendo isso em mente, fui ao Hotel Serapinsky na Rua Zablakonsky, onde seu avô estava hospedado. Quando cheguei ao hotel, encontrei vários chassidim, a quem eu não via por muitos anos, desde que deixara a casa de meu pai. Eles ficaram contentes ao ver-me; pela primeira vez, percebi como é caloroso o afeto que os chassidim têm uns pelos outros, mesmo por aqueles que se afastaram.

Lembrei-me então do conflito que tinha ocorrido na casa de Papai nos primeiros dias depois que saí para viver em meu apartamento na Rua Pushkinsky com alguns de meus jovens amigos. Perante meus olhos, vi novamente como se estivesse acontecendo naquele exato momento dois dos amigos de meu pai, que tinham me visitado para tentar levar-me de volta à casa de meus pais. Fui conquistado pela sua demonstração de carinho por Papai e comigo, pois eles tinham derramado lágrimas de simpatia pelo desgosto de meu pai.

Eu não tinha dúvidas de que no decorrer dos anos eles tinham falado a meu respeito de tempos em tempos, e tinham perguntado sobre meu estilo de vida. Estou certo de que saber como eu vivia deve ter lhes causado sofrimento. Apesar disso, quando me viram na entrada do hotel, saudaram-me de braços abertos e calorosos cumprimentos, como se eu fosse um deles.

Os chassidim possuem uma qualidade única: amor pelo seu semelhante, sem considerações de posição ou nível. Não faz diferença para eles se alguém é pobre ou rico, jovem ou idoso. Esta qualidade os coloca no mais elevado nível ético. Mais de uma vez, nós jovens não religiosos conversamos entre nós sobre esta qualidade do amor pelo próximo, e como deveríamos seguir o exemplo dos chassidim a esse respeito.

O encontro no Hotel Serapinsky afetou-me bastante, e deixou-me com um cálido sentimento impossível de descrever com palavras. Enquanto eu ficava ali sonhando acordado com os dias passados, fui despertado pelo súbito som de vozes gritando: Baruch A-donai hamvorach leolam vaed. A princípio eu não sabia o que era aquilo, mas logo percebi que eles tinham começado a rezar a prece noturna, Maariv.

Seu avô, o Rebe, saiu de seu aposento e recitou o Kadish, porque aquele dia era o yahrtzeit do Alter Rebe2, autor do Tanya.

Demorou três dias para eu me acalmar das emoções despertadas por aquele encontro com meus velhos conhecidos dos dias de minha juventude. Fiquei ainda mais perturbado pelo Kadish que ouvi seu avô recitar, pois aquilo me lembrou do tempo que eu passara em Lubavitch.

Em 4 de janeiro de 1882, nós, membros dos Jovens Progressistas, descobrimos que o Ministro dos Assuntos Internos tinha insinuado aos governadores de Kiev, Cherigov e outros territórios para que instigassem pogroms contra os judeus. Sabíamos que s eu avô tinha vindo a Petersburgo para tratar de assuntos comunitários. O motivo principal da sua viagem eram os pogroms que tinham começado nas regiões do sul, e a onda de anti-semitismo que na ocasião varria o país. Sabíamos também da grande influência deles nos círculos governamentais, e que ele tinha exigido explicitamente que os cidadãos judeus do país fossem protegidos. Portanto, decidimos enviar diversos membros nossos para trocarem informações com seu avô.

No entanto, sabíamos também que seu avô era reservado, e que não era muito chegado à juventude secular (para ser mais preciso, ele a desprezava). Portanto, era bem provável que ele se recusasse a nos ouvir, ou exigisse que revelássemos as fontes de nossa informação, e que lhe apresentássemos provas convincentes sobre o fato. Como eu era um membro importante do Partido, e chefe da Divisão de Assuntos Judaicos, fui escolhido para visitar seu avô na companhia de outro membro, e a revelar-lhe aquilo que sabíamos.

Quando chegamos ao Hotel Serapinsky, não conseguimos pensar numa desculpa para pedir uma audiência com seu avô. Não era possível revelar o motivo de nossa visita adiantadamente, e tínhamos certeza de que não seríamos admitidos sem declarar nosso objetivo. No entanto, sabíamos que seu avô tinha o hábito de dar uma caminhada diária às 9 e meia todas as manhãs. Portanto, decidimos esperar por ele no saguão; quando ele passasse, nós entregaríamos um bilhete dizendo que tínhamos um assunto importante a discutir com ele, e queríamos marcar uma audiência.

Na manhã seguinte, chegamos ao hotel às 9 horas. Para nosso desapontamento, descobrimos que ele não daria seu passeio naquele dia, pois dois funcionários do Ministério dos Assuntos Internos tinha um encontro com ele às onze. Ficamos contentes ao saber desse encontro, pois seu avô poderia fazer bom uso da nossa informação quando falasse com eles. Mas ainda não havia um plano para obter nossa audiência.

Enquanto ali estávamos um tanto perplexos, a porta abriu-se de súbito e seu avô apareceu, acompanhado pelo rico chassid N. H. Eles começaram a andar de um lado para outro no corredor do hotel, enquanto meus colegas e eu permanecíamos num canto afastado. Poucos momentos depois, seu avô ergueu os olhos, e notou-me. Embora ele não tivesse me visto por oito anos (e não preciso dizer que minha aparência tinha mudado muito naquele tempo todo), ele reconheceu-me de imediato. Perguntou como eu ia, e se eu ainda me lembrava do discurso chassídico que tinha ouvido em Lubavitch.

Fiquei tão surpreso, que fui incapaz de dizer uma palavra. O ver minha confusão, meu companheiro disse: “temos um assunto urgente para discutir com o senhor, Rebe.” Seu avô voltou ao quarto, e instruiu o chassid N. H. a nos convidar para entrar.

Jamais esquecerei aquele olhar penetrante que seu avô pousou sobre nós; este tipo de olhar deixa uma impressão duradoura. A partir daquele dia, meu companheiro e eu nos tornamos ajudantes do seu avô em seus esforços para abrandar os sentimentos anti-semitas que estavam se espalhando entre os funcionários do governo e ministros.

Há muito mais que eu poderia dizer sobre as atividades de seu avô durante o mês que ele passou em Petersburgo; através de sua grande influência, ele conseguiu suprimir vários decretos perversos contra os judeus.

Um dia, quando eu estava visitando seu avô, ele virou-se para mim de repente e perguntou: “Quanto tempo faz que você deixou de colocar tefilin? Não tente negar! Não preciso que alguém me informe sobre isso. Posso dizer tudo que você tem feito, e exatamente quando e onde o fez.”
Enquanto eu me sentava perplexo, tentando pensar em alguma resposta, ele começou a recitar, incidente por incidente, tudo que tinha me acontecido, e as etapas pelas quais eu gradualmente abandonara a religião judaica. Fiquei como que atoleimado, a cabeça girando, o coração palpitando, e rios de lágrimas rolaram de meus olhos.

Durante os dias que se seguiram, fiquei muito envergonhado para aparecer perante seu avô, mas por fim recebi um bilhete de N. H. informando que seu avô tinha perguntado por mim diversas vezes. Fui então visitá-lo, e ela incumbiu-me de desempenhar diversas tarefas junto ao serviço público.

A conversa anterior com seu avô teve tamanho efeito sobre mim que na manhã seguinte consegui um par de tefilin (eu deixara os meus na casa de Papai quando me mudei de lá). Mantendo isso em segredo da minha família, comecei a colocar tefilin e a rezar, e evitei comer algo além de pão e chá.

Na primeira semana inventei várias desculpas, dizendo estar doente e incapaz de comer. Mas finalmente me vi forçado a revelar à minha mulher a minha decisão de não comer mais carne não-casher. Com grande dificuldade, consegui ater-me a uma dieta casher, e a adotar alguns outros aspectos do modo judaico de viver.

Um convite do Rebe
O seu avô deixou Petersburgo e voltou para casa, para Lubavitch. Depois daquilo comecei a levar uma vida mais religiosa, mas não visitei meu pai, e ele não sabia das mudanças no meu estilo de vida. Em meados de abril mudei-me para nossa casa de veraneio nos arredores de Petersburgo, com minha mulher e meu filho mais velho.

Alguns dias depois, meu pai foi visitar-me; esta visita surpreendeu-me, pois eu não sabia por que ele tinha ido. Para minha grande surpresa, Papai entregou-me uma carta que lhe fora escrita pelo seu avô. A carta continha um convite para o casamento de um dos seus filhos; nas margens, ele tinha incluído algumas linhas para mim, indicando que eu também estava convidado para o casamento. “Você precisava se dar ao trabalho de vir pessoalmente?” – disse eu a Papai. “Poderia ter mandado um de seus funcionários entregá-la.”

“Quando o santo Rebe escreve uma carta para alguém, nós chassidim não a confiamos a funcionários; uma missão como essa deve ser cumprida prontamente e com precisão” – replicou Papai. “Não imagino por quê, ou em recompensa de quais boas ações você teve o privilégio de receber cumprimentos do Rebe, e um convite para comparecer à sua alegre celebração. Mas como o Rebe realmente lhe escreveu, quem ousaria questionar o rei? Recebi a carta hoje, e vim imediatamente cumprir minha missão. Tendo feito isso, agora me despeço!” concluiu ele, preparando-se para voltar para casa.

Foi preciso muito esforço de minha parte e de minha mulher para convencê-lo a permanecer durante algumas horas, para que pudéssemos tomar um chá e dar uma caminhada pelo bosque. Papai contou-me sobre o casamento do filho do Rebe, e por minha vez relatei a ele os pontos altos de minhas conversas com o Rebe naquela ocasião em que ele visitara Petersburgo. Descrevi a maneira zelosa e obstinada com que ele ousara se dirigir aos funcionários do governo, exigindo justiça e igualdade em termos inequívocos.

Já estávamos conversando por três horas quando de repente ouvi alguém falar Shalom Aleichem! E vi o chassid Z. R. caminhando ao nosso encontro. Ele cumprimentou Papai calorosamente, e também saudou-me com um grande sorriso. Recitou então a bênção de Shehechiyanu3. Papai e eu o olhamos surpresos, pois não sabíamos por que ele tinha recitado a bênção.

“Por que estão me olhando desse jeito?” perguntou Z. R. “Quando o vi, meu querido Leible, passeando com seu filho Y. e tendo sabido pelo açougueiro Avraham que durante os últimos seis meses Y. tem somente comprado carne dele, fiquei feliz por vê-lo, e portanto recitei a bênção Shehechiyanu.”

Nós três continuamos caminhando em silêncio por algum tempo, até que Z. R. disse que muitos chassidim estavam planejando viajar até Lubavitch para a festa do casamento. Finalmente, voltamos à minha casa, onde minha mulher tinha preparado o jantar. Papai queria voltar à cidade, mas o chassid insistiu que ele comesse alguma coisa conosco. Ele também nos fez companhia para o jantar; comemos com muita alegria, e desde então, a paz foi restaurada entre meu pai e
eu…

Meu Último Encontro Com o Maharash
Em 6 de agosto de 1882, o comitê central dos Jovens Progressistas encontrou-se para discutir o baixo status econômico dos judeus nas cidades meridionais. Ficou decidido que um emissário especial seria enviado a seu avô para informá-lo da situação e pedir sua ajuda; esta missão me foi designada.

O rosto de seu avô parecia pálido quando ele me cumprimentou. “Acabei de vir do Ohel4”, disse ele. “meu pai, o Rebe Tsemach Tsedec, diz que a situação não é tão grave, mas que mesmo assim devemos tomar alguma providência.”

Ele passou mais de uma hora comigo, delineando um programa de trabalho para eu cumprir – as pessoas que eu deveria encontrar, e o que discutir com cada uma. Ele solicitou que eu fizesse breves anotações, mas quando viu que eu estava escrevendo em russo, disse: “Esta não é uma boa idéia! Hoje em dia, os jovens precisam ser mais cuidadosos, pois há muitos olhos acompanhando cada passo que você dá.”

Quando terminou de falar, ele escreveu duas cartas em russo: uma endereçada ao Professor B., e a outra para Lord Z. Ele pediu-me para corrigir a gramática para que o conteúdo não fosse mal interpretado, e então entregou-me as cartas.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, em seguida disse-me: “Quando Moshê ascendeu ao Alto para receber o segundo conjunto de Tábuas, o Eterno disse a ele: (Shemot 34:1): ‘Entalhe por si mesmo…’ Rashi interpreta isso como ‘O resíduo pertencerá a você.’5 Como todos sabem, os resíduos que sobram após a lapidação de pedras preciosas também são valiosos, e a pessoa pode se tornar rica com eles. Com isso, o Eterno nos ensinou uma lição na vida: se alguém está ocupado fazendo boas ações, deve ser recompensado por isso. Agora você está ocupado com o serviço comunitário, e também merece uma recompensa.”

Então ele começou a explicar-me o que isso significa em termos espirituais. “Quando afirmei que tinha acabado de chegar do Ohel, e que meu pai diz que a situação não é tão grave, percebi que você riu consigo mesmo. Ora, isso não foi porque você não acredita em assuntos espirituais; é porque está tão imerso no mundo material que perdeu toda a percepção dos temas espirituais.”
Seu avô continuou falando comigo por bastante tempo, e contou-me muitas histórias. Ao concluir, ele disse: “Tenha sempre em mente que a recompensa supera a punição. Quanto a Ishmael, que era uma pessoa incivilizada, o Midrash Rabah6 diz: ‘Se você atirar um galho no ar, ele voltará a seu lugar de origem.’ Isso se aplica muito mais a um chassid que é descendente de chassidim! Ele com certeza deve retornar a suas origens.

“Durante quanto tempo uma pessoa pode se afastar? Cinqüenta, ou talvez cinqüenta e cinco anos. Sangue quente e luxúria também tem limite. Lembre-se quem você é, e não se esqueça de onde veio. Que D’us cuide de você e lhe conceda boa sorte. Diga a seu pai que pretendo vê-lo em breve.”

Uma Busca na Estação Denenburg
Quando deixei sua presença, ali permaneci por uma hora e meia até que o trem para Vitebsk e Petersburg partisse da Estação Rudnia. Nesse intervalo, eu teria de viajar num coche de Lubavitch à Estação Rudnia. Cheguei à estação dez minutos mais cedo, o corpo doído pelo balanço da carruagem.

O bilheteiro recusou-se a me vender uma passagem para a viagem completa até Petersburgo. Ele alegou que não havia tempo suficiente para calcular a distância dali até Petersburgo e a tarifa exata para este percurso, além do tempo necessário para emitir o bilhete. Ele não estava habituado a calcular somas tão grandes, e quis vender-me uma passagem somente até Vitebsk. Com certeza o agente em Vitebsk sabia calcular somas maiores, e me venderia um bilhete até Petersburg.

“Daqui em Rudnia” – disse o agente – “ninguém viaja até Petersburgo, exceto o Lubavitcher Rebe. Em casos como esse, eles me notificam com vários dias de antecedência, e preparo a passagem. Quando ele chega, simplesmente preencho a data e carimbo a passagem.”

Chegando a Denenburg, desci do trem e entre no bar da estação para tomar uma xícara de chá. Descobri que a polícia estava inspecionando os documentos dos viajantes, e até revistava a bagagem e os bolsos de alguns deles. Montanhas de papéis estavam empilhadas sobre uma mesa, e diversos funcionários estavam lendo tudo aquilo.

Lembrei-me das palavras de seu avô sobre tomar as precauções necessárias, e comecei a pensar em maneiras de evitar a inspeção, ou pelo menos encontrar um cantinho insuspeito onde eu pudesse rasgar as duas cartas de seu avô, e minhas anotações sobre as atividades das quais ele tinha me incumbido. Porém um momento depois convenci-me de que deveria me comportar como um chassid veterano; fiquei confiante de que ele não me revistaria. Chamei o garçom e pedi-lhe para me trazer um copo de conhaque para colocar no meu chá.

Ainda faltavam duas horas para a partida do trem rumo a Petersburgo. Durante todo aquele tempo eles continuaram revistando os pertences e documentos dos viajantes, incluindo aqueles que estavam sentados às mesas. Os únicos que eles não abordaram foram os numerosos oficiais que usavam uniforme. Embora o policial passasse diversas vezes à minha frente, ele jamais me abordaram. Fiquei convencido de que aquilo deveria ser um milagre.

Quando tomei meu assento no trem, descobri que várias pessoas tinham sido presas; algumas enviadas à prisão Denenburg, ao passo que outras tinham sido meramente detidas para investigação. Ninguém sabia os motivos disso tudo, e nada descobri até chegar em Petersburgo, onde meus amigos já temiam que eu também tivesse sido preso.

Numa reunião secreta, relatei a meus colegas tudo que tinha sido sugerido pelo seu avô, e sua ordem do dia para melhorar a situação econômica de nossos irmãos judeus. Quando falei a eles sobre as duas cartas, e tudo aquilo que ocorrera em Denenburg, ficaram impressionados. As duas cartas ao Prof. B. e a Lord Z. abriram as portas dos altos funcionários do governo para mim. Em três semanas eu tinha completado todo o trabalho com sucesso total e inesperado. Tudo funcionou exatamente como seu avô tinha previsto.

“Durante quanto tempo uma pessoa pode ficar afastada?”
Quando vi meu pai depois de Rosh Hashaná, ele informou que tinha viajado a Lubavitch pouco depois do Shabat, mas o Rebe tinha estado doente quando ele chegou. Meu pai tinha conversado com ele brevemente por diversas vezes, mas a doença piorava dia a dia. Papai planejava retornar no dia seguinte a Yom Kipur para visitá-lo.

As tristes notícias sobre o falecimento de seu avô chegaram a Petersburgo na terça-feira7, dia 4 de setembro, e provocou uma tempestade em todos os segmentos do Judaísmo. Até os judeus não chassídicos e não religiosos lamentaram a perda deste grande homem. Nós, membros dos Jovens Progressistas, fizemos uma reunião onde também lamentamos o falecimento do grande príncipe dos judeus.

Permaneci sob o impacto da grande influência espiritual de seu avô por mais um ano. O comitê central do Partido Progressista foi desmantelado, e um Partido Revolucionário foi fundado em seu lugar. Eu não estava tão envolvido neste partido como estivera no outro. Porém meus sentimentos estavam com eles, e fiz contribuições financeiras conforme minhas posses, e dei um pouco de ajuda pessoal. Pouco a pouco, abandonei novamente o estilo religioso de vida, até que fui completamente assimilado e passei a comportar-me exatamente como um gentio.

Dia 27 de dezembro é meu aniversário; sempre celebro a data com meus amigos e conhecidos, promovendo uma grande festa num dos restaurantes sofisticados de Petersburgo. Porém durante os últimos cinco anos desde que minha mulher faleceu, meu círculo de amigos e minha fortuna cresceram. Decidi, portanto, começar a fazer a festa em um dos hotéis de descanso no exterior, e convidar todos meus amigos para viajarem comigo em busca de diversão.

Este ano escolhi Monte Carlo, depois Nice por alguns dias, e finalmente Paris. Meus amigos concordaram, e visitamos estes lugares. Terminado os festejos, meus amigos voltaram para casa, e eu permaneci em Paris mais alguns dias.

Anteontem, deixei Paris neste trem para voltar a Petersburgo. Ontem, quando estava no carro-restaurante, levantei os olhos e vi seu rosto; isso me lembrou da face de seu avô, exatamente como ele parecia na última vez em que o vi, Lembrei-me das palavras dele: “Se você jogar um galho no ar, ele voltará ao seu lugar de origem.”

Naquele mesmo ano, cheguei aos 55 anos de idade. A noite toda as palavras de seu avô ecoaram na minha mente: “Durante quanto tempo uma pessoa pode ficar afastada? Cinqüenta, ou talvez cinqüenta e cinco anos. Sangue quente e luxúria também tem limites. Lembre-se de quem é, e não se esqueça de onde cresceu.” Fui incapaz de pregar o olho. Hoje jejuei; nem um bocado de comida entrou em minha boca. Lamentei o estilo de vida que tinha levado até hoje.

Y. M. começou a soluçar profusamente, e foi com grande dificuldade que consegui acalmá-lo. Como ele estivera jejuando, e a hora de Maariv já tinha chegado, insisti com ele para que comesse alguma coisa. Mas ele se recusou, e continuou com a história.

O relato de Y. M. durou três horas (com alguns pequenos recessos). Antes de partirmos, ele disse: “Sem dúvida você desejará emprestar-me seu tefilin amanhã também. Quando chegar em casa, arrumarei para mim um par de tefilin no mesmo dia, e mudarei meu modo de ser. Serei um judeu fiel e farei como seu avô me ordenou. Sempre me lembrarei que sou judeu, e estarei consciente de minhas origens.”

Enquanto ele dizia essas palavras, percebi que estava dominado pela emoção.

Separamo-nos como amigos, e sua história continuou a me afetar durante muito tempo depois. Por quase trinta anos, de 5642 a 5672 (1882-1912), a chama Divina das palavras de meu avô tinham ficado ocultas no coração daquele homem, enquanto ele se banqueteava na imundície do prazer e da luxúria. Mas finalmente, Aquele que faz tudo acontecer provocou os eventos que culminaram daquela maneira. Através de um determinado acontecimento, o fogo Divino das palavras de tsadikim que vivem para sempre fizeram a centelha se transformar numa chama ardente, inspirando-o a retornar para D’us de todo o coração.

Como são maravilhosos os caminhos da Divina Providência! O Eterno, bendito seja, ordenou uma cadeia de eventos para apoiar aqueles que caíram, e emprestar uma mão amiga àqueles que se rebelaram, mostrando-lhes o caminho que devem seguir.

Está escrito:8 “O Eterno é justo, portanto Ele guia o perverso ao caminho correto. Comentando o versículo, o Midrash relata: “Por que Ele é bom? Porque Ele é justo. E por que Ele é justo? Porque Ele é bom.”

Quão numerosos são os Teus atos de bondade, ó Senhor! Ontem, ele comeu de um caldeirão de carne não-casher e se regalou com garrafas de vinho idólatra. Mas hoje ele está jejuando, e retornou a D’us. Enquanto atormenta seu corpo, ele reza para que daqui em diante ele mude o rumo de sua existência e viva como um fiel judeu.

Petersburgo, quarta-feira, 12 de Shevat, 5672 (31 de janeiro, 1912)
Às cinco horas, o sr. Y. M. telefonou-me. Eu não estava no quarto naquela hora. Ele deixou um recado para eu retornar o chamado. Liguei duas vezes para ele, mas não estava em casa.

Moscou, quinta-feira 13 de Shevat 5672 (1º de fevereiro, 1912)

Cerca de 5 horas da tarde, cheguei ao Hotel Bolshoi Sibirski, quarto 74. Onte às 9:30 da noite telefonei para o sr. Y. M. Ele ficou contente, e informou que na véspera tinha adquirido tefilin e talit, bem como um sidur, Chumash e Tehilim, que estava firme nos seus planos de mudar seu sistema de vida. Ele desejava continuar a conversa, mas eu disse que teria de viajar para Moscou no trem das onze, e ainda tinha muito a fazer antes disso.

Kissingen (Alemanha), terça-feira 23 de Menachem Av, 5672 (6 de agosto de 1912).
Hoje encontrei o sr. Y. M. pela primeira vez desde o encontro em Petersburgo há 6 meses. Cumprimentam-nos com muita alegria, e combinamos de nos encontrar novamente esta noite ou amanhã cedo.

Kisingen, quinta-feira 25 de Menachem Av, 5672 (8 de agosto, 1912).
Quarta-feira à uma hora o Rebe Stolliner visitou-me, e às quatro visitei Rebe Alexander. Portanto, só hoje pude encontrar o Sr. Y. M. Completei minhas rotinas terapêuticas bem cedo hoje, e das duas da tarde às oito da noite passeamos juntos, enquanto eu ouvia com interesse aquilo que ele tinha para dizer.

A essência de sua história é que quando ele voltou a Petersburgo, foi incapaz de tolerar a companhia dos amigos, e portanto decidiu viajar a Menton por alguns dias. Passou a Festa de Pêssach em Frankfurt, e depois voltou para sua casa em Petersburg por um mês. Os amigos perceberam que deveria ter acontecido alguma reviravolta interior com ele.

Depois, ele se mudou para a casa de veraneio, e então veio aqui para Kissingen, tendo chegado há duas semanas. Daqui ele pretende voltar para casa, e passar Tishrei em Frankfurt ou em Amsterdã.

Moscou, quinta-feira 14 de Tevêt, 5675 (31 de dezembro de 1914)
Hoje, enquanto caminhava pela Rua Nicholski, encontrei o Sr. Y. M. Ele ficou feliz ao ver-me e eu, por minha vez, também fiquei. Ele contou-me tudo sobre si mesmo; seus negócios estavam prosperando, e ele planejava mudar-se para outro país. Ainda não decidira qual país seria,, mas teria de ser um lugar onde pudesse ter uma vida religiosa sem obstáculos.

Rostov sobre o Don, terça-feira 22 de Tamuz, 5678 (2 julho 1918)
Hoje, o Sr. Z. Z. contou-me que tinha acabado de chegar de Petersburgo, onde o gerente do Banco Sibirski o informara que o Sr. Y. M. tinha se estabelecido em Amsterdã. Ele tinha conseguido transferir toda sua fortuna: dinheiro, papéis negociáveis, e certificados em ouro e jóias.

Berlim, quarta-feira 6 de Kislêv, 5688 (30 de novembro, 1927)
Hoje, quando eu estava sentado no saguão do hotel com meu genro Rashag9, um cavalheiro barbudo abordou-me e cumprimentou-me com grande júbilo. Ele ficou surpreso por eu não tê-lo reconhecido, mas mesmo quando olhei mais atentamente, ainda não descobri quem era.
“Não se lembra de quando viajamos juntos de Paris a Petersburgo?” perguntou ele. Naquele instante, toda a cena ocorrida antes voltou à minha mente.

“A única desculpa que posso dar é a mesma que os irmãos de Yossef tiveram por não reconhecê-lo”10, repliquei.
“Sim” – disse ele – “mas além da minha barba, todos os outros aspectos de minha vida também estão de acordo com aquilo que o tsadic, seu avô, exigiu de mim.” Ele contou-me tudo que lhe tinha acontecido e como se estabelecera em Amsterdã, onde agora levava um estilo de vida completamente religioso, sem obstáculos.

Nova York, quarta-feira, 17 de MarCheshvan, 5690 (20 novembro, 1929)

Hoje recebi a visita do Sr. C. K. de Amsterdã. Durante nossa conversa, ele informou-me que vários de nossos conhecidos de Petersburgo haviam mudado para lá, e ele falou em termos elogiosos do Sr. Y. M. Descreveu seus atos de caridade e seu apoio financeiro a eruditos de Torá.

Y. M. leva agora uma vida de riqueza e serenidade, numa grande propriedade que adquiriu ali. Também fundou uma sinagoga, onde vários minyonim (quorum de dez) rezam diariamente. Ele próprio comparece aos serviços de prece todas as manhãs, e com freqüência participa de Minchá e Maariv, e fica também para ouvir as lições de Torá estudadas entre Minchá e Maariv e depois de Maariv.

Varsóvia, quinta-feira, 17 de Tevêt (4 de janeiro de 1934)
Hoje fui informado pelo Sr. M. M. que Y. M. de Amsterdã tinha adoecido. Ele vai à sinagoga somente no Shabat, mas sua casa ainda está aberta para os eruditos de Torá visitarem. “Eu jamais teria imaginado que Y. M. pudesse mudar tão radicalmente” – disse M. M. “Lembro-me que em casa ficávamos relutantes até em pronunciar o nome dele por causa de suas atitudes incorretas. Mas agora, pode-se até conferir a ele o título de tsadic.”

Marienbad, quinta-feira 7 de Elul, 5695 (5 de setembro de 1935)
Hoje fui informado que durante o mês passado, Sivan, o Sr. Y. M. faleceu, após uma prolongada enfermidade. Que sua alma seja laçada com o laço da vida eterna.


Notas  
1 – R. Shmuel Schneersohn (1834-1882), quinto Rebe de Lubavitch.
2 – Rabi Shneur Zalman de Liadi (1745-1812), bisavô do Maharash e fundador do Chassidismo de Chabad.
3 – A bênção recitada em ocasiões alegres.
4 – O túmulo do pai do Maharash, o “Tsemach Tsedek”, que tinha falecido dezesseis anos antes.
5 – Um jogo de palavras: as palavras hebraicas para “entalhar” e “resíduo” possuem um radical em comum.
6 – Citado por Rashi em seu comentário sobre Bereshit 21:21.
7 – Em 1882. Este é aparentemente um erro de impressão; a data correta deveria ser 14 de setembro no Antigo Calendário então usado na Rússia, que corresponde a 26 de setembro no calendário Moderno. Esta data correspondia a 13 de Tishrei de 5643, a data de falecimento do Rebe Maharash.
8 – Tehilim 25:8.
9 – Rabi Shemaryahu Gurary, 1898-1989.
10 – Uma referência a Bereshit 42:8: “Yossef reconheceu seus irmãos, mas eles não o reconheceram.” O Talmud explica: Quando seus irmãos o viram pela última vez, Yossef estava com dezessete anos e não tinha barba. Passaram-se vinte e dois anos antes que eles o vissem novamente. Então ele tinha barba, e portanto não o puderam reconhecer (Talmud Bava Metzia 39b, citado no comentário de Rashi sobre o versículo).

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Genealogia

O Rebe Anterior - Yossef Yitschac

5640 (1880): Nascimento do Rebe, a 12 de Tamuz.
5655 (1895): Inicia sua obra comunitária como secretário particular de seu pai, e participa da conferência de líderes comunitários em Kovno.
5656 (1896): Participa da reunião de Vilna.
5657 (1897): A 13 de Elul, desposa a Rebetzin Nechama Dina, filha de R. Avraham.
5658 (1898): Designado líder da Yeshivat Tomchei T'mimim.
5661 (1901): Para iniciar as fundações para estabelecer a fábrica de Dubrovna, viaja a Vilna, Brisk, Lodz e Koenigsberg.
5662 (1902): Viaja a Petersburgo para tratar de assuntos comunais.
5665 (1905): Participa na organização de um fundo para fornecer as necessidades de Pêssach para as tropas no extremo Oriente.
5666 (1906): Viaja à Alemanha e Holanda, e lá persuade banqueiros a usarem sua influência para impedir os pogroms.
5668 (1908): Participa na organização da Conferência de Vilna.
5669 (1909): Vai à Alemanha para conferenciar com líderes comunitários.
5670 (1910): Ocupa-se em preparar o encontro de Rabinos. Entre 5662 e 5671 (1902 e 1911), é preso quatro vezes em diferentes ocasiões, em Moscou e Petersburgo, devido às suas atividades.
5677 (1917): Ajuda a organizar a Conferência de Rabinos em Moscou.
5678 (1918): Participa na organização do Encontro de Kharkov.
5680 (1920): Aceita o cargo de Rebe,
5681 (1921): Cria programas de atividades comunitárias para reforçar o judaísmo na Rússia; estabelece a Yeshivat Tomchei T'mimim em Varsóvia.
5684 (1924): Forçado pela Cheka (Polícia Secreta) a deixar Rostov, por calúnias feitas pela Yevsektzi (Seção hebraica do Partido Comunista). Estabelece-se em Petersburgo e trabalha para fortalecer a Torá e o judaísmo através de atividades envolvendo Rabinos, escolas de Torá para crianças, Yeshivot, shochtim, professores formados para ensinar Torá e a abertura de mikva'ot; forma um comitê especial para auxiliar trabalhadores manuais a cumprir o Shabat; estabelece Agudat Chabad nos Estados Unidos e Canadá.
5687 (1927): Cria yeshivot em Bukhara. A 15 de Sivan é preso e mantido na prisão de Shpalerno. A 4 de Tamuz, é exilado para Kostrama. A 12 de Tamuz é informado de sua liberdade; no próximo dia é realmente libertado e por ordens do Governo muda-se para Malachovka, perto de Moscou. No dia seguinte a Sucot, 5688 (1927), deixa a Rússia, indo para Riga, Latvia, e lá funda uma yeshivá.
5688-9 (1928-9): Cria com sucesso campanhas para enviar matsot à Rússia.
5689-90 (1929-30): Visita Erets Yisrael e os Estados Unidos.
5694 (1934): Transfere-se para Varsóvia; estabelece associação de t'mimim; cria filiais da Yeshivat Tomchei T'mimim em várias cidades afastadas na Polônia.
5695 (1935): Inicia a publicação do periódico Hatamim.
5696 (1936): Transfere a Yeshivá Tomchei T'mimim e sua residência de Varsóvia para a cidade de Otwock.
5699 (1939): Cria Agudat-Chabad no mundo todo.
5700 (1940): A 9 de Adar II, chega a New York e estabelece-se no Brooklyn; devota-se com sucesso a resgatar seus pupilos; funda a Yeshivat Central Tomchei T'mimim.
5701 (1941): Inicia a publicação do jornal Hak'ria V'hak'dusha; funda a Machne Israel.
5702 (1942): Funda Yeshivat Tomchei T'mimim com escolas preparatórias em Montreal, Canadá; estabelece Merkos L'inyonei Chinuch; funda Yeshivat Achei T'mimim em Newark, Worcester e Pittsburgh; estabelece a Sociedade Editora Kehot de Lubavitch.
5703 (1943): Cria a Biblioteca Otzar Hachassidim de Lubavitch.
5704 (1944): Estabelece um grupo Nichoach para compilar e publicar melodias de Chabad; inicia a publicação do jornal Kovetz Lubavitch; cria a Sociedade para Visitação aos Doentes (Bikur Cholim).
5705 (1945): Abre um escritório para refugiados, com uma filial em Paris; estabelece a Sociedade Eidenu para estudos avançados do Talmud, e Shaloh (instrução religiosa para alunos de escolas públicas); inicia esforços para melhorar a situação espiritual de fazendeiros judeus e outros em comunidades rurais na América.
5708 (1948): Funda a aldeia Chabad em Safaria, perto de Tel Aviv, para refugiados da Rússia.
5709 (1949): Apressa a organização de uma comissão para a educação dos filhos de olim para Erets Israel abrigados em maabarot (campos transitórios) e tem sucesso.
5710 (1950): Algumas semanas antes de seu falecimento lança as fundações e o programa para a obra educacional e o fortalecimento da Torá no norte da África. Como resultado, foram criados um seminário para professores, uma Yeshivá, uma Yeshivá júnior, um Talmud Torá para meninos e outro para meninas, todos sob a denominação geral de "Oholei Yosef Yitschac – Lubavitch." No Shabat Parashat Bo, a 10 de Shevat de 5710 (1950) às oito da manhã, faleceu e foi enterrado em New York.

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