por Yanki Tauber  
 

Transcendendo o Medo

 
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O medo infiltrou-se em nossas vidas como um pó branco mortal abrindo caminho através da alma dos Estados Unidos.


Certamente, o Holocausto foi a mais trágica e dolorosa ruptura da vida deles; mas depois que terminou, eles recolheram o que havia restado e prosseguiram com as alegrias e tristezas da vida.

Talvez seja esta a grande mudança que todos sentem ter ocorrido em 11 de setembro. Milhares morreram, e outros milhares foram diretamente afetados pela sua morte. Um círculo mais largo está suportando o impacto das repercussões econômicas. Porém o efeito mais avassalador é este novo, horrível medo, este pesadelo que aos poucos vai preenchendo os espaços onde costumavam ficar nossos corações.

Existe uma resposta para este medo? Há alguma maneira de fazer cessar este terror, de tomar de volta nossos corações substituídos?


Quando eu estava crescendo, a maioria dos adultos era sobrevivente do Holocausto. Alguns tinham passado pelos anos da Guerra como crianças pequenas escondidas com famílias de não-judeus, advertidos a não perguntar por Mamãe ou Papai ou a pronunciar seus verdadeiros nomes. Alguns estiveram nos campos. Praticamente todos tinham perdido entes queridos: pais, irmãos, irmãs, filhos.

Não sei o quanto eles eram "religiosos" ou "espirituais" - não sei o quê, exatamente, sentiam quando rezavam, colocavam tefilin, ou cumpriam qualquer uma das mitsvot que definiam sua vida diária. Mas sei que eles levavam a vida adiante com a convicção de que estavam fazendo aquilo que D'us desejava que eles fizessem, que suas vidas eram parte de algo maior que eles próprios.

Talvez isso explique a surpreendente normalidade de suas vidas. Isso foi muitos anos antes que eu soubesse - por meio de artigos em revistas, filmes e livros - sobre os traumas que obscureciam a vida de muitos sobreviventes e chegavam a afligir até a vida da segunda e terceira gerações. Demorou ainda mais para que eu percebesse que deveria estar me perguntando por que todas as pessoas que conheço - meus pais, avós, tios e tias, e todas as outras pessoas idosas da sinagoga em nosso bairro - eram tão "normais". Certamente, o Holocausto foi a mais trágica e dolorosa ruptura da vida deles; mas depois que terminou, eles recolheram o que havia restado e prosseguiram com as alegrias e tristezas da vida.


Seja o que for que estivesse para acontecer, não era "o fim do mundo", pois nem mesmo o fim do mundo é o fim do mundo.

Estas não foram pessoas que ficavam indiferentes à sua existência física. Eles se preocupavam com suas casas e negócios, com a saúde, segurança e com suas cadernetas de poupança, tanto quanto qualquer outra pessoa. Mas eles sabiam que aquilo não é tudo que existe. Suas vidas físicas serviam a um propósito mais elevado; seu mundo físico era uma prévia de uma realidade mais elevada, eterna, indestrutível. Seja o que for que estivesse para acontecer, não era "o fim do mundo", pois nem mesmo o fim do mundo é o fim do mundo.

O sexto Lubavitcher Rebe, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, que passou muitos anos lutando contra o regime comunista que tentava erradicar o judaísmo na União Soviética na década de 1920, relata um incidente que ocorreu durante um de seus muitos interrogatórios pela NKVD e GPU (precursoras do KGB).

A certa altura, o interrogador brandiu um revólver no rosto do Rebe e disse: "Este brinquedo leva embora muitos 'princípios'. O medo dele já abriu mais de uma boca, e até os mudos se tornam falantes na presença dele."

"Este brinquedo" - disse Rabi Yossef Yitschac calmamente - "provoca o medo no coração de uma pessoa que tem apenas um único mundo e muitos deuses. Mas quanto a nós, que temos dois mundos e um D'us, ele não causa impressão alguma."

     
   
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