Histórias sobre o Rebe Rayatz

   
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Depois da Prece de Shacharit no quarto dia após o falecimento do Rebe Rayatz, o Rebe declarou: “A lei designa três dias para o luto, sete dias para os elogiar.”

Os chassidim, embora não façam elogios fúnebres, costumam contar histórias sobre a pessoa falecida.

Em Boas Mãos
Quando o Rebe Rashab estava muito doente em 5657 (1897), os médicos especialistas em Moscou lhe disseram que ele tinha apenas uns poucos meses de vida. Ao saber disso, ele disse à esposa, Rebetsin Shterna Sarah, que tinha decidido viajar para Erets Yisrael.
A Rebetsin perguntou a ele: “E o que você fará com seus chassidim e com a Chassidut?”
O Rebe Rashab respondeu, referindo-a ao filho, o Rebe Rayatz: “Ora, estou deixando meu filho!”
E o Rebe Rayatz tinha dezessete anos!

Um Beijo Chassídico
Em 5644 (1884), quando o Rebe Rayatz tinha quatro anos de idade, seu pai, o Rebe Rashab, morava num apartamento de dois cômodos. Um servia como quarto de dormir, e no outro, certa vez ele estava estudando com o eminente chassid, R. Yaacov Mordechai Bespalov. Neste aposento ficava a caminha do menino. Era uma criança linda, com um rosto iluminado.

Tarde da noite, enquanto eles estudavam, R. Yaacov Mordechai contemplou o menino adormecido, e disse ao Rebe Rashab que a aparência radiante da criança indicava uma pureza de pensamento. O Rebe Rashab teve um forte desejo de dar um beijo no filho.

Naquele momento, no entanto, ocorreu-lhe que no Beit Hamicdash as pessoas levavam não somente oferendas de animais, mas também prata e ouro para a manutenção da Casa. Decidiu, portanto, trocar o beijo por um maamar de Chassidut, e escreveu o maamar que começa com as palavras: Má Rabu Maasecha.

Em 5652 (1892), ele deu o manuscrito ao filho como presente e disse: “Este é um beijo chassídico; um dia lhe falarei a respeito disso.”
Quatro anos depois, contou-lhe toda a história.

Obediência
Quando o Rebe Rayatz tinha cerca de seis anos, seu pai, o Rebe Rashab, chamou-o e pediu que recitasse uma bênção sobre os tsitsit. Quando o menino falou que já tinha recitado a berachá naquela manhã, o pai disse: “Recite-a mesmo assim!” – mas o garoto se recusou.

O Rebe Rashab deu-lhe um tapinha leve (esta foi a única vez que bateu no filho) e disse: “Quando eu digo para você fazer alguma coisa, precisa obedecer.”

Seu filho começou a chorar e disse: “Se alguém tem de fazer uma berachá perante D’us, então eu já fiz isso; mas se alguém tem de fazer uma berachá porque você disse que eu tenho de fazer…”
Respondeu o Rebe Rashab: “Uma berachá tem de ser feita porque D’us assim o disse, mas todo pai cuida de seus filhos, e eles têm de obedecê-lo.”

Não tão terrível assim
Nos primeiros anos em que o Rebe Rashab viajava para toda parte, não dava ao filho a chave dos armários onde guardava seus manuscritos; somente nos anos posteriores ele o fazia.

Numa dessas ocasiões o Rebe Rayatz entrou no aposento onde os papéis do pai estavam guardados, e encontrou numerosas folhas de papel escritas pelo pai de seu pai, o Rebe Maharash. Tendo se acostumado desde cedo a copiar a escrita do pai, tomou uma pena de ganso, como seu avô sempre tinha feito, e numa daquelas folhas compôs uma explicação de um conceito filosófico da Chassidut. Depois, como estava profundamente atarefado no exame dos manuscritos do avô, sua própria composição foi deixada entre elas quando deixou o aposento.

Seu pai, o Rebe Rashab, retornou da viagem, encontrou a folha de papel e disse ao filho: “Este é um dia feliz para mim; descobri um maamar que eu ainda não conhecia, escrito pelo meu pai!”
O Rebe Rayatz nada respondeu. Algumas semanas depois, quando seu pai mencionou novamente o assunto, ele refletiu sobre maneiras de remediar a situação, e decidiu levantar a questão em yechidut com o pai. Ao entrar no escritório do pai, estava tão angustiado com toda a questão que explodiu em lágrimas e não conseguiu pronunciar uma palavra. Então, em resposta ao questionamento do pai, explicou que tinha feito algo e não sabia como poderia expiar o seu ato – e contou então a história toda.

“Não é tão terrível assim” – respondeu o pai.

Exemplo
Havia vezes em que o Rebe Rashab instruía o filho a entrar em seu quarto e observar sua conduta.

Mão na Luva
Aconteceu certa vez que o Rebe Rashab teve de enfrentar a tarefa de escrever, à mão, longas cartas a um grande número de rabinos. Ele pediu então ao filho que praticasse copiar sua letra, e quando este tivesse transcrito as cartas, o Rebe Rashab as assinaria.

O Rebe Rayatz concordou com a proposta, com a condição de que seu pai lhe desse uma sessão adicional de estudo da Chassidut. O Rebe Rashab aceitou a condição, o filho conseguiu copiar a letra em pouco tempo, e as cartas foram despachadas de acordo com o planejado.

Interfone
Certa vez foi instalado um interfone entre os quartos do Rebe Rashab e do Rebe Rayatz.
Depois de algum tempo o Rebe Rayatz teve uma idéia – manter o alto-falante do telefone do pai em aberto, colocando um calço sob ele, e assim ouvir seu pai rezando no quarto.

Umas poucas linhas do Tanya
Durante o ano de luto após o falecimento de sua mãe, quando o Rebe Rayatz tinha concluído sua leitura diária das Mishnayot após cada serviço de prece com “R. Chananyah ben Akashyah…”, antes de continuar com o cadish de Rabanan ele apoiava a cabeça inclinada na mão e dizia algo num sussurro.

Rebe Rayatz explicou que naquela ocasião ele repetia algumas linhas do Tanya.

Tachanun
O Rebe Rayatz disse certa vez que nos serviços de prece nos quais não se recita Tachanun, a pessoa não bate no peito quando diz “Slach Ianu” na Amida.

Relatividade
Em uma de suas visitas ao exterior, o Rebe Rashab ao retornar para casa, presenteou seu filho com uma bengala de madeira com castão de prata, na qual tinha gastado o pouco dinheiro que lhe restava.

Quando a Rebetsin perguntou-lhe se aquela era a maneira que ele tinha de gastar seus últimos rublos, ele replicou que tinha acabado de perceber quem seu filho era.

Quatro Pares de Tefilin
Para colocar quatro pares de tefilin, o corpo da pessoa tem de estar excepcionalmente puro. No que tange a deveres obrigados pela Torá, como os tefilin de Rashi e Rabeinu Tam, como “a Torá não foi outorgada aos anjos”, a Torá aceita a responsabilidade sobre si mesma, por assim dizer. Em contraste, quanto às coisas observadas por muito poucas pessoas (a Torá não tendo obrigado ninguém a observá-las), a responsabilidade individual é maior. Além disso, a própria natureza dos tefilin de Shimusha Rabba e Raavad exige que o corpo esteja excepcionalmente puro.

Li certa vez que o estimado chassid, R. Hillel de Paritch, costumava colocar quatro pares de tefilin, e que o autor ouvira falar que os filhos do Tsêmach Tsêdec faziam o mesmo. Esta era a prática de alguns chassidim também em nossa geração, como R. Yitschac (Reb Itche) o Masmid, R. Zvi Hirsch Gourary, e outros. Quanto a mim, eu estava apreensivo, até que o Rebe Rayatz disse-me para fazê-lo. Portanto comecei, pois Rebe Rayatz tinha assumido a responsabilidade por aquilo.

O Rebe contou-me naquela ocasião que ele próprio ordenaria o tefilin, para que o assunto permanecesse em discrição.

Quando HaYom Yom estava sendo preparado para publicação, o Rebe Rayatz concordou em tornar pública a ordem na qual estes quatro pares de tefilin são usados.

Há um versículo: “Marque o homem perfeito, e contemple o íntegro, pois o fim daquele homem é paz.”

No idioma sagrado, as palavras deste versículo aludem a três dos quatro pares de tefilin acima. O tefilin de Rabeinu Tam são indicados pela palavras tam; os tefilin do Rashi são mencionados pelas [letras idênticas da] palavra yashar; os tefilin do autor de Shimusha Rabba, que era chamado Rav Sar-Sharom, são indicados pela palavra shalom.

Os tefilin de Shimusha Raba e, mais ainda, o tefilin de Raavad, relacionam-se com um nível mais alto de Divindade que aqueles do Rashi ou de Rabeinu Tam. Por este motivo, nenhuma das autoridades afirma que deve-se recitar a berachá sobre eles. Pois o tefilin do Rashi relaciona-se com o nível de Divindade conhecido como Mochin delmma, e o tefilin de Rabeinu Tam com o nível conhecido como Mochin deAbba, ao passo que o tefilin de Shimusha Raba e de Raavad relacionam-se ao nível transcendente de Divindade, conhecido como Kesser. Da mesma maneira, [a energia espiritual que eles geram] não pode ser elicitada e atraída por uma berachá.

Tsitsit feitos à máquina
Quando algumas comunidades chassídicas se encontraram na Alemanha (depois da Segunda Guerra), eles perguntaram se era permitido produzir tsitsit à máquina. Levei a questão ao Rebe Rayatz, pois sobre isso o R. Chayim de Zanz decreta negativamente. O Rebe Rayatz disse-me que quando os refugiados chegaram à Rússia em 5675 (1915), não tinham talit ou tsitsit. A questão foi levada ao Rebe Rashab. Ele enviou um emissário à fábrica de Gansburg, onde os tsitsit eram fabricados, e mais tarde declarou que uma berachá podia ser recitada sobre eles.

Sonhos
O Rebe Rayatz relatou certa vez que quando R. Yitschac de Ruzkin era criança e estudava o Chumash, sempre se antecipava e fazia ao professor todas as perguntas problemáticas que Rashi destacava.

Um dia ele chegou ao versículo “E ele sonhou, e veja, havia uma escada apoiada na terra e cujo topo chegava até o céu, e veja só, os anjos de D’us subindo e descendo por ela.”

O professor perguntou-lhe: “Nu, por que você não pergunta?” – e falou-lhe sobre a dúvida levantada pelo Rashi: Certamente o versículo deveria ter afirmado “descendo e subindo”, na ordem inversa.
A isso o jovem Ruzhiner respondeu: “Você não faz perguntas lógicas a respeito de um sonho.”

Quando Você Crescer
Quando o Rebe Rayatz chorou na hora de sua circuncisão, como fazem os bebês, seu avô o Rebe Maharash disse: “Por que você está chorando? Quando crescer será um… e ensinará a Chassidut articuladamente.”

É assim que o incidente está registrado na narrativa do Rebe Rayatz sobre seu encarceramento, com um espaço em branco no meio da sentença.

Ouvi de alguns chassidim que o Rebe Maharash tinha dito: “Você será um Rebe.”
E isso explica aquele espaço em branco.

       
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