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  Entes queridos não morrem… simplesmente passam  
 
Rabi Eli Hecht, Chabad de South Bay
Rabbieh@aol.com
 

Há alguns meses voei de Long Beach, na Califórnia para o Brooklyn, em Nova York. Foi uma viagem longa, triste, solitária. Minha mãe estava completando 82 anos e esperava ansiosa por um aniversário especial quando a tragédia se abateu. Ocorreu um incêndio em sua casa. Em pouco tempo, sua vida foi tirada pelo fogo e pela fumaça. Não houve tempo para dizer adeus ou se preparar para o fim, apenas uma morte cruel, pensei eu.

Nossa família, cinco filhos e quatro filhas se reuniu à beira do túmulo. Quando seu corpo foi baixado, senti a inexorabilidade da morte. Ver nossa mãe, amada por todos nós, sendo coberta com terra era quase demais para suportar. Não haveria mais Dia das Mães ou aniversários.

Com o passar dos meses, o sofrimento aumenta e sente-se um vazio. Nosso costume de telefonar para mamãe agora se foi. Percebemos que não podemos mais partilhar as alegrias da vida com ela.

Nas famílias grandes, os feriados são ocasiões alegres. É quando a família se reúne. Filhos casados fazem visitas com seus filhos e netos, e a ocasião é festiva e animada. É um tempo para os primos se encontrarem pela primeira vez. As crianças descobrem que são especiais e estão ligadas a uma grande família. É uma grande árvore com muitos galhos e folhas, cada qual crescendo em sua própria direção, esquecendo que vêm todos da mesma raiz. Eles dizem: "Você tem o mesmo nome que eu e pensei que fosse o único com este nome especial."

Meu avô americano, Shea, teve seis filhos. Quando ele morreu, cada filho deu ao próprio filho recém-nascido o nome de seu pai, Shea. Portanto, na reunião havia cinco ou seis meninos chamados Shea Hecht. Quando o Rebe, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn, faleceu, eles chamaram o próximo bebê de Yossef Yitschac. Agora existem seis Yossef Yitschac Hecht. Vocês podem imaginar como a terceira geração de meninos se sentiu quando lhe perguntavam quem eram eles. Tinham de explicar que eram filhos dos filhos, provocando uma grande confusão.
Uma maneira de o povo judeu lidar com o processo de luto é dar aos filhos os nomes dos pais, avós e professores falecidos.

De alguma forma, ter um filho com o mesmo nome de um ente querido que se foi traz uma sensação de encerramento e tranqüilidade.

Agradeço a D’us pelo meu pai estar bem. Ele sobreviveu ao incêndio mas convive diariamente com suas lembranças. Atualmente, ele passa o tempo vivendo um dia ou semana por vez, com filhos e netos diferentes. No mês passado ele veio à Califórnia e passou Pêssach com nossa família, ficando um mês inteiro. Aqui ele tem três filhos casados que, como o pai, são rabinos e estão ocupados ensinando e divulgando a sua fé. Embora os filhos e netos estivessem lá, algo importante estava faltando. Sim, nossa querida mãe, avó e bisavó estava faltando.

Meu pai estava triste mas não comentava a perda trágica. De repente o telefone tocou, era uma neta que tivera uma filha. Agora mamãe tinha um nome. No domingo seguinte, meu filho ligou e disse: "Mazel Tov! Minha mulher teve um menino." Meu pai deu um pulo e disse: "Hoje é o 82º aniversário da mamãe, que presentão." Não consigo pensar em um presente melhor para minha mãe.

Uma semana depois, tomei outra vez o mesmo vôo, desta vez para celebrar o brit de meu neto, que seria chamado Mordechai, como o avô. Meu filho, Baruch, recebeu o nome de meu avô, Baruch, e agora seu filho recebe o nome de seu avô. Parece que nossos pais e avós não morrem; eles simplesmente têm uma passagem, adotando novos corpos e continuando as bênçãos de terem famílias maravilhosas, que continuam seu legado e estilo de vida.

É interessante notar que este bebê assinala o início da sétima geração de Hecht americanos. Judeus ortodoxos carregando seu legado em uma nação livre.

     
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