|
O
termo Elul significa introspecção, ou seja, voltar-se para
o interior de si mesmo e ponderar sobre o sentido da vida, procurando
se auto-analisar em relação à maneira como proceder
no decorrer da mesma. É exatamente durante este mês, que
marca o fim de um ano de existência e a proximidade de um novo ano,
que o ser humano deverá se recolher em meditação,
examinando seus atos e arrependendo-se sinceramente dos erros cometidos.
Através
dos ensinamentos chassídicos, o Baál
Shem Tov, fundador da Chassidut, afirmou que o homem pode e
deve servir a D'us. Qual seria a maneira mais fácil de consegui-lo?
Imaginemos uma usina geradora de eletricidade, cujos fios estão
a ela ligados através de uma variedade de dispositivos.
Para
que se possa estabelecer uma conexão com a referida usina, torna-se
necessário acionar o botão que faz com que o seu contato
com a usina consiga transformar uma vida de desespero e aflição,
em harmonia e felicidade. Esta relação é, às
vezes, imprevisível; ninguém sabe de imediato como ela se
processa.
Da mesma
maneira, as vezes basta apenas uma simples palavra para conseguir revelar
a fonte de uma alma judaica. Este foi o trabalho de Baál Shem Tov:
despertar em cada um, desde o mais humilde, seu potencial de servir a
D'us e amar seu próximo.
Rabi
Shneor Zalman,
o primeiro Rebe do movimento Chabad-Lubavitch, por sua vez, demonstra
a maneira de se estabelecer esta ligação. Afirma ele, que
este mundo representa um degrau a mais, o último na longa cadeia
das esferas. Quando um judeu ativa sua centelha Divina e se une a D'us
através da oração, do estudo da Torá e do
cumprimento das mitsvot, preceitos, poderá desencadear alterações
no mundo físico, acima de qualquer previsão. E este poder
de transformar não é privilégio de um só judeu,
mas de todos.
Essas
duas personalidades, nascidas no dia dezoito deste mês, número
que corresponde à palavra "chai" ("vivo", usado
no sentido de "vida"), quiseram e conseguiram, através
de seu exemplo e ensinamentos, imprimir uma vibração mais
profunda no serviço de cada judeu neste mês de Elul. |
|
|
18
de Elul de 5369 (1609)
Falecimento do Maharal de Praga,
tetravô do Alter Rebe (1º Rebe de Chabad)
Rabi Yehuda Loewe, o Maharal de Praga, era membro de uma família
nobre descendendo em linha direta do Rei David. Seu filho, Rabi Betsalel,
teve um filho chamado Shemuel. O filho de Rabi Shemuel foi Rabi Yehuda
Leib e seu neto, Rabi Moshe. O filho de Rabi Moshe se chamava Rabi Shneur
Zalman, que era o pai de Rabi Baruch, pai do Alter Rebe.
Nascido em 5272 (1512), o Maharal de Praga tinha noventa e sete anos quando
faleceu. Está enterrado em Praga.
18
de Elul de 5458 (1698)
Nascimento do Báal Shem Tov
O Báal Shem Tov, filho de Rabi Eliezer e Rebetsin Sara, nasceu
numa segunda-feira, em 18 de Elul de 5458 (1698), na aldeia de Okup.
Seu nascimento e seus primeiros anos estão descritos com detalhes
em outras obras. Segue-se uma nota escrita pelo Alter Rebe sobre a juventude
do Báal Shem Tov, que somente veio à luz recentemente, e
foi publicada no periódico Yagdil Torá nº 31(deve-se enfatizar
que, nesta nota, há muitos detalhes sobre o Báal Shem Tov
que diferem de outras tradições):
Há uma diferença de opinião entre Rabi Eliezer e
os Sábios a respeito do Patriarca Avraham. Segundo um deles, ele
tinha três anos quando se tornou cônscio da existência
de D'us. De acordo com outro, isso não aconteceu até ele
ter quarenta e oito anos. Sobre o Báal Shem Tov, por outro lado,
todos concordam que ele O descobriu aos três anos.
Seu pai Rabi Eliezer tinha cem anos, e sua mãe Sara noventa, quando
num sonho ouviu que deveria santificar-se, pois lhe nasceria um filho
que seria uma luz para o povo judeu. Ele santificou-se e no devido tempo
o Báal Shem Tov nasceu. Desde o começo, ele era diferente
das outras crianças. Aos três meses já caminhava e
falava como alguém muito mais velho.
Quando tinha um ano e meio perdeu seu pai que, antes de morrer, lhe disse:
"Não tema ninguém, exceto o Eterno, bendito seja."
Um ano após o falecimento de seu pai, perdeu a mãe, Sara.
Nesta época ele caminhava pela rua, sozinho, um cajado na mão,
até que as pessoas da cidade começaram a tomar conta dele.
Era destemido, percorrendo sozinho as florestas.
Na noite do seu terceiro aniversário, estava escuro lá fora
e chovia torrencialmente. Ele pegou seu cajado e rumou para a floresta.
Perguntaram a ele: "Como pode sair numa noite assim? Não há
um fiapo de luz no céu!"
Ele respondeu: "Não temo a nada, exceto o Eterno, bendito
seja."
Ele entrou na floresta, e ali viu uma casa grande e majestosa de onde
emanava uma luz. Entrou na casa e percorreu sala por sala até chegar
numa câmara na qual, ao redor de uma mesa, estavam reunidos muitos
zombadores, todos mensageiros de Shamael. Perguntaram a ele:
"Como é possível que não tenha medo de entrar
neste lugar?" Ele respondeu: "Não temo a nada, exceto
o Eterno, bendito seja." Eles disseram: "Filho, não concorda
que D'us abandonou o mundo?"
Ele começou a gritar: "Que todos os malfeitores sejam dispersados
pelo vento!" Eles desapareceram no ar.
Até os dezoito anos ele estudou Torá com Achiya HaShiloni,
e então recebeu o privilégio de estudar com Mashiach. Aos
treze anos foi ensinado todos os Nomes de D'us, juntamente com suas formas
alternadas, com a exceção de uma, que Achiya não
lhe ensinou. Quando lhe perguntou o motivo, Achiya respondeu que também
o desconhecia, pois este Nome tinha sido passado ao Anjo da Destruição,
que se recusara a destruir o Templo, a menos que recebesse o Nome em garantia.
Deste Nome dependia a chegada de Mashiach.
A partir desse momento, o Báal Shem Tov empreendeu uma busca por
este Nome. Ele recebeu um aviso celestial: muitos tinham embarcado nesta
busca, apenas para atraírem sobre si mesmos a destruição.
Ele respondeu: "Não temo a nada, exceto o Eterno, bendito
seja."
Então veio o Anjo da Destruição em pessoa e disse:
"Homem mortal e putrefato, antes deste dia eu tinha visitado o mundo
apenas duas vezes, para destruir o Primeiro e o Segundo Templos. Que afronta
é esta, para chamar-me uma terceira vez?"
Ele respondeu: "Não temo a nada, exceto o Eterno, bendito
seja."
Com essa resposta ele conseguiu retirar o Nome do Anjo da Destruição…
Ao final desta narrativa, o Alter Rebe escreve: Tudo isso eu tive o mérito
de escutar dos lábios do próprio Báal Shem Tov, numa
visão que tive acordado.
O Rebe, Rabi Yossef Yitschac, escreve sobre esta descrição:
Ouvi de meu pai, em nome do Ancião de Radamisal – que era
um dos que limpavam os livros e papéis antes de Pêssach na
casa do Tsemach Tsedec – que havia uma gaveta contendo muitos manuscritos,
papéis e cartas, e ele ali encontrou um longo bilhete, manuscrito
pelo Alter Rebe. O fato acima narrado é o que ele se lembra de
ter lido ali.
O Ancião de Radamisal disse que desejava fazer uma cópia
deste documento e que já tinha preparado caneta e papel quando
o "Maharil", filho do Tsemac Tsedec, entrou e lhe disse para
não fazê-lo, pois Reb Hilel de Paritch já tinha feito
isso e o papel se incendiara, consumindo muitos de seus próprios
manuscritos, "Além disso" – acrescentou ele –
"o Tsemac Tsedec não tolerará isso, e por este motivo
ele se absteve de copiá-lo ele mesmo."
5484/1724
Achiya HaShiloni se revela ao Báal Shem Tov e lhe ensina Torá
Numa carta que endereçou ao seu pupilo, Rabi Yaacov Yossef HaKohen,
o Báal Shem Tov escreve:
No dia do meu 26º aniversário, 18 de Elul de 5484 (1724) em Okup,
à meia-noite, meu mestre, Achiya HaShiloni, revelou-se a mim. A
primeira coisa que ele me ensinou foi a Parashat Bereshit.
Achiya HaShiloni ensinou o Báal Shem Tov durante dez anos. Ensinou-lhe
a luz interior das duas Nogleh e Cabalá – como são
ensinados no Gan Eden.
5494/1734
O Báal Shem Tov revela sua verdadeira grandeza
Em 18 de Elul de 5494/1734, após dez anos de instrução
com Achiya HaShiloni, o Báal Shem Tov revelou-se, realizou milagres
e lançou uma luz sobre aspectos ocultos – tudo a pedido e
ordem de seu professor.
Em conexão com isso, ele escreveu:
Quando tínhamos completado o estudo de Torá – até
suas palavras finais: "… à vista de todo Israel"
– eu completei trinta e seis anos e fui revelado.
Durante seis anos ele tinha se recusado a fazê-lo e, em represália
por isso, sua vida foi abreviada pelo mesmo período de tempo.
(veja mais em Sefer Hatoledot Báal Shem Tov, vol.I pág.
37ff)
5505/1745
O nascimento do Alter Rebe
Estando já casado com Rebetsin Rivka há dez meses e sem
nenhum sinal de sua esposa engravidar, Rabi Baruch estava muito aborrecido.
Após conversar com seu amigo, Rabi Yitschac Shaul, o casal decidiu
viajar para ver o Báal Shem Tov.
Era costume do Báal Shem Tov fazer uma refeição festiva
todos os anos a 18 de Elul, pelo seu aniversário, e falar palavras
de Torá. Nesta ocasião, o Báal Shem Tov disse a Rabi
Baruch: "Nesta data exata, você estará segurando seu
filho nos braços."
Antes da partida de Rabi Baruch e Rebetsin Rivca de Mezibush, eles entraram
na presença do Báal Shem Tov para receber sua bênção
para uma viagem segura. Rebetsin Rivca, bastante animada, disse ao Báal
Shem Tov:
"Quando D'us cumprir a sagrada bênção do Báal
Shem Tov e formos de fato abençoados com um filho saudável,
eu o dedicarei à Torá e ao serviço de D'us, segundo
o caminho do Báal Shem Tov."
Ela assim reiterava a promessa feita por Chana, a mãe do Profeta
Shemuel. O Báal Shem Tov os abençoou e eles partiram, o
coração transbordando de alegria.
Na quarta-feira, 18 de Elul de 5505/1745, nasceu um filho para Rabi Baruch
e Rebetsin Rivka. Recebeu o nome de Shneur Zalman, numa homenagem ao avô
paterno.
No mesmo dia o Báal Shem Tov, ao voltar do micvê, estava
tão feliz que seus alunos ficaram maravilhados. Nenhum deles, porém,
ousou pedir uma explicação para tamanho júbilo. O
próprio Báal Shem Tov liderou as preces, mais uma vez despertando
neles admiração quando entoou a melodia de Yom Tov e mais
ainda, quando omitiu a prece Tachanun geralmente recitada naquele dia.
As preces terminaram, o Báal Shem Tov convidou os alunos para uma
refeição de celebração e estava muito feliz
durante todo o jantar:
"No quarto dia da Criação, as luminárias estavam
suspensas no céu. Hoje, o quarto dia da semana, uma semana relacionada
à Haftará ‘Desperta, reluza’, uma nova alma
desceu ao mundo e irá iluminá-lo com a luz de Nigle e da
Chassidut; uma alma que vai se oferecer para o bem da Chassidut e cujas
realizações introduzirão a Era de Mashiach."
5508/1748
O Báal Shem Tov é o primeiro a cortar o cabelo do Alter
Rebe quando este atinge a idade de três anos
Quando Rabi Baruch, pai do Alter Rebe, passou Rosh Hashaná de 5508/1747
com o Báal Shem Tov, informou a ele sobre o fato de que ele e sua
esposa tinham decidido levar o filho, Shneur Zalman, no dia 18 de Elul
seguinte, para que este tivesse o seu corte de cabelo em seu opsherenish.
O Báal Shem Tov concordou, com a condição de que
uma carruagem ficasse de prontidão para levá-lo imediatamente
de volta para casa. Ele não queria que o Alter Rebe o conhecesse
ou o reconhecesse, pois ele (o Alter Rebe) estava destinado a ser ligado
ao Maguid de Mezeritch. Além disso, a mãe da criança,
Rebetsin Rivka, e sua tia, Rebetsin Devora Lea, teriam de levar a criança
até a sinagoga, assim que a prece de Shacharit estivesse concluída.
Então, após o Báal Shem Tov lhe cortar o cabelo,
eles deveriam voltar imediatamente para casa.
Na quarta-feira 18 de Elul, Rebetsin Rivka e sua cunhada, Rebetsin Devora
Lea, chegaram a Mezibush, na casa do Báal Shem Tov. Este iniciou-o
no costume de peyot e o abençoou com Bircat Cohanim. Ele lembrou
às mulheres para voltarem imediatamente e a não dizerem
nada sobre o lugar que tinham acabado de deixar, e lhes deu uma bênção
para um ano bom, desejando-lhes boa viagem.
Durante todo o caminho de volta para casa o menino perguntou quem era
aquele judeu que tinha cortado seu cabelo e arrumado suas peyot, e a mãe
respondia: "Aquele era Zeide."
No mesmo dia, o Báal Shem Tov organizou uma seudá para seus
discípulos e explanou a declaração dos Sábios
sobre "aos três anos seu pai Avraham reconheceu a existência
de D'us." Então ele disse:
A criança da Polônia [dotada com] uma alma especial, completa
hoje três anos, e neste dia ele reconhece seu Criador. E assim como
Avraham, ele será chamado a sacrificar-se para dar testemunho a
um caminho do serviço Divino baseado em Sua Unidade e a consciência
da Divina Providência.
5573/1813
O Miteler Rebe se estabelece em Lubavitch
Após o falecimento do Alter Rebe em 24 de Tevet de 5573/1813, o
Miteler Rebe passou vários meses em Kremenchug, na Ucrânia.
Os chassidim de Chabad da Ucrânia o pressionaram a estabelecer-se
permanentemente perto deles; em oposição a estes estavam
os chassidim da Rússia Branca, que enviavam uma delegação
após a outra para pedir-lhe que retornasse à sua região.
Foram estes últimos que prevaleceram, e após a festa de
Shavuot, o Miteler Rebe deixou Kremenchug e dirigiu-se à Rússia
Branca.
Na segunda-feira, 18 de Elul, acompanhado por milhares de chassidim, ele
chegou a Lubavitch e ali estabeleceu sua sede. Na cidade havia um local
desolado onde, dois anos antes, todas as casas tinham sido incendiadas
por completo. O Miteler Rebe foi até lá e disse:
"Há cinqüenta e oito anos, o Alter Rebe, que contava
então dez anos, estava estudando com o justo chassid, Issachar
Dov, numa sinagoga que ficava exatamente neste pedaço de terra.
Quando eu estava fazendo meus preparativos para esta viagem, meu pai,
o Alter Rebe, disse-me que ao chegar em Lubavitch eu deveria fincar raízes
aqui, neste mesmo local, e dar sua bênção à
cidade, base dos Rebes de Chabad, para que a cidade desfrutasse anos longos
e felizes."
Por que esta obscura cidade de Lubavitch se tornaria a capital do Movimento
Lubavitch? A resposta é fornecida pelo Rebe Yossef Yitschac:
"Não foi à toa que Lubavitch foi destinada a ocupar
uma posição tão exaltada, primeiro pelos ‘tsadikim
ocultos’, depois pelos Rebes e pelos chassidim de Chabad."
Em virtude de sua localização geográfica especial,
Lubavitch foi um lugar conveniente para os pesquisadores espirituais,
indivíduos que nada mais desejavam que recolher-se do mundo e suas
vaidades e devotar-se de corpo e alma ao estudo de Torá e ao serviço
de D'us. Era um lugar apropriado para o início de uma nova vida,
baseada nos princípios morais puros ensinados pela Torá.
Lubavitch sempre foi cercada por uma grande área florestal, dando-lhe
um ar de isolamento e instilando em seus moradores um profundo senso de
solidão, Assim, a cidade tornou-se um ímã para aqueles
em busca de comunhão com suas almas, e que desejavam se aproximar
mais de D'us e de Sua criação.
Durante um período de cento e dois anos, Lubavitch foi a sede de
quatro gerações de Rebes de Chabad e para dezenas de milhares
de chassidim, na Rússia e no mundo além de suas fronteiras,
o centro luminoso da Chassidut de Chabad.
5657/1897
Início dos estudos na Yeshivá Tomchei Temimim de Lubavitch
Como se vê acima, a Yeshivá Tomchei Temimim foi fundada em
15 de Elul. No entanto, os estudos em si só começaram no
dia 18.
Sobre este tópico o Rebe, Rabi Yossef Yitschac, escreve:
"A 18 de Elul, meu pai escolheu os primeiros dezoito alunos, passando-os
ao famoso chassid Reb Shemuel Gronem Esterman de Zembin, para que este
os instruísse em Chassidut, de acordo com um programa que meu pai
mesmo tinha determinado.
"A 18 de Elul, em uma de minhas Sheva Berachot, meu pai disse: ‘Hoje,
18 de Elul, é a data que se fez luminosa pelo nascimento do Alter
Rebe e do Báal Shem Tov. Neste dia sagrado, ei fundei a yeshivá,
por ordem dos meus sagrados ancestrais – uma yeshivá que
enviará ao mundo estudantes capazes de darem a vida pelo estudo
de Torá e pelo serviço de D'us, pois eles se apegam fielmente
à trilha da Chassidut de Chabad. Estou agora acendendo as luzes
que herdamos do Báal Shem Tov e dos Rebes, para que a promessa
'que brotem os mananciais de seus ensinamentos' possa ser cumprida, e
a vinda do nosso justo Mashiach seja em breve.’
Sefer
Hatoledot
|
|