Ki Tissá
 
A contagem do povo de Israel A defesa de Moshê em nome do povo de Israel
A ordem de fazer um lavatório Moshê quebra as tábuas
Betsal'el é designado construtor do Tabernáculo e Aholiav, seu assistente Moshê salva o povo de Israel da destruição
Depois de quarenta dias no Céu, Moshê recebe duas tábuas de safira Moshê pede para entender os caminhos Divinos
O pecado do bezerro de ouro Moshê permanece no Céu por quarenta dias para receber as segundas tábuas
   
 
 
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Moshê salva o povo de Israel da destruição

No 19º dia de Tamuz, Moshê subiu ao Céu mais uma vez, lá permanecendo por quarenta dias, até o dia 29 de Av, implorando perdão a D'us.

Ele rezou: "Mestre do Universo, o Senhor mesmo levou-os ao pecado, já que os carregaste de ouro e prata durante o Êxodo do Egito. Um leão só dá uma patada se uma bandeja cheia de carne for colocada ao seu lado."

Moshê, então, apresentou seus argumentos a favor do povo com tanta intensidade que sentiu seu corpo todo ferver. Ele estava realmente doente de preocupação pelo pecado do bezerro de ouro.

"Por que, D'us, Tua ira deve arder contra o Teu povo que tiraste do Egito? Eles nunca tiveram a intenção de fazer do bezerro um ídolo; eles o fizeram com o intuito de criar um intermediário sobre o qual Tua presença pudesse pairar. Mesmo ao fazer o bezerro, eles não Te desprezaram; eles queriam me substituir.

"Mais ainda, leve em consideração o fato de eles terem vivido entre os egípcios, que eram idólatras."

Um pai decidiu que chegara a hora do seu filho começar a ganhar a vida. Ele alugou uma loja em uma área nada respeitável e trouxe-lhe os produtos necessários para que este se transformasse num vendedor de perfumes e cosméticos. Ao indagar um pouco mais tarde sobre o bem-estar do seu filho, foi informado de que este se associara com as libertinas da vizinhança. A ira do pai não tinha limites. "Vou matá-lo por isso!", exclamou. Mas um amigo da família rogou: "Como é que ele poderia ter se portado de outra maneira? Ele é jovem e inexperiente. De todas as possíveis profissões, você escolheu para ele a de um vendedor de perfumes e colocou-o num ambiente corrupto!"

Similarmente, Moshê implorou a D'us: "Não fique irado - Tu os tiraste do Egito, uma terra onde todos adoravam cordeiros. Eles estavam simplesmente imitando os costumes do Egito! Estão acostumados aos ritos daquele país e ainda não se habituaram aos Teus caminhos! Espere um pouco, e eles com certeza farão atos que serão agradáveis perante Ti!

"Se os destruir, os egípcios acreditarão que seus astrólogos predisseram a verdade ao afirmar que o povo de Israel pereceria no deserto. Deixe que a Tua cólera se extinga e revogue o decreto do Teu povo!"

Moshê estava pronto a perder a própria vida pelo povo, fazendo um trato com D'us: "Se não perdoá-los, apague meu nome do Teu livro."

Finalmente, Moshê fez uso da mais poderosa arma de defesa, o mérito dos patriarcas. Voltando-se em direção à caverna de Machpelá, exclamou perante os patriarcas: "Ajudem-me nesta hora, quando seus filhos estão prestes a serem abatidos como cordeiros!" Os patriarcas levantaram-se e posicionaram-se diante dele.

Dirigindo-se a D'us, Moshê orou: "Lembre-se de Avraham, Yitschac e Yaacov, Teus servos para os quais jurastes em Teu Sagrado Nome, 'Eu multiplicarei sua semente como as estrelas do céu!' Lembre as doze tribos sagradas, Teus servos, e salve o povo judeu em seu mérito!"

Ao cabo de quarenta dias de incessante oração, D'us finalmente concordou em perdoar o povo de Israel - não em seu próprio mérito, mas por conta dos seus antepassados. Disse D'us: "Levante-se e lidere o povo de Israel até a Terra Santa! Meu anjo, e não Minha presença, irá à frente de vocês. Decidi que, em vez de destruir o povo de Israel de uma vez, removerei os efeitos do seu pecado gradualmente através das gerações. Sempre que cair uma punição sobre o povo judeu por conta de seus pecados, incluirei nela um pouco da punição pelo pecado do bezerro de ouro.

Após Moshê ter orado durante quarenta dias, D'us concordou em não castigar o povo de Israel. Disse: "Ao invés de castigá-los, agregarei uma pequena parte do castigo pelo pecado do bezerro de ouro a cada castigo que impuser aos judeus no futuro."

Moshê, então, retornou ao seu povo. Apesar de ter evocado a piedade Divina, salvando assim o povo da destruição, Moshê ainda não obteve perdão pelo pecado.

Por que o povo judeu cometeu o pecado do bezerro de ouro

A grandeza da Geração do Deserto não pode ser subestimada. D'us a escolheu dentre todas as outras para receber a Sua Torá, sabendo que eles eram justos. Eram fortes em espírito e controlados em sua má inclinação.

Se é assim, por que é que eles tropeçaram no pecado do bezerro de ouro? Por que D'us não os protegeu do pecado, como Ele usualmente procede com os justos?

D'us permitiu que o pecado do bezerro acontecesse para servir como sinal de esperança e encorajamento para os judeus no futuro. O incidente do bezerro de ouro provaria que, não importa o quão distante uma comunidade se desvie do caminho da Torá, nunca estará longe demais para fazer teshuvá. Se, depois de um pecado tão grave como este, o povo judeu foi aceito novamente por D'us, nenhuma comunidade poderá afirmar que caiu baixo demais para retornar a D'us.

É preciso também ter em mente que o grau de dificuldade de um teste é proporcional à grandeza da pessoa (ou da geração). Quanto maior for o nível espiritual, mais severa será a provação: o povo judeu foi submetido a um grande teste. Era exigido que abandonassem o raciocínio humano e que se ativessem à palavra de D'us. (Eles foram testados para ver se colocariam sua fé absoluta nas palavras do profeta de D'us, Moshê. Este prometera que retornaria, portanto era esperado deles que acreditassem, apesar das suas razões lógicas para assumir que Moshê não voltaria, tendo portanto uma justificativa visível para procurar um substituto.)

A subseqüente condenação do pecado da geração por D'us era relativa às suas grandes capacidades. D'us culpou toda a comunidade por não ter protestado. Na verdade, somente os convertidos egípcios (três mil pessoas, ou cinco por cento da população) serviu ativamente ao bezerro de ouro.

Depois do pecado do bezerro, Moshê remove sua tenda para fora do acampamento

Depois do pecado do bezerro, ao ouvir que a presença Divina não permaneceria mais no meio do povo para guiá-los, Moshê raciocinou: "O discípulo deve seguir o exemplo do seu mestre. D'us está aborrecido com o povo judeu, retirou-se do meio deles. Portanto, devo fazer o mesmo."

Ao deixar o acampamento, a presença Divina o seguiu e pairou sobre a sua tenda. Todo aquele que solicitasse D'us deveria ir até a tenda de Moshê. Sempre que Moshê saía de sua tenda, o povo se levantava em respeito a ele, exclamando, admirados: "Vejam este grande homem que tem a garantia de que, aonde quer que ele vá, a presença Divina o seguirá!"

Sempre que o povo de Israel via a nuvem da presença Divina descendo sobre a tenda de Moshê, ajoelhava-se perante ela. Depois que D'us terminava de passar as instruções para Moshê, este retornava ao acampamento para transmiti-las aos anciãos.

Pela maneira deferente com a qual todo o povo se prostrava perante a presença Divina, D'us viu o quanto almejavam o retorno da Sua presença. Por isso, disse a Moshê: "Se tanto o mestre como o aluno demonstram sua cólera para com o povo de Israel, como eles sobreviverão? Retorne ao acampamento!"

"Não retornarei", redargüiu Moshê..

"Se é assim, seu discípulo Yehoshua irá substituí-lo!", disse-lhe D'us.

"Sabes que a minha decepção com eles foi em Tua honra!", replicou Moshê.

Mesmo assim, ele retornou ao acampamento, porém tentou revogar o decreto Divino de que a Presença Divina não mais guiaria o povo de Israel. "Não aceito Tua decisão de que um anjo nos guiará", disse para D'us. "Se for assim, prefiro não sair mais daqui! Não prometeste guiar-nos pessoalmente, apesar de saber do futuro pecado do bezerro? Como então podes dizer agora que mandarás um mensageiro à nossa frente? Se nos tratas desta maneira, não mais seremos distintos de todas as outras nações. Eles são guiados por um anjo da guarda; agora Tu pretendes que nós também sejamos guiados por um anjo? Como posso aceitar esta mudança de liderança?"

D'us concordou com o pedido de Moshê, demonstrando que um justo possui a grandeza de anular um decreto Divino. D'us postergou Seu decreto de mandar um anjo à frente do povo de Israel até a época do sucessor de Moshê, Yehoshua.

 
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