Ki Tissá
 
A contagem do povo de Israel A defesa de Moshê em nome do povo de Israel 
A ordem de fazer um lavatório Moshê quebra as tábuas 
Betsal'el é designado construtor do Tabernáculo e Aholiav, seu assistente Moshê salva o povo de Israel da destruição 
Depois de quarenta dias no Céu, Moshê recebe duas tábuas de safira Moshê pede para entender os caminhos Divinos
O pecado do bezerro de ouro Moshê permanece no Céu por quarenta dias para receber as segundas tábuas
   
 
 
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O pecado do bezerro de ouro

Antes de subir ao Céu para receber as tábuas, Moshê assegurou ao povo: "Eu retornarei dentro de quarenta dias, antes do meio-dia." Entrementes, ele apontou seu irmão Aharon e o filho de Miriam, Chur, para encarregarem-se do povo de Israel.

Agora já era o décimo-sexto dia de Tamuz, o último dos quarenta dias, e o meio-dia já havia passado. Onde Moshê poderia estar?

De acordo com os cálculos do povo, os quarenta dias já haviam passado. Eles incluíram, erroneamente, na sua contagem o dia da partida de Moshê. Na verdade, porém, ele deveria regressar somente no dia seguinte.

O povo judeu, um povo formado por seiscentos mil homens, sem contar mulheres, crianças e bebês, encontraram-se no enorme e terrível deserto, habitat de animais ferozes, cobras e escorpiões, sem o seu grande líder que servia de ligação entre eles e D'us.

O Satan apareceu perante o povo, inquirindo: "Onde está Moshê?"

"Está no Céu", respondeu o povo judeu.

"Mas o meio dia já passou e ele ainda não regressou", desafiou-os. Suas palavras foram ignoradas.

"Moshê faleceu!" zombou o Satan. O povo, porém, não deu atenção as suas palavras.

O Satan começou então a lhes mostrar visões terríveis, fazendo aparecer o caixão de Moshê. O povo judeu viu o corpo de Moshê suspenso entre o Céu e a Terra. Era uma imagem tão nítida e real que eram capazes de apontar para ela com seus dedos.

A explicação verdadeira para aquela visão foi que Moshê, como resultado de sua estadia no Céu, foi transformado em um ser espiritual. O Satan mostrou para o povo a vestimenta física da qual havia se despido.

Então exclamaram: "Quem sabe se Moshê retornará? D'us pode tê-lo feito permanecer no Céu para engajar-se em discussões de Torá com ele, ou talvez os anjos o mataram!"

Os egípcios convertidos aproximaram-se de Aharon, Chur e dos setenta anciãos, reivindicando: "Já que Moshê desapareceu nas alturas, a congregação inteira está destinada a morrer! Dê-nos um substituto!"

A maioria dos membros do povo de Israel não tencionava usar a imagem como ídolo. Supunham que a Shechiná (Divindade) pousaria na imagem, e que esta os ajudaria a aproximar-se de D'us, assim como Moshê sempre se acercara deles. Porém, foi um erro. Nos Dez Mandamentos, D'us ordenou: "Não se pode venerar imagens" nem mesmo com o propósito de servir D'us.

"Queremos um líder que nos garantirá um status igual ao dos judeus de nascença!"

Chur, o filho de Miriam e sobrinho de Moshê e Aharon, ficou de pé e exclamou: "Será que esta é a gratidão que possuem por todos os milagres que D'us realizou para vocês? Apenas por que Moshê não está aqui desejam fazer esta imagem? Moshê voltará! Mas mesmo que não volte, não lhes está permitido fazer imagens! Não os deixarei fazê-la!"

"Seus pescoços deveriam ser cortados por uma exigência como essa!", trovejou.

Chur explicou para o povo que era desnecessário procurar por algo no qual a presença Divina pairasse, pois o povo de Israel, diferentemente de todas as outras nações, eram guiados pessoalmente por D'us.

O povo se agitou ante as palavras de Chur. Alguns começaram a lutar com ele, e finalmente o mataram.

D'us disse: "Chur, destes a vida para santificar Meu nome. Mereces uma grande recompensa por isso! Teus filhos serão grandes homens e príncipes do povo judeu."

E assim aconteceu. O neto de Chur, Betsal'el, foi designado construtor do Tabernáculo, e dentre seus descendentes estavam o rei David e outros reis.

Os convertidos egípcios viraram-se para os anciãos, exigindo um novo líder, porém estes negaram.

Os convertidos egípcios finalmente foram ter com Aharon, exigindo: "Dê-nos um líder, pois nós não sabemos o que aconteceu com este homem, Moshê!"

Aharon se encontrava em posição difícil. Se dissesse: "Não posso permitir", como Chur o fizera, alguns da turba poderiam matá-lo também. Aharon raciocinou: "Se eles me assassinarem também, não terão perdão pelo seu crime. O pecado de fabricar uma imagem é menor se comparado com um crime tão hediondo!"

Se Aharon não ficasse à frente do povo, as coisas poderiam ficar piores.

Portanto, pois, que Aharon decidiu: "Não me resta outro remédio: É melhor aceitar. Porém demorarei muito para fazer uma imagem. Espero que Moshê volte antes de terminar."

D'us sabia que Aharon consentiu porque, graças ao seu grande amor para o povo de Israel, queria salvá-los da destruição.

Para protelar e atrasar o plano, Aharon ordenou: "Tragam-me os brincos de suas esposas e crianças." Ele presumiu que as mulheres relutariam em compartilhar suas jóias. Poderiam surgir discussões entre marido e mulher, e com isto, tempo precioso seria ganho.

As mulheres, realmente, recusaram-se a compartilhar as suas jóias, não por estarem ligadas a elas, mas porque recusaram-se a dedicá-las para a formação de uma imagem.

Sua fidelidade a D'us foi recompensada; as mulheres receberam o Rosh Chôdesh como um dia festivo especial para si mesmas, para ser celebrado por elas através das gerações.

É costume das mulheres absterem-se de trabalho específicos em Rosh Chôdesh, como lavar roupas e costurar.

Fora as mulheres, toda a tribo de Levi absteu-se de contribuir com qualquer ouro para fazer o bezerro, e assim também fizeram os líderes das tribos e os justos do povo de Israel.

Apesar da recusa das mulheres, o plano de Aharon falhou porque os homens estavam ávidos em contribuir com ouro. Eles arrancaram os brincos rapidamente e Aharon jogou o ouro no fogo para derretê-lo e mais tarde moldá-lo e esculpi-lo com uma ferramenta. (Aharon usou o processo mais lento possível para a formação do metal, esculpindo-o com uma ferramenta em vez de colocá-lo num molde.)

Agora os magos egípcios se puseram a trabalhar. Com sua magia, converteram a imagem em um bezerro. Subseqüentemente, um bezerro vivo emergiu do fogo, balindo e andando.

Apontando para ele, os egípcios convertidos gritaram: "Estes são os seus deuses, Israel, que os tiraram do Egito!"

As reações do povo de Israel diante do bezerro foram variadas. Alguns consideraram-no um intermediário sobre o qual a presença Divina pairaria. Outros tiveram a intenção de servir o próprio bezerro. Alguns o acolheram como uma oportunidade de abandonar a estrita disciplina moral da Torá e usar esta imagem como um pretexto para licenciosidade.

O povo quis construir um altar no qual oferendas poderiam ser sacrificadas, e tinham a intenção de rezar para D'us pedindo que um fogo Celestial descesse sobre ele. Aharon, porém, exigiu que a construção do altar fosse deixada a cargo dele, proclamando: "Será uma honra maior para o altar se eu construí-lo sozinho!" Na verdade, seus pensamentos eram: "Se eles o construírem, cada um trará uma pedra e ele logo ficará pronto. Eu, porém, demorarei na sua construção até o anoitecer, para que nenhum sacrifício seja oferecido até amanhã. Até lá, Moshê já terá retornado!"

Ele concordou em construir este altar pois preferia ser pessoalmente culpado a deixar que o povo judeu fosse punido mais tarde pelo pecado de construí-lo.

Aharon declarou numa voz triste: "Amanhã terá um festival para D'us!" Ele frisou claramente que o festival era em honra de D'us, e não do bezerro.

Na manhã seguinte, os egípcios convertidos despertaram cedo. Beberam vinho, e naquele estado de intoxicação, serviram ao bezerro como se fosse um deus, oferecendo-lhe a maná que caíra naquele dia. Assim, eles contrariaram o Altíssimo com a maior bondade que Ele lhes outorgara.

(Isto não nos surpreenderá se considerarmos que nós, freqüentemente, agimos desta mesma maneira incongruente, ao empregarmos nosso cérebro e membros, ambos presentes Divinos, para desafiar a Sua vontade.)

Ao mesmo tempo em que o povo estava praticando idolatria, D'us, nos Céus, estava ocupado gravando os Dez Mandamentos para eles nas duas tábuas de safira, como um presente para o Seu povo, que garantiria a eles vida eterna.

Os egípcios convertidos induziram os primogênitos do povo judeu a também fazer sacrifícios para o bezerro. Os primogênitos, por causa disso, perderam seu direito de realizar o serviço Divino. Este privilégio foi transferido para a tribo de Levi.

A idolatria do bezerro levou à libertinagem e obscenidade.

Apesar de que foram os egípcios convertidos quem idolatraram o bezerro, todo o povo de Israel foi incluído no veredicto culposo de D'us, já que eles fracassaram em protestar contra os pecadores.

D'us poderia ter destruído todo o povo de Israel nesta ocasião, se não fosse a memória de Avraham, Yitschac e Yaacov.

 
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