Côrach
 
Côrach ressente-se de não ter sido escolhido para um alto cargo Côrach e seus seguidores levantarão na ressurreição dos mortos e terão uma porção no Mundo Vindouro?
A campanha de Côrach para obter seguidores Os judeus queixam-se novamente
Moshê sugere que Côrach e seus seguidores ofereçam incenso Os presentes ofertados aos cohanim
A punição de Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinqüenta homens A mitsvá de redimir o primogênito
 
 
 
 
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A campanha de Côrach para obter seguidores

Côrach sabia que não teria esperança de obter êxito se soubessem que seu objetivo era obter uma posição para si. Assim sendo, decidiu formar um partido contra Moshê, com intenções altruísticas. Proclamou que cada judeu deveria ter igual oportunidade de servir no Santuário.

Côrach começou a agitar o povo, chamando sua atenção ao fato de que a maioria dos cargos no Santuário eram ocupados pela própria família de Moshê, bem como outras posições na comunidade.

Côrach disse a seus próprios parentes: "Por que Moshê tornou-os apenas leviyim, e não cohanim? Ele os indicou meramente como assistentes de seu irmão Aharon e seus filhos!"

Aos primogênitos de cada tribo disse: "Com que direito Moshê declarou-os inaptos para o serviço Divino, e substituiu-os pelos leviyim?"

Aos vizinhos, membros da tribo de Reuven, dirigiu-se desta forma: "Reuven é o primogênito dos filhos de Yaacov. Vejam como o filho de Amram (Moshê) os menosprezou e desrespeitou quando o altar foi inaugurado. Não deixou seu líder oferecer seu sacrifício primeiro; no entanto escolheu o líder de Yehudá, Nachshon ben Aminadav para oferecer os sacrifícios no primeiro dia da inauguração. Sabem por quê? Porque seu irmão Aharon casou-se com a irmã de Nachshon, Elisheva. Por isso, Moshê indicou Nachshon como o cabeça dos estandartes e convocou-o a oferecer os sacrifícios primeiro." (Côrach também invejava a posição de Nachshon. Na verdade, Nachshon fora escolhido porque Yehudá foi escolhido Divinamente como a tribo líder.)

"Os filhos de Reuven, por que toleram que Moshê dê a kehuná para Aharon? Até agora, os primogênitos costumavam oferecer os sacrifícios."

"Moshê agiu de acordo com os comandos de D'us," foi a réplica às instigações de Côrach.

"Impossível!" - declarou Côrach. "Moshê decidiu ele mesmo como distribuir as posições de destaque. O que os faz pensar que apenas Aharon merece a posição de Sumo-sacerdote? Todos vocês são grandes o suficiente para serem cohanim, pois não nos disse D'us: "E vocês serão para Mim um reino de cohanim e um povo santo? (Shemot 19:6) Agora, se responderem que os primogênitos perderam o privilégio de servir no Santuário depois do pecado do bezerro de ouro, então Aharon também não poderia tornar-se um cohen, pois ele também participou do pecado. Deve haver direitos iguais para todos os que são merecedores de altas posições. Incidentalmente, eu mesmo seria melhor qualificado para a kehuná que Aharon, pois sou primogênito e não pequei no incidente do bezerro de ouro."

A fim de aliciar seguidores, Côrach convidou o público a um luxuoso banquete, no qual foi servido vinho em abundância.

O que aconteceu no banquete de Côrach

Enquanto estavam festejando, Elazar, o cohen, filho de Aharon apareceu para recolher as partes dos animais abatidos devidas aos cohanim.

Côrach aproveitou a oportunidade para expor seu malévolo e brilhante expediente, contando sarcasticamente a seguinte anedota à assembléia:

"Certa vez havia uma pobre viúva que tinha duas filhas, que possuíam um único campo. Quando queria ará-lo, Moshê advertiu-a: 'Não are com um boi e um burro juntos.' Quando ela estava prestes a semear, Moshê disse-lhe: 'Não plante duas espécies em seu campo!' Ao chegar a época da colheita em que ela colheria os grãos, Moshê ordenou: 'Deixe o lêket, a peá e a shichechá no campo (os presentes deixados para os pobres, frutos da colheita.)' Depois que ela colheu o trigo, ele avisou-a: 'Separe as dívidas de terumá, maasser rishon e maasser sheni (porções destinadas aos cohanim, leviyim, etc.).'

"A pobre viúva decidiu que não vale a pena manter seu campo. Vendeu-o e comprou dois carneiros. Planejava utilizar a lã para confeccionar roupas quentes e abater os filhotes para consumo da carne. Quando a ovelha pariu, Aharon apareceu e ordenou-lhe: 'Dê-me o primogênito; D'us disse que me pertence.' Ao tosquiar as reses, Aharon veio novamente, dizendo-lhe: 'A primícia da tosquia me pertence.'

"'Quanto mais este homem irá exigir?' - pensou a viúva. 'Deixe-me abater minhas ovelhas e comê-las.'

"Assim que as ovelhas foram abatidas, lá estava Aharon novamente, reivindicando seu direito ao ombro, mandíbulas e estômago.

"'Você é insaciável,' disse a viúva. 'Prefiro doar os carneiros como cherem (consagrados) a D'us.'

"'Perfeito,' gritou Aharon em júbilo, 'agora são todos meus, pois D'us ordenou: 'Todo cherem pertence aos cohanim.'

"Aharon levou tudo, deixando a pobre viúva e suas duas filhas soluçando.

"Vocês vêem, " concluiu Côrach, "o que quer que Moshê e Aharon preguem é em seu próprio benefício. Eles os roubam, e asseveram que D'us ordenou-os a fazê-lo!"

Com este e outros discursos de oratória, Côrach juntou duzentos e cinqüenta seguidores. Entre eles, estavam pessoas influentes e de renome que possuíam cargos elevados e eram convocados para reuniões e consultas. Côrach também convenceu On, um importante membro da tribo de Reuven, a tomar seu partido. Engalanou-os com trajes azuis confeccionados por encomenda sua para aparecerem assim vestidos perante Moshê.

Logo que Côrach começou a falar contra Moshê, dois agitadores uniram-se a ele. Datan e Aviram esperavam esta oportunidade, pois odiavam Moshê, e discutiam com ele sempre que houvesse uma ocasião.

Côrach reúne seus seguidores e discute com Moshê

Côrach, com sua língua ferina, persuadiu-os que era injusto que apenas uma tribo realizasse o serviço Divino, enquanto outras eram excluídas deste privilégio. Em comparação a Côrach, que procurou a discórdia por motivos puramente egoístas, esses duzentos e cinqüenta homens acreditavam sinceramente que o povo judeu, como um todo, se beneficiaria se todas as tribos pudessem atingir a grandeza derivada da realização do serviço Divino.

Vestidos em trajes azuis, Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinqüenta homens apresentaram-se descaradamente perante Moshê e Aharon. Côrach, o porta-voz, dirigiu-se a Moshê como se segue: "Você nos ordenou a atar um fio da cor turquesa às nossas roupas. Fizemos melhor; confeccionamos uma roupa inteiramente turquesa. Diga-nos, tais trajes ainda requerem um fio da cor turquesa ou não?"

O plano de Côrach era o seguinte: Se Moshê respondesse de maneira negativa, rebateria: "Da mesma forma como uma roupa turquesa não requer um fio da cor turquesa, assim os judeus são santos e não necessitam de Aharon e dos cohanim para representá-los perante D'us." (Obviamente, essas palavras eram falsas e fruto de mera provocação. Em realidade, Côrach acreditava que os judeus precisavam ter um Sumo-sacerdote, ou seja, ele mesmo.) Por outro lado, se Moshê respondesse que um traje turquesa requer um fio da cor turquesa, Côrach ridicularizaria esta mitsvá, argumentando que Moshê a inventou.

Moshê replicou à questão de Côrach: "Ouvi de D'us que mesmo se um traje for feito inteiramente da cor turquesa, não obstante ainda requer um fio da cor turquesa."

Neste ponto, Côrach atacou a mitsvá de tsitsit, "decidindo" que roupas turquesas não necessitam de fios extras da cor turquesa. Então, começou a denegrir todas as mitsvot.

"Permita-me formular outra pergunta" - continuou Côrach. "Se numa casa há rolos da Torá, é necessário afixar uma mezuzá na porta?" "Sim, é necessário" - respondeu Moshê.

"Mas os Rolos de Torá são melhores que uma mezuzá!" - replicou Côrach. "Eles não apenas contêm o Shemá, mas também toda a Torá. Então por que é necessário afixar uma mezuzá na porta?"

Por fim, Côrach afirmou: "Não creio que D'us tenha te dado todas as mitsvot. Você as inventou. Ouvimos apenas os Dez Mandamentos no Monte Sinai. Nunca ouvimos de D'us todas essas leis sobre terumá, maasser (dízimo), chalá ou tsitsit. Você, Moshê, as inventou a fim de governar-nos e trazer honra a seu irmão Aharon!

"O que o povo judeu ganhou sob sua liderança, Moshê e Aharon? Vocês tornaram a vida mais difícil do que era no Egito. Pagamos terumá aos cohanim, maasser aos leviyim, e damos vinte e quatro presentes diferentes aos cohanim. Além disso, a cada ano quinze mil de nós perecerão no deserto. Vocês abocanharam altas posições demais. Você, Moshê, usurpou a realeza. Por que também indicou seu irmão como Sumo-sacerdote? Não têm o direito de proclamarem-se cabeças de toda esta comunidade, cujos membros são todos santos, e em cujas mentes reside a Shechiná (Presença Divina)."

Côrach e seus seguidores estavam prontos a apedrejarem Moshê e Aharon.

Moshê prostrou-se sobre sua face. Significava que diminuiu-se, sentindo-se mais humilde de todos, e não afirmava autoridade sobre outros, como reivindicava Côrach. Respondeu dócil e humildemente a Côrach: "Não persigo o poder, tampouco meu irmão Aharon procura ser o Sumo-sacerdote."

Aharon, que estava ao lado, não refutou os vis argumentos de Côrach com uma palavra sequer. Permaneceu em silêncio durante a disputa inteira, como se reconhecesse humildemente que Côrach era realmente mais merecedor a ser o Sumo-sacerdote que ele próprio (e ele apenas ficava no cargo, pois obedecia a D'us).

Moshê respondeu a Côrach e sua assembléia da seguinte maneira: "Vocês reivindicam que eu procuro grandeza, e que indiquei Aharon como o Sumo-sacerdote da nação por ser meu irmão, e que tornei seus filhos cohanim por serem meus sobrinhos. Mais que isso, você alega que escolhi os leviyim para o Serviço no lugar dos primogênitos por motivos pessoais, sem o comando Divino. Finalmente, você afirma que eu mesmo decidi que os leviyim devem ser subservientes a Aharon (em vez de também serem cohanim).

"Deixem-me explicar-lhes, primeiro, que estão cometendo um erro básico. D'us não pediu minha opinião sobre quem deve ser escolhido para cada ofício sagrado. Da mesma forma como Ele separou o dia da noite - assim Ele separou certos judeus para serem santos para Ele, e realizar Seu Serviço. Do mesmo modo como Ele distinguiu o povo judeu das nações, assim Ele distinguiu Aharon entre o povo judeu como 'Santo dos Santos,' e os cohanim mais santos que os não cohanim. Não podemos mudar Seu sistema mais que podemos mudar o dia em noite, ou transformar a noite em dia.

"Sou solidário ao seu desejo de que muitas pessoas de todas as tribos realizassem o Serviço. As nações do mundo, de fato, têm muitos sacerdotes pois idolatram muitas divindades, e cada divindade tem seu próprio templo e sacerdote. Nós, judeus, contudo, somos diferentes. Reconhecemos Um Único D'us, e todos acreditamos em Uma só Torá. D'us ordenou que haja apenas um único Sumo-sacerdote: aquele que Ele escolheu para realizar o Serviço. Ele indicou uma única tribo, a tribo de Levi, para a kehuná e a leviyá. Por conseguinte, é impossível para todos vocês, que estão aqui reunidos, tomarem parte no Serviço do Santuário."

 
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