BEIT CHABAD

  Midrash Côrach
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Côrach ressente-se de não ter sido escolhido para um alto cargo

Côrach pensou: "Meu destino indica que nasci para a grandeza. Por quê razão meu avô deu o nome de Yitshar - óleo - a meu pai? Meu avô deve ter previsto que exatamente como o óleo sempre flutua na superfície, assim meu pai produz filhos superiores, merecedores de serem untados com o sagrado óleo da unção para as posições de kehuná (sacerdócio) ou realeza.

"Agora, quem é mais predestinado que eu, o filho mais velho de Yitshar, e o mais qualificado para altos cargos?"

Realmente, Côrach combinava qualidades superiores que poucas pessoas possuiam:

• Primeiro, seus ancestrais eram ilustres. Seu antepassado era Kehat, e sua família, os filhos de Kehat, era a mais importante família dos levitas. Côrach era primo em primeiro grau de Moshê e Aharon.

• Côrach fora escolhido como um dos carregadores da arca.

• Além disso, Côrach era um homem muito inteligente e culto.

• Previra através do espírito de profecia que, entre seus descendentes incluía-se o famoso profeta Shemuel, bem como catorze grupos de leviyim que possuiriam o espírito de profecia.

Côrach disse: "Estou destinado a ser a fonte de todas essas grandezas. Como pode ser que eu mesmo não atinja um posto de destacada importância?"

Saber de antemão acerca da grandeza de sua prole fortaleceu sua crença no sucesso de uma revolta contra Moshê. (Não percebia que seria destruído, e que seus filhos sobreviventes gerariam esses grandes descendentes.)

• Acima de tudo, Côrach estava muito seguro de si e presunçoso por causa de sua fabulosa fortuna. Pensava que era favorecido por D'us, e que por isso tinha o direito de travar contenda contra Moshê, pois, "Um homem rico fala com imprudência." (Mishlê 18:23)

Como Côrach ficou rico?

Os outros membros da tribo de Levi viviam na pobreza. Não levaram ouro nem prata do Egito consigo. Moshê ordenou que todo judeu pegasse dinheiro e objetos preciosos dos egípcios, referindo-se apenas às tribos que executaram trabalho escravo. Uma vez que os leviyim não trabalharam para os egípcios (mas eram livres e estudavam Torá), não receberam dinheiro como recompensa, no Êxodo. No Mar Vermelho, os leviyim recusaram-se a pegar o espólio dos egípcios, pois não atribuíam valor algum às posses terrenas. Estavam completamente imersos no estudo da Torá. Através dos anos no deserto, os leviyim viviam sem meios de sustento, dedicando-se puramente às preocupações espirituais.

Apenas Côrach era ávido por dinheiro. No Egito, fora tesoureiro do Faraó. Esperava que os judeus permanecessem no Egito após a Redenção, e ele tornar-se-ia, então, o proprietário do tesouro real. D'us, Que dirige a vida da pessoa na senda que essa quer trilhar, satisfez o desejo de Côrach por dinheiro, deixando-o descobrir uma parte do tesouro que Yossef ocultara nos cofres reais. Esta descoberta transformou Côrach numa das pessoas mais ricas que já viveram.

Quando os judeus saíram do Egito, Côrach guardou todo o seu ouro e prata em incontáveis cofres, e trancou-os. Possuía tantas chaves que necessitava de trezentas mulas para carregá-las. Estas chaves eram de couro; se fossem de metal, nem trezentas mulas poderiam carregar tal peso.

Contudo, uma vez que ele malversou sua fortuna para rebelar-se contra a Torá, foi punido na mesma moeda. Não restou traço de sua fortuna. Essa desapareceu na terra, juntamente com ele.

Côrach dá ouvidos à sua esposa

Apesar de suas diversas distinções, Côrach não ousaria rebelar-se contra Moshê, se não fosse por sua esposa. A esposa de Côrach inflara o ego de seu marido, e garantiu-lhe repetidamente que estava no mesmo nível de Moshê e Aharon. Para seu infortúnio, Côrach ouviu sua esposa.

Haviam duas pessoas extremamente ricas, uma judia e outra gentia, que deram ouvidos às respectivas esposas, foram destruídos e perderam suas fortunas. O judeu foi Côrach, cuja esposa inspirou-o a rebelar-se contra Moshê. O não judeu foi Haman, que deu ouvidos à sua esposa, erguendo um patíbulo (de cerca de vinte e cinco metros) para Mordechai. Não percebeu que preparara seu próprio cadafalso.

O orgulho de Côrach fora profundamente ferido, pois Moshê aparentemente ignorara-o ao escolher os vários dignitários; não indicara Côrach para nenhuma função de destaque na comunidade.

"É absolutamente injusto," pensou o mortificado Côrach, "que Moshê não tenha me escolhido como líder da família de Kehat. É claramente meu direito ter sido escolhido. Sou o primogênito do segundo filho de Kehat, Yitshar. Mas não! Ele incumbiu esta função a meu primo mais novo, Elitsafan filho de Uziel.

"Meu avô Kehat tinha quatro filhos, Amram, Yitshar, Chevron e Uziel. Os dois filhos de Amram, Moshê e Aharon, tornaram-se, respectivamente, rei e Sumo-sacerdote. O neto de Amram, Elazar, virou cohen, enquanto eu não; apesar de eu ser pelo menos igual a ele. (Côrach calculara que até mesmo o valor numérico de seu nome, Côrach, tinha o mesmo valor de Elazar, 308). Por que Elazar foi feito cohen, e eu não?

"Não acredito que D'us ordenou a Moshê que distribua os cargos de maneira tão injusta. Nada disso! Moshê deve ter feito isso por sua própria vontade. Quem disse que cada um de seus atos é ditado por D'us, como ele nos assevera?"

Côrach, um homem sábio, perdeu sua sabedoria e razão porque foi consumido pelo desejo pela glória e pela inveja dos que, a seu ver, eram seus iguais e atingiram posições mais altas que ele. Sua declaração de que Moshê distribuíra os cargos sem ordem Divina era apostasia. Côrach assim fez com que fosse classificado como um dos que "desdenhou a palavra de D'us." Eventualmente, Côrach foi tão longe que asseverou que Moshê inventara todas as mitsvot.

A inveja ardera no coração de Côrach por longo tempo. A inveja era objeto de muitas conversas entre ele e sua esposa. Uma dessas teve lugar quando retornava da cerimônia de purificação dos leviyim (Bamidbar 8:5 -14), tendo os cabelos raspados a ponto de ficar irreconhecível.

A esposa de Côrach exclamou: "Não te reconheci! Quem te desfigurou assim?"

"Foi obra de Moshê," replicou Côrach. "Mais que isso! Primeiro, Moshê e Aharon me levantaram e balançaram-me para cima e para baixo! Que desgraça! A seguir, Moshê me disse que agora estou puro, porque passei pelo processo de purificação dos leviyim."

Côrach zombou da cerimônia de purificação, uma vez que sabia que não se tornaria "mais puro", porém, pelo contrário, sentiu um desejo não satisfeito de rebelar-se e blasfemar contra as mitsvot. (Na verdade, a Torá e as mitsvot são um elixir para os que desejam se purificar, todavia, é veneno para os que procuram rebaixar-se.)

A reação da esposa de Côrach: "Ridículo! Você está vendo como Moshê te odeia. Ele concebeu a idéia de raspar teus cabelos a fim de te ridicularizar."

E Côrach: "Não pode dizer tal coisa; afinal, fez o mesmo com seus próprios filhos."

E a esposa: "O que lhe importa, contanto que possa degradá-lo?"

Depois disso, Côrach incitou o povo contra Moshê e conseguiu alguns seguidores. Contudo, não ousava desafiar Moshê abertamente. O povo inteiro admirava Moshê e mataria Côrach por ter sugerido uma rebelião contra seu amado líder.

Agora, no segundo ano no deserto, após o incidente com os espiões, Côrach sentia que a hora da rebelião chegara. Aconteceram muitas mortes. Judeus morreram após terem recebido dos céus a carne exigida na forma de aves (slav). Sobretudo, as pessoas estavam deprimidas porque todos os homens que saíram do Egito viriam a perecer no deserto. Moshê não fora capaz de impedir esse decreto através de sua oração, e sua popularidade anterior se esvanecera. Muitos judeus pensaram, em seu íntimo, que sob a liderança de Moshê sofreram muitos infortúnios. Côrach acreditava que agora poderia aliciar seguidores.

Certo dia, ao voltar da Casa de Estudos, sua esposa inspirou-o com uma idéia para iniciar uma contenda com Moshê.

A esposa de Côrach: "Que lei Moshê te ensinou hoje na Casa de Estudos?"

Côrach: "Ele nos ensinou as leis de tsitsit, franjas, das quais uma tem de ser da cor turquesa."

Sua esposa: "O que significa turquesa?"

Côrach: "Moshê disse: 'Atem fios às suas roupas de quatro cantos. Um desses deve ser de lã azul, tingido com o sangue de uma criatura chamada chilazon.'"

A esposa: "Está vendo! Que leis tolas ele ensina! Por que você só pode ter um fio turquesa atado à sua roupa? Posso lhe fazer uma roupa completamente turquesa!"

Isto suscitou em Côrach uma idéia de como opor-se a Moshê.

A campanha de Côrach para obter seguidores

Côrach sabia que não teria esperança de obter êxito se soubessem que seu objetivo era obter uma posição para si. Assim sendo, decidiu formar um partido contra Moshê, com intenções altruísticas. Proclamou que cada judeu deveria ter igual oportunidade de servir no Santuário.

Côrach começou a agitar o povo, chamando sua atenção ao fato de que a maioria dos cargos no Santuário eram ocupados pela própria família de Moshê, bem como outras posições na comunidade.

Côrach disse a seus próprios parentes: "Por que Moshê tornou-os apenas leviyim, e não cohanim? Ele os indicou meramente como assistentes de seu irmão Aharon e seus filhos!"

Aos primogênitos de cada tribo disse: "Com que direito Moshê declarou-os inaptos para o serviço Divino, e substituiu-os pelos leviyim?"

Aos vizinhos, membros da tribo de Reuven, dirigiu-se desta forma: "Reuven é o primogênito dos filhos de Yaacov. Vejam como o filho de Amram (Moshê) os menosprezou e desrespeitou quando o altar foi inaugurado. Não deixou seu líder oferecer seu sacrifício primeiro; no entanto escolheu o líder de Yehudá, Nachshon ben Aminadav para oferecer os sacrifícios no primeiro dia da inauguração. Sabem por quê? Porque seu irmão Aharon casou-se com a irmã de Nachshon, Elisheva. Por isso, Moshê indicou Nachshon como o cabeça dos estandartes e convocou-o a oferecer os sacrifícios primeiro." (Côrach também invejava a posição de Nachshon. Na verdade, Nachshon fora escolhido porque Yehudá foi escolhido Divinamente como a tribo líder.)

"Os filhos de Reuven, por que toleram que Moshê dê a kehuná para Aharon? Até agora, os primogênitos costumavam oferecer os sacrifícios."

"Moshê agiu de acordo com os comandos de D'us," foi a réplica às instigações de Côrach.

"Impossível!" - declarou Côrach. "Moshê decidiu ele mesmo como distribuir as posições de destaque. O que os faz pensar que apenas Aharon merece a posição de Sumo-sacerdote? Todos vocês são grandes o suficiente para serem cohanim, pois não nos disse D'us: "E vocês serão para Mim um reino de cohanim e um povo santo? (Shemot 19:6) Agora, se responderem que os primogênitos perderam o privilégio de servir no Santuário depois do pecado do bezerro de ouro, então Aharon também não poderia tornar-se um cohen, pois ele também participou do pecado. Deve haver direitos iguais para todos os que são merecedores de altas posições. Incidentalmente, eu mesmo seria melhor qualificado para a kehuná que Aharon, pois sou primogênito e não pequei no incidente do bezerro de ouro."

A fim de aliciar seguidores, Côrach convidou o público a um luxuoso banquete, no qual foi servido vinho em abundância.

O que aconteceu no banquete de Côrach

Enquanto estavam festejando, Elazar, o cohen, filho de Aharon apareceu para recolher as partes dos animais abatidos devidas aos cohanim.

Côrach aproveitou a oportunidade para expor seu malévolo e brilhante expediente, contando sarcasticamente a seguinte anedota à assembléia:

"Certa vez havia uma pobre viúva que tinha duas filhas, que possuíam um único campo. Quando queria ará-lo, Moshê advertiu-a: 'Não are com um boi e um burro juntos.' Quando ela estava prestes a semear, Moshê disse-lhe: 'Não plante duas espécies em seu campo!' Ao chegar a época da colheita em que ela colheria os grãos, Moshê ordenou: 'Deixe o lêket, a peá e a shichechá no campo (os presentes deixados para os pobres, frutos da colheita.)' Depois que ela colheu o trigo, ele avisou-a: 'Separe as dívidas de terumá, maasser rishon e maasser sheni (porções destinadas aos cohanim, leviyim, etc.).'

"A pobre viúva decidiu que não vale a pena manter seu campo. Vendeu-o e comprou dois carneiros. Planejava utilizar a lã para confeccionar roupas quentes e abater os filhotes para consumo da carne. Quando a ovelha pariu, Aharon apareceu e ordenou-lhe: 'Dê-me o primogênito; D'us disse que me pertence.' Ao tosquiar as reses, Aharon veio novamente, dizendo-lhe: 'A primícia da tosquia me pertence.'

"'Quanto mais este homem irá exigir?' - pensou a viúva. 'Deixe-me abater minhas ovelhas e comê-las.'

"Assim que as ovelhas foram abatidas, lá estava Aharon novamente, reivindicando seu direito ao ombro, mandíbulas e estômago.

"'Você é insaciável,' disse a viúva. 'Prefiro doar os carneiros como cherem (consagrados) a D'us.'

"'Perfeito,' gritou Aharon em júbilo, 'agora são todos meus, pois D'us ordenou: 'Todo cherem pertence aos cohanim.'

"Aharon levou tudo, deixando a pobre viúva e suas duas filhas soluçando.

"Vocês vêem, " concluiu Côrach, "o que quer que Moshê e Aharon preguem é em seu próprio benefício. Eles os roubam, e asseveram que D'us ordenou-os a fazê-lo!"

Com este e outros discursos de oratória, Côrach juntou duzentos e cinqüenta seguidores. Entre eles, estavam pessoas influentes e de renome que possuíam cargos elevados e eram convocados para reuniões e consultas. Côrach também convenceu On, um importante membro da tribo de Reuven, a tomar seu partido. Engalanou-os com trajes azuis confeccionados por encomenda sua para aparecerem assim vestidos perante Moshê.

Logo que Côrach começou a falar contra Moshê, dois agitadores uniram-se a ele. Datan e Aviram esperavam esta oportunidade, pois odiavam Moshê, e discutiam com ele sempre que houvesse uma ocasião.

Côrach reúne seus seguidores e discute com Moshê

Côrach, com sua língua ferina, persuadiu-os que era injusto que apenas uma tribo realizasse o serviço Divino, enquanto outras eram excluídas deste privilégio. Em comparação a Côrach, que procurou a discórdia por motivos puramente egoístas, esses duzentos e cinqüenta homens acreditavam sinceramente que o povo judeu, como um todo, se beneficiaria se todas as tribos pudessem atingir a grandeza derivada da realização do serviço Divino.

Vestidos em trajes azuis, Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinqüenta homens apresentaram-se descaradamente perante Moshê e Aharon. Côrach, o porta-voz, dirigiu-se a Moshê como se segue: "Você nos ordenou a atar um fio da cor turquesa às nossas roupas. Fizemos melhor; confeccionamos uma roupa inteiramente turquesa. Diga-nos, tais trajes ainda requerem um fio da cor turquesa ou não?"

O plano de Côrach era o seguinte: Se Moshê respondesse de maneira negativa, rebateria: "Da mesma forma como uma roupa turquesa não requer um fio da cor turquesa, assim os judeus são santos e não necessitam de Aharon e dos cohanim para representá-los perante D'us." (Obviamente, essas palavras eram falsas e fruto de mera provocação. Em realidade, Côrach acreditava que os judeus precisavam ter um Sumo-sacerdote, ou seja, ele mesmo.) Por outro lado, se Moshê respondesse que um traje turquesa requer um fio da cor turquesa, Côrach ridicularizaria esta mitsvá, argumentando que Moshê a inventou.

Moshê replicou à questão de Côrach: "Ouvi de D'us que mesmo se um traje for feito inteiramente da cor turquesa, não obstante ainda requer um fio da cor turquesa."

Neste ponto, Côrach atacou a mitsvá de tsitsit, "decidindo" que roupas turquesas não necessitam de fios extras da cor turquesa. Então, começou a denegrir todas as mitsvot.

"Permita-me formular outra pergunta" - continuou Côrach. "Se numa casa há rolos da Torá, é necessário afixar uma mezuzá na porta?" "Sim, é necessário" - respondeu Moshê.

"Mas os Rolos de Torá são melhores que uma mezuzá!" - replicou Côrach. "Eles não apenas contêm o Shemá, mas também toda a Torá. Então por que é necessário afixar uma mezuzá na porta?"

Por fim, Côrach afirmou: "Não creio que D'us tenha te dado todas as mitsvot. Você as inventou. Ouvimos apenas os Dez Mandamentos no Monte Sinai. Nunca ouvimos de D'us todas essas leis sobre terumá, maasser (dízimo), chalá ou tsitsit. Você, Moshê, as inventou a fim de governar-nos e trazer honra a seu irmão Aharon!

"O que o povo judeu ganhou sob sua liderança, Moshê e Aharon? Vocês tornaram a vida mais difícil do que era no Egito. Pagamos terumá aos cohanim, maasser aos leviyim, e damos vinte e quatro presentes diferentes aos cohanim. Além disso, a cada ano quinze mil de nós perecerão no deserto. Vocês abocanharam altas posições demais. Você, Moshê, usurpou a realeza. Por que também indicou seu irmão como Sumo-sacerdote? Não têm o direito de proclamarem-se cabeças de toda esta comunidade, cujos membros são todos santos, e em cujas mentes reside a Shechiná (Presença Divina)."

Côrach e seus seguidores estavam prontos a apedrejarem Moshê e Aharon.

Moshê prostrou-se sobre sua face. Significava que diminuiu-se, sentindo-se mais humilde de todos, e não afirmava autoridade sobre outros, como reivindicava Côrach. Respondeu dócil e humildemente a Côrach: "Não persigo o poder, tampouco meu irmão Aharon procura ser o Sumo-sacerdote."

Aharon, que estava ao lado, não refutou os vis argumentos de Côrach com uma palavra sequer. Permaneceu em silêncio durante a disputa inteira, como se reconhecesse humildemente que Côrach era realmente mais merecedor a ser o Sumo-sacerdote que ele próprio (e ele apenas ficava no cargo, pois obedecia a D'us).

Moshê respondeu a Côrach e sua assembléia da seguinte maneira: "Vocês reivindicam que eu procuro grandeza, e que indiquei Aharon como o Sumo-sacerdote da nação por ser meu irmão, e que tornei seus filhos cohanim por serem meus sobrinhos. Mais que isso, você alega que escolhi os leviyim para o Serviço no lugar dos primogênitos por motivos pessoais, sem o comando Divino. Finalmente, você afirma que eu mesmo decidi que os leviyim devem ser subservientes a Aharon (em vez de também serem cohanim).

"Deixem-me explicar-lhes, primeiro, que estão cometendo um erro básico. D'us não pediu minha opinião sobre quem deve ser escolhido para cada ofício sagrado. Da mesma forma como Ele separou o dia da noite - assim Ele separou certos judeus para serem santos para Ele, e realizar Seu Serviço. Do mesmo modo como Ele distinguiu o povo judeu das nações, assim Ele distinguiu Aharon entre o povo judeu como 'Santo dos Santos,' e os cohanim mais santos que os não cohanim. Não podemos mudar Seu sistema mais que podemos mudar o dia em noite, ou transformar a noite em dia.

"Sou solidário ao seu desejo de que muitas pessoas de todas as tribos realizassem o Serviço. As nações do mundo, de fato, têm muitos sacerdotes pois idolatram muitas divindades, e cada divindade tem seu próprio templo e sacerdote. Nós, judeus, contudo, somos diferentes. Reconhecemos Um Único D'us, e todos acreditamos em Uma só Torá. D'us ordenou que haja apenas um único Sumo-sacerdote: aquele que Ele escolheu para realizar o Serviço. Ele indicou uma única tribo, a tribo de Levi, para a kehuná e a leviyá. Por conseguinte, é impossível para todos vocês, que estão aqui reunidos, tomarem parte no Serviço do Santuário."

Moshê sugere que Côrach e seus seguidores ofereçam incenso

Moshê enfrentou a multidão e sugeriu: "Se não acreditam em mim, façamos um teste amanhã. Hoje não tenho permissão de realizar este experimento."

Moshê pensou que se adiasse até a manhã seguinte, o efeito da refeição e do vinho de Côrach já teriam se esvanecido, e seus seguidores perceberiam sua tolice, e fariam teshuvá. O teste, então, seria desnecessário. Moshê, contudo, não revelou a verdadeira razão para adiar o teste, por temer provocar uma contra-rebelião.

"Qualquer um que reivindique ter sido escolhido para o Serviço poderá vir aqui amanhã de manhã, com um recipiente cheio de incenso, e oferecê-lo sobre o altar. Vocês sabem que um não cohen que oferece incenso é passível de morte pelo Céu. Assim, se forem poupados da morte, sua reivindicação de que todos vocês são merecedores de ocuparem posições no Santuário provará estar certa. Contudo, devo adverti-los de que este é um teste suicida. Apenas a pessoa mais santa sobreviverá, e todo o resto perecerá."

Ao ouvir estas palavras, Côrach presumiu que certamente sobreviveria, uma vez que estava destinado a tornar-se progenitor de grandes descendentes.

Os duzentos e cinqüenta homens estavam, a esta altura, tão consumidos pelo desejo de realizar o serviço Divino que estavam dispostos a arriscarem suas vidas por isso.

Datan e Aviram não estavam interessados no discurso de Moshê nem em sua sugestão. Retornaram às suas tendas enquanto esse ainda falava. Não participaram do teste no dia seguinte.

Moshê continuou a dirigir-se a Côrach com palavras gentis, esperando encerrar a discussão.

Temendo que toda a tribo de Levi fosse levada a seguir Côrach, Moshê apelou a seus membros: "Por favor, ouçam-me, filhos de Levi! Satisfaçam-se com a honra de cantar e realizar outras tarefas no Santuário. Por que desejam tornarem-se cohanim? Você, Côrach, e seus seguidores, não clame contra Aharon, pois o Todo Poderoso concedeu-lhe a kehuná. Na realidade, você está se opondo a D'us. Se Aharon aspirasse à kehuná você teria motivo para reivindicar. Contudo, ele não desejou seu ofício. O que ganhou com isso? Enterrou seus dois filhos, Nadav e Avihu."

Côrach não elaborou resposta alguma, porém permaneceu em silêncio. Pensou: "Moshê é muito sábio, culto e instruído. Não importa que argumentos eu apresente, refutará com contra argumentos mais fortes. Se continuar o debate, persuadirá meus seguidores a almejarem a paz." Portanto, não continuou a discussão, mas insistiu em sua reivindicação.

Moshê tenta reconciliar-se com Datan e Aviram

Moshê viu que Côrach não podia ser controlado. Por isso, tentou reconciliar-se com Datan e Aviram, enviando-lhes mensageiros convocando-os ao Santuário. Contudo, Datan e Aviram receberam os mensageiros zombando deles livremente.

"Não acatamos ordens do filho de Amram," anunciaram. "Não nos apresentaremos! Já é suficiente que você nos tirou do Egito, uma terra onde fluía o leite e o mel, verdadeiramente um segundo paraíso, e nos trouxe ao deserto, onde decretou nossa morte? Será que você e seu irmão também se proclamarão nossos governantes?"

Datan e Aviram descreveram o Egito com termos gloriosos porque prefeririam permanecer lá após a redenção.

"Você, Moshê," escarneceram, "estabeleceu-se como rei, e seu irmão tornou-se Sumo-sacerdote. Aos leviyim, deu trabalho como portadores dos utensílios de seu irmão. Ao iniciá-los no Serviço, estragou-lhes a aparência raspando-lhes o cabelo todo. Prometeu levar-nos a uma Terra onde flui o leite e o mel, e dar-nos campos e vinhedos. Jamais o fez. Em vez disso, ensinou-nos todas as proibições referentes à Terra: "Não semeie duas espécies no campo ou vinhedo," "Não are o campo com um boi e um burro atrelados ao mesmo jugo," "Não cultive seu campo durante o ano sabático!" Todavia, nenhum de nós jamais recebeu um campo ou vinhedo! Você acha que suas promessas podem obscurecer a verdade?"

Moshê ficou profundamente desgostoso com a reação de Datan e Aviram à sua mensagem.

Voltando-se a D'us, Orou: "D'us, eu Lhe imploro, não lide com eles de acordo com Sua qualidade de Misericórdia, porém com Severidade. (A não ser que os puna imediatamente, sua influência perniciosa é uma ameaça ao povo inteiro.)

Você sabe a verdade, D'us, que eu nunca me impus como rei sobre eles, como dizem.

"Um rei cobra impostos de seus súditos, enquanto eu nem aceitei remuneração pelo meu trabalho no Santuário, ou em prol da comunidade. Tampouco pedi ao povo que reembolsasse qualquer de minhas despesas, nas quais incorri por eles. Quando aluguei um burro para viajar de Midyan para o Egito a fim de redimir o povo, tinha o direito de pedir-lhes reembolso, porém paguei com meu próprio dinheiro.

"Jamais enganei alguém dando veredicto de julgamento injusto. Não puni Datan e Aviram, apesar de terem delatado ao Faraó que matei um egípcio.

"Você sabe que sempre que lido com a comunidade, ajo apenas em Sua honra."

Moshê terminou repetindo a Côrach: "Você e seus duzentos e cinqüenta seguidores poderão vir amanhã à entrada do Santuário, cada um portando um recipiente cheia de incenso. Veremos então o incenso de quem o Todo Poderoso aceitará como sinal de que Ele o escolheu para o Serviço."

A punição de Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinqüenta homens

Naquela noite, Côrach foi de tribo em tribo pregando contra Moshê, a fim de obter mais simpatizantes.

Declarou: "Você acha que fundei este partido em meu benefício? Certamente que não! Meu objetivo é restaurar as posições de direito a todos os judeus. Por que ficam em silêncio enquanto Moshê se faz de rei e concede a kehuná como uma lei eterna a seu irmão? Cada judeu merece tornar-se um Sumo-sacerdote, pois ouviu no Monte Sinai: 'E serão para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.'"

Côrach tinha um argumento apropriado à cada tribo.

Por exemplo, agitou a tribo de Yehudá lembrando a seus membros: "Nosso patriarca Yaacov profetizou que sua tribo é a tribo real. Por quê permitem que Moshê os governe?"

Os membros da tribo de Reuven foram incitados com a declaração: "Apesar do fundador de sua tribo ter sido o primogênito de Yaacov, vocês não têm direitos especiais de primogenitura. Como toleram isso?"

Quão grande é o poder de um único indivíduo para instigar outros a pecar, e quão poderosa é a influência da calúnia! Por causa da incitação de Côrach, na manhã seguinte o povo inteiro seguiu-o à entrada do Santuário.

Quando Côrach e seus duzentos e cinqüenta seguidores apareceram perante o Santuário de manhã, o povo inteiro estava presente. A alegação de Côrach que sua disputa era para o bem da comunidade foi convincente o suficiente a ponto de ninguém elevar a voz em protesto. Algumas pessoas começaram a acreditar que, afinal, deve haver alguma veracidade nas reivindicações de Côrach. Talvez D'us concordasse em restabelecer a kehuná aos primogênitos?!

Moshê e Aharon estavam de pé de um lado da entrada do Santuário, e Côrach e seus duzentos e cinqüenta seguidores do outro. Seguravam recipientes similares a frigideiras doadas por Côrach. Era tão rico que seu aparato doméstico continha 250 frigideiras em perfeito estado, que distribuiu entre os seguidores.

A Shechiná apareceu na Nuvem da Glória à entrada do Santuário, e o Todo Poderoso ordenou a Moshê e Aharon: "Separem-se do resto do povo, e Eu os consumirei num instante."

O Todo Poderoso entristeceu-se com todos os judeus, pois não protestaram contra Côrach. Lançando dúvidas acerca da veracidade das palavras de Moshê, D'us considerou os judeus como se tivessem eles mesmos O atacado.

Moshê e Aharon prostraram-se sobre suas faces e imploraram para que D'us poupasse os judeus. Argumentaram: "D'us, você conhece a mente de cada indivíduo. Um rei humano talvez tenha de aniquilar todos os seus súditos, mesmo se apenas alguns se rebelaram contra ele, pois não pode distinguir o culpado do inocente. Você, contudo, sabe que os judeus não se rebelaram contra Você; eles vieram aqui meramente porque Côrach persuadiu-os. Somente Côrach rebelou-se contra Você."

D'us respondeu: "Sua oração foi aceita. Devo agir com Misericórdia com o povo. Apenas Côrach, Datan, Aviram e suas famílias serão destruídos. Ordene ao povo que se distanciem das tendas destes homens perversos, e que não toquem em nada que lhes pertence.

Ouvindo o decreto de D'us, Moshê tentou falar com Datan e Aviram a fim de poupá-los da destruição.

Seguido pelos Setenta Anciãos, Moshê em pessoa caminhou em direção às tendas de Datan e Aviram. Estava certo de que receberiam o líder do povo respeitosamente.

Entretanto, esses perversos recusaram-se a aparecer à entrada de suas tendas para falar com ele.

Por conseguinte, Moshê instruiu os judeus de acordo com as instruções de D'us: "Afastem-se das tendas desses perversos e não toquem em nada que lhes pertença, caso contrário, vocês mesmos serão destruídos por causa de seus pecados."

Quando Datan e Aviram viram que os judeus afastavam-se de suas tendas, finalmente apareceram à entrada, e junto com as esposas cobriram Moshê com uma saraivada de maldições e blasfêmias vis.

D'us aceita o pedido de Moshê e Côrach com seus seguidores são castigados de maneira sobrenatural

Moshê então dirigiu-se ao povo judeu: "Agora terão a prova de que agi por comando Divino ao indicar Aharon para Sumo-sacerdote, e Elitsafan líder de Kehat; e que todas as minhas palavras e ações são ditadas pelo Todo Poderoso.

"Se Datan, Aviram e Côrach falecerem como ocorre geralmente com as pessoas, de doença ou idade avançada em suas camas, e seus corpos forem trazidos para serem enterrados, a alegação de Côrach seria verdade. Eu estaria admitindo e professando que D'us não me enviara e que preenchi os altos cargos por minha própria escolha."

Moshê voltou-se a D'us e rezou: "Peço de Você, D'us, que puna esses perversos com uma morte única na história."

"Moshê," disse D'us, "o que quer que Eu faça?"

"Mestre do Universo," rezou Moshê, "Peço-Lhe que realize um milagre. Mova a abertura do Inferno para sob seus pés, e que sejam transportados vivos para lá. Então ficará evidente a todos que eles blasfemaram contra D'us."

Por que Moshê rezou para que Côrach, Datan e Aviram fossem exterminados por uma morte não natural? Por quê Moshê não pediu que D'us salvasse suas vidas, como fazia sempre com os judeus que pecavam? Por que Moshê, que geralmente anseia por misericórdia para os pecadores, neste caso implorou ativamente ao Todo Poderoso que puna Côrach e seus seguidores com morte imediata e diferente?

Após examinar o paciente, o médico disse: "A radiografia mostra que o estado de sua perna é muito grave. Se nada for feito, a doença se espalhará por todo o corpo. Por isso, a perna tem de ser amputada. É trágico, mas a operação salvará sua vida."

Côrach alegou que algumas das proclamações de Moshê não eram de origem Divina, porém palavras dele própria. Se esses difamadores ficassem impunes mesmo que por pouco tempo, sua apostasia teria se espalhado pelo resto do povo e os judeus seriam influenciados por eles. Assim como o doente da parábola salvou-se porque teve a perna amputada, os judeus foram salvos da destruição por causa da punição do grupo de Côrach.

Nossa crença na Divindade da Torá baseia-se sobre o fato histórico da revelação de D'us no Monte Sinai ante os olhos do povo inteiro, e sobre a indicação de Moshê como Seu agente Divino.

Negando algumas declarações de Moshê (enquanto Moshê ainda estava vivo), Côrach e seus seguidores colocaram em dúvida a origem Divina da Torá inteira. Outros poderiam seguir seu exemplo desafiando outras partes da Torá, e eventualmente a veracidade da Torá inteira poderia ser questionável. Gerações sucessoras com certeza duvidariam da autenticidade da Torá, argumentando: "Mesmo na geração de Moshê havia os que duvidavam da autenticidade da Torá. Como podemos, hoje, ter certeza de quem tinha razão, Moshê ou Côrach?"

Assim, Moshê rezou a D'us: "Mestre do Universo, se esses homens tivessem meramente atacado a mim e meu irmão, permaneceria em silêncio. Contudo, não posso permanecer em silêncio quando a honra da Torá está em perigo." Por isso, pediu ao Todo Poderoso que fizesse uma demonstração única ao punir esses homens.

Enquanto Moshê rezava para D'us, o sol e a lua ameaçaram: "Se Você não responder a prece de Moshê, não iluminaremos mais o mundo. Fomos criados para iluminar, e assim os israelitas poderem cumprir a Torá. Côrach e seus seguidores atacaram a Torá, colocando a existência do mundo em perigo."

D'us fez o milagre que Moshê pediu. Na verdade, isto não foi um milagre novo. Durante os seis dias da Criação D'us já havia preparado a abertura da terra, que tragaria Côrach e seus seguidores.

No mesmo instante em que Moshê terminou a sua oração D'us realizou seu pedido. Realizou um milagre espetacular, que claramente expôs Côrach e sua súcia como mentirosos.

A terra se abriu, alargando-se gradualmente onde as tendas de Côrach, Datan e Aviram estavam. Com uma potente sucção, puxou-os e à suas famílias para baixo, junto com as tendas e todos os seus pertences.

Não restaram traços desses perversos.

Tudo o que possuíam foi magneticamente tragado pelo abismo; mesmo se as roupas de alguém estivessem sendo lavadas ou tivesse emprestado algum pequeno artigo a outro judeu, como uma agulha, foi sugado pelo abismo e desapareceu. Mesmo se os nomes de Côrach, Datan ou Aviram estivessem inscritos em algum documento, a escrita desaparecia milagrosamente.

A fortuna de Côrach, que possibilitou-lhe criar uma revolta contra Moshê, ficou perdida para sempre. (Ele nem ao menos mereceu que outros judeus realizassem boas ações com ela.)

Conforme Moshê pedira, o Todo Poderoso abriu o Inferno no fundo do abismo e transportou-os para lá vivos. Enquanto estavam afundando, os judeus ouviram-nos confessar em voz alta: "D'us é virtuoso; D'us é justo, Seu julgamento é verdadeiro; as palavras de Seu servo Moshê são verdade; e somos perversos por termos nos rebelado contra ele."

Rabá bar Chana contou: "Certa vez, enquanto estava viajando, encontrei-me com um árabe (Eliyahu o profeta, disfarçado de árabe) que me perguntou: 'Devo te mostrar o local onde Côrach e seus seguidores foram engolidos pela terra?'

"Levou-me a duas aberturas no solo, de onde vi fumaça erguer-se. Trouxe um pedaço de algodão úmido, atou-o à ponta de uma lança e inseriu-a na terra. Ao tirar a lança, o algodão estava queimado.

"Agora ouça com atenção," disse o árabe.

"Das profundezas, discerni as palavras: 'Moshê é verdadeiro e sua Torá é verdade!' Era a confissão dos perversos que, depois da morte, precisaram reconhecer a verdade."

Côrach e seus seguidores levantarão na ressurreição dos mortos e terão uma porção no Mundo Vindouro?

Originalmente, D'us excluiu-os do Mundo Vindouro, como todos os que negam os princípios fundamentais da Torá.

Entretanto, gerações depois, a mãe do profeta Shemuel, Chana, suplicou ao Todo Poderoso que revivessem na ressurreição dos mortos. Sabendo que um importante fator que fez com que Côrach pecasse era sua previsão de que o profeta Shemuel descenderia dele, Chana rezou para que ela e seu filho não fossem responsáveis pela punição eterna de Côrach.

O Todo Poderoso aceitou esta oração e concordou em ressuscitar Côrach e seus seguidores, e conceder-lhes uma porção no Mundo Vindouro.

O fator decisivo foi que sua punição constituiu uma santificação pública do Nome de D'us. Fortaleceu a fé dos judeus na Torá e na veracidade da missão de Moshê.

O que aconteceu aos duzentos e cinqüenta homens que estavam à entrada do Santuário segurando os recipientes? Um fogo desceu do céu e os consumiu.

Contudo Côrach, ele mesmo, recebeu castigo em dobro. Primeiro, sua alma foi consumida por um fogo do Céu, então seu corpo rolou em direção ao desfiladeiro na terra sob sua tenda.

Os duzentos e cinqüenta homens viram como o corpo de Côrach, uma verdadeira bola de fogo, rolou em direção à abertura na terra e lá desapareceu.

Assim que os pecadores e seus pertences foram lançados às profundezas, a terra fechou a fenda. A superfície parecia tão macia e plana como antes; não se via a menor irregularidade. Ninguém poderia ser levado a pensar erroneamente que um terremoto ocorrera, uma vez que após um acontecimento natural detecta-se fendas. Aqui, a terra miraculosamente agiu como uma criatura viva, abrindo a boca para devorar o que desejava, e então fechou-a novamente.

Quando a terra se abriu, os judeus foram tomados de pânico, com medo de que também fossem engolidos. Mesmo depois que a rachadura foi selada, as pessoas continuaram apavoradas, fugindo em todas as direções, pois ouviram os pecadores gritarem das profundezas da terra: "Socorro! Moshê nosso mestre, salve-nos!"

O fato de Aharon ter sobrevivido e os duzentos e cinqüenta homens terem sido queimados prova que Aharon fora escolhido para a kehuná. O milagre da terra de ter engolido Côrach, Datan, Aviram e toda a sua casa e pertences provaram a veracidade das palavras de Moshê.

Aqueles que foram salvos da destruição

• Os filhos de Côrach

Quando Côrach foi tragado pelo abismo, seus três filhos, Assir, Elcana e Aviassaf também rolaram para baixo. Contudo, não foram arrastados às profundezas do Inferno, mas milagrosamente foram descansar sobre elevadas plataformas que o Todo Poderoso ergueu para eles, desta forma, permaneceram vivos. Os filhos de Côrach estavam entre os leviyim que, mais tarde, cantaram no Templo Sagrado.

Por qual mérito sobreviveram?

Em seus corações, os filhos de Côrach estavam cientes da verdade.

Moshê foi visitar Côrach em sua tenda, enquanto a família estava sentada à mesa, pensaram: "Se nos levantarmos para Moshê, ofenderemos nosso pai. Por outro lado, se ficarmos sentados, transgrediremos a mitsvá de levantar-se perante um Sábio. Não devemos violar o mandamento da Torá, mesmo se nosso pai ficar enraivecido." Por isso, levantaram-se em honra a Moshê.

Quando a destruição de Côrach e seus seguidores começou, os filhos de Côrach fizeram teshuvá em seus corações. Ao testemunharem a terra se abrindo e engolindo seu pai e seguidores, ficaram paralisados de medo, e incapazes de confessar seus pecados oralmente. O Todo Poderoso, contudo, Que conhece os pensamentos da pessoa, viu que mudaram de idéia. Por isso, Ele lhes permitiu sobreviver.

O versículo diz: "Para o Condutor, sobre rosas, para os filhos de Côrach, um cântico de afeto." (Tehilim 45:1). Por que denomina os filhos de Côrach "rosas"?

Pessoas que os viram costumavam dizer: "São 'espinhos', exatamente como seu pai."

Na hora da destruição, todavia, D'us protegeu as rosas de serem queimadas junto com os espinhos.

Os filhos de Côrach compuseram diversos salmos no Livro dos Salmos, dentre esses um que descreve como foram quase confinados ao Inferno: "Minha vida foi arrastada próxima ao inferno, fui ostracisado junto com os que desceram ao fundo do poço..." (Tehilim 88:4-5).

No capítulo 49, eles apelam a toda a humanidade que aprenda a lição moral do destino de seu pai:

"Os que se fiam em suas forças e de suas riquezas imensas se vangloriam, nem mesmo a seus irmãos podem eles redimir, nem a D'us oferecer resgate por sua morte. Não inveje nem tema ao homem que enriquece e alcança glórias pois, ao morrer, nem sua glória nem nada mais levará consigo. O homem que se engrandece e não tem entendimento para seguir as sendas traçadas por D'us, parecem-se com os animais que perecem e não deixam sequer lembrança."

• On

Outro seguidor de Côrach, On, também escapou da morte. Era membro da tribo de Reuven, vizinho da família de Côrach, e, como tal, participou da rebelião. Ao voltar para casa da primeira reunião, contou à esposa que estava tomando parte numa rebelião. Ela argumentou: "O que você ganha com isso? Sua posição será a mesma, quer Aharon quer Côrach seja o Sumo-sacerdote." Reconheceu a lógica de suas palavras, mas explicou que já não podia mais desligar-se do partido de Côrach, uma vez que jurara oferecer incenso na manhã seguinte.

"Não se preocupe" - disse a esposa - "cuidarei disso." Naquela noite, a esposa de On misturou um vinho muito forte à sua bebida. On caiu imediatamente num sono muito pesado. Enquanto isso, sua esposa sentou-se à entrada da tenda, e fez algo que nenhuma esposa judia faria: descobriu seus cabelos.

Logo chegaram os mensageiros de Côrach para chamar On para a reunião. Porém, viram a esposa de On, com os cabelos descobertos! Deram meia-volta e foram embora.

Côrach enviou outros mensageiros. Eles também não se aproximaram da mulher de On. Os mensageiros iam e voltavam. Assim, On nunca apareceu ante o Santuário.

Côrach falou bem ao descrever os judeus como uma "congregação sagrada em meio a qual está a Shechiná." O nível de recato da Torá era aceito pela geração inteira. Era lógico e natural que nem mesmo os mensageiros de Côrach se dirigissem a uma mulher casada cujos cabelos estivessem descobertos.

Quando a morte golpeou os perversos, a cama onde On dormia começou a escorregar em direção ao abismo. A esposa de On agarrou a ponta e rezou: "Mestre do Universo, On desligou-se da corja de Côrach. Ele jurou em Seu Grande Nome que não é seguidor de Côrach. Se alguma vez violar sua palavra, então Você poderá puni-lo."

On foi poupado, e logo sua esposa censurou-o: "Agora, vá a Moshê e peça desculpas!"

"Estou envergonhado demais para encará-lo," replicou On.

A esposa de On, então, foi a Moshê, soluçando amargamente e relatando o que acontecera a seu marido.

Ao receber o relato, Moshê caminhou até a tenda de On e falou com ele de maneira encorajadora, dizendo: "Saia! Que o Todo Poderoso o perdoe!"

Pelo resto de sua vida, On não parou de lamentar-se e fazer teshuvá por uma vez ter ficado ao lado de Côrach. Seu nome indica isso:

On - ele estava em estado de luto (oninut - luto).

Filho de Pelet - um filho (homem) que foi resgatado da destruição através de um milagre (Pelet refere-se a Pele - milagre).

"A sábia entre as mulheres constrói sua casa." (Mishlê 9:1)

O versículo refere-se à esposa de On, cuja sabedoria resgatou seu lar da destruição.

"Mas a mulher perversa o demole com suas próprias mãos." Refere-se à esposa de Côrach, que arruinou seu marido e todo o seu lar.

Quando se trata de assuntos práticos, o marido deve ouvir os conselhos da esposa.

Os recipientes de Côrach e seus seguidores foram transformados em cobertura para o altar

Os recipientes nos quais Côrach e seus 250 seguidores ofereceram incenso não podiam mais ser utilizados para propósitos profanos, pois foram consagrados ao serviço Divino.

De acordo com o mandamento de D'us, Moshê instruiu Elazar, filho de Aharon, a recolher todos os recipientes das cinzas, aplainá-los e fazer deles uma cobertura para o Altar Exterior.

Por que D'us incumbiu da tarefa de recolher os recipientes da cena do desastre Elazar em vez de Aharon?

Côrach contestou não apenas a posição de Aharon como Sumo-sacerdote, mas também a de Elazar, filho de Aharon como cohen. Elazar recolheu os recipientes como demonstração de seu chamado Divino como cohen e, eventualmente, como sucessor de seu pai como Sumo-sacerdote.

Qual era o propósito de transformar os recipientes dos rebeldes em cobertura para o altar?

Esta nova cobertura impediria as futuras gerações de contestarem a posição de kehuná. Qualquer um que alegasse que um judeu da família de um não cohen deveria ser escolhido como cohen seria advertido: "Olhe para a cobertura do Altar de Cobre! É feito dos recipientes dos homens que disputaram a kehuná e por isso, foram queimados."

Os judeus queixam-se novamente

Uma atmosfera de choque e depressão pairava no ar na manhã seguinte a morte de Côrach e seus 250 homens. Os judeus perderam muitos de seus grandes homens, dentre esses, membros do San'hedrin (Corte Suprema).

Voltando-se a Moshê e Aharon, os judeus acusaram-nos: "Vocês causaram a morte dessas 250 pessoas. Por que aconselharam-nos a oferecer incenso, que é fatal a qualquer um que o oferece sem o comando Divino explícito? Nadav e Avihu (filhos de Aharon) também foram mortos ao levarem incenso sem serem ordenados a fazê-lo."

As acusações do povo judeu constituíam lashon hará, calúnia. O Todo Poderoso revelou-Se imediatamente na Nuvem da Glória para proteger Moshê e Aharon. Ele enviou o anjo Ketsef para golpear o povo com uma praga.

Moshê e Aharon prostraram-se para implorar a D'us para que não punisse o povo. Contudo, palavras de oração não emanavam de seus lábios. O Todo Poderoso, Que concede ao homem o poder da fala, impediu-os de interceder em favor dos pecadores.

Por conseguinte, Moshê recorreu a um recurso de emergência. Voltando-se a Aharon, ordenou: "Pegue a frigideira sagrada para oferenda de incenso, traga carvões incandescentes do Altar Exterior e ponha sobre eles o incenso. Apresse-se ao acampamento e deixe que a fumaça do incenso suba ao Céu. Assim você deterá a praga."

"Por favor, meu mestre," respondeu Aharon, "como posso levar fogo do altar sagrado para queimar incenso fora do Tabernáculo? Perecerei, exatamente como meus filhos, Nadav e Avihu."

"Rápido," apressou-o Moshê, "você está perdendo um tempo precioso. Enquanto está falando, mais judeus estão morrendo."

Aharon obedeceu, pensando: "Estou pronto a sacrificar minha vida pelo povo."

Moshê, o profeta fiel de D'us, estava imbuído de poderes para tomar medidas excepcionais de emergência. Ordenou que o incenso fosse oferecido em local e momentos não usuais.

Como Moshê sabia que o incenso deteria a praga? Aprendeu este segredo quando ascendeu ao Céu para receber as Tábuas da Lei. Àquela época, os anjos protestaram para D'us contra o fato de confiar Sua sagrada Torá às mãos de seres humanos. Moshê argumentou com eles que D'us formulara as mitsvot da Torá precisamente para as pessoas com yêtser hará (má inclinação). Os anjos, apesar de capazes de estudar segredos da Torá muito além da compreensão humana, não necessitam das mitsvot para aperfeiçoarem-se.

Os anjos reconheceram a sabedoria dos argumentos de Moshê. A fim de expressar seu consentimento, deram-lhe presentes especiais. O Anjo da Morte ensinou a Moshê um segredo: se Moshê queimasse incenso enquanto ficasse de pé perante esse, impediria-o de realizar seu trabalho de destruição.

Aharon levou a frigideira com os incensos incandescentes ao acampamento e rezou. Com o incenso criou uma divisória de fumaça entre os mortos e os vivos.

Aharon encontrou o Anjo da morte:

"Deixe-me completar meu trabalho," disse o anjo, "não me impeça."

"Moshê enviou-me para impedi-lo," replicou Aharon.

O anjo recusou-se a obedecer. Aharon então agarrou o anjo, e levou-o à força ao Santuário e a praga cessou.

O incenso também fora escolhido como meio apropriado de deter a praga porque o povo judeu o detratava. Clamavam: "O incenso age como veneno. Matou Nadav e Avihu, e agora destruiu duzentos e cinqüenta homens."

O Todo Poderoso respondeu: "O incenso agora resgatará os judeus da morte, demonstrando assim que não é responsável pela morte da pessoa, mas sim o são seus pecados." Quando Aharon, ao queimar o incenso, resgatou o povo da praga, sua alegação de que o incenso "matara duzentos e cinqüenta homens" foi refutada.

O milagre da vara que floresceu

Depois que a terra engoliu Côrach, Datan e Aviram, ficou claro, sem qualquer sombra de dúvida que Moshê era o líder Divinamente escolhido.

O chamado Divino de Aharon como Sumo-sacerdote também manifestou-se quando os duzentos e cinqüenta homens que contestaram sua posição pereceram.

Não obstante, algumas pessoas continuaram insistindo que Moshê não deveria ter desqualificado os primogênitos da realização do serviço Divino, designando os leviyim em seu lugar. Desejavam que todas as tribos participassem do Serviço através de seus primogênitos. Por isso D'us realizou um milagre que demonstrou claramente Sua escolha da tribo de Levi, colocando, desta forma, um fim a essas reivindicações. O milagre também reafirmou a escolha Divina de Aharon como Sumo-sacerdote.

D'us ordenou a Moshê: "Pegue doze varas. Escreva em cada uma o nome do líder de cada tribo. Na vara de Levi escreva o nome de Aharon.

"Coloque as varas para pernoitarem no Santuário. O cajado da tribo escolhida para Meu serviço florescerá milagrosamente."

A fim de evitar possíveis alegações de que uma das varas tinha mais umidade que as outras, e por isso florescera, Moshê cortou doze varas idênticas de um grande cepo. Ordenou que cada líder marcasse seu nome em uma vara.

Moshê colocou as varas no Santuário com a de Aharon no centro, para que ninguém afirmasse: "O cajado de Aharon brotou porque ficou do lado que fica mais próximo à Shechiná."

Quando Moshê entrou no Tabernáculo no dia seguinte, a vara de Aharon brotara folhas, flores e amêndoas. (Este milagre contém outro, pois as florescências não caíram após o aparecimento dos frutos, como geralmente acontece.) Mais que isso, o Nome de Quatro Letras de D'us estava milagrosamente entalhado na vara de Aharon, como se encontrava entalhado sobre o tsits (adereço de testa) do Sumo-sacerdote. Isto demonstrou que Aharon era o escolhido como Sumo-sacerdote, o portador do tsits.

Por que a vara de Aharon brotou?

Este milagre indicava a presença da Shechiná, que imbui vida até mesmo em objetos inanimados, e faz com que esses brotem.

Amêndoas, no que se refere a profecia ou milagre, simbolizam que o Todo Poderoso concretizará Seu decreto rapidamente. (A palavra "shekedim" - amêndoas - deriva de shaked - pressa. As flores desta árvore surgem antes que a de outras.) D'us sinalizara que qualquer um que usurpe a kehuná será punido instantaneamente.

Finalmente, após a série inteira de sinais e milagres, todos os judeus convenceram-se de que a profecia de Moshê era verdadeira em todos os seus detalhes.

O cajado de Aharon jamais feneceu. Sua haste, flores e amêndoas permaneceram eternamente verdes. D'us ordenou a Moshê que o colocasse perto da arca como testemunho para as futuras gerações de que, dentre todas as tribos, a de Levi foi escolhida tanto para a kehuná quanto para a leviyá.

Os reis judeus ficaram incumbidos de preservar o cajado de Aharon. Antes da destruição do Primeiro Templo Sagrado, o rei Yoshiyahu escondeu-o junto com outros objetos que serviram como testemunho e com utensílios sagrados.

Os cohanim e leviyim devem impedir que os judeus realizem o serviço do Santuário

Após terem vivenciado as diversas mortes que ocorreram em conexão com o Serviço do Santuário, os judeus estavam muito amedrontados. Exclamaram: "O Santuário é uma fonte de tragédia. A morte estabeleceu-se na congregação de Côrach, e eventualmente golpeará todos nós."

"É sua tarefa impedir a entrada de qualquer pessoa não autorizada a qualquer área do Santuário que lhe seja proibida." Advertiu D'us tanto aos cohanim quanto aos leviyim. "Se falharem, serão punidos."

A mitsvá de guardar o Santuário e o Templo

D'us ordenou aos cohanim e leviyim que vigiassem o Santuário e o Templo Sagrado todas as noites.

D'us, Que guarda o mundo, não necessita de guardas humanos para proteger Seu palácio. Ele ordenou que uma guarda de honra fosse colocada à sua volta a fim de incutir sua grandeza nos judeus. Visitantes aproximam-se de um edifício guardado com temor, pois é considerado distinto, como o palácio de um rei.

Vinte e quatro guardas eram postados toda noite em diferentes locais ao redor do Templo Sagrado. Os cohanim montavam guarda em três locais no Pátio, e os leviyim em vinte e um locais fora deste. Um inspetor fiscalizava a vigilância de todos os guardas.

Os presentes ofertados aos cohanim

Diz o provérbio: "Se minha vaca quebrar a perna, é para meu benefício."

Todo infortúnio tem seu benefício. Aharon beneficiou-se da disputa de Côrach, pois em seguida o Todo Poderoso selou um pacto com Aharon, confirmando que os cohanim receberão para sempre os vinte e quatro presentes de kehuná.

Certa vez, o imperador deu um estado a seu amigo como um presente casual. Não assinou escritura alguma, nem endossou com qualquer outra medida legal que concedera esse estado ao amigo.

Entretanto, logo após, impostores afirmavam que o estado era deles. O imperador informou então seu amigo: "Agora editarei uma ordem para inscrever o presente nos registros oficiais, para que ninguém possa negar que você é o verdadeiro proprietário."

Similarmente, após Côrach ter disputado o direto de Aharon à kehuná, D'us lavrou um contrato oficial com os cohanim, prometendo-lhes para sempre, e a seus descendentes, os vinte e quatro presentes que os judeus são obrigados a separar para eles.

D'us proclamou: "Concedo-lhes esses presentes feliz e de boa vontade, como alguém que escreve uma escritura de algum presente a um bom amigo."

A Torá chama esse pacto de "o Pacto do Sal". Assim como o sal nunca se estraga, este pacto durará para sempre.

Alguns dos vinte e quatro presentes para os cohanim são:

• Quando um judeu traz um sacrifício, deve dar partes desse para os cohanim. Também recebem uma parte dos sacrifícios oferecidos em nome da comunidade.

• Na época do Templo Sagrado, se um judeu abatia um animal doméstico para seu consumo pessoal, era obrigado a dar três partes ao cohen: o membro direito, as mandíbulas, e o estômago.

• Se um animal doméstico casher de um judeu tiver um primogênito, este pertencia ao cohen. O cohen o leva ao Templo Sagrado. Parte do animal era queimada sobre o Altar, e parte ficava para o cohen.

• Um judeu que possua campos, vinhedos, olivais ou pomares deve dar uma parte da produção ao cohen. Esta parte se chama terumá. Nossos sábios fixaram a terumá em pelo menos 1/60 da produção, podendo ser também 1/50 ou 1/40.

• Chalá: ao assar uma massa, deve-se dar uma parte ao cohen.

Muitos dos presentes destinados aos cohanim são sagrados. Eles não podem comê-los estando impuros. Alguns só podem ser comidos no pátio do Templo Sagrado, outros só na cidade de Jerusalém.

Por que os cohanim recebem esses presentes?

Por que D'us ordenou aos judeus que sustentassem os cohanim e leviyim?

Libertando os homens da tribo de Levi da necessidade de ganhar um meio de vida, D'us possibilitou-lhes a devotarem-se totalmente à Torá e ao serviço Divino. A tribo de Levi não recebeu extensas terras agrícolas em Israel como o resto das tribos, nem participavam de guerras ou recebiam espólios. Em vez disso, eram o "exército de D'us", estudantes e professores de Torá, como está escrito (Bamidbar 18:20), "Sou sua porção e sua herança, disse D'us."

Maimônides escreve: "Não apenas um membro da tribo de Levi, porém qualquer indivíduo cujo coração o impele a servir D'us e conhecê-lo, torna-se santo dos santos. D'us será sua porção e herança para sempre. Ele lhe proverá uma quantidade suficiente para seu sustento, assim como Ele fez para os cohanim e leviyim."

Rabi Yoná costumava dar a décima parte de seus proventos a Rabi Acha bar Ula. Este não era cohen nem levi, contudo era estudante de Torá.

O que é maasser?

Assim como D'us selou um pacto com os cohanim, Ele assim o fez com os leviyim, que também receberam um presente dos judeus.

Esta parashá menciona que cada judeu deve dar o maasser (dízimo) aos leviyim.

Após dar terumá ao cohen, um judeu tem que separar 1/10 de todos os seus grãos, frutos e vegetais e dá-los ao levi. Este dízimo chama-se maasser.

O levi tem que separar 1/10 do que recebeu e dar ao cohen. A parte que o levi dá ao cohen chama-se terumat maasser ou maasser min hamaasser (dízimo do dízimo).

Ao dar maasser ao cohen, o levi reconhece que o cohen é mais eminente que ele, e é levado a lembrar-se de que há Um Acima, Que está acima de ambos.

Que partes da colheita o agricultor tem que doar

Imagine que estamos na época do Templo Sagrado, e possuímos campos de cereais. O que a Torá pede que doemos ao colher os grãos?

Deve-se dar lêket, peá e shichechá (ver Parashat Emor 23:22) aos pobres. Também se deve levar os primeiros trigo e cevada ao Templo Sagrado, como bicurim (Parashat Emor 23:10).

Precisamos separar:

1. Terumá: para o cohen.

2. Maasser: para o levi.

3. Maasser Sheni: outro dízimo, a ser comido em Jerusalém pelo proprietário das terras.

Em determinados anos, ao invés de maasser sheni, dá-se o dízimo aos pobres, que passa a se chamar maasser ani, dízimo dos pobres.

Calculando terumá e maasser

Suponhamos que alguém colheu 100 quilos de uvas. Quanto ele deve separar? Primeiramente, separa-se a terumá para o cohen. A terumá pode ser 1/40, 1/50 ou 1/60. Supondo que o proprietário queira doar 1/50, que equivalem a 2 quilos.

100kg

- 2 (terumá)

= 98

Restam 98kg. Ele ainda tem que dar 1/10 de maasser ao levi. Um décimo de 98 = 9,8kg.

98kg

- 9,8 (maasser)

= 88,2

Disto, ainda tem que se dar 1/10 como maasser sheni (ou maasser ani).

88,2kg

- 8,82 (maasser sheni ou maasser ani)

= 79,38

Após separar a terumá e os maasrot, restam 79,38kg dos 100 kg originais. Será que ficamos incomodados por havermos dado tantos presentes? Não deveríamos, pois nossos sábios ensinam que ao dar maasser um judeu enriquece.

D'us prometeu ao povo judeu: "Se vocês derem maasser como mandei, Eu enviarei chuvas abundantes e abençoarei os frutos. Colherão tanto grão que ficarão ricos."

Como ficam terumot e maasrot atualmente?

Hoje em dia, um agricultor em Israel precisa separar terumá e maasser.

Um judeu não pode comer os frutos que nascem em Israel, a não ser que saiba que alguém confiável tenha separado terumá e maasser. Mesmo que um judeu viva fora de Israel, antes de comer produtos frescos ou enlatados, importados de Israel, deve certificar-se de que terumá e maasrot foram corretamente separados.

A mitsvá de redimir o primogênito

Em conexão com os presentes da kehuná, a Torá menciona que todo primogênito é sagrado para D'us. Esta mitsvá é mencionada três vezes na Torá.

Os primogênitos foram inicialmente escolhidos por D'us para exercerem os deveres do sacerdócio (kehuná) em virtude de terem sido poupados quando Ele matou os primogênitos egípcios. Entretanto, quando os primogênitos judeus executaram os rituais sacerdotais diante do bezerro de ouro, esse chamado sagrado foi transferido para os cohanim.

A fim de libertá-los legalmente dessa obrigação original, eles devem ser resgatados com cinco moedas (shecalim) de prata, pagos a um cohen. O procedimento deste resgate não se aplica a um primogênito cujo pai é um cohen ou levi, ou a mãe filha de cohen e levi.

A mitsvá aplica-se assim que o bebê, nascido de parto normal, tiver atingido a idade de trinta dias. Se essa data coincidir com Shabat ou Yom Tov (que proíbe transações comerciais) deve ser adiada para o dia seguinte. É costume cumprir esta mitsvá à luz do dia; entretanto a festa que se segue pode se estender até a noite. Se, por alguma razão, o primogênito não foi resgatado no tempo prescrito, isto deve ser feito na primeira oportunidade, mesmo sendo o menino já adulto. (Neste caso, ele próprio deve resgatar-se perante um cohen.)

O pai deve escolher um cohen observante e bem versado na Lei judaica para redimir seu primogênito. Uma cerimônia festiva é preparada, e após recitar a bênção sobre o pão, o pai apresenta o filho ao cohen com esta declaração: "Minha esposa deu à luz ao meu primogênito". O cohen perguntará: "O que tu preferes - teu primogênito ou cinco moedas de prata?" Após confirmar sua intenção de ficar com o filho e transferir cinco moedas de prata ou seu valor equivalente para o cohen, o pai recita a bênção de "Al Pidyon Haben" e "Shehecheyánu". A seguir o cohen recita a bênção sobre uma taça de vinho.

Esta é uma das mitsvot através das quais reconhecemos que o que quer que possuímos, na realidade pertence a D'us. A primeira aquisição da pessoa geralmente é a mais preciosa a seus olhos; por isso, damos o "Primeiro" a D'us, a fim de demonstrar que Ele é o verdadeiro Proprietário de tudo o que temos. Um homem pode facilmente ser levado a pensar que tem direitos acima de qualquer disputa sobre todas suas posses. A Torá declara que o início de qualquer realização, da qual nos orgulhamos em especial, seja para D'us e o seu serviço, e só depois poderemos participar e aproveitar do restante. Isso era mais perceptível na época do Templo, quando as primícias - os primeiros frutos - tinham de ser trazidas ao Santuário e os primogênitos do gado eram ofertados ao cohen, o servo de D'us. Entretanto, D'us nos permitiu reivindicar nosso filho primogênito desde que o criemos de acordo.

Isto fica enfatizado pela pergunte retórica que o cohen apresenta: "O que preferes - teu filho ou as cinco moedas de prata?" - já que o pai é obrigado a resgatar o filho de qualquer forma. A pergunta implícita é: "Estás consciente da tua obrigação de criar teu filho para ser dedicado a D'us, estudar a Torá e cumprir as mitsvot? Compreendes que para educar uma criança apropriadamente deves estar preparado a fazer sacrifícios materiais se necessário?"

A resposta do pai - "Eu quero meu filho e aqui estão as cinco moedas de prata" - é o testemunho que ele entendeu plenamente a responsabilidade e o privilégio de criar seu filho corretamente.

       
 
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