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Rabi Dovber (? –
1772)
Discípulo do Báal Shem Tov e professor de Rabi Shneur Zalman
de Liadi, o Maguid fortaleceu o Chassidismo de seu mestre, ancorando-o
firmemente no pensamento e prática judaicos.
“O Viajante”/Asceta
Encontro com o Besht
Designado como Maguid
O “Viajante” – Asceta
Pouco se sabe sobre os primeiros anos da vida de Rabi Dovber, que ficou
conhecido como o Maguid de Mezeritch.
Até a data exata de seu nascimento é desconhecida, mas aparentemente
ele nasceu ao final do século dezessete, mais ou menos na mesma
época do Báal Shem Tov. Seus pais (Abraham e Chavah) traçaram
sua ascendência à casa real do Rei David. Conta-se que quando
Rabi Dovber tinha cinco anos, sua casa foi destruída pelo fogo.
Sua mãe contemplou as ruínas fumegantes e começou
a chorar. “Não é pela casa que estou chorando”
– explicou ela ao filho – “mas pelos registros de nossa
árvore genealógica que foram queimados.”
“Então comece uma nova linhagem a partir de mim” –
respondeu a criança.
Estas palavras descreveram exatamente o papel que ele desempenharia mais
tarde; pois o menino estava destinado a se tornar o sucessor do Báal
Shem Tov.
Todo este tempo foi devotado ao estudo de Torá e ele foi reconhecido
como um notável erudito talmúdico. Como era comum entre
os eruditos de Torá naqueles tempos, Rabi Dovber mergulhou nos
importantes tratados éticos da era medieval e nos tratados da Cabalá
Luriânica. A partir destes ele adotou suas prescrições
de jejuns estritos e mortificações. Leva uma vida simples
de grande pobreza, por opção e não por necessidade,
pois está registrado que recusou-se a aceitar numerosos convites
para se tornar rabino e líder espiritual de comunidades importantes.
Um história popular sobre ele relata este fato. Depois que o Maguid
se tornara seu discípulo, o Báal Shem Tov pediu a um seguidor,
que deveria passar por Mezeritch, para transmitir suas lembranças.
O mensageiro teve grande dificuldade para encontrar a casa pequena e negligenciada
do Maguid. Entrando na pobre morada do Rabi, o visitante encontrou-o sentado
num bloco de madeira. À sua frente estavam seus alunos, sentados
em pranchas de madeira apoiadas por blocos semelhantes ao outro. A única
outra mobília no aposento era uma mesa de madeira.
Como o Maguid estava no meio da aula, o visitante concordou em voltar
mais tarde. Quando o fez, encontrou a cena mudada. Os alunos tinham ido
embora; a “mesa” fora convertida numa “cama”;
o Maguid ainda estava sentado no bloco de madeira, estudando sozinho.
O visitante não pôde conter seu assombro pelas condições
em que vivia o grande Rabino. “Estou longe de ser rico” –
disse ele – “mas em minha casa você encontrará
uma cadeira, um banco, uma cama e outras coisas indispensáveis.”
“Em casa” – respondeu o convidado – “a pessoa
de fato precisa de uma cadeira, uma cama, uma mesa e uma lâmpada.
Mas numa viagem as coisas são diferentes.”
Para o Maguid sua casa terrena não era seu “lar”. Aqui
na terra ele era apenas um viajante e, como tal, somente aqueles valores
que levam o viajante ao seu destino definitivo tinham verdadeira e duradoura
importância.
O Maguid tinha um problema no pé esquerdo e constituição
fraca. Sua vida ascética agravava sua condição. Sua
saúde fraca, no entanto, foi uma das causas para seu primeiro encontro
com o Báal Shem Tov. Relata-se que seu mestre, o famoso autor do
Pnei Yehoshua, esforçou-se para persuadi-lo a visitar o Báal
Shem Tov para buscar uma cura para suas doenças.
Estranhos são os caminhos da Providência que culminaram com
os primeiros encontros entre o Báal Shem Tov e alguns de seus principais
discípulos. Muitos deles eram afastados do Chassidismo em pensamento
e prática e mesmo assim, após uma oposição
inicial, se tornaram pilares do Movimento. O primeiro encontro entre o
Báal Shem Tov e o Maguid foi singularmente interessante. Ocorreu
em 5513 ou no início de 5514 (1753); menos de oito anos antes da
morte do Báal Shem Tov.
Encontro Com o Besht
Os dois Sábios (o Báal Shem Tov e o Maguid) trocaram cartas
durante 5513 (1752). O Maguid tinha sérias dúvidas sobre
empreender a viagem; os boatos caluniosos espalhados pelos inimigos do
Chassidismo o impediam de dar aquele passo. O Báal Shem Tov, em
suas respostas, amenizava as suspeitas e hesitações do Maguid,
insistindo para que fosse, antevendo que o encontro teria grande importância
para o Chassidismo. O Maguid finalmente resolveu ver por si mesmo se o
Báal Sehm Tov era tão notável como seus seguidores
o consideravam.
A viagem até Mezibush foi longa e exaustiva, e o Maguid foi incapaz
de estudar. Isso lhe causou muita angústia e ele começou
a se arrepender da sua decisão. Consolou-se pensando que quando
chegasse ao destino, certamente ouviria profundas palavras de Torá
ditas pelo Báal Shem Tov. Quando seu coche finalmente chegou a
Mezibush, ele não perdeu tempo em procurar o Besht.
Rabi Israel Báal Shem Tov recebeu cordialmente o visitante e contou-lhe
uma história curta, aparentemente insignificante. A entrevista
terminou. Eles se encontraram novamente no segundo dia e mais uma vez
o Báal Shem Tov contou uma breve história.
Rabi Dovber, do tipo assíduo, para quem cada momento era precioso,
arrependeu-se de ter ido até lá, desperdiçando tanto
tempo. Fez planos de voltar para casa; partiria na mesma noite, assim
que a luz da lua permitisse iniciar a viagem. Porém antes que pudesse
partir, chegou uma mensagem do Báal Shem Tov pedindo-lhe que fosse
até a casa do mestre. Ali chegando, o Báal Shem Tov lhe
perguntou: “Você é bem versado em Torá?”
Recebendo uma resposta afirmativa, o Báal Shem Tov indagou: “Está
familiarizado com os ensinamentos da Cabalá?” Novamente,
uma resposta afirmativa. O Báal Shem Tov então pediu ao
Maguid para interpretar uma passagem em Etz Chaim, a obra fundamental
da Cabalá Luriânica. Rabi Dovber examinou cuidadosamente
a passagem e ofereceu sua interpretação. O Báal Shem
Tov rejeitou suas palavras. Rabi Dovber deliberou outra vez e reiterou
sua declaração anterior, acrescentando: “O significado
desta passagem é aquele que declarei. Se tiver uma interpretação
diferente, diga-me e veremos quem está certo.”
A esta altura o Báal Shem Tov lei a passagem para ele. Enquanto
o Báal Shem Tov lia, pareceu ao Maguid que a casa tinha se tornado
cheia de luz, e que um fogo Divino os rodeava. Para o Maguid, era como
se ele realmente visse os anjos cujos nomes foram mencionados no discurso.
Em seguida, o Báal Shem Tov disse: “Sua interpretação
está correta, mas não existe alma no seu estudo.”
Rabi Dovber permaneceu com o Báal Shem Tov durante algum tempo,
para aprender com ele.
Relatos demonstram que o Maguid visitou o Báal Shem Tov somente
duas vezes. A segunda vez ele permaneceu por seis meses. Rabi Dovber relatou
que o Báal Shem Tov ensinou-lhe até os detalhes mais intrincados
das diversas obras da Cabalea e a “linguagem dos pássaros
e das árvores”.
Quando quis voltar para casa, o Báal Shem Tov não concordou,
e retardou-o por diversas vezes. Ao lhe perguntarem o motivo, o Besht
explicou que quando o maguid estava com ele, sua mente era como um “poço
transbordante, e quanto mais se tira de um poço, mais a água
brota.”
Embora Rabi Dovber não tenha visto o Báal Shem Tov outra
vez, eles permaneceram em contato através de mensagens e correspondência.
De tempos em tempos, Rabi Dovber serviu como líder interino dos
Chassidim, na ausência do Báal Shem Tov, a pedido deste.
Embora de forma geral o Chassidismo se oponha à auto-mortificação,
o Maguid parece ter continuado por algum tempo com seus hábitos
primitivos. O Báal Shem Tov advertiu-o a abandonar esta prática
e a cuidar da sua saúde.
Escolhido como Maguid
Durante o período entre seu primeiro encontro com o Báal
Shem Tov e sua ascensão como líder dos Chassidim, Rabi Dovber
foi apontado Maguid (pregador, mentor) das comunidades de Mezeritch e
Koritz.
O ano 5520 (1760) viu o falecimento do Rabi Israel Báal Shem Tov.
Seu filho Rabi Zvi assumiu a liderança dos Chassidim e permaneceu
neste cargo durante um ano, No dia seguinte ao aniversário de falecimento
(yahrtzeit), Rabi Zvi dirigiu-se aos Chassidim reunidos e ao concluir
seu discurso, declarou: “Hoje, meu pai veio me ver e disse-me que
a Corte celestial decidiu que devo passar a liderança a Rabi Dovber.”
Todos os presentes se levantaram em sinal de respeito e permaneceram de
pé para ouvir o primeiro discurso de Rabi Dovber.
O centro chassídico agora mudava-se de Mezibush para Mezeritch.
Rabi Dovber permaneceria como líder dos Chassidim pelos próximos
doze anos, e sob sua liderança o Chassidismo lançou raízes
mais amplas e profundas. As sementes plantadas em Mezibush cresceram em
Meseritch. Assistido por um grupo excepcional de seguidores, composto
das mentes e espíritos mais notáveis da época, Rabi
Dovber exteriorizou as idéias e ensinamentos fundamentais do Báal
Shem Tov e a partir deles formou um sistema abrangente.
Dentro de três meses do início da liderança do Maguid
um novo espírito tinha sido infundido no Chassidismo. Em toda a
Polônia e Lituânia, cresciam as fileiras de Chassidim. Os
centros jea estabelecidos em Volhynia e Podolia fizeram sua influência
ser sentida ainda mais fortemente que antes, e Meseritch era cenário
de constante atividade.
O Maguid foi uma força estabilizadora para seus seguidores, dirigindo
suas energias para alcançarem a combinação ideal
de empolgação emocional e restrição intelectual
no serviço a D’us.
Como fizera o Báal Shem Tov antes dele, o Maguid pregava que o
amor pelo próximo judeu (Ahavat Yisrael) é a chave do verdadeiro
amor a D’us.. “O significado de Ahavat Yisrael” –
declarava o Maguid – “é amar o pior pecador da mesma
maneira que o justo.”
Ele infundiu este princípio de amor entre seus seguidores, e moldou-o
num fator principal na doutrina chassídica. Um de seus discípulos
mais chegados, Rabi Levi Yitschac de Berditchev, dirigia-se a todos chamando-os
de “meu coração”.
No outono de 5533 (1772) Rabi Dovber ficou acamado. A 18 de Kislêv,
convocou os membros da “Sociedade Sagrada” e disse a eles:
“Meus filhos, fiquem sempre juntos e superarão qualquer coisa.
Vocês irão sempre para a frente e não para trás.”
Na terça-feira 19 de Kislêv (1772).
Rabi Dovber, o grande Maguid de Mezeritch, devolveu sua alma ao Céu.
Assim terminava uma era. Sua missão estava cumprida. Uma nova linha
tinha apenas começado, mas firmemente estabelecida sobre um alicerce
sólido. Agora competia a outros prosseguir com a obra.estabelecida
sobre um alicerce sólido. Agora competia a outros prosseguir com
a obra.
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