Concentração nas preces

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Certa vez, um chassid que trabalhava como simples mercador foi procurar o Maguid de Mezeritch, sucessor do Báal Shem Tov.

"Não tenho conseguido me concentrar nas preces e no estudo" - queixou-se ele ao Maguid. "Com freqüência, minha mente começa a divagar e penso sobre o trabalho, a família, ou mesmo nas últimas notícias na cidade. E, ainda pior" - continuou ele - "às vezes tenho pensamentos impróprios nestas horas."

"Creio que não posso ajudá-lo" - respondeu tristemente o Maguid ao visitante. "Procure meu discípulo, Rabi Zev de Zhitomir. Ele poderá aconselhá-lo sobre que atitude tomar."

O visitante aceitou a sugestão do Maguid. Dirigiu-se imediatamente à aldeia na qual vivia Rabi Zev. Ali chegou tarde da noite, e teve muita dificuldade em localizar a estalagem que Rabi Zev dirigia. Era muito tarde, porém, e o albergue estava fechado.

Como tinha ido por sugestão do Maguid, o mercador estava certo de que lhe seria permitido bater à porta particular de Rabi Zev, e por ali ser recebido. Foi o que fez, mas não obteve resposta.

O visitante bateu novamente, desta vez um pouco mais alto. Novamente, parecia que ninguém ouvira - não houve resposta. O visitante bateu e bateu à porta, cada vez com mais força, chegando até a chutá-la, mas foi em vão. Apesar do alarido, a porta não se abriu.

A noite de inverno estava fria, e o mercador, desconfortável. Tinha viajado uma longa distância para chegar até a estalagem de Rabi Zev. Estava cansado e faminto. Porém, o Maguid o tinha enviado a Rabi Zev, e portanto ele persistiu na tentativa de entrar na habitação particular, ou pelo menos na estalagem, para não se alojar em algum outro local a fim de passar a noite. Continuou a bater e finalmente começou a gritar de raiva e frustração. "Como pode ser tão impiedoso, para deixar-me aqui fora no frio?" gritou. Mesmo assim, a porta continuou fechada.

Quando o dia raiou, a porta foi aberta. O visitante entrou e fez os arranjos para hospedar-se no albergue por alguns dias. Durante o tempo todo, Rabi Zev praticamente ignorou o hóspede.

O homem começou a perguntar-se por que o Maguid o enviara para lá. Como poderia aprender com Rabi Zev, que nem ao menos lhe dava atenção? Resignou-se à futilidade de sua viagem, e começou os preparativos para a volta. Até então, Rabi Zev tinha feito pouco caso da tentativas do mercador para se comunicar.

Decidiu tentar uma vez mais antes de partir. "Não consigo entender por que o Maguid mandou-me a você!" disse ao estalajadeiro. "Falei ao Maguid que não conseguia me concentrar durante a prece e o estudo porque minha mente divagava em todas as direções. Ele disse-me que não poderia me ajudar, mas que você o faria. Creio que minha viagem foi em vão" - exclamou carrancudo.

A isso Rabi Zev replicou: "Deixe-me contar-lhe por que o Maguid o enviou a mim. Você viu que eu tenho agido como um verdadeiro 'dono da casa.' Quando eu não o deixei entrar em minha moradia, você foi forçado a permanecer do lado de fora. O mesmo ocorre com sua queixa. Se você não deseja que pensamentos alheios ou, ainda pior, pensamentos impróprios, penetrem em sua mente durante a prece, estudo de Torá ou a qualquer outro tempo, não os deixe entrar! Preencha sua mente com palavras de Torá. Você, como 'dono da casa' de sua mente, pode permitir a entrada daquilo que deseja, e recusar-se a receber aqueles pensamentos que prefere não deixar entrar."

As palavras de Rabi Zev causaram uma profunda impressão no chassid. Ele retornou para casa sabendo muito bem que poderia controlar seus pensamentos se assim o desejasse. Certo, isso exigiria esforço e trabalho, mas em última análise seria ele a determinar quais pensamentos seriam "bem vindos" e quais seriam deixados do lado de fora.

       
   
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