Ao final de meu alistamento no Afeganistão, aprendi
como colocar o tefilin em meu acampamento entre patrulhas com meu pelotão,
indo de uma aldeia para outra. Ali, eram cinquenta fuzileiros, uns protegendo
os outros. Sentíamo-nos quase invencíveis. Porém
quando fui enviado para o Iraque, um único fuzileiro judeu no Corpo
de Oficiais entre centenas de soldados iraquianos numa remota região
da fronteira síria, tive de viver com a minha identidade religiosa
guardada para mim mesmo.
Lembro-me da solidão que sentia morando nas trincheira que separam
o Iraque da Síria, contemplando o deserto e sonhando com estar
em Israel a somente alguns quilômetros adiante. Eu ria comigo mesmo
pensando como dirigiria até lá, ida e volta num dia, e ninguém
notaria. Tão perto, mas a um mundo de distância. Era uma
espécie de tortura. Talvez Moshê tivesse sentido o mesmo
quando não teve permissão de entrar em Canaã. Espero
que não.
Como instrutor entre 1.500 soldados iraquianos, eu tinha de esconder minha
identidade vinte e quatro horas por dia. Aos olhos dos iraquianos que
eu estava treinando, era apenas outro americano cristão de olhos
azuis.
Meus companheiros (todos os nove) entendiam minha situação
e sabiam que minha religião tinha de ser mantida em segredo. Eu
nem sequer podia ter a palavra “judeu” escrita em meu crachá.
Tínhamos dois tradutores iraquianos que moravam conosco, e após
alguns meses construímos uma certa confiança e eles souberam
sobre a minha religião, mas eu ainda sentia que tinha de vigiar
minhas costas com muito cuidado. Estava sempre com medo de que de alguma
forma minha identidade transparecesse, e um oficial iraquiano que num
momento me sorria pudesse dar um golpe na minha cabeça dez minutos
depois.
Meu único momento de consolo era ir até nosso barracão
no acampamento, esconder-me atrás do meu poncho pendurado no teto
e colocar meu tefilin e talit (que tinha recebido do Instituto Aleph)
e recitar o Shemá e as preces diárias. Meus companheiros
achavam que era um estranho ritual, mas respeitosamente demonstravam compreensão
e até um pouco de curiosidade.
Eu fora informado que os oficiais da Fuzilaria judeus eram apenas metade
de um por cento das Forças. Sim, muito poucos, e tinham orgulho
disso.
Criado como judeu não-observante em Hollywood, Califórnia,
jamais tinha pensado em colocar tefilin. Numa visita a Israel com alguns
jovens, um grupo de chassidim de Chabad em Jerusalem ofeeceu-se para me
ajudar a colocar o tefilin e recitar uma prece. Sendo um adolescente rebelde,
pensei que aquilo era uma novidade tola. Mas no Iraque, onde bombas ocultas,
atiradores e tiroteios eram uma ocorrência diária, e eu sabia
que cada dia poderia ser o meu último, eu valorizava meu tefilin.
Era meu escudo invisível. Eu o colocava fisicamente enquanto recitava
as minhas preces, mas mesmo depois que era removido, eu sentia que a presença
de D'us permanecia comigo e me protegia por mais um dia. Ou pelo menos
me dava a coragem de enfrentar minha morte se meu número fosse
sorteado. Sempre acreditei em D'us, mas estar num ambiente de combate
altamente estressante ajudou a aumentar meu amor a D'us.mais do que nunca.
Desde que voltei do Iraque, tenho retornado a uma vida quase normal e,
sentindo-me menos vulnerável, desde então deixei meu tefilin
de lado.
Porém após escrever esta mensagem, percebi que seja numa
zona de combate cercada por inimigos em potencial que podem ou não
odiar judeus (ainda mais um oficial judeu), ou em casa entre as tribulações,
o caos e as tentações da vida americana, colocar o “escudo”
de D'us sobre o meu corpo e mente para manter-me ligado ao Seu poder e
amor, é tão importante para mim agora como era no deserto
iraquiano. Talvez eu tenha corrido um risco maior no Iraque, mas com meu
tefilin, talit e preces, eu me sinto mais inteiro e completo, como se
tivesse o espírito de D'us mais perto de mim.
Talvez seja por isso que recentemente comecei a colocar de novo, aqui
nos Estados Unidos.