Marcelo
estava chegando ao clube quando foi abordado por um jovem vestido de terno
preto, sorridente de barba e chapéu, assim que se encaminhava para
o portão de entrada. O jovem lhe estendeu um par de tefilin que
Marcelo se recordava do tempo de seu bar-mitsvá. Agora já
estava beirando os 24 anos e nunca mais os havia colocado. Talvez nem
lembrasse em que local de sua casa os havia "estocado"; provavelmente
junto com objetos de sua "infanto-adolescência", agora
distante.
_ Shalom Haleichem! Bom dia, como vai? Que tal uma mitsvá para
melhorar ainda mais este lindo dia de sol ? Já colocou tefilin
hoje?
_ O quê?
_Leva apenas alguns minutos, mas os benefícios duram a vida inteira.
_Como assim? A última vez que coloquei, aliás, primeira
e última, foi no meu bar-mitsvá. Para que precisaria colocá-los
de novo?
_ Por que em alguns minutos você estará conectado com D’us.
É uma forma de elevar seus pensamentos e coração
"plugando" eles com o Dono do Mundo. Isto não lhe diz
nada?
_Absolutamente! Agradeço, mas não quero. Arrume outro cara
para "vender seu peixe."
_Não estou vendendo nada. Apenas lhe dando uma chance de através
de uma ação tão rápida e simples, refinar
seu corpo e alma. E este é apenas um dos benefícios da mitsvá
do tefilin. Pense melhor em uma próxima vez. Espero que haja uma
nova chance. Quem sabe a gente volta a se encontrar. Estou sempre aqui
às sextas-feiras, entre as 13 e 15h. Shalom!
_Tchau mesmo!
| Como
nós judeus somos complexos… e incríveis!
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Marcelo se afastou
furioso, mas aí começou uma reação estranha,
seus pensamentos começaram a tomar conta de sua mente um após
o outro, sem pausa: "Puxa, fui grosseiro", "acho que exagerei",
"o que será que ele quis dizer com ‘refinar?",
"será que existirá outra chance?", "Xii,
cara, fui mal"…
Informando-se com alguns amigos em um trânsito intenso de troca-troca
de e-mails, este Marcelo acabou descobrindo um site chamado www.askmoses.com
onde fez perguntas ao Rabino Tzvi Freeman e veja o diálogo que
se seguiu então:
Marcelo: Recentemente me pediram para colocar tefilin,
mas estou feliz do jeito que sou. Por que deveria mudar?
Rabino Freeman: Você já colocou tefilin
alguma vez?
Marcelo: No meu bar mitsvá.
Rabino Freeman: Somente uma vez? Ou você continuou?
Marcelo: Só uma vez.
Rabino Freeman: Você já tentou algo de novo
na vida? Ou simplesmente continua da mesma maneira em tudo que faz?
Marcelo: Que quer dizer com isso?
Rabino Freeman: Bem, fico um pouco preocupado quando
alguém me diz que está feliz assim como é. Uma pessoa
saudável está sempre se esforçando para melhorar.
Marcelo: Por quê?
Rabino Freeman: Para elevar-se, crescer. Se um organismo vivo
não está mudando e crescendo, está morrendo.
Marcelo: Mas já tenho meus objetivos estabelecidos!
Rabino Freeman: Oh. Então você não
está satisfeito com as coisas assim como estão! Você
tem metas. São metas materiais, ou você inclui sua neshamá?
Marcelo: Se neshamá significa espiritual, então
creio que você poderia classificá-las como materiais.
Rabino Freeman: Então não há metas
para sua neshamá (seu lado espiritual)? Como será quando,
digamos, aos 60 anos, quando o corpo não tiver mais tantos prazeres
físicos e ganho material? Você não deseja também
algum ganho espiritual? Nem mesmo um pouquinho?
Marcelo: É, um pouquinho.
Rabino Freeman: Então, tefilin é um começo
fácil para trazer crescimento espiritual à sua vida. Você
faz uma vez, e vê se tem algum significado. A partir daí,
emprega algum tempo para ir mais além. Uma coisa é certa,
isso não o fará retroceder. Mas existe uma boa chance de
fazê-lo progredir. O risco vale a pena.
Marcelo: Sim, talvez você tenha razão. Talvez
vale a pena tentar...
Rabino Freeman: Não sei bem o que isso significa…
olhe, hoje em dia trabalhamos cientificamente. Atualmente as pessoas fazem
muitas experiências – o que está errado com esta? Se
os seus ancestrais o fizeram por 3.000 anos, há uma forte possibilidade
de que isso realmente tenha um significado.
Marcelo: Bem, obrigado pela dica.
Este Marcelo voltou ao clube. Desta vez, sexta-feira, no horário
que sabia que ele, "the man in black", "o homem de preto",
estaria lá. Devolveu o sorriso e não disse palavra. Simplesmente
arregaçou as mangas.
Como nós judeus somos complexos… e incríveis!
Quem sabe este artigo sirva de inspiração para os Ricardos,
Gilbertos, Renatos, e tantos outros da próxima vez que avistarem
um barbudo simpático, jovem e bem intencionado lhes convidando:
"Já colocou tefilin hoje?"
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*Tefillin é um par de caixas de couro preto que
contém pergaminhos dentro. São amarrados no braço
e na cabeça através de tiras de couro. Dentro de cada caixa
encontram-se escritos em pergaminho, quatro parágrafos da Torá.
Um deles é o Shemá Yisrael: "Ouve Israel, o Eterno
é nosso D’us, o Eterno é Um."
Veja: