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  A destruição do Segundo Templo Sagrado  
     
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Quatrocentos e noventa anos após a destruição do Primeiro Templo Sagrado, foi destruído o Segundo Templo Sagrado - novamente em Tish'á Beav. Na época da destruição, entretanto, a grande cidade de Betar ainda existia, e permaneceu livre. Cinqüenta e dois anos depois - novamente em Tish'á Beav - Betar caiu ao inimigo, que assassinou a população da cidade, derramando tanto sangue que seus cavalos foram cobertos até as narinas.

Maquete do Segundo Templo Sagrado no Holyland Hotel em Jerusalém

Por cento e oitenta anos antes da destruição, o malvado império [romano] espalhou seu domínio sobre o país. Oitenta anos antes da destruição, os Sábios decretaram que países estrangeiros estavam em um estado de impureza ritual [por causa das conquistas romanas e sua introdução da idolatria]. Quarenta anos antes da destruição, o San'hedrin (Tribunal Supremo de 71 juízes) exilou-se [voluntariamente, i.e., deixou suas câmaras no Monte do Templo] e reuniu-se na praça do mercado. [Como assassinato tinha se tornado comum e o San'hedrin não desejava julgar crimes capitais, saíram da Câmara das Pedras Talhadas no Monte do Templo, pois somente reunindo-se lá o San'hedrin tinha o poder de julgar casos capitais.]

[Os materiais que se seguem são extraídos dos relatos encontrados no Talmud Guitin 55b-57b, Midrash Echá Rabá, e Josephus.]

Rabi Yochanan disse: Qual é [a lição aprendida do] versículo (Mishlê 28:14): "Feliz é a pessoa que teme constantemente e aquele que endurece seu coração para não cair presa do mal!" Por causa de [o incidente relativo] a Kamtsa e Bar Kamtsa, Jerusalém foi destruída. Por causa do [incidente relativo] ao galo e à galinha, Tur Malca foi destruído. Por causa do [incidente a respeito] do raio da roda de uma carruagem, Betar foi destruída.

Kamtsa e Bar Kamtsa

Por causa de Kamtsa e Bar Kamtsa, Jerusalém foi destruída. Havia um homem que tinha um amigo chamado Kamtsa e um inimigo chamado Bar Kamtsa. [Um dia] ele deu uma festa e disse ao servo: "Vá e convide Kamtsa." Ele foi e trouxe Bar Kamtsa [por engano]. Quando o anfitrião chegou, encontrou Bar Kamtsa sentado. Disse a ele: "Você é meu inimigo - o que está fazendo aqui? Levante-se e vá embora!"

Bar Kamtsa disse: "Como já vim, deixe-me ficar, e pagarei a você o custo daquilo que comer e beber." O anfitrião disse: "Não!"

Bar Kamtsa disse: "[Se permitir-me ficar], pagarei a você metade das despesas da festa." O dono da casa disse: "Não!"


Bar Kamtsa disse: "[Se permitir-me ficar] pagarei a você as despesas da festa inteira." Ele disse: "Não!"

O anfitrião agarrou Bar Kamtsa pela mão, fê-lo levantar e ir embora. Bar Kamtsa disse [para si mesmo]: "Como os sábios estavam sentados aqui, e eles não o repreenderam, isso indica que concordam. Eu [me vingarei] e os difamarei perante as autoridades."

Bar Kamtsa saiu e disse ao imperador: "Os judeus estão se rebelando contra suas ordens." O imperador replicou: "Quem diz isso [i.e., como sabe que isso é verdade]?" Ele respondeu: "[Posso provar minha controvérsia e lhe fornecerei os meios para testá-los.] Envie-os [um animal como] uma oferenda de sacrifício, e você verá se eles o sacrificam. [Se rejeitarem a oferenda, isso provará que estão se rebelando contra sua autoridade.]"

[O imperador aceitou a proposta de Bar Kamtsa e] ele foi e enviou com Bar Kamtsa um bezerro de três anos [para ser oferecido em sacrifício]. Antes de chagar [em Jerusalém], ele danificou o bezerro nos lábios. Alguns dizem que [o ferimento] era nas pálpebras, um local que para os judeus é considerado um defeito [e o animal portanto fica inadequado para uso como oferenda], e para eles [os romanos] isso não é considerado uma falha [e o animal permaneceria adequado para oferenda].

Os rabinos foram da opinião de que deveria ser oferecido [apesar do defeito], de forma a manter um relacionamento harmonioso com as autoridades. Rabi Zecharyá ben Avkilus disse-lhes: "[Se permitirmos que o animal seja oferecido,] as pessoas dirão que animais defeituosos podem ser sacrificados no altar."

Pensaram em matar Bar Kamtsa, para que não pudesse contar ao imperador que o sacrifício não tinha sido oferecido. Rabi Zecharyá ben Avkilus disse-lhes: "As pessoas dirão então que quem danifica uma oferenda está sujeito à pena de morte [pois eles estarão desinformados sobre a verdadeira razão porque está sendo morto]."

Rabi Yochanan disse: "A submissão de Rabi Zecharyá ben Avkilus [levou à] destruição de nossa Casa e queimou nosso Santuário, e exilou-nos de nossa Terra."

O teste da flecha

O imperador Nero foi contra eles. Ao aproximar-se de Jerusalém, atirou uma flecha na direção leste e ela caiu na direção de Jerusalém. [Ele atirou outra flecha] na direção oeste, e ela caiu na direção de Jerusalém. [Ele atirou flechas] em todas as direções, e elas caíram de frente para Jerusalém.

Ele disse a uma criança: "Cite-me seu versículo [i.e., diga-me um versículo que lhe seja familiar]." A criança replicou: "E exigirei minha vingança sobre Edom através de meu povo Israel" (Yechezkel 25:14).

Nero disse: "D'us deseja destruir Sua casa, mas deseja limpar Suas mãos comigo [i.e., embora D'us deseje destruir Jerusalém, o instrumento da destruição mesmo assim será castigado]." Ele fugiu e converteu-se ao judaísmo e Rabi Meir foi seu descendente.

O cerco a Jerusalém

O imperador Vespasiano atacou-os. [O sucessor de Nero apontou Vespasiano como o novo comandante das forças enviadas para reprimir a rebelião.] Ele veio e sitiou Jerusalém por três anos. Havia estes três homens ricos lá: Nacdimon ben Gurion, Ben Calba Savua e Ben Tsitsit Hakesset.

Um deles disse: "Fornecerei trigo e cevada para toda a cidade." E outro disse: "Fornecerei vinho, sal e azeite." E outro disse: "Fornecerei madeira [para cozinhar e para aquecimento]."

Os rabinos elogiaram especialmente a provisão de madeira. Rabi Chisda disse: "Um armazém de trigo exige sessenta armazéns de madeira [como combustível para assá-lo em forma de pão]." Abriram seus armazéns e ficou decidido que tinham provisões suficientes para vinte e um anos.

Havia entre eles um grupo de biryonim (bandidos rebeldes]. Os Sábios disseram a eles: "Deixe-nos sair e fazer as pazes com os romanos." Eles não permitiram que os Sábios o fizessem. Disseram aos rabinos: "Deixe-nos sair e batalhar contra eles."

Os Sábios responderam: "Nada ganharemos com isso." Os biryonim revoltaram-se e queimaram os armazéns de trigo e cevada, o que resultou em fome.

A negociação com os romanos

Rabi Yochanan ben Zakai saiu para uma caminhada na praça do mercado e viu os habitantes de Jerusalém fervendo palha e bebendo a água. Disse-lhes: "Podem pessoas que fervem palha para beber a água enfrentar as legiões de Vespasiano? Não tenho escolha a não ser deixar a cidade [e tentar negociar um fim para o cerco]."

Aba Sicra ben Batiach era o líder dos biryonim de Jerusalém e filho da irmã de Rabino Yochanan. Rabino Yochanan enviou-lhe uma mensagem: "Venha ver-me em segredo." Ele foi.

Rabi Yochanan disse-lhe: "Até quando você agirá desta maneira [por quanto tempo pretende impedir os rabinos de negociar com os romanos para terminarem com o sítio], e fazer com que todos morram de fome?" Aba Sicra respondeu: "O que posso fazer? Se eu lhes disser qualquer coisa, me matarão."

Rabi Yochanan disse-lhe: "Crie um plano que me permita sair. Talvez algo ainda possa ser salvo."

Aba Sicra disse: "Finja estar doente, e todos virão visitá-lo. Traga então um objeto mal-cheiroso e coloque-o perto de você. Eles dirão que você morreu. Deixe que seus discípulos o carreguem, mas não permita que outros o façam, para que não percebam que você é leve, pois as pessoas sabem que os vivos são mais leves que os mortos."

Rabi Yochanan assim fez. Rabi Eliezer segurou um lado e Rabi Yehoshua segurou o outro [do esquife no qual Rabi Yochanan estava]. Quando chegaram ao portão da saída da cidade, os guardas queriam apunhalá-lo [para ter certeza de que o corpo sendo transportado era realmente de um cadáver]. Aba Sicra [que estava acompanhando o féretro de seu tio] disse: "Eles [os romanos assistindo à procissão do funeral] dirão: 'Estão esfaqueando seu grande rabino.' [ou seja, verão suas ações como degradantes]." Os guardas queriam empurrá-lo [para certificar-se de que Rabi Yochanan estava de fato morto, pois se ainda estivesse vivo, a dor o faria gritar]. Aba Sicra disse: "Os romanos dirão: 'Eles estão empurrando seu grande rabino.'" Abriram os portões e Rabi Yochanan saiu da cidade.

Carregaram-no até que chegaram a Vespasiano no acampamento romano. Rabi Yochanan disse: "A paz esteja contigo, rei! A paz esteja contigo, rei!" Vespasiano replicou: "Você é passível de duas penas de morte: uma, eu não sou rei, e chamou-me de rei. E a outra - se eu sou um rei, por que não me procurou até agora?"

Rabi Yochanan respondeu: "A respeito do que estava dizendo, 'Não sou um rei,' a verdade é que você é um rei. Se não o fosse, Jerusalém não seria colocada em suas mãos, pois o versículo declara (Yeshayahu 10:34): 'E o Levanon cairá aos grandes.' O termo 'grande' aplica-se somente a um rei, como declara o versículo (Yirmiyahu 30:21): 'E sua [do rei] grandeza brotará dele.' E o termo 'Levanon' refere-se apenas ao Templo Sagrado, como a Torá (Devarim 3:25) declara: 'Esta boa montanha, o Levanon.'

"Com respeito àquilo que falou: 'Se eu sou um rei, por que não veio a mim até agora?' - os biryonim entre nós não nos permitem deixar a cidade."

Vespasiano respondeu: "Se houvesse uma barril de mel com uma serpente enrolada nele, não quebrariam o barril por causa da serpente [i.e., você deveria ter lutado com os biryonim para que ao menos uma parte do populacho - o mel no barril - fosse salvo]?!" Rabi Yochanan ficou em silêncio.

Rabi Yossef citou o seguinte versículo (Yeshayahu 44:25) [a respeito do silêncio de Rabi Yochanan], e alguns disseram que foi Rabi Akiva [que citara o versículo]: "Pois os sábios estão de costas e seus pensamentos foram tolos." Rabi Yochanan deveria ter falado a Vespasiano: "Eu usaria uma pinça e removeria a cobra, matando-a, e o barril permaneceria intacto."

Alguns dizem que havia quatro duques presentes: um árabe chamado Pangar, o duque da África, o duque de Alexandria, e o duque da Palestina. Começaram a apresentar enigmas para Rabi Yochanan, perguntando-lhe: "Se uma cobra é encontrada em um jarro, o que deve ser feito?"

Rabi Yochanan respondeu: "Chama-se um encantador de serpentes para atrair a cobra para fora do jarro, e este permanece intacto." Pangar disse: "A cobra é morta e o jarro é quebrado."

[Então eles lhe perguntaram:] "Se uma serpente é encontrada em uma torre, o que deve se fazer?" Rabi Yochanan replicou: "Chama-se um encantador de serpentes para atrair a cobra, e a torre permanece intacta." Pangar disse: "A cobra é morta e a torre é queimada."

Rabi Yochanan disse a Pangar: "Todos nossos vizinhos que agem perversamente fazem mal a eles mesmos. Não é suficiente que você não tente defender-nos? Deveria processar-nos?"

Pangar respondeu: "Procuro o bem-estar de vocês, pois enquanto a Casa [o Templo Sagrado] permanecer de pé, as nações lutarão com vocês. Quando esta Casa for destruída, eles cessarão suas brigas."

Rabi Yochanan replicou: "O coração sabe se suas palavras são falsas ou sinceras."

O mensageiro de Roma

Neste ínterim, [enquanto Rabi Yochanan e Vespasiano estavam conversando], um mensageiro chegou de Roma e disse a Vespasiano: "Levanta-te, pois César morreu, e os homens notáveis de Roma [i.e., O Senado Romano] resolveram designá-lo para o cargo."

Vista do Templo Sagrado durante a destruição. As tropas romanas avançam sobre os combatentes judeus. Os sacerdotes estão sobre o Altar continuando seu trabalho, as mãos elevadas em preces ao Céu, contemplando a casa em chamas. Os romanos estão carregando os utensílios do Templo, a ser levados para Roma

Vespasiano calçava apenas um pé de sapato, e quando tentou colocar o outro, não conseguiu. Disse: "O que é isto [i.e., por que meu pé inchou subitamente e o sapato não serve mais]?" Rabi Yochanan disse-lhe: "Não se perturbe, pois acabou de receber boas novas [eis porque seu pé está inchado], como declara o versículo (Mishlê 15:30): "Boas novas incham os ossos." Como isso pode ser remediado [i.e., o que você pode fazer para que o sapato sirva]? Deixe que venha uma pessoa de quem você não gosta, e deixe-o passar à sua frente, como diz o versículo (ibid. 17:22): "E um mau espírito resseca os ossos." Ele assim fez, e o sapato entrou no pé.

Vespasiano disse-lhe: "Como você é tão sábio, por que me procurou só agora?" Rabi Yochanan replicou: "Não lhe falei [que os biryonim não permitiriam que ninguém deixasse a cidade]?" Vespasiano respondeu: "Também lhe falei que você deveria ter lutado com os biryonim."

Ele então disse a Rabi Yochanan: "Estou indo embora e uma outra pessoa será enviada [para governar as legiões]. peça-me algo que eu possa lhe dar [como recompensa por ter-me trazido a notícia de que eu estava destinado a tornar-me Imperador]."

Ele disse a Vespasiano: Dê-me [a cidade de] Yavne e seus homens sábios, os descendentes de Raban Gamaliel, e um remédio para curar Rabi Tsadoc."

Rabi Yossef citou o seguinte versículo (Yeshayahu 44:25) [a respeito dos pedidos de Rabi Yochanan], e alguns disseram que foi Rabi Akiva [que citara o versículo]: "Pois os sábios estão de costas e seus pensamentos foram tolos." Rabi Yochanan deveria ter-lhe dito: "Deixe passar desta vez [i.e., termine o cerco a Jerusalém como um gesto de sua boa vontade]." Mas Rabi Yochanan pensou: talvez ele [Vespasiano] não chegaria a tanto, e assim nem mesmo um pouco seria salvo.

Outros afirmam que Rabi Yochanan respondeu a Vespasiano da seguinte maneira: "pedi-lhe que poupasse este país." Vespasiano disse: "Roma designou-me para isso, que eu poupasse o país? Faça um outro pedido e atenderei."

Rabi Yochanan então pediu: "Poupe o portão ocidental que leva a Lod, para que qualquer pessoa que passe por ele num período de quatro horas será salva."

Quando a cidade foi conquistada, Vespasiano enviou uma mensagem a Rabi Yochanan. "Se houver alguém que você ame ou que seja seu parente na cidade, mande-o embora antes que minhas legiões cheguem."

Rabi Yochanan enviou Rabi Eliezer e Rabi Yehoshua para trazerem Rabi Tsadoc. Encontraram-no sentado ao pé do portão da cidade. Quando ele [Rabi Tsadoc] foi ao acampamento romano, Rabi Yochanan levantou-se.

Vespasiano disse: "Fica de pé perante um homem fragilizado?"

Rabi Yochanan replicou: "Acredite-me, se houvesse outro como ele, você não teria conseguido capturar a cidade nem mesmo com o dobro do número de soldados."

Vespasiano perguntou: "Qual é a força dele?"

Rabi Yochanan respondeu: "Ele come um único gamuz (uma medida pequena) e isso é suficiente para cem capítulos [i.e., fornece-lhe nutrição suficiente para aprender cem capítulos da Torá]."

Vespasiano então perguntou: "Por que ele é tão emaciado?"

Rabi Yochanan explicou: "Por causa de seus jejuns." Trouxeram médicos que o alimentaram lentamente, até que seu corpo estivesse recuperado.

A Muralha Ocidental

Quando Vespasiano conquistou a cidade, dividiu as quatro muralhas entre os quatro duques. O portão ocidental caiu nas mãos de Pangar, e foi decretado no Céu que jamais seria destruído, por que o local de repouso da Shechiná está a oeste.

Vespasiano mandou chamar Pangar e perguntou-lhe: "Por que não destruiu o que lhe foi dado?" Ele replicou: "Fiz isso para trazer glória ao Império, pois se eu o tivesse destruído ninguém jamais saberia o que você destruiu. Agora as pessoas vêem e comentam: 'Veja a grandeza de Vespasiano e o que ele destruiu!'"

Vespasiano disse-lhe:"Fez muito bem. Entretanto, como você violou minha ordem, suba até o telhado e salte. Se continuar vivo, permitirei que viva. E se morrer, morrerá." Pangar foi até o telhado, pulou, e morreu - e as palavras de Rabi Yochanan ben Zakai foram cumpridas.

A queda nas mãos de Tito

Vespasiano enviou Tito, o perverso, [para comandar as legiões]. Tito disse [citando o versículo Devarim 32:37]: "Onde está o D'us deles, a rocha na qual eles confiam" - e este é Tito o perverso, que profanou o Sagrado e blasfemou contra o Céu.

O que Tito fez? Tomou uma prostituta pela mão [i,e., premeditadamente], e entrou no Santo dos Santos [com ela], abriu um rolo de Torá e cometeu um pecado sobre ele. Então tomou de uma espada e rasgou a cortina [que separava o Santo do Santo dos Santos], e um milagre ocorreu: o sangue borbulhou e correu, e ele pensou que tinha matado Ele. [E os atos de Tito são aqueles aos quais se refere o versículo (Salmos 74:4)]: "Teus atormentadores bramiam no meio do Teu lugar de encontro, eles fizeram seus sinais [como se eles fossem] por sinais [de verdade]."

Aba Chanan disse: [A aparente falta de reação Divina à profanação do Santo dos Santos por parte de Tito é indicativo daquilo que diz o versículo (Salmos 89:9)]: "Quem se compara a Ti, que és forte. [O versículo deveria ser interpretado como significando] quem é como Tu, forte [em Seu comedimento] e duro [de se irar], pois escutas os insultos e blasfêmias daquele homem perverso e Tu estás silente. A escola de Rabi Yishmael ensinou: [A aparente falta de reação é indicativa daquilo que diz o versículo (Shemot 15:11)]: "Quem é como Tu entre os deuses, Hashem" - i.e., quem é como Tu dentre os silentes. [A exegese do Talmud está baseada na semelhança entre as palavras elim e ilem, que significam forte e mudo, respectivamente].

O que ele [Tito] fez [depois que profanou o santo dos Santos]? Pegou a cortina e transformou-a em um saco. Pegou todos os vasos do Templo Sagrado e colocou-os dentro, e os transportou em um navio, a fim de exibi-los em Roma e seu louvado pelo seu sucesso.

O borrachudo

Uma tempestade no mar ameaçou afogá-lo. Ele disse: "Poderia parecer para mim que a força do D'us deste [povo] apenas se manifesta através da água, [pois quando] o Faraó veio, Ele o afogou na água. Quando Sissera veio, Ele o afogou na água. Agora Ele se levanta sobre mim para afogar-me na água. Se ele é poderoso, deixe-O vir à terra seca e lutar contra mim!"

Uma voz Divina apareceu e disse-lhe: "Ó perverso, filho de um pervers, descendente de Esau o perverso, tenho uma criatura insignificante em Meu mundo, chamada borrachudo." E por que é chamado de criatura insignificante? Pois tem a habilidade de se embeber, mas não tem a capacidade de expelir. "Venha à praia e lute com ele!" Tito foi até a praia e um borrachudo veio e entrou em sua narina, e furou seu cérebro por sete anos.

Certo dia, Tito estava passando por uma oficina de ferreiro. O borrachudo escutou o barulho da marreta e ficou quieto. Tito disse: "Existe uma cura [para meu sofrimento]!" Todo dia, mandava chamar um ferreiro e ele martelava na presença de Tito. A um ferreiro não-judeu, ele pagava quatro moedas, mas para um judeu dizia: "Já é suficiente que você veja seu inimigo sofrendo!"

Fez isso por trinta dias [i.e., trazer o ferreiro para martelar em sua presença]. Em seguida, o borrachudo acostumou-se [ao barulho da marreta e continuou furando o cérebro de Tito, mesmo quando os martelos golpeavam].

"Aprendemos que" - disse Rabi Pinchas ben Arova: "Eu estava com os homens importantes de Roma [naquela época] e quando Tito morreu, examinaram seu cérebro e o que encontraram lá dentro era como um pássaro, pesando dois sela'im." Na Braita consta que era como uma pomba de dois anos, pesando dois litrin. Abaye disse: "Temos uma tradição, que seu bico era de cobre e suas garras eram de ferro."

Quando Tito estava para morrer, instruiu seus servos: "Queimem meu corpo e espalhem minhas cinzas sobre os sete mares, para que o D'us dos judeus não possa encontrar-me e levar-me a julgamento."

Onkelos, o filho de Kalonikus, era filho da irmã de Tito. Queria converter-se ao judaísmo. Após a morte de Tito, Onkelos fez contato com seu espírito e perguntou-lhe: "Quem é considerado importante neste mundo?" Tito respondeu: "Israel."

Onkelos perguntou: "Vale a pena juntar-me a eles?" Tito respondeu: "Seus mandamentos são muitos, e você será incapaz de cumpri-los. Vá e atormente-os neste mundo, e você será grande, como diz o versículo (Echá 1:5): 'Seus adversários tornaram-se chefes, seus inimigos prosperaram' - todos que atormentarem Israel são grandes."

Onkelos então perguntou-lhe: "Como você está sendo castigado?" Tito respondeu: "Conforme aquilo que provoquei para mim mesmo. Todos os dias eles juntam minhas cinzas, julgam-me, queimam-me, e espalham as cinzas sobre os sete mares."

Uma lição a se extrair

Aprendemos: Disse Rabi Elazar: "Venham e vejam como é grande o castigo por causar constrangimento - pois D'us ajudava Bar Kamtsa [i.e., Ele permitiu que a trama de Bar Kamtsa fosse bem sucedida, por causa do constrangimento que lhe foi causado] e Ele destruiu Sua casa e queimou Seu Tabernáculo."

Por que o Primeiro Templo Sagrado foi destruído? Por causa dos três pecados que prevaleceram: idolatria, relacionamentos proibidos e assassinato. Durante o Segundo Templo Sagrado, o povo estudava Torá, cumpria as mitsvot e se empenhava em atos de bondade - por que então foi destruído? Porque o ódio infundado prevaleceu. Isso nos ensina que o ódio infundado é equivalente aos três pecados cardeais de idolatria, relacionamentos proibidos e assassinato.

     
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