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Entrevista
com o ex-Rabino Chefe de Israel, Rabi Yisrael Meir Lau – que quando
criança sobreviveu a Auschwitz – por ocasião da comemoração
do 60º aniversário da libertação de Auschwitz.
P. Como foi recitar o kadish em Auschwitz?
Chabad é constituído
de pioneiros sem paralelos. Todos precisam saber sobre o esforço
de Chabad para a divulgação global, através dos emissários
do Rebe que vão até as mais remotas comunidades judaicas
do planeta.Rabino Lau: Este é
o túmulo mais vasto da história do povo judeu. Quando recitei
o Kadish não vi os Presidentes de Israel, Polônia, Rússia,
Ucrânia, França, ou o Vice-Presidente Cheney, todos ali presentes
na ocasião. Meus olhos estavam fechados, e vi meus queridos irmãos
e irmãs, descendo do trem, e se sujeitando à "seleção"
do famoso Mengele. Vi quando eles eram despojados de todos os seus pertences,
sendo levados para as câmaras de gás. Pude ouvi-los recitando
Shemá, cantando “Ani Ma'amin” (“Eu creio”).
Vi meu pai em Treblinka na entrada para as câmaras de gás,
junto com 28.000 judeus de minha cidade, Pietrekov, e ao lado deles mais
alguns milhares da vizinha Parshov. Viveram como um e morreram como um.
Em nome de todos os sobreviventes eu recitei para os mártires "Yisgadal
Beyiskadash Shmai Raboh…"
P. Qual a sua mensagem para a juventude de hoje?
R. Lau: Em 1982, visitei Nova York como Rabino Chefe
de Netanya. Eu tinha programado encontrar-me com o então Prefeito
Ed Koch. Meu irmão Naftali, que na época atuava como o Cônsul
Geral de Israel em Nova York, preparou-me para a reunião. Contou-se
sobre o passado do Prefeito, nascido no Bronx, etc.
Rabino Lau em Auschwitz |
Quando o conheci,
ele estendeu a mão e disse: "Sei que você é um
sobrevivente. Eu também sou." Perguntei-me como alguém
nascido e criado em Nova York pode se dizer um sobrevivente. O Prefeito
Koch, como se estivesse lendo a minha mente, disse: "É verdade
que nasci nesta grande cidade e agora sou o Prefeito, mas há poucos
anos fui convidado a visitar algumas grandes cidades na Alemanha. Fui
levado a um museu em Berlim, e vi um globo enorme, que pertenceu a Hitler.
Vi pequenos números escritos em preto por todo o globo, e perguntei
o que significavam. Disseram-me que quando Hitler subiu ao poder, pediu
aos seus conselheiros que pesquisassem o número de judeus em cada
país no mundo inteiro. Até a Albânia tinha um número
escrito por cima: um.
Sobre os Estados Unidos estava escrito 5.500.000. Seu objetivo, sua "solução
final", era a completa aniquilação do povo judeu. Dentre
os 5 milhões e meio de judeus nos Estados Unidos assinalados no
globo de Hitler estava um menino chamado Ed Koch. Portanto, também
sou um sobrevivente. Se as bestas nazistas não tivessem sido derrotadas
na Europa, os judeus do mundo inteiro teriam o mesmo destino que os seis
milhões."
A suprema vitória contra o Nazismo é
a continuidade judaica, e continuidade judaica significa educação
judaica.Agradeci ao Prefeito pelas suas palavras, e as repito com
freqüência, principalmente para a geração mais
jovem. Nossos Sábios dizem: "Em toda geração
a pessoa deve considerar-se como tendo saído do Egito." Em
nossa geração, todos devem se considerar sobreviventes.
Sim, você está a duas, três gerações
depois, mas estaria vivo, se Hitler tivesse conseguido o seu intento?!
P. Em termos de números, a assimilação está
se provando mais custosa à vida judaica que o Holocausto na Europa.
Como devemos alertar os judeus do mundo inteiro sobre isso?
R. Lau: Somente através da educação
judaica. E a esse respeito Chabad é constituído de pioneiros
sem paralelos. Todos precisam saber sobre o esforço de Chabad para
a divulgação global, através dos emissários
do Rebe que vão até as mais remotas comunidades judaicas
do planeta.
O Shabat, tefilin e talit há muito abandonados
estão sendo redescobertos. Eles não querem se afogar nas
águas do secularismo com um corpo íntegro e uma alma perdida,
ao contrário daqueles que pereceram com o corpo queimado, mas a
alma intacta. Eles estão procurando reconectar sua alma.Digo
às pessoas que a assimilação equivale a entregar
a Hitler a vitória (D'us não o permita). Assimilação
e casamentos mistos não apenas afetam a vida dos atuais judeus,
como também corta fora as futuras gerações de judeus,
exatamente o objetivo da "solução final". Portanto,
se você acha que os nazistas merecem a vitória, vá
em frente. Mas eu sei que não há um só judeu no mundo
que concordaria com isso. A suprema vitória contra o Nazismo é
a continuidade judaica, e continuidade judaica significa educação
judaica.
P: Durante a comemoração seu irmão Naftali
estava junto com você. Poderia nos dizer algumas das palavras que
vocês trocaram entre si?
R. Lau: Muitas e muitas vezes nos perguntamos como pudemos
sobreviver a isso? O frio, a fome, a perseguição, as humilhações,
a separação um do outro. Eu estava no bloco 8 e ele no bloco
52. Os problemas não terminaram após a libertação.
Meu irmão contraiu tifo, e ficou alheio a tudo durante dias. Pensávamos
que ele jamais se recuperaria, como foi o destino de 60% dos sobreviventes
de Buchenwald. E aqui estamos nós, com lares e famílias
aos quais retornar. Faltam palavras para expressar o profundo senso de
ser um milagre vivo.
P: Ao conversar com outros sobreviventes, ouviu alguma coisa que
ainda não sabia?
R. Lau: Gostaria de mencionar algo importante que ouvi.
No passado, muitos sobreviventes tinham se distanciado da vida judaica,
mas muitos relataram como mais tarde se viram tentando uma reconexão
com suas raízes. Este é um fenômeno que está
se espalhando e por algum motivo não tem sido relatado. Talvez
seja a idade, talvez seja a antecipação do dia do Julgamento
Final, ou talvez seja que quanto mais longe você fica da montanha,
melhor a enxerga, sua perspectiva é mais ampla. Qualquer que seja
a razão, o Shabat, tefilin e talit há muito abandonados
estão sendo redescobertos. Eles não querem se afogar nas
águas do secularismo e do cinismo, com um corpo íntegro
e uma alma perdida, ao contrário daqueles que pereceram com o corpo
queimado, mas a alma intacta. Eles estão procurando reconectar
sua alma.
P: Esta comemoração pode ser usada para inspirar
o judeu de hoje?
R. Lau: Esta lembrança precisa unificar o povo
judeu. Os perpetradores do Holocausto não diferenciaram entre um
judeu e outro. Instruído ou ignorante, mais ou menos observante,
eles foram todos iguais em suas mortes pelos nazistas. A lição
é bastante clara: se somos todos judeus que morreram como um só,
somos obrigados a viver como um. Precisamos nos sentir como somos todos
"areivim" (responsáveis) um pelo outro. Como comentou
o Rebe certa vez, a palavra areivim significa não apenas responsável,
mas doçura em cada um de nós.
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Preito de Gratidão |