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Após sobreviver
ao Holocausto quando criança, Israel Meir Lau –ex rabino-chefe
de Israel, passou décadas procurando o homem que salvou sua vida.
A jornada terminou com uma reportagem da Associated Press sobre um documento
nazista recentemente descoberto confirmando a identidade do adolescente
que o protegeu do tiroteio nazista quando seu campo de concentração
foi libertado.
Numa cerimônia emocionante, o Memorial do Holocausto concedeu postumamente
a mais alta honraria para não-judeus a Feodor Mikhailichenko.
“Isto encerra um ciclo de 64 anos. Você procura essa pessoa,
a quem deve a vida, e não sabe a quem agradecer,” disse Lau,
de 72 anos. “Ele foi o herói da minha infância. Um
homem com uma alma enorme e um coração de ouro.”
Rabino Lau tinha identificado antes um outro interno do campo, um russo
não-judeu chamado Feodor, como seu salvador no campo de Buchenwald,
mas jamais conseguiu saber o nome completo do rapaz de 18 anos. Ele disse
que Feodor roubava e cozinhava batatas para ele, tricotou protetores de
orelha de lã para protegê-lo do frio cruel e ficou em cima
dele assim que o tiroteio irrompeu quando o campo foi libertado em 11
de abril de 1945.
Na época, Lau era um menino de oito anos, apelidado de Lulek.
Yisrael Meir Lau (8 anos) |
“Feodor, o russo, cuidava de mim no dia-a-dia como
um pai faria pelo filho. Sua preocupação e sentimento de
responsabilidade me davam uma sensação de segurança,”
escreveu Lau em sua autobiografia de 2005.
Mikhailichenko ficou tão chegado a Lau que queria adotá-lo
como filho. Porém Lau manteve a palavra dada à sua família
assassinada e emigrou para o pré-estado de Israel num navio de
crianças órfãs refugiadas. Ele perdeu contato com
Mikhailichenko e apesar dos muitos esforços, jamais conseguiu encontrá-lo
novamente.
O mistério começou a se esclarecer em junho de 2008, quando
o pesquisador do Holocausto Kenneth Waltzer da Universidade Estadual de
Michigan descobriu a verdadeira identidade do homem através de
um documento nazista que encontrou num arquivo secreto recentemente aberto
na pequena cidade alemã de Bad Arolsen.
O documento tinha ficado no arquivo por mais de seis décadas.
Rabino Lau soube pela primeira vez o nome completo do seu salvador através
de uma reportagem da Associated Press sobre a descoberta.
Mikhailichenko retornou à Rússia onde se tornou um importante
geólogo. Ele faleceu de câncer em 1993 aos 66 anos, Porém
suas filhas, Yulia Selutina e Yelena Belayaevam foram rapidamente localizadas
e confirmaram que o pai falava com frequência sobre um menino judeu
chamado Lulek em Buchenwald.
Após a descoberta no ano passado, Lau convidou as duas filhas a
Israel e as recebeu em sua casa para um jantar. Na ocasião ele
as apresentou a alguns dos seus oito filhos, 50 netos e cinco bisnetos.
“Eu disse a elas: ‘Tudo isso eu devo ao seu pai. Se não
fosse pelo pai de vocês, nenhum deles existiria,’” disse
ele. “Procurei por ele durante décadas e jamais o esqueci,
nem por um só dia.”
Selutina comoveu-se na terça-feira, quando aceitou uma medalha
e um certificado em nome do pai. Ela disse que ele também nunca
se esqueceu de Lulek, e viajou a Buchenwald um ano antes de morrer procurando
informações sobre ele.
Mikhailichenko foi mostrado num documentário russo feito em 1992,
detalhando como ele e outros internos russos ajudaram Lau a sobreviver
fazendo as tarefas designadas a eles e protegendo-o da ira dos guardas
alemães.
As filhas de Mikhailichenko se encontraram este ano [2009] com o Presidente
israelense Shimon Peres.
“Não há muitas filhas no mundo que podem estar tão
orgulhosas de seu pai como vocês. Seu pai agiu com imensa humanidade
quando arriscou a vida para salvar uma alma,” disse Peres a elas.
“Todo o Estado de Israel tem orgulho de vocês e sua família,
e lhes será grato pelo resto de suas vidas.”
Quase todos os membros poloneses da família de Lau foram exterminados
em campos nazistas. Seu irmão mais velho, Naftali, cuidou do menino
até que os dois foram separados ao chegar a Buchenwald em janeiro
de 1945.
Mikhailichenko já era um interno veterano do campo, tendo sido
preso pela Gestapo em 1942, por furto. Ele conhecia os trâmites
e protegeu Lau.
Quando Buchenwald foi libertado pelos soldados americanos, Lau estava
entre os jovens sobreviventes. Ele seguiu em frente até se tornar
um dos mais proeminentes líderes espirituais de Israel. Atuou como
rabino-chefe entre 1993-2003 e atualmente é diretor do Conselho
de Yad Vashem, o Memorial do Holocausto em Israel.
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