BEIT CHABAD

  Midrash Chucat
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Três categorias de mitsvot

As mitsvot da Torá, geralmente, pertencem a uma de três categorias:

Mishpatim - Leis Civis: "Mishpatim" são leis Divinas que promulgam a segurança e sobrevivência da sociedade humana. Incluem, por exemplo, a proibição de roubar e matar.

Edut - Testemunhos: Se uma mitsvá testemunha um evento histórico ou algum aspecto de nossa fé, é chamada de "Edut", testemunho. São exemplos a mitsvá de observar o Shabat, que atesta nossa crença de que o Todo Poderoso criou o mundo em seis dias; observar as Festas (Yom Tov), pois comemoram o Êxodo do Egito; as mitsvot de tsitsit e tefilin que demonstram nossa crença na soberania de D'us.

Chukim - Decretos Divinos: Na categoria de chok (plural: chukim) classifica-se todas as mitsvot cujo propósito ou significado não são compreendidos pela inteligência humana.

Esta categoria de mandamentos é a mais difícil de respeitar. O Talmud nos diz que essas são as leis que "a má inclinação (yêtser hará) e as nações do mundo tentam contestar." Se não compreendemos o motivo de alguma coisa é tentador achar pretextos para não faze-la. Quando tentamos explicar nossa religião aos não-judeus, as leis que não tem um motivo óbvio são as mais difíceis de compreensão. O fato de um mandamento não ter um motivo óbvio torna seu cumprimento um ato de fé, muito mais ainda. Ele indica que estamos prontos e desejosos de obedecer às ordens de D'us, até mesmo quando não podemos justificá-las racionalmente.

Todas as leis de pureza e impureza ritual pertencem à essa categoria de mandamentos conhecidos como chukim, decretos. Portanto, disseram nossos sábios, "O corpo morto não impurifica, e a água não purifica. Mas sim, disse D'us, Eu dei uma ordem, e emiti um decreto - e você não tem permissão para questioná-lo."

Demonstramos assim, que estamos colocando D'us acima de nosso próprio intelecto. Apesar de talvez não sermos capazes de justificar esses mandamentos perante o mundo, expressamos nossa segurança interior como judeus ao continuar cumprindo-os.

Há numerosos exemplos de chukim, mas o Midrash enumera quatro sobre os quais a Torá afirma explicitamente: "Este é um chok." Uma vez que contém elementos aparentemente contraditórios, são passíveis de serem ridicularizados pelos que se pautam pelo pensamento racional. Por isso, a Torá aconselha o judeu a dizer a si mesmo: "É um chok, não tenho direito de questioná-lo."

Os quatro chukim são:

1. Yibum: Um judeu que se casa com a esposa de seu irmão enquanto este ainda está vivo, ou mesmo após sua morte, incorre em pena de caret (morte espiritual), contanto que seu irmão tenha tido filhos. Porém, se a esposa do irmão não tem filhos, é mitsvá casar-se com ela (levirato, yibum).

Sendo que a lógica acha muito difícil aceitar este paradoxo, o versículo enfatiza: "E vocês guardarão Meus chukim." (Vayicrá 18:26).

2. Shaatnez: A Torá proíbe vestir-se com roupas que contenham mistura de lã com linho. Não obstante, é permitido vestir um traje de linho em cujos cantos haja tsitsit de lã atados. Por mais que questionemos esta exceção, a Torá declara, no que concerne à mitsvá de shaatnez: "E vocês guardarão Meus chukim." (Vayicrá 19:19).

3. O bode para Azazel: Um bode era enviado à morte como parte do Serviço de Yom Kipur, purificando o povo judeu de seus pecados. Ao mesmo tempo, impurificava o agente que o enviava. Por conseguinte, esta lei é chamada de "um chok eterno" (Vayicrá 16:29).

4. A vaca vermelha: As cinzas da vaca vermelha purificavam um judeu que encontra-se impuro, enquanto tornavam impuro qualquer um que estivesse envolvido em sua preparação. Uma vez que isto também desafia a lógica, a Torá introduz o assunto com as palavras: "Este é o chok da Torá" (19:2); devemos aceitar a mitsvá como uma ordem Divina.

Os chukim, contudo, não são "leis sem razão"; sua lógica, porém, é Divina. Os maiores dentre nosso povo foram capazes de compreender algumas delas.

Assim, o fundamento racional por trás das leis da vaca vermelha foram reveladas de maneira Divina a Moshê.

O rei Salomão, por outro lado, que pesquisava as razões por trás das mitsvot e encontrou explicações para todas as outras, professou que esta mitsvá era incompreensível.

Salomão descobriu porque o shochet (magarefe) deve seccionar tanto o esôfago quanto a traquéia dos mamíferos, enquanto que para aves é suficiente cortar apenas um desses órgãos, e que peixes sequer necessitam de abate ritual.

Todavia, confessou: "Pensei que teria sabedoria, porém isto (a compreensão da mitsvá da vaca vermelha) está muito distante de mim." (Cohêlet 7:23).

A fim de apreciar plenamente suas palavras, exploraremos a profundidade e âmbito da sabedoria de Salomão:

"E D'us deu a Salomão bastante sabedoria e compreensão, e extensão de conhecimentos como a areia da beira do mar." (Melachim I, 5:9).

Esse versículo implica que a sabedoria de Salomão equivalia à sabedoria do povo judeu, que era "tão numeroso quanto a areia da beira do mar." A capacidade de seu intelecto era superior a de qualquer outra pessoa, e por isso conseguia captar o que se passava na mente do outro. Conseqüentemente, seu julgamento era verdadeiro mesmo em casos nos quais os fatos eram obscuros, como demonstra a seguinte história:

Três mercadores judeus estavam juntos numa jornada quando se aproximava o Shabat. Decidiram enterrar seu dinheiro em determinado local, descansar até depois do Shabat, desenterrá-lo e continuar seu caminho.

Na escuridão da noite, enquanto os companheiros dormiam, um deles aproximou-se sorrateiramente do local secreto, desenterrou o dinheiro e escondeu-o em outro lugar.

Procurando o dinheiro depois do Shabat, os mercadores perceberam que esse desaparecera. Uma vez que ninguém mais sabia do local secreto, concluíram que um deles deveria ter roubado o tesouro. Mas qual? Cada um acusava o outro, dizendo: "Você é o ladrão!"

Incapazes de determinar quem era o culpado, decidiram viajar até Jerusalém e submeter o caso ao Rei Salomão.

O Rei Salomão ouviu atentamente o relato e ordenou-os a retornar no dia seguinte. Ao voltarem à corte, o rei declarou: "Sei que todos vocês são mercadores perspicazes. Antes de julgar seu caso, gostaria de ouvir sua opinião acerca de outro caso que me foi apresentado."

Os três ouviram com atenção o Rei Salomão relatar o seguinte incidente: "Um menino e uma menina cresceram no mesmo bairro, e prometeram não se casar sem o consentimento um do outro. Mais tarde, mudaram-se e perderam contato. Quando a menina chegou à idade casadoura, ficou noiva de um jovem de sua nova cidade. Mesmo assim, não se esquecera da promessa feita na infância. Ao se aproximar a época do casamento, vendeu seus pertences pessoais a fim de levantar fundos para empreender uma longa jornada a sua cidade natal, para procurar seu antigo vizinho. Viajou a sua cidade, encontrou-o e explicou-lhe que estava noiva de outra pessoa. Pediu-lhe para libertá-la da promessa feita anos atrás e, em seu lugar, aceitar o dinheiro que conseguira.

O jovem valorizou os sofrimentos pelos quais ela passara para ser fiel a sua promessa. Apesar de lhe ser difícil, disse-lhe que estava livre para casar-se com seu noivo. Recusou o dinheiro que ela oferecera, e ela partiu em paz.

A solitária viagem de volta era tão perigosa para a jovem quanto fora sua jornada para longe do lar. Ao circular por um bairro deserto, um velho surgiu de um arbusto, atirando-se sobre ela, roubando-lhe todo o dinheiro e ameaçando utilizar-se dela para seus próprios propósitos.

"Por favor, ouça-me," suplicou a moça, "você é um homem velho, por quê traria esta terrível culpa sobre si pouco antes de ser convocado perante o Juiz Eterno? Pegue meu dinheiro, mas deixe-me retornar ilesa a meu noivo." Contou-lhe sua história, e encerrou: "Meu amigo de infância certamente teve mais dificuldade em me deixar partir que você; ele é jovem, e reivindicou um direito a mim. Você, um homem velho, deve aprender dele a como se controlar."

O ladrão ficou tocado pelo relato. Não a molestou, e restituiu-lhe o dinheiro.

"Agora," concluiu o Rei Salomão, "coloco-lhes a seguinte questão: Quem é o verdadeiro herói da história - a moça, o jovem ou o ladrão? Gostaria de ouvir suas opiniões sobre o assunto."

"A moça é extraordinária," replicou o primeiro mercador. "Imagine, empreender uma longa e perigosa jornada apenas para cumprir sua promessa!"

"Admiro o jovem," apartou o segundo. "Agiu de maneira nobre e altruísta."

"A ação do ladrão é a mais admirável," comentou o terceiro mercador. "Depois de conseguir ter em sua posse tanto a moça quanto o dinheiro, não apenas libertou a moça, como também restituiu o dinheiro!"

"Prendam-no!" gritou o Rei. "Ele só pensa em dinheiro! Mesmo ouvindo esta história, em seu íntimo, desejava o dinheiro da moça. Quando teve oportunidade de pegar o dinheiro para si, com certeza o fez! Prendam-no imediatamente!"

O mercador foi preso, e confessou imediatamente sua culpa.

O Rei Salomão era perito em todas as ciências, ultrapassando seus antepassados. Por exemplo, seu conhecimento sobre animais era maior que a de Adam (Adão), que deu nome a cada espécie de acordo com suas características essenciais.

Sua compreensão sobre astronomia ultrapassava a de Avraham, um mestre dessa ciência.

Sua perícia em negócios de estado excedia a de Yossef, ele próprio um legislador habilidoso. Também era melhor lingüísta que Yossef, que falava setenta idiomas. Além de falar todas as línguas, comunicava-se com todos os animais.

O Rei Salomão brilhava mais que os reis e nações de sua época em todos os ramos da ciência. Apesar dos reis egípcios orgulharem-se de seu conhecimento em astrologia, a competência de Salomão era superior, como demonstra o seguinte incidente:

Quando o Rei Salomão estava prestes a construir o Templo Sagrado, pediu ao rei egípcio, o Faraó Necho, que lhe enviasse artistas e artesãos.

O Faraó pediu a seus astrólogos para adivinharem quais de seus súditos estavam destinados a morrer naquele ano. Subseqüentemente, enviou a Salomão uma equipe de trabalhadores desenganados.

Contudo, assim que os artesãos egípcios chegaram, Salomão percebeu o segredo. Ordenou que vestissem mortalhas brancas e enviou-os de volta à terra natal com uma mensagem ao Faraó Necho: "Aparentemente, faltam-lhe mortalhas para enterrar seus mortos. Por isso, estou enviando algumas para seus trabalhadores."

A sabedoria de Torá do Rei Salomão era imensa. Ultrapassava a da geração do deserto, conhecida como "a Geração do Conhecimento."

Sua grandeza em Torá torna-se patente através dos três maravilhosos e sagrados Livros que escreveu com espírito de profecia: Cohêlet (Eclesíastes), Mishlê (Provérbios) e Shir Hashirim (Cântico dos Cânticos) - que estão incluídos nos 24 livros do Tanach (Bíblia). Também compôs alguns dos salmos no Tehilim.

Fez com que a Torá fosse cara e amada pelo povo, pois podia ilustrar o significado de cada halachá (Lei da Torá) com três mil parábolas, e citar mil e cinco diferentes razões para cada ordem rabínica.

Quão profunda é, portanto, a mitsvá da vaca vermelha, se o Rei Salomão, o mais sábio dos homens, declarou: "Estudei-a e empenhei-me em entendê-la, porém está bem além de minha compreensão."

Na verdade, mesmo as mitsvot da Torá que parecem compreensíveis são "chukim". Seu verdadeiro significado está muito além do intelecto humano.

As leis da vaca vermelha

A primeiro de Nissan de 2449, último dia da Inauguração do Tabernáculo, D'us revelou a Moshê as leis referentes a pessoas impuras que são enviadas para fora do Acampamento, e também as leis de pureza dos cohanim.

D'us ensinou-o como atingir a purificação dos diversos tipos de impurezas (quer através de imersão no micvê ou numa fonte de água corrente, e assim por diante), bem como os sacrifícios que finalizam o processo de purificação.

Quando D'us ensinou a Moshê que um judeu se torna impuro (tamê) se tocar num corpo sem vida, Moshê questionou: "Como se purifica a si mesmo da impureza?"

O Todo Poderoso não respondeu imediatamente. Na verdade, D'us adiou a resposta como um ato de bondade para Aharon. Da primeira vez que D'us dirigiu-se a Moshê, Aharon não estava presente. Por isso, Ele esperou até que Aharon também estivesse presente, então proferiu as leis da vaca vermelha a ambos (Bamidbar 19:1). Isto tornava público o fato de que Ele perdoara Aharon por ter participado do pecado do bezerro de ouro.

D'us retomou o assunto mais tarde naquele dia, explicando a Moshê e Aharon: "Se alguém se tornar impuro através do contato com um corpo, deve-se aspergir sobre esse uma mistura especial de água com as cinzas da vaca vermelha."

De acordo com uma visão dos sábios (Guitin 60a), as leis da vaca vermelha foram transmitidas a Moshê no dia primeiro de Nissan. Então porque a Torá coloca este assunto somente nesta parashá?

Uma vez que Côrach ridicularizou o processo de purificação dos leviyim (ver parashá passada), depois de terminar o relato da rebelião de Côrach e suas conseqüências, a Torá explica o fundamento da mitsvá, de que a purificação é alcançada através das cinzas da vaca vermelha.

O Todo Poderoso instruiu-os nos detalhes da lei da vaca vermelha:

• A vaca vermelha é adquirida com recursos do tesouro do Templo Sagrado, de um fundo que contém as doações anuais de meio-shekel dos indivíduos judeus.

• Para uma vaca vermelha ser qualificada como tal, deve ter pelo menos três anos de idade (idade suficiente para dar cria).

• Sua cor deve ser completamente vermelha; até mesmo dois pelos de cor diferente desclassificam-na.

• O animal também é desqualificado se alguma vez foi atado a um jugo, mesmo se não realizou trabalho algum.

Tendo procurado por todos os lugares por uma vaca completamente vermelha, o San'hedrin (Corte Suprema) finalmente foi informado de que um não-judeu possuía tal vaca.

Emissários foram enviados com o fito de adquiri-la.

O proprietário disse: "Estou disposto a vender o animal por um bom preço. Dêem-me quatrocentas peças de ouro."

"Você as terá," prometeram-lhe os sábios. "Retornaremos com o dinheiro."

Saíram, a fim de obter os fundos necessários do San'hedrin. Enquanto isso, o não-judeu contou a seus amigos sobre a venda em perspectiva, e descobriu quão raro e precioso era esse animal.

Quando os delegados voltaram com a soma combinada, o gentio lhes disse: "Mudei de idéia; não venderei minha vaca."

"Estamos dispostos a pagar um alto preço," replicaram os sábios. "Quer mais cinco peças de ouro?"

"Não a venderei," insistiu o não-judeu.

"Pegue mais dez peças de ouro," ofereceram.

"Vocês não a terão," repetiu.

"Pagaremos vinte peças extras de ouro," disseram.

"Fora de questão," replicou.

Os membros do San'hedrin aumentaram a oferta até que o homem finalmente concordou com a venda por uma quantia de cem peças de ouro adicionais. (Algumas opiniões dos sábios dizem que por mais mil.)

Os sábios disseram-lhe que voltariam com a quantia total e apanhariam o animal no dia seguinte.

Após partirem, o gentio disse a seu vizinho, rindo: "Sabe porquê esses judeus insistiram em adquirir esta vaca em especial? Necessitam dela para seus ritos religiosos, pois jamais foi atrelada a um jugo. Todavia, eu lhes aplicarei um pequeno truque."

Naquela noite, o perverso pegou sua vaca vermelha, atrelou-a ao jugo e arou com ela.

Os sábios voltaram na manhã seguinte. Antes de pagarem, examinaram o animal. Sabiam que uma vaca que jamais fora atrelada a um jugo pode ser reconhecida através de dois critérios: 1. Dois determinados pelos do pescoço ficam eretos enquanto intocados pelo jugo, porém dobram-se assim que se coloca o jugo sobre o animal. 2. Os olhos de um animal que jamais carregou um jugo são firmes. Depois de subjugada, seus olhos piscam, pois o animal olha de soslaio para ver o jugo.

Perceberam imediatamente que essa vaca apresentava os sinais de uma vaca que já portou o jugo.

"Fique com a vaca," disseram ao gentio. "Não precisamos dela."

Até a boca deste perverso blasfemo reconheceu: "Abençoado seja Aquele que escolheu esta nação."

• O cohen abate a vaca "fora do Acampamento". Durante os anos no deserto, era abatida fora dos três Acampamentos; e na época do Templo Sagrado, no Monte das Oliveiras, uma vez que esta montanha era considerada "fora de Jerusalém."

• O cohen colhe um pouco de sangue da vaca em sua mão esquerda, mergulha nesse seu indicador direito, e asperge o sangue em direção à entrada do interior do Templo (Hechal), o qual consegue enxergar da montanha.

• Acende-se um fogo, e o cohen supervisa a queima da vaca.

• Com um cordão de lã vermelha, o cohen amarra um galhinho de cedro unindo-o a um pouco de hissopo (ezov) e pergunta a todos os presentes:

"Isto é um galho de cedro?"

"Sim," respondem.

"Isto é um galho de cedro?" - pergunta pela segunda e terceira vez.

Recebe respostas afirmativas às três perguntas. Também pergunta três vezes: "Isto é uma lã vermelha?" - ao que lhe respondem afirmativamente três vezes.

Por que esta cerimônia?

Nem todos os tipos de hissopo, cedro e tinta vermelha são casher para este ritual. A não ser que todas as espécies utilizadas preencham os requisitos haláchicos (das leis), a mitsvá inteira é inválida. Desta forma, o cohen enfatiza que estão todas de acordo com os mandamentos da Torá.

• Enquanto a vaca está queimando, o feixe de cedro e hissopo é atirado à carcaça.

Por que se coloca madeira de cedro e a grama ezov sobre o fogo? O cedro é a mais alta das árvores, e a grama ezov, o mais baixo dos arbustos. Isso lembra a quem se purifica que a pessoa precisa de humildade para fazer teshuvá. É preferível sentir-se humilde como a grama ezov que orgulhoso como o cedro.

• As cinzas da vaca são divididas em três partes: uma é colocada numa determinada seção do pátio do Templo Sagrado, onde é preservada a fim de cumprir a mitsvá de que as cinzas da vaca vermelha devem ser guardadas para todas as gerações. A segunda parte é dividida entre os grupos de cohanim que servem no Santuário, para ficar à disposição para purificar um cohen que tornou-se impuro. A terceira parte é colocada num local no Monte das Oliveiras, para a purificação do povo judeu antes de sua entrada no Templo.

• Quem quer que esteja envolvido na preparação das cinzas - por exemplo, a pessoa que queima a vaca, quem atira o feixe ao fogo, quem recolhe lenha, quem toca ou transporta as cinzas - torna-se impuro.

• As cinzas da vaca são misturadas à água fresca de uma fonte num recipiente.

• As águas com cinzas da vaca vermelha são aspergidas sobre o judeu (que está se purificando) por alguém que está puro de impureza advinda da morte. Ele asperge quem está se purificando no terceiro e sétimo dias da purificação individual. Além disso, durante o sétimo dia, a pessoa que está sendo purificada deve imergir numa micvê, a fim de consumar a purificação.

Até hoje nove Vacas Vermelhas foram queimadas.

A primeira foi preparada por Elazar filho de Aharon sob a supervisão de Moshê, no segundo dia de Nissan, de 2449. (Moshê dirigiu os pensamentos apropriados à mitsvá, pois Elazar não compreendia suas razões.)

Uma bênção pairava sobre a porção das cinzas que Moshê separou para purificação: elas duraram até a época de Ezra. Sob a supervisão de Ezra, uma Segunda Vaca Vermelha foi queimada; uma terceira e quarta sob orientação de Shimon Hatsadic; e mais duas na época de Yochanan, o Sumo-sacerdote. Desde então até a destruição do Segundo Templo Sagrado mais três vacas foram queimadas. A décima será preparada por Mashiach, possa ele vir em breve.

Alusões acerca da mitsvá da Vaca Vermelha

Apesar da mitsvá da vaca vermelha ser inescrutável até a vinda de Mashiach (quando D'us revelará ao povo judeu as razões de todas as mitsvot, inclusive esta), a Torá nos fornece algumas indicações:

Certa vez, o pequeno filho da empregada do palácio, brincando, sujou o brilhante chão do palácio. "Onde está a mãe deste traquina?" - gritou o rei. "Que venha e limpe a bagunça de seu filho!"

Similarmente, o Todo Poderoso proclamou: "Que a (mãe) vaca expie a impureza criada pelo bezerro (de ouro)." Por isso, apenas uma fêmea é aceitável como vaca vermelha (enquanto que para outros sacrifícios tanto machos quanto fêmeas podem ser escolhidos).

Os seguintes pontos também demonstram a correlação entre a Vaca Vermelha e o pecado do bezerro de ouro:

• Uma vez que todos os homens doaram dinheiro para a feitura do bezerro de ouro, requer-se de todos eles que contribuam para a aquisição da Vaca Vermelha. Esse dinheiro provém do tesouro do Templo, constituído da contribuição anual de meio-shekel de cada judeu.

• D'us ordenou que a primeira Vaca Vermelha fosse queimada por Elazar, filho de Aharon, em vez do próprio Aharon, pois Aharon participara do pecado do bezerro de ouro.

• A vaca deve ser vermelha pois a cor vermelha sempre indica o pecado, e a cor branca sempre simboliza a pureza. Ao olhar a vaca vermelha, os judeus recordam-se de seus pecados. Mais ainda, o ouro tem um reflexo avermelhado. A vaca vermelha expia o ouro que o povo doou para fazer o ídolo em forma de bezerro de ouro.

• A vaca precisa ser perfeita, indicando que antes dos judeus cometerem o pecado do bezerro de ouro, eram perfeitos, pois tinham acabado de receber a Torá. Quando pecaram, perderam sua perfeição.

• A vaca é queimada para recordar o bezerro de ouro, que foi queimado por Moshê.

O enigma da Vaca Vermelha - por quê purifica e impurifica ao mesmo tempo - contém uma importante lição:

Um dos mistérios filosóficos é a coexistência do Bem e do Mal, felicidade e tragédia neste mundo. Por quê homens virtuosos são expostos a sofrimentos excruciantes frustrou e desconcertou profundamente até o maior dos profetas.

Incapaz de explicar as contradições da vida, as nações idólatras atribuem sua origem em divindades duplas, uma que traz bênção sobre a humanidade, e a outra má.

Por essa razão, os modernos reivindicam que o universo não tem poder que o governa.

A Torá, contudo, ensina-nos a acreditar em Uma Fonte, da Qual todos os eventos - tanto bons quanto maus - emanam.

Os elementos aparentemente contraditórios da mitsvá da Vaca Vermelha ensina-nos a atribuir o mistério da vida às limitações de nosso intelecto. Num nível que transcende nossa atual compreensão, todas as contradições desaparecem. Sua essência é uma, um plano Divino para nosso benefício definitivo.

A mitsvá ensina que devemos enxergar todos os aspectos da vida com a mesma atitude que adotamos para a própria mitsvá, fé.

Os judeus receberam a mitsvá da Vaca Vermelha pelo mérito de Avraham

Quando os três anjos visitaram Avraham, ele correu para abater e preparar uma vaca. Como recompensa, seus filhos receberam a mitsvá de utilizar uma vaca.

Enquanto Avraham implorava que D'us não destruísse os perversos habitantes de Sodoma, ele rezou: "Na verdade, não tenho autoridade para discutir com D'us, pois sou apenas pó e cinzas." Avraham era tão humilde que sempre tinha consciência de que o corpo de uma pessoa não passa de meros pó e cinzas. D'us disse: "Devido à tua grande humildade, Darei a teus filhos uma mitsvá com cinzas; as cinzas da Vaca Vermelha. Ao cumprirem-na, serão perdoados."

Como recompensa por dizer aos seus visitantes celestiais, "Que água seja trazida para lavar vossos pés", D'us deu aos descendentes de Avraham uma mitsvá com água: as cinzas da Vaca Vermelha são misturadas à água.

Três recipientes serão devolvidos

Atualmente, não temos as cinzas da Vaca Vermelha, e não podemos nos purificar da impureza proveniente da proximidade a um morto.

No entanto, futuramente, Eliyáhu o Profeta nos devolverá três recipientes:

1. O recipiente no qual Moshê colocou a maná, para lembrar os judeus como D'us os alimentou no deserto por quarenta anos.

2. O recipiente contendo as cinzas da Vaca Vermelha.

3. O recipiente que contém o azeite com o qual se ungiam os cohanim e os reis.

Algumas leis de pureza ritual

Cada um dos seguintes grupos podem tornar-se impuros sob determinadas condições através de contato com pessoa ou animal que está impuro:

• Alimentos

• Líquidos

• Roupas e utensílios

• Uma pessoa judia

Salientaremos as leis básicas de impureza dos grupos acima:

Alimentos

Um alimento pode-se tornar impuro apenas se as duas seguintes condições forem preenchidas:

1. Já não se nutre mais através de seus galhos ou raízes.

2. Foi anteriormente tocado por um dos seguintes sete líquidos: vinho, mel de abelhas, azeite de oliva, leite, orvalho, sangue ou água.

Preenchidas essas duas condições, e se o alimento, mais tarde, tocar uma pessoa ou animal impuro (como uma carcaça de animal, ou carcaça de certos répteis), esse se torna igualmente impuro.

Na época do Templo Sagrado, se a terumá (presentes de alimentos devidos ao cohen) ou chalá (pedaço da massa) ficasse impura, o cohen já não poderia comê-la. Havia pessoas que evitavam comer qualquer alimento impuro, quando possível, mesmo se não fosse consagrado, a fim de evitar erros, ou como um ato de santidade especial.

Líquidos

Se um líquido tocar numa pessoa ou carcaça de animal impuros, esse se torna impuro.

Roupas e utensílios

Roupas e utensílios ficam impuros se tocarem numa pessoa ou animal impuro. Utensílios de barro ou cerâmica, se o interior for tocado.

Utensílios de metal ou madeira são purificados através de imersão na micvê. Utensílios de cerâmica não podem ser purificados.

Uma pessoa

Uma pessoa judia torna-se impura através das seguintes condições:

1. Através de contato; de carregar ou estar sob o mesmo teto que um morto; ou um órgão, membro ou corpo morto; ou em contato com utensílio que tocou um corpo humano morto.

Uma pessoa que fica impura dessa forma é chamada de av hatumá, uma fonte de impureza. Fica impura por sete dias e, a fim de purificar-se, é aspergida com as águas da Vaca Vermelha no terceiro e sétimo dias; depois, imerge no micvê.

2. Alguém que tenha tido contato com av hatumá torna-se impuro, porém sua impureza é menos severa. Perdura até o anoitecer, e a pessoa purifica-se através de imersão no micvê. Esta pessoa é denominada de rishon letumá, um portador primário de impureza.

O passamento de Miriam e o desaparecimento do Poço de Miriam

No décimo dia de Nissan do quadragésimo ano no deserto, ocorreu uma tragédia nacional.

Quando os judeus chegaram ao deserto de Tsin, Miriam, irmã de Moshê faleceu. Tinha cento e vinte e cinco anos de idade.

Miriam ensinara e orientara as mulheres, assim como Moshê e Aharon o faziam com os homens. Foi uma das sete profetizas conhecidas.

Miriam faleceu sem sofrimento, pacificamente e feliz. Já que ela era uma tsadeket, mulher justa, o anjo da morte não podia tocá-la. A Shechiná (Presença Divina) revelou-se a ela, levando assim sua alma de volta a sua fonte. Após sua alma ter deixado o corpo, os anjos a receberam com muita alegria. Exclamaram: "Venha em paz". Essas são as boas-vindas dispensadas a todos os tsadikim após seu falecimento.

A narrativa do falecimento de Miriam segue-se as leis da Vaca Vermelha (apesar de seu passamento ter ocorrido no último ano no deserto, enquanto que a Vaca Vermelha foi queimada no segundo ano). A Torá justapõe esses dois eventos para ensinar que a morte de um tsadic traz expiação para o povo judeu, como o fazem as águas da Vaca Vermelha.

Assim que Miriam faleceu, D'us fez com que o Poço de Miriam desaparecesse temporariamente, para que o povo percebesse que seu poço de água fora fornecido pelo mérito de Miriam. Apreciando assim sua grandeza, poderiam enlutar-se por esta tsadeket de maneira apropriada.

A geração do deserto recebeu três presentes pelo mérito de seus três grandes líderes:

• O Poço, pelo mérito de Miriam

• As Nuvens de Glória, pelo mérito de Aharon

• A maná, pelo mérito de Moshê.

Por quê os três líderes são associados a esses presentes específicos?

Eles personificavam os três pilares que sustentam o mundo - Torá, serviço Divino e realização de atos de bondade.

• Moshê deu a Torá e era o mestre e líder do povo judeu por excelência. Por isso, em seu mérito os judeus recebiam a maná, cujo presente diário aliviava a necessidade de se obter um ganha-pão, e cuja ingestão ajudava-os no entendimento do estudo da Torá.

• Aharon personificava o serviço Divino. Sua devoção ao Serviço dos sacrifícios trouxe a Shechiná ao povo judeu. As Nuvens de Glória eram, assim, dadas em seu mérito, pois representavam a Shechiná que residia com o povo judeu.

• Miriam era excelsa no terceiro dos três fundamentos: a bondade. Desde sua juventude devotou-se ao bem-estar de seu povo. Mesmo quando criança, ajudava sua mãe como parteira, e levava comida aos pobres.

Mais ainda, foi Miriam que esperou por Moshê às margens do Nilo, e por isso foi recompensada justamente através da água.

Por causa de seu atributo de chessed, bondade, D'us proveu os judeus com água, uma necessidade vital.

Como os judeus recebiam água do Poço de Miriam?

Esta miraculosa rocha da qual brotava água estava sempre presente no deserto com o povo. Quando o povo acampava, essa ficava num local alto, em frente à entrada do Tabernáculo.

Cada um dos doze líderes aproximaram-se do poço com seus cajados e traçaram uma linha ligando o poço à sua tribo. A água fluía através dessas doze linhas para todas as Tribos, formando rios entre uma tribo e outra. Cada rio era tão largo que uma mulher que desejasse visitar uma amiga de tribo diferente precisaria de um barco, senão desejasse molhar os pés.

A água também rodeava a maior parte do Acampamento. Onde quer que os judeus acampassem, grama, árvores, vinhedos, figos e romãs brotavam à sua volta. Os vinhedos produziam uvas de sete sabores diferentes. O povo judeu experimentava o bem e a excelência do Mundo Vindouro na água e nas plantas produzidas pelo Poço de Miriam. Por isso, mais tarde (nesta parashá), cantaram um cântico louvando esse maravilhoso poço.

Após o falecimento de Miriam, o Poço desapareceu subitamente.

Sem água potável para suas esposas e filhos, os judeus encontravam-se em uma situação crítica.

Moshê e Aharon, que estavam sentados, enlutados por sua irmã, viram multidões aproximarem-se de sua tenda.

"O que é essa assembléia?" - indagou Moshê a Aharon.

Replicou Aharon: "Os judeus não são descendentes de Avraham, Yitschac e Yaacov, que realizam atos de bondade como seus patriarcas? Certamente estão vindo para nos consolar."

"Aharon," censurou-o Moshê, "você não consegue distinguir entre uma multidão com propósitos nobres de uma com propósitos ignóbeis? Se estivessem se aproximando de maneira ordeira - com os Anciãos à frente, seguidos pelos responsáveis pelos milhares, pelos centuriões, e assim em diante - você teria razão. Porém olhe para esta multidão tumultuada!"

As palavras de Moshê provaram ser verdadeiras imediatamente. A desorganizada e excitada aglomeração que rumava à tenda começou a reclamar amargamente sobre a falta de água.

"Por quê precisamos sofrer tanto?" - inquiriram. "Você, Moshê, costumava afirmar que somos punidos porque há pecadores entre nós, que fazem com que a Shechiná parta. Agora, contudo, os homens da geração do deserto já se foram, e os de nós que permanecem vivos merecem entrar em Israel. Por que deveríamos nós, ou nossos filhos, e nosso gado perecer de sede?

"Os infindáveis testes são demais para suportarmos. Por que você não reza para D'us levar-nos diretamente a Israel em vez de guiar-nos pelo deserto por quarenta anos? Preferíamos ter sido consumidos junto com a congregação de Côrach ou na praga subseqüente a morrer de sede agora.

"Vocês estão enlutados por uma pessoa. Em vez disso, deveriam enlutar-se por todos nós, pois não temos água."

Apesar dos judeus, em sua agitação, estarem prontos a apedrejarem Moshê e Aharon, D'us não refreou suas reclamações contra eles. Eles expressaram-nas em meio à dor da sede, e D'us não detém alguém de suas afirmações enquanto está em dor.

Moshê e Aharon escaparam da fúria da multidão para a entrada do Tabernáculo e prostraram-se em prece.

A Nuvem de Glória apareceu, e D'us censurou Moshê: "Meus filhos estão sofrendo de sede, enquanto você está envolto em luto. Encontre a rocha que era o Poço de Miriam, ordene-lhe que dela emane água, e convide a congregação e os animais a beberem."

Moshê e Aharon pecam em Águas de Discórdia

D'us disse a Moshê: "O povo testemunhará agora um milagre que santificará Meu Nome. Congregue os tsadikim e pessoas grandes ao lado da rocha da qual jorrava água enquanto Miriam estava viva. Ordene-lhe que forneça novamente água aos judeus.

"Estando de pé com a santa congregação na frente da rocha, ensine-os uma lei ou passagem da Torá. Então ordene à rocha que continue dando água. O mérito do estudo comunitário da Torá fará com que essa produza água, como o fazia em mérito de Miriam.

"Além disso, todos os que testemunharem o milagre aprenderão a grande lição: 'Se mesmo uma sólida rocha, ao comando de D'us, obedientemente torna-se um poço, nós, judeus, certamente somos obrigados a obedecer D'us com alegria e boa vontade (e não porque sentimo-nos compelidos a servi-Lo)!'"

D'us advertiu Moshê para que trouxesse somente os tsadikim, mas Moshê (que desejava que todos vissem o milagre) reuniu a congregação inteira, dos pequenos aos grandes, incluindo até mesmo o êrev rav (convertidos egípcios).

Um milagre possibilitou ao povo inteiro ficar na frente da rocha, apesar da área ser pequena demais para conter a todos.

Ouviu-se algumas pessoas do êrev rav zombarem: "Quem disse que o filho de Amram (Moshê) realizará um milagre verdadeiro? Deve haver uma razão para ele estar determinado a dirigir-se a uma rocha em especial. Talvez saiba que a rocha contém umidade e pode, portanto, produzir água. Moshê costumava ser um pastor e conhece bem diferentes tipos de rochas. Vejamos se pode realizar esta proeza com uma rocha de nossa escolha!"

O escárnio dos zombeteiros repercutiu sobre o povo, dispersando-os em todas as direções. O líder de cada Tribo ergueu uma pedra e exigiu: "Moshê, queremos água desta rocha!"

O êrev rav proclamou: "A não ser que nos dê água da rocha que escolhermos, não queremos nenhuma!"

Moshê ficou extremamente angustiado. Esperava estudar Torá junto com uma solene assembléia de judeus em frente a rocha. Experimentariam então, através do formidável milagre que seu estudo da Torá tinha o poder de mudar as próprias leis da natureza. Em vez disso, enfrentou uma multidão de motejadores que questionavam se um milagre verdadeiro estava para acontecer.

Mais que isso, Moshê percebeu que a Shechiná estava ausente. A atitude do povo causou a partida da Shechiná.

Moshê não tinha certeza de como deveria proceder. A atmosfera não era propícia ao estudo da Torá. Como poderia ensinar a um povo que se rebelava contra seu mestre? E qual rocha deveria escolher? Deveria ignorar a exigência do povo e fazer brotar água do verdadeiro Poço de Miriam? Se sim, o êrev rav reivindicaria que ele não realizou um milagre genuíno. Ou deveria aquiescer e realizar um milagre através de uma rocha diferente? Se sim, poderia ser culpado de transgredir o comando de D'us. Além disso, D'us poderia julgar o povo como não merecedor de receber água de uma rocha diferente.

Moshê decidiu que precisava censurar severamente o povo, por terem arrogantemente desafiado seu mestre. Dirigiu-se-lhes de maneira rígida: "Agora ouçam, seus rebeldes e tolos! Por que acham que sua compreensão é maior que a de seu mestre?"

Moshê continuou a repreender o povo: "Devemos fazer brotar água de uma rocha acerca da qual o todo Poderoso não ordenou?"

"Juro, ouvirei D'us e trarei água da própria rocha que Ele ordenou."

Moshê ordenou à rocha que produza água. Contudo, esta não obedeceu, o milagre não ocorreu. Por conseguinte, Moshê golpeou a rocha.

Os zombeteiros exclamaram: "Filho de Amram, aparentemente você tem água suficiente apenas para nossos bebês."

Moshê então golpeou a rocha pela segunda vez. A isso, a água irrompeu e jorrou, formando uma profunda corrente que inundou o povo e afogou os zombeteiros.

O golpe de Moshê fez com que, simultaneamente, cada rocha da região produzisse água.

D'us decreta morte no deserto a Moshê e Aharon

O Todo Poderoso censurou extremamente tanto Moshê e Aharon, proclamando: "Falharam em acreditar em Mim e Me santificar aos olhos do povo judeu, ao golpearem a pedra.

"Rebelaram-se contra Mim ignorando Meu comando de ensinar Torá aos judeus em frente à rocha. Por isso, não levarão esta geração a Terra de Israel; Porém, falecerão no deserto."

Por que o Todo Poderoso puniu Moshê e Aharon de maneira tão severa?

Moshê poderia justificar cada um de seus atos: recusou-se a fazer brotar água da rocha que os judeus designaram, a fim de não ser culpado de desobedecer a Palavra de D'us; golpeou a rocha porque suas palavras, oralmente, provaram ineficácia. O seu erro está além de nossa compreensão.

Mais que isso, Aharon, também incluso no veredicto, era aparentemente inocente de qualquer dos pecados enumerados por D'us. Errou somente por ficar lá em silêncio, enquanto Moshê golpeava a rocha.

De fato, Moshê argumentou com D'us: "Sou culpado, mas como Aharon poderia sê-lo?"

Aharon, contudo, não defendeu-se. Apesar de poder ter questionado o veredicto, permaneceu em silêncio (como quando seus filhos Nadav e Avihu foram punidos com a morte).

Na verdade, D'us estava procurando um pretexto, por assim dizer, para fazer com que Moshê e Aharon falecessem e fossem enterrados no deserto.

"Moshê," consolou-o o Todo Poderoso, "como seria se você, o líder da geração do deserto, tivesse enterrado os 600.000 homens que você tirou do Egito, e então levasse outra geração a Israel?

"Em vez disso, você permanecerá íntegro com a geração que lidera, assegurando-lhes, por conseguinte, uma porção no Mundo Vindouro. Você os liderará para Israel na época de Mashiach."

O líder de cada geração estará à sua testa no Mundo Vindouro.

Isto pode ser comparado ao pastor de um rei cujo rebanho inteiro foi roubado. Quando tenta entrar no palácio, o pastor encontra o caminho bloqueado. O rei explica: "Sei que o que aconteceu não foi por culpa sua, mas meu povo não tem consciência disto. Se eu não mostrar que estou zangado e deixá-lo entrar em meu palácio, eles suspeitarão que você teve participação no roubo."

Foi isto que D'us disse a Moshê: "Se você entrar na terra, deixando para trás toda a sua geração para morrer no deserto, as pessoas não acreditarão que você não é culpado pela morte delas. Portanto, tenho de deixá-lo aqui também. Você entrará na terra, juntamente com a sua geração, na época da Ressureição dos Mortos."

Vendo que estava impotente, Moshê disse: "Se meu irmão e eu tivermos de morrer no deserto junto com o restante de nossa geração, as pessoas pensarão que nós pecamos como elas, com os espiões, e fomos castigados com elas." D'us tranqüilizou-o, dizendo: "Não tenha medo, Moshê. Minha santa Torá relatará claramente como você e seu irmão vieram a merecer este castigo, de modo que toda a humanidade saberá que vocês só tiveram um único pecado em sua ficha, o da Água de Discórdia. Somente por ele vocês foram punidos."

A punição de Moshê e Aharon fornece uma chave para as narrativas da Torá

Se lêssemos apenas as palavras da Torá condenando Moshê e Aharon ("Vocês não acreditam em Mim para Me santificar na presença dos Filhos de Israel," "vocês rebelaram-se," e assim por diante) porém não os eventos precedentes, presumiríamos que D'us estava acusando Moshê e Aharon de um crime capital, como idolatria ou ateísmo. Na verdade, as palavras de D'us eram dirigidas a dois supremos tsadikim, cujo cada ato era devotada ao Serviço de D'us e ao povo judeu. Não se "rebelaram" contra D'us, mas sim cometeram um erro sutil de algum tipo.

D'us condenou-os ao extremo, pois quanto maior e mais perto de D'us a pessoa estiver, menos será poupada de culpa.

Se não tivermos esse princípio em mente, julgaremos erroneamente os indivíduos mencionados na Torá, assim como o povo judeu.

(Se observarem alguém de fora que entra numa sinagoga em Yom Kipur e ouve todos os judeus acusarem-se: "Ashámnu, bagádnu... / Somos culpados, traímos D'us, roubamos, pecamos com comida e bebida," e assim por diante, teria a impressão de que acabara de se deparar com uma congregação de ladrões, traidores, glutões, bêbados e caráteres similares. Contudo, alguém que conhece este povo e sua Torá está ciente de que um judeu confessa sinceramente, "Roubamos", mesmo se jamais tocou em algo que não lhe pertença, pois ele confessa os pecados do povo judeu coletivamente porque se culpa de ter feito alguém perder seu tempo, ou perturbado seu sono.)

A dura crítica expressa contra Moshê e Aharon é um típico exemplo do severo julgamento de D'us com as pessoas grandes e elevadas.

A Torá conclui o assunto do pecado de Moshê e Aharon com as palavras: "Estas são as Águas de Discórdia, (assim chamadas) porque os Filhos de Israel querelaram com D'us, e Ele foi santificado por elas." (20:13)

Como D'us foi santificado através das Águas de Discórdia?

A pena de morte de Moshê e Aharon demonstra que D'us pune até mesmo os maiores tsadikim. Esta conscientização reforçaria o temor de cada um ao Todo Poderoso.

Moshê envia mensageiros ao rei de Edom

Os judeus estavam agora em Cadesh, perto de Edom. Após cruzar Edom chegariam em Israel.

Apesar de Moshê saber que morreria assim que chegassem em Israel, não tentou fazer com que os judeus demorassem o máximo possível. Era um líder fiel, levando em conta o melhor para o povo. Por isso, tentou convencer Edom a permitir a passagem dos judeus.

À medida que se aproximavam, Moshê pensou: "Quando Yaacov quis retornar à casa de seu pai, ele mandou mensageiros especiais com presentes para seu irmão, embora não tivesse nenhuma intenção de atravessar sua terra. Certamente nós, uma nação numerosa que deseja passar por Edom, devemos enviar emissários para apaziguar o rei e pedir sua permissão."

Moshê selecionou pessoas especiais e enviou-as ao Rei de Edom com a seguinte mensagem: "Seu antepassado Essav (Esaú) estava plenamente ciente do decreto que estabeleceu que os descendentes do avô dele, Avraham, seriam estrangeiros numa terra estranha, onde trabalhariam como escravos. Vocês não escolheram trabalhar arduamente e sofrer e se separaram de Yaacov. Nós, os filhos de Yaacov, sofremos por muitos anos no Egito, até que D'us ouviu nossas súplicas, teve piedade de nós e nos libertou da servidão. Estamos agora a caminho de nossa terra. Sabemos que vocês estão bem armados, mas não tememos, porque nosso D'us é Todo-Poderoso e temível. Se nós rogarmos a Ele e pedirmos Sua ajuda, Ele destruirá a você e a todo seu exército, porque nós temos Sua garantia de que nossas orações nunca são totalmente rejeitadas, elas jamais são recusadas. Pedimos, rei de Edom, que nos conceda permissão para passa por sua terra. Nós o faremos com a máxima rapidez possível, com nossos animais amordaçados, para que eles não pastem nela. Compraremos toda a nossa comida e água com dinheiro."

Por ter medo dos judeus, o rei não queria que esta nação atravessasse Edom. Ele pensou: "O D'us dos judeus destruiu os egípcios que os escravizaram e os torturaram, castigando-os com pragas terríveis. Ele certamente se lembra do ódio que nosso pai Essav tinha do antepassado deles, Yaacov. Se eu permitir que atravessem a minha terra, com certeza Ele também nos liquidará."

Portanto, o rei de Edom disse aos mensageiros que proibia o povo de entrar na terra dele, observando que não tinha medo de orações, porque também possuía uma garantia divina de que "viveria pela sua espada". Ele os receberia com suas forças armadas e os destruiria totalmente.

Quando recebeu esta mensagem dos homens que haviam retornado, Moshê teve vontade de atacar os edomitas e de entrar em sua terra à força, mas D'us o impediu. "Não lutem contra Edom. Não devem conquistá-los, ainda não é o momento oportuno."

Moshê perguntou que mérito especial possuía Edom para merecer esta proteção. D'us respondeu: "Essav honrou seu pai Yitschac. O mérito desta grande mitsvá é suficiente para proteger seus descendentes para sempre."

Os judeus saíram de Edom, deram a volta e fizeram um caminho mais longo para Israel.

Depois, enviaram mensageiros ao rei de Moav, pedindo permissão para passar pelas Terras. O rei de Moav, porém, negou-lhes passagem. D'us também não deixou que guerreassem contra Moav.

Aharon falece em Hor Hahar

A Nuvem de Glória permaneceu durante diversos meses em Cadesh, na fronteira da terra de Edom. Então, essa levantou-se e dirigiu os judeus por um desvio contornando a terra de Edom. Ela descansou na frente da montanha Hor Hahar.

O nome Hor Hahar significa "montanha da montanha." Era na verdade um monte sobre o topo de outro, parecendo uma pequena maçã no topo de uma grande.

Geralmente, a Nuvem de Glória aplainava todas as colinas e montanhas no deserto, de modo que o povo judeu pudesse viajar num caminho suave e sem obstáculos. No entanto, D'us deixou três montanhas de pé:

• O Monte Sinai, para a outorga da Torá.

• O monte Nevô, para ser o local do túmulo de Moshê.

• Hor Hahar, para se tornar o local do enterro de Aharon.

D'us preservou essas montanhas também como um lembrete de que haviam muitas montanhas parecidas no deserto. Os judeus então apreciariam a bondade que o Todo Poderoso fez em prol deles ao nivelar as montanhas.

Ao chegarem a Hor Hahar, D'us anunciou a Moshê: "Aharon se unirá a seu povo. Sua alma se juntará a de outros tsadikim no Mundo Vindouro.

"Informe gentilmente a Aharon que está prestes a partir deste mundo, pois pecou nas Águas de Discórdia. Seu filho Elazar o sucederá como Sumo-sacerdote. Alguém que deixa um filho que toma seu lugar é considerado como se não tivesse falecido."

Ao receber as ordens de D'us, Moshê suplicou: "Mestre do Universo! Aharon não pode ficar vivo no lado leste do Jordão?"

"Impossível," replicou o Todo Poderoso. "O fato dele ficar vivo impede os judeus de entrarem na Terra. Você deseja que ele viva a este custo?"

Moshê ainda continuou a rezar: "Mestre do Universo," implorou ao Todo Poderoso, "Como posso dizer a meu irmão: 'Sua hora chegou?'"

D'us replicou: "É uma honra para ele ser informado por ninguém mais a não ser você. Diga-lhe: 'Quão afortunado você é, pois eu e seus filhos lhe assistimos em seus últimos momentos. (Quem cuidará de mim [Moshê] quando estiver prestes a morrer?) Além disso, seu filho tomará seu lugar (e o meu não)."

"Mais que isso, Aharon não morrerá através do Anjo da morte. Quando Aharon arriscou sua vida queimando incenso no meio do povo a fim de deter a praga, Eu decretei que o Anjo da Morte não terá poder sobre ele. Eu Mesmo recolherei sua alma."

Ao perceber que o decreto de D'us era irrevogável, Moshê obedeceu sem demora.

Na manhã seguinte, ele rendeu honras públicas a Aharon. Em vez de andar até o Tabernáculo na formação usual - Aharon à direita, Elazar à esquerda, os líderes flanqueando-os pelos dois lados, e o povo entre eles - Moshê disse a Aharon que andasse no centro, onde em geral Moshê anda.

O povo estranhou o porquê de Aharon receber honra especial. Supuseram que Aharon recebera profecia em vez de Moshê.

Quando o cortejo chegou ao Tabernáculo. Aharon quis entrar para realizar o Serviço matinal diário.

"Espere," disse Moshê. "D'us ordenou que você não realize o Serviço hoje."

"O que Ele ordenou?" - perguntou Aharon.

"Subamos ao Hor Hahar, e eu lhe direi," retrucou Moshê.

Ao sopé da montanha, Moshê ordenou aos nessiim (líderes das tribos) que esperassem. Apenas ele, Aharon e Elazar subiram.

Aharon indagou novamente: "O que D'us ordenou?"

"Meu irmão," introduziu Moshê o assunto cuidadosamente, "você está consciente de guardar um depósito que o Todo Poderoso pode querer de volta?"

"Meu irmão Moshê," replicou Aharon, "O Tabernáculo inteiro e seus utensílios sagrados estão sob minha responsabilidade. Será que falhei no Serviço?"

Moshê tentou uma aproximação mais direta: "O Todo Poderoso confiou-lhe uma luz?" - perguntou a Aharon.

"Não apenas uma," replicou Aharon, "Todas as sete luzes da Menorá são de minha responsabilidade."

"Isto não é o que quero dizer," disse Moshê. "Talvez Ele confiou-lhe algo que se parece com luz?"

"A alma do homem é a vela de D'us." (Mishlê 20:7), replicou Aharon. "Você está insinuando que a hora de meu passamento chegou?"

"Sim," disse Moshê, colocando a mão no coração e gritando: "Meu coração dói e sofre dentro de mim, e o temor da morte caiu sobre mim." (Tehilim 55:5).

No topo da montanha uma caverna estava preparada, e nela uma cama e uma vela acesa.

D'us instruiu Moshê: "Transfira os trajes sacerdotais de Aharon a seu filho Elazar, que o sucederá como Sumo-sacerdote." Quando Moshê ouviu a ordem, não sabia como agir. É proibido vestir o Sumo-sacerdote em qualquer outra seqüência a não ser a prescrita: primeiro, as roupas de baixo; e depois as outras. A fim de vestir Elazar na ordem correta, deveria despir Aharon de todas as suas roupas, inclusive as de baixo.

"Não tema," disse D'us a Moshê, "Faça, e Eu farei minha parte."

Os milagres que D'us realizou para Aharon quando este estava prestes a falecer foram maiores que os da vida inteira de Aharon. Toda vez que Moshê removia uma das túnicas sacerdotais de Aharon, encontrava-o vestido por baixo com um traje Celestial correspondente, de maneira que o corpo de Aharon nunca ficou nu. Depois que Moshê despiu todos os oito trajes sacerdotais, Aharon vestia oito trajes Celestiais correspondentes.

Então Moshê disse a Aharon: "Deite-se no divã!" Aharon assim o fez.

"Feche os olhos," ordenou Moshê. Aharon fechou-os.

"Estique as pernas!" - mandou Moshê. Aharon obedeceu.

A Shechiná desceu, e a alma de Aharon foi atraída em sua direção com alegria e júbilo, retornando lentamente a sua origem.

Sendo que a partida da alma através de "um beijo Divino" é um espetáculo sagrado e solene, a alma de Aharon partiu isolada numa caverna. Ninguém, exceto Moshê e Elazar podiam observar a grande cena.

Moshê exclamou: "Quão afortunada é a pessoa que falece desta maneira!"

Mais tarde, D'us concedeu o desejo de Moshê, de experimentar esta morte.

O Anjo da Morte não teve poder sobre seis tsadikim, cujo passamento deu-se através de "um beijo Divino":

• Avraham

• Yitschac

• Yaacov

• Moshê

• Aharon

• Miriam


O Todo Poderoso ordenou então a Moshê e Elazar: "Agora deixem a caverna." Assim que saíram, a entrada se fechou.

Quando Moshê e Elazar retornaram, o povo não conseguia compreender o que acontecera. Viram três pessoas ascenderem à montanha, e agora só duas estão descendo.

Todos os tipos de rumores e desconfianças acerca do destino de Aharon foram levantadas.

"Onde está Aharon?" - inquiriram Moshê.

"Ele faleceu," respondeu Moshê.

Esta afirmação encontrou descrença total. O povo disse ameaçadoramente a Moshê: "Não nos diga que o Anjo da morte tinha poder sobre Aharon, que o controlou e impediu-o de matar os judeus! Traga Aharon de volta imediatamente, ou o apedrejaremos!"

"Conhecemos seu caráter irascível. Aharon deve ter dito ou feito algo que você considera pecaminoso, e você decretou-lhe pena de morte!"

A falsa suspeita lançada sobre Moshê invocou o castigo do Céu. Imediatamente depois, os judeus foram atacados por Amalec.

Moshê orou a D'us para ficar livre de suspeitas.

O Todo Poderoso ordenou aos anjos que trouxessem o caixão de Aharon e mostrassem-no ao povo. Tiveram uma visão do caixão de Aharon flutuando no ar. Por conseguinte, aceitaram sua morte.

O luto por Aharon foi pesado. Durou trinta dias e incluiu todos os membros da nação; homens, mulheres e crianças.

Os céus também se enlutaram. D'us e Suas Hostes Celestiais fizeram sua elegia, proclamando: "A Torá da Verdade estava em sua boca, e a iniqüidade não se encontrava em seus lábios; ele andou Comigo em paz e retidão. Pois os lábios do cohen [Aharon] guardavam conhecimento e eles buscavam Torá de sua boca, pois era como um anjo do Eterno das Hostes." (Malachi 2:6-7).

Por que Aharon foi tão vastamente pranteado?

Aharon gozava de enorme popularidade, pois amava a paz e perseguia a paz.

Enquanto andava através do Acampamento, cumprimentava qualquer judeu que via com um amplo sorriso e palavras calorosas, mesmo se a pessoa fosse um perverso. Imediatamente, qualquer pessoa que cometera, ou estava prestes a cometer um pecado, pensava: "Por que Aharon (o Sumo-sacerdote, o maior dignitário dos judeus) cumprimentou-me? Obviamente, pensa que sou um tsadic." Envergonhado por seu verdadeiro caráter não encaixar-se na imagem percebida por Aharon, a pessoa resolvia melhorar seus caminhos.

Sempre que Aharon ouvia que dois judeus discutiram, visitava um deles e dizia: "Sabe o quanto seu antigo amigo está arrependido de não se dar mais bem com você? Está sentado em casa, batendo no peito com o punho e rasgando as roupas de arrependimento, por causa da discórdia entre vocês dois, mas está envergonhado demais para lhe dizer!"

Aharon então visitava o outro amigo, dizendo-lhe as mesma coisas. Da próxima vez que se encontravam, abraçavam-se, beijavam-se e uniam-se novamente, reatando a amizade.

Se Aharon ouvisse acerca de uma rixa entre marido e mulher, não descansava enquanto não os tivesse reconciliado. Como Aharon resolvia desavenças entre marido e mulher? Caso ficasse sabendo que alguém brigara com a esposa e a expulsava de sua tenda, ia até ele e dizia: "Soube que você quer divorciar-se. Pense bem, talvez você não encontre uma melhor! Talvez sua futura esposa o fará lembrar constantemente que você foi o culpado, que você está sempre provocando brigas, como fazia com a primeira esposa. É melhor fazer as pazes e contentar-se com a situação." As palavras sinceras de Aharon tocavam profundamente o homem zangado e acalmavam seus sentimento de irritação.

Cada vez que Aharon fazia as pazes entre marido e mulher, o casal dava o nome de Aharon ao filho nascido após sua reconciliação. Foram esses meninos que renderam as maiores honras ao irmão de Moshê, que só nasceram porque Aharon conseguiu reunir seus pais. Oitenta mil crianças chamadas Aharon acompanharam o esquife de Aharon, que eles viram se movendo no céu.

Aharon faleceu com a idade de 123 anos, a primeiro de Av de 2488 (1312 AEC). Até o dia de hoje, ninguém conhece o local exato dos túmulos de Moshê e Aharon. O Próprio D'us juntou-os a Si.

Amalec ataca o povo judeu

Durante a vida de Aharon, as Nuvens de Glória protegiam o povo judeu, pelo seu mérito. Quando ele faleceu, as Nuvens desapareceram. Por não terem mais a proteção das Nuvens, a arca preenchia a função das Nuvens, matando as cobras e escorpiões por onde os judeus passavam.

Enquanto as Nuvens cercavam o Acampamento de Israel, as outras nações temiam atacá-los. Os amalequitas eram antigos inimigos de Israel, que esperavam uma oportunidade para atacar. Diziam: "Ataquemos os judeus. Moshê e Elazar estão de luto, os judeus choram, e já não há Nuvens de Glória para protegê-los."

Os amalequitas mobilizaram seu exército e atacaram o povo judeu.

Amalec é derrotado

Amalec temia que os judeus rezassem a D'us para que o derrotasse; por isso, resolveram enganar os judeus.

Eles falaram entre si no idioma canaaneu, esperando que o povo judeu pensasse que eram canaanitas. Assim, rezariam para que D'us os salvasse dos canaanitas, enquanto que eles, os amalequitas, é que atacariam.

Mas o estratagema não logrou. Apesar de falarem o idioma canaaneu, os judeus reconheceram sua indumentária amalequita.

Os amalequitas tiveram êxito em seu ataque, e capturaram uma escrava. Os judeus assustaram-se e recuaram oito posições. Eles rezaram: "Por favor, D'us, entregue esta nação em nossas mãos." Não citaram o nome da nação, pois não estavam certos de contra quem lutavam. Também prometeram: "Se vencermos esta guerra, não usufruiremos dos despojos, doaremos tudo a D'us."

D'us aceitou a oração do povo judeu. Eles venceram os amalequitas, e santificaram a D'us com todos os pertences de Amalec.

Os judeus altercam-se sobre a maná

Quando os judeus chegaram às terras de Edom, encontravam-se tão perto de Israel que bastaria atravessá-las que chegariam à Israel imediatamente. Mas o rei de Edom não permitiu que os judeus atravessassem o país. Por isso, Moshê e o povo judeu ainda andariam muito para chegar até lá.

O êrev rav e os que não eram tsadikim reclamaram: "Quando terminará esta peregrinação pelo deserto? Já dura quase trinta e oito anos Moshê, por que você nos tirou do Egito para morrer no deserto? Aqui só tem maná! Está certo que o sabor é ótimo, mas a aparência é sempre a mesma. Que monotonia! A maná é muito leve, não fica em nossos estômagos, e não há desperdício. Como isto pode ser saudável?"

D'us disse: "Tudo o que faço por este povo é o melhor para eles, mas são mal-agradecidos. Falaram mal até da maná." Ouviu-se uma voz do céu: "Escutem! Tirei o povo judeu do Egito e dei-lhes a maná. Podem ter na maná o sabor que quiserem. Vejam o exemplo da serpente! Tudo o que ela come tem sabor de pó, mas ela nunca protesta. Que a serpente puna os que reclamam da maná, que possui tantos sabores diferentes."

O deserto estava repleto de serpentes venenosas. Até agora, as Nuvens e a arca haviam protegido o povo das serpentes milagrosamente, ninguém havia sido picado por elas. A partir desse momento, D'us permitiu que as serpentes os picassem. Elas mordiam os pecadores. Alguns ficaram doentes por causa do veneno, outros morreram.

O povo judeu percebeu seu erro, e dirigiu-se a Moshê: "Erramos ao falar contra você e contra D'us. Por favor, peça a D'us que elimine as serpentes."

Moshê orou pelo povo e perdoou-o imediatamente por tê-lo criticado.

A cobra de cobre

D'us disse a Moshê: "Faça uma serpente de cobre e coloque-a no alto de um mastro. Quem for mordido por uma cobra olhará para a cobra de cobre e será curado." Moshê assim fez. Todo judeu que olhava para a cobra de cobre fazia teshuvá e curava-se das picadas venenosas.

Olhar para a cobra lembra ao povo: "Façam teshuvá pelo seu lashon hará (maledicência). Não façam como a serpente do Paraíso, que falou contra D'us!"

Os grandes milagres ocorridos no rio Arnon e o cântico de louvor

Quando souberam que os judeus estavam acampados às margens do Arnon, um riacho que corria ao longo da fronteira, os emoritas tramaram destruir seus inimigos com astúcia. O Arnon é flanqueado por duas montanhas íngremes, uma das quais está cheia de cavernas e fendas, e a outra, de formações rochosas salientes exatamente em frente à primeira. Os emoritas armaram uma emboscada, esperando os judeus passarem. Planejavam bombardeá-los com pedras e matá-los com facilidade, pegando-os de surpresa. Os emoritas haviam esquecido, porém, que D'us estava lutando do lado dos judeus e podia frustrar os planos mais elaborados e inteligentes. Ao chegarem ao riacho Arnon, os judeus se encontravam em estado de penitência e retidão, e portanto merecedores da salvação Divina. Aí D'us operou um milagre tão grande quanto o exibido no Mar Vermelho.

Durante os quarenta anos de viagem, a arca sagrada havia aplainado o caminho à frente do acampamento judaico. Agora D'us fez outra coisa: fez as duas montanhas se aproximarem. As rochas salientes de um lado penetraram nas cavernas e fendas do lado oposto, fundindo-se a elas. Os judeus atravessaram os topos das montanhas, sem saber que antes um riacho corria sob seus pés ou que seus inimigos agora jaziam mortos dentro das cavernas, depois de terem sido esmagados e sofrido uma morte torturante. Como não queria que Seu milagre permanecesse em segredo, D'us fez o poço de Miriam entrar nas cavernas e arrastar para fora tudo que havia dentro delas. Os judeus de repente viram uma enxurrada de sangue misturado com membros humanos irrompendo das cavernas abaixo deles e entenderam seu significado, percebendo o perigo do qual tinham acabado de escapar e o milagre que D'us realizara. Não só sua passagem havia sido facilitada, como também seus inimigos haviam sido destruídos, sem que eles sequer tomassem conhecimento disso.

Depois que os judeus atravessaram, as montanhas separaram-se novamente e voltaram a suas posições originais. Agradecidos, os judeus juntaram-se a Moshê num cântico de louvor, semelhante ao Cântico do Mar, exclamando: "D'us nos salvou e operou milagres para nós. Cantemos portanto Seus louvores."

Apenas D'us conhece os milagres que Ele realiza para Suas criaturas. Uma serpente venenosa pode estar se escondendo sob a cama de alguém, este porém não sabe disso. De manhã, quando está prestes a colocar os pés no chão, a serpente recua de repente, e foge. Ele foi poupado da morte, mas não sabe dos milagres de D'us. Por isso, o versículo diz: "A Ele, Que sozinho realiza grandes maravilhas." (Tehilim 136:5). Apenas Ele sabe acerca das grandes maravilhas que Ele realiza constantemente para nós.

A guerra contra Sichon, rei dos emoreus

O povo judeu chegou às fronteiras do reino dos emorim. Enviaram mensageiros a Sichon, seu rei: "Por favor, deixe-nos passar. Não causaremos danos, não passaremos pelos campos, e utilizaremos só a estrada principal. Sequer beberemos de tua água." Mas Sichon negou a autorização. Os reis de Canaã pagavam tributos a Sichon, em troca de proteção. Sichon decidiu destruir o povo judeu.

Sichon era um dos gigantes que sobrevivera ao Dilúvio, ele e seu exército eram mais temidos que o Faraó e seu exército.

Sabendo o quanto D'us valoriza a paz, Moshê pretendia enviar mensageiros do acampamento israelita a Sichon para tentar selar um acordo de paz e pedir permissão para passar pela terra emorita, pagando por toda a água e alimento que o povo necessitaria durante a travessia. Porém, D'us falou a Moshê: "Se Eu lhe disse categoricamente para travar guerra com ele, por que você ainda procura fazer a paz?" Moshê respondeu: "Aprendi com Você a buscar primeiro uma solução pacífica. Quando quis tirar os judeus do Egito, inicialmente Você me enviou ao Faraó para pedir-lhe permissão. Com um só raio, Você certamente poderia ter atingido o Faraó e sua nação inteira, mas não escolheu este caminho. Primeiro me enviou-me para pedir licença ao Faraó, para que ele libertasse os judeus de boa vontade. Quando pretendia dar a Torá a Seu povo, primeiro Você procurou todas as nações e ofereceu-lhes a Torá, sabendo muito bem que elas recusariam a oferta. É por isso que também tentei aproximar-me de Sichon pacificamente."

D'us alegrou-se com esta resposta e disse: "Moshê, Meu filho, você Me agrada. Realmente, é sempre preferível começar pacificamente. Diga aos judeus que se lembrem disto em todas as guerras futuras. Antes de começar qualquer ataque, eles devem dirigir-se ao inimigo com uma oferta de paz." Moshê assim fez, ensinando aos judeus este princípio valioso, a ser lembrado sempre antes de uma batalha.

Os mensageiros foram a Sichon com o seguinte pedido: "Permita-nos atravessar sua terra. Nós avançaremos sempre, sem virar à direita ou à esquerda. Compraremos todas as provisões diretamente de vocês e pagaremos até a água que bebermos. Estamos dispostos a pagar qualquer preço que vocês pedirem; permita apenas que atravessemos a sua terra para podermos alcançar à nossa terra."

Sichon retrucou: "Apresentarei minha resposta a seu pedido com a seguinte parábola:

"Um homem contratou um guarda para vigiar sua vinha, pagando generosamente por seus serviços. Certa vez, um sujeito aproximou-se do guarda e perguntou se podia entrar na vinha e colher algumas uvas. O guarda ficou perplexo: 'Como você espera que eu lhe permita entrar na vinha? O meu dever é justamente não deixar ninguém entrar! É para isso que recebo um salário tão alto! E no entanto você anuncia abertamente que quer colher as mesmas uvas que eu sou contratado para vigiar!' Assim", prosseguiu Sichon, falando aos mensageiros de Moshê, "eu e Og, rei de Bashan, temos a função de guardar a terra dos reis cananeus. Recebemos somas enormes para impedir que nações estrangeiras atravessem as terras deles. Como vocês podem anunciar tão atrevidamente que têm a intenção de fazer exatamente aquilo que nós somos pagos para impedir? Como eu poderia permitir-lhes a passagem?"

Em resposta, o rei dos emoritas concentrou suas tropas em um dos cantos de sua terra e iniciou o ataque contra os judeus. D'us pôs na cabeça de Sichon a estratégia de concentrar todos os seus soldados num único lugar, ao invés de dividi-los em pelotões. Assim os judeus puderam lutar com o exército emorita inteiro ao mesmo tempo facilitando sua derrota.

Novamente D'us ajudou o povo judeu. Moshê pronunciou o Nome Completo de D'us, e Sichon caiu morto. Enquanto os judeus lutavam, o sol se punha. Eles não podiam lutar na escuridão. D'us então deteve o sol nos céus, e a batalha continuou até o que os judeus vencessem. Assim, eles conquistaram o reino de Emor.

Ao ouvirem sobre a vitória, as nações do mundo tremeram. Sichon tinha um meio-irmão, o gigante Og, que governava o reino vizinho de Bashán. Ao saber da morte de Sichon, preparou seu exército para lutar contra o povo judeu.

A guerra contra Og, rei de Bashán

Moshê temia a luta contra Og, mas não porque era o gigante mais forte do mundo, pois sabia que com a ajuda de D'us poderia vencer o inimigo mais poderoso. Então por que tinha medo?

Moshê estava preocupado.

Og tinha mais de 500 anos. Com certeza, essa longevidade era devida a um mérito especial. Moshê sabia que quando Lot, sobrinho de Avraham foi capturado (ver Bereshit, 14:12, 13), Og correu para contar a Avraham. Avraham então salvou Lot. Sua grande mitsvá foi ajudar ao tsadic Avraham. Talvez por isso D'us não permitiria que os judeus derrotassem Og.

Ao ver o exército de Israel, vangloriou-se: "Vencerei! Meu mérito me ajudará".

D'us tranqüilizou Moshê: "Não tema! Estou do teu lado. Og não agiu com boas intenções ao informar Avraham sobre o cativeiro de Lot. Na verdade, queria que Avraham fosse morto ao tentar resgatar Lot, para casar-se com Sara. Ele não é um homem santo, na verdade, é um perverso."

Os judeus prepararam-se para a luta. Moshê, ele próprio, matou o gigante Og. e os judeus destruíram os filhos de Og e seus soldados. O poderoso reino de Bashán foi agora conquistado.

Como Moshê matou o gigante Og

Og disse: "Pegarei uma rocha do tamanho do acampamento do povo judeu, jogarei sobre eles e destruí-los-ei de um golpe só."

Ele encontrou uma rocha do tamanho de uma montanha, levantou-a e preparou-se para jogar sobre o povo judeu, como uma bomba mortal. Mas D'us fez com que um exército de formigas corroesse a rocha. Quando Og levantou-a, a parte interior desintegrou-se, e a parte exterior caiu sobre sua cabeça, como um anel ao redor de seu pescoço. Og tentou libertar-se, mas seus enormes dentes fincaram-se na rocha. Não podia mover-se sem que seus dentes quebrassem.

Entretanto Moshê - que tinha uma altura de10 amot (cerca de 5 metros) - pegou um machado de 10 amot de comprimento e saltou mais de 10 amot. Assim, alcançou o crânio de Og, a trinta amot do chão. Moshê jogou o machado nos pés de Og, que caiu para trás e morreu.

Na época do Talmud, ainda se sabia com que rocha Og tentou destruir o povo judeu. Sempre que um judeu passava por ela, dizia uma bênção: "Bendito És D'us, Rei do Universo, que realizaste um milagre para o povo judeu neste local."

Os seguintes locais também eram conhecidos pelos judeus, que diziam uma bênção ao passar por eles:

• O lugar onde atravessaram o Mar Vermelho.

• O vale onde os emorim tentaram destruir o povo judeu.

• A pedra sobre a qual Moshê sentou-se durante a guerra contra Amalec.

• A coluna de sal em que se transformou a esposa de Lot.

• Os muros de Jericó, que caíram por terra na época de Yehoshua.

       
 
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