SHABAT

D’us Trabalhou no Shabat?
Por Elisha Greenbaum

Recebi um telefonema de um casal tentando marcar o brit milá de seu filho. O menino tinha nascido no final da tarde, pouco antes do anoitecer, exatamente uma semana antes da festa de Rosh Hashaná.

O ideal é que um brit seja realizado no oitavo dia a partir do nascimento, mesmo em Shabat ou Yom Tov. No entanto, se por algum motivo o brit é adiado, não fazemos o procedimento no Shabat ou Yom Tov, mas remarcamos para o primeiro dia de semana disponível.

Se o bebê tivesse nascido ainda durante o dia, o brit teria sido na semana seguinte, ou no dia anterior à festa. De modo contrário, se o recém-nascido tivesse chegado à noite, então teríamos com segurança agendado o brit para a semana seguinte, e feito o trabalho na festa.

Vivemos, no entanto, num mundo impreciso. O momento exato em que um dia termina e outro começa é quase impossível de definir com algum grau de acurácia. Os halachistas têm reagido a esta preocupação criando uma zona de crepúsculo: um período conhecido como “bein hashmashot”. Nem dia pleno, nem noite completa, é impossível precisar definitivamente a data de aniversário de uma criança nascida durante este período.

Não poderíamos arriscar-nos a fazer o brit no dia antes da Festa, o que poderia, afinal, ter sido apenas o sétimo dia do nascimento. De maneira contrária, fazer o brit na Festa corre o risco de profaná-la realizando uma ação que, de direito, deveria ter sido completada no dia anterior. Por fim, a Halachá (Lei da Torá) decretou que não fazemos nenhum desses, e a cerimônia inteira foi postergada para o dia posterior à Festa.

Aqueles que observam o Shabat fazem uma concessão semanal para esta ambigüidade ao determinar o início do Shabat, trazendo o Shabat ligeiramente mais cedo que o estritamente necessário. Os horários de acendimento das velas que você encontra em seu calendário judaico local introduzem o Shabat ligeiramente mais cedo que deveriam, para proteger a santidade do Shabat contra profanação inadvertida.

O interessante, no entanto, é que D’us não Se submeteu a essa precaução. Lemos que “D’us terminou a criação no sétimo dia’ (Bereshit 2:2), o que poderia levar alguém erradamente a pensar que D’us ainda estava criando o universo dentro do sétimo dia, parando para descansar somente quando o Shabat já tinha começado. No entanto, todos os comentaristas tradicionais interpretam este versículo como dizendo que D’us continuou a criar até o momento exato em que terminava o sexto dia e o Shabat começava.

D’us cria realidade. O tempo é uma função da Sua vontade. D’us não tem necessidade de acrescentar à santidade do Shabat “por segurança” porque Ele inventou aquela santidade e Ele sabe o momento exato em que Ele introduz o Shabat ao mundo.

A lição notável dos seis dias da Criação não é somente que D’us escolheu criar um universo, mas que Ele continuou a criar até o último instante possível.

A tentação está sempre ali, de fazer bastante e então parar. Satisfazer-se com as próprias conquistas passadas e aproximar-se da linha de chegada.

A lição de vida que aprendemos do ato de criação de D’us é que todo momento é precioso, todo segundo é uma nova oportunidade de trabalhar, de esforçar-se, produzir, realizar. Não devemos e não podemos nos dar ao luxo de perder nossa oportunidade de sermos parceiros de D’us no ato da criação.