A Chalá
Por Rabi Yitschac Hanoka
Coordenador Rabínico em Oak Labs
Um seleto número de mandamentos da Torá estão classificados
como t’luyot ba’aretz, diretamente conectados com a Terra
de Israel física. Chalá, a separação de uma
porção de massa, está entre esses mandamentos. A
Torá declara: “Oferecerás um pão (chalá)
da primeira parte de sua massa como presente” (Bamidbar 15:20).
Este pão está entre os vinte e quatro presentes que D’us
concedeu aos cohanim, sacerdotes.
Outros mandamentos que são t’luyot ba’aretz incluem
bikurim, terumá e ma’asser. Bikurim, os primeiros frutos,
eram levados a Jerusalém pelo dono da terra como uma oferenda ao
Templo e dados aos cohanim. Terumá e ma’asser, porções
da produção, eram dadas respectivamente a um cohen e um
levita. Estas outras mitsvot não eram aplicáveis até
catorze anos depois que os israelitas entraram na terra (sete anos para
conquistá-la e sete anos para dividi-la entre as várias
tribos). Em contraste, a mitsvá de aceitar a chalá foi aplicada
a partir do momento em que os israelitas cruzaram o Rio Jordão
para a Terra Santa.
Pela lei bíblica, a chalá é usada apenas dentro dos
limites da Terra de Israel. No entanto, os Sábios instituíram
o uso da chalá fora da Terra Santa para que as pessoas que vivem
na Diáspora não se esquecessem da mitsvá. Para que
a mitsvá da chalá tivesse força bíblica, todos
(ou segundo o Sefer HaChinuch, a maioria) os judeus devem estar presentes
na Terra Santa. Desde que as forças de dispersão dos judeus
ao final da era do Primeiro Templo, este critério não tem
sido preenchido. Portanto, a chalá hoje, tanto em Israel quanto
fora dali, é uma mitsvá rabínica e não bíblica.
Quanto separar?
Os detalhes
Por Rabi Yitschac Hanoka
A Torá não especifica uma quantidade que deva ser separada
para chalá, bikurim ou terumá. Em contraste, especifica
que um décimo da colheita seja dada a um Levi como ma’asser.
Os Sábios determinaram que um padeiro profissional separe uma em
quarenta e oito partes, ao passo que um leigo separa uma parte em vinte
e quatro.
Por que o profissional dá menos chalá? O Ateret Zahav declara
que os Sábios eram mais lenientes com um padeiro porque fazer pão
é seu meio de vida, e os Sábios queriam que ele apreciasse
mais os frutos de seu trabalho. O Rambam escreve que enquanto um padeiro
geralmente lida com grandes porções de massa, a quantidade
que ele separa, mesmo na pequena proporção de um para quarenta
e oito, geralmente é grande o suficiente para se constituir num
presente adequado ao Cohen. Uma dona de casa processa quantidades menores,
portanto a porcentagem maior, um para vinte e quatro, é exigida
para tornar sua oferta apropriada.
O Lubavitcher Rebe oferece um motivo mais esotérico para a diferença.
Ele explica que D’us deseja que percebamos Sua providência
em tudo aquilo que fazemos. Um padeiro profissional confia muito numa
boa estação de plantio e uma boa colheita. Ele monitora
cuidadosamente estes fatores e assim testemunha a Providência Divina
durante todo o processo da manufatura da farinha. Um não-profissional
vê apenas o produto acabado. Ele deve doar uma porcentagem maior,
para que tenha uma maior consciência da manifestação
de D’us.
Atualmente, como a mitsvá da chalá é de natureza
rabínica, não há quantidade mínima a ser usada.
Em Israel, há um costume largamente observado de pegar um k’zayit,
o tamanho de um ovo.
Embora tanto homens quanto mulheres tenham a obrigação de
separar chalá, esta é uma das mitsvot que são especialmente
confiadas às mulheres. Quando marido e mulher estão envolvidos
na preparação da massa, é preferível que a
mulher separe a chalá.
De que tamanho deve ser a massa para que seja exigida a retirada da chalá?
No mínimo do tamanho de um ômer, equivalente ao volume de
quarenta e três ovos e um quinto. (o ômer é o padrão
de medida de alimentos na Torá). Há um desacordo quanto
à medida exata de um ômer. Existe um consenso de que a massa
pesando menos que 1 quilo e cem gramas (aprox.) é pequena demais
para separar a chalá. Portanto, quando alguém amassa dois
quilos e meio de massa, recita a bênção. Se for menos
de um quilo e cem gramas, não separa a chalá. Quando a massa
pesa entre um quilo e cem gramas e dois quilos e meio, separa a chalá,
mas deveria consultar um rabino ortodoxo competente sobre a recitação
da bênção.
A bênção recitada para a retirada da chalá
é “que nos santificou com Seus mandamentos e nos ordenou
separar a chalá.” Um costume comum é dizer “…
separar a chalá da massa.” Esta última versão
não está registrada no Shulchan Aruch e o Taz, um dos principais
comentaristas do Shulchan Aruch, afirma não saber a base para isso.
Mesmo assim, o costume em muitos círculos é acrescentar
as palavras “da massa”.
A chalá é feita apenas com cinco cereais: trigo, aveia,
centeio, espelta e cevada. A chalá não é feita de
arroz, milho ou outros cereais com os quais se faz massa. Além
disso, a chalá é tirada depois que a farinha e a água
já foram misturadas; não pode ser separada antes de amassar.
E deve ser separada antes de assar a massa; apesar disso, se a pessoa
negligenciou e não separou antes de assar, pode fazê-lo depois.
(Ao assar matsá para Pêssach, onde deve-se completar rapidamente
o processo, separamos a chalá somente após assar).
Separamos a chalá das massas de bolo também, além
de massas para pão: se a maior parte do conteúdo é
líquido, é suco em vez de água, não fazemos
a bênção. Se nenhuma parte do líquido é
água, é preferível acrescentar um pouco de água
e separar a chalá.
A mitsvá de separar a chalá serve a muitos propósitos.
Ela conecta o ato mundano da preparação do alimento a D’us,
lembrando-nos que Ele é o verdadeiro dono da terra. Também
estabelece um vínculo entre as pessoas comuns e os cohanim, os
sacerdotes, que idealmente são os receptores da chalá. Os
cohanim, pelo fato de estarem profundamente envolvidos no serviço
do Templo, eram incapazes de fazerem serviços agrícolas
de maneira regular. Chalá, terumá e as outras oferendas
dadas a eles permitiam o sustento dos cohanim enquanto eles fizessem seu
trabalho.
Hoje, não damos chalá para os cohanim. Embora tenhamos cohanim
em nosso meio, não podemos verificar sua linhagem além de
qualquer dúvida. Um não-cohen não pode comer chalá.
Portanto, destruímos a chalá queimando-a até o ponto
de ficar intragável. (Vá até uma pizzaria casher,
e com freqüência verá uma bola queimada de massa sobre
o balcão do formo. Esta é a chalá).
Veja também:
"A arte de fazer chalá"
(em culinária)
Hamotsi
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