Vida Casher, vida saudável
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Por Dr. Kenneth J. Storch, M.D., é médico americano de grande reputação. Recebeu seu Ph.D. em Bioquímica nutricional do Massachusetts Institute of Technology (M.I.T).
   
 

Minhas concepções sobre Cashrut foram formuladas sobre muitas perspectivas: como nutricionista, como médico, como consumidor de alimentos casher e como judeu americano. Durante anos tive o privilégio de mesclar minha profissão a assuntos que são pessoalmente importantes para mim. Cashrut se tornou um deles.

As leis de Cashrut transformam cada bocado de comida que entra em nossas bocas em uma oportunidade para cumprir uma mitsvá, um preceito. De maneira semelhante nossas opções pelo alimento e estilo de vida podem nos capacitar a seguir os preceitos da Torá para a preservação da vida humana e da saúde.

A injunção bíblica, "Portanto, cuidai bem de vossas almas" (Devarim IV:15), prescreve prioridade ao nosso bem-estar, tanto físico como espiritual. De fato, é um sólido preceito em que os dois se encontram inexplicavelmente acoplados. O célebre médico e erudito judeu, Maimônides, afirmou em sua codificação da Lei Judaica, o Mishnê Torá:"Uma vez que é impossível entender ou ter conhecimento do Criador quando uma pessoa está doente, é obrigatório ao homem evitar coisas que sejam prejudiciais ao corpo e acostumar-se com aquelas que o curam e o fortalecem." Não apenas este erudito do século XII pressagiou os conceitos médicos correntes de medicina terapêutica e preventiva, como também estabeleceu recomendações que podem ser lidas como um manual contemporâneo de boa saúde: não coma demais, vigie seu peso, pratique exercícios físicos e durma horas suficientes. Maimônides também reconheceu a importância do temperamento moderado na busca da saúde física, convocando os judeus a "amar a paz e aspirar a paz." Desta forma, ele preparou o palco para o reconhecimento, no século XX, das doenças emocionalmente induzidas e para a pesquisa das reações entre mente e corpo.

Os Sábios do Talmud achavam que um judeu não deve se apoiar somente em D'us para a preservação da saúde, mas que também deve procurar assistência médica, bem como tomar medidas para prevenir a ocorrência da doença, em primeiro lugar. Os autores do Talmud estavam cientes não apenas da importância do médico, mas também dos avanços de seu pensamento clínico. Eles prescreveram aos judeus de todas as gerações que procurassem o melhor conhecimento médico em suas respectivas eras.

Atualmente, a medicina avançou a passos largos no campo da nutrição. Sabemos que a dieta alimentar é um fator preponderante na prevenção e controle de problemas comuns de saúde, tais como cardiopatias, câncer, hipertensão, taxa elevada de colesterol e diabetes. Nos Estados Unidos, seis de cada dez óbitos estão vinculados a fatores nutricionais. O interesse público no consumo de alimentos saudáveis está em alta. Nossa sociedade está consciente da importância de prevenir as doenças e promover a saúde através de bons hábitos alimentares.

Embora a Cashrut seja um mandamento da Torá e não seja observada em função da saúde, a dieta casher cria uma excelente estrutura para a alimentação saudável, através de suas três categorias: carne, laticínios e pareve (neutro). Somos proibidos de combinar os grupos carne/ave à laticínios (ambos os quais têm alto teor não apenas de proteínas, mas também de colesterol). Mas podemos comer alimentos neutros, que incluem grãos integrais, frutas e legumes em qualquer refeição. Como resultado, podemos misturá-los e combiná-los (já que contêm os complexos carboidratos e nutrientes naturais recomendados pelos nutricionistas) tanto com alimentos de carne como com os de leite, para proporcionar uma dieta balanceada a cada refeição. E como este grupo pareve compreende a mais ampla variedade na cadeia alimentar, pouco esforço é necessário para se obter uma boa variedade culinária com a dieta Casher.

A Iuz deste conhecimento atual, podemos ler com renovada apreciação a descrição bíblica de Erets Yisrael: "Uma terra de trigo e cevada, videira, figueira e romã; uma terra de azeite e mel." Os consumidores de hoje conscientizados com a saúde poderiam virtualmente fazer suas compras de supermercado baseados neste versículo.

A comida judaica inclui iguarias como kishke, fígado batidinho, salame e peixe defumado. Podemos nos deleitar com estes alimentos, mas como conciliar o fato de comê-los com a preocupação de o que é bom para nós? Podemos sim, e facilmente. Estes alimentos podem ser saboreados como um regalo ocasional; não são necessariamente elementos principais de uma dieta casher. Um cardápio mais balanceado incluiria os alimentos recomendados agora pelos nutricionistas e que foram também apreciados pelos nossos antepassados. Mais ainda, a rica herança culinária da Europa Oriental pode ser saboreada pelo judeu que se preocupa com a saúde, se modificada com algumas simples substituições.

Devemos também distinguir entre Cashrut e cozinha típica. A comida "judaica" é amplamente variada. Por exemplo, os alimentos sefarditas tradicionais baseiam-se em arroz, lentilhas, peixe, nozes e mel. Qualquer livro de receitas israelenses contemporâneo inclui dezenas de receitas de hortaliças. Os judeus viveram em todas as partes do mundo e adaptaram com sucesso os pratos de muitos países para os requisitos da Cashrut.

A dieta de qualquer povo, inclusive de uma população judaica, é determinada pelo que está disponível. Nossos ancestrais eram limitados em suas opções a alimentos cultivados na própria região onde moravam. E se isto incluía um número significativo de gorduras saturadas, eles trabalhavam arduamente durante longas horas para queimá-las. Nós, que geralmente desempenhamos pouco esforço físico, sentamos durante grande parte do tempo e temos a gordura acumulada no corpo para demonstrá-lo, temos à nossa disposição uma quantidade exagerada de alimentos. Não mais existem estações determinadas para a maioria das frutas e hortaliças. Se não são obteníveis no local, são trazidas por terra, por mar ou ar. Nossas aves, carnes e queijos vêm em embalagens esmeradas e podemos conservá-los comestíveis por semanas a fio em freezers ou geladeiras. Leite, sucos, pães, para não mencionar bolos, balas, e biscoitos estão disponíveis em quantidades ilimitadas. É possível perder-se neste vasto mar de opções. Mas existe uma outra maneira de encarar isso.

A variedade de alimentos à nossa disposição, hoje em dia, inclui não apenas a cozinha típica de nossos antepassados em particular, como a de virtualmente todas as outras populações judaicas que existem na atualidade. E aqui está a nossa vantagem. Usando nosso novo conhecimento de nutrição, podemos selecionar as combinações mais desejáveis de comidas tradicionais judaicas de todas as partes do mundo. Podemos também adaptar receitas favoritas de certos alimentos ricos, com alto teor calórico, substituindo alguns ingredientes por outros mais saudáveis. E graças aos processadores de alimentos, espremedores de frutas, fornos microondas e outros dispositivos, podemos fazer tudo isso em tempo recorde.

Os consumidores de alimentos casher possuem ainda outra vantagem. Como nosso dispêndio de alimentos se faz dentro da estrutura da Halachá, Lei Judaica, constituímo-nos o paciente ideal aos olhos de um nutricionista. Somos acentuadamente conscientes no momento de nos alimentarmos; paramos para recitar uma benção antes de colocar qualquer coisa em nossas bocas; aguardamos períodos prescritos entre comer alimentos de carne e derivados de leite. Nossa própria noção de alimento é vinculada à idéia de limitação e autodisciplina, uma vez que certas categorias de alimentos estão fora dos domínios de nossa possibilidade. Acrescenta-se o valor que atribuímos à vida e à saúde, e tem-se o candidato ideal para o incremento da saúde através da modificação dietética.

Estamos recebendo uma assistência sem precedentes de novas fontes em nossa busca para uma melhor nutrição. A recente explosão de alimentos naturais teve grande impacto na indústria casher. Alimentos orgânicos Casher, temperos sem sal, produtos derivados da soja, substitutos para ovos nas versões de pratos de laticínios baseadas em tofu e mesmo antepastos ou entradas vegetarianas congeladas estão literalmente ao alcance de nossas mãos. Grande número de empresas estão começando a prestar serviços ao consumidor casher, conscientizados com a saúde. Se continuarmos a demonstrar nossas necessidades, adquirindo alimentos benéficos, elas irão corresponder.

Nossa geração tem a oportunidade de "cuidar bem de nossas almas" como nenhuma outra ainda teve. Temos acesso à informação médica e nutricional avançada; e nossa capacidade de aplicar este conhecimento dentro do contexto da observância da Cashrut tem sido aumentada pela tecnologia moderna e por alguns produtores prontos a nos atender. A cada dia que passa novas descobertas médicas revelam a sabedoria dos conceitos que têm sido parte de nossa herança por milhares de anos.

Quem pode imaginar que surpresa nos reserva o futuro?

 

 

 
     
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