Uma visão mais profunda – sobre a entrega da Torá
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  Por Rabino Yitzchak Ginsburgh, traduzido por Maurício Klajnberg
 

O versículo imediatamente seguinte ao relato da entrega dos Dez Mandamentos ao Povo de Israel por D’us no Monte Sinai, que resume a experiência daquele que foi o maior de todos os dias, diz: “E todo o povo viu as vozes e as tochas e o toque do shofar e a montanha fumegante...” (Shemot 20:15).

Na Cabalá nos é ensinado que os quatro níveis de experiência do povo:
1. ver as vozes
2. as tochas
3. o toque do shofar
4. a montanha fumegante

-- correspondem à experiência completa dos quatro componentes/letras do Nome de D’us:

Chochmá sabedoria vozes yud
Biná compreensão tochas hei
midot emoções Toque do shofar vav
malchut expressão montanha fumegante hei

O verbo inicial do versículo, “e todo o povo viu” (literalmente, “visão”, no tempo presente), se refere, no geral, aos quatro níveis do versículo, mas, em particular, refere-se ao primeiro dos quatro: “vendo as vozes” (e se refere às palavras faladas por D’us, como comentado por Rashi).

Nossos Sábios interpretam isto dizendo que quando a Torá foi dada a Israel, a experiência da Divindade da absoluta Unicidade de D’us foi tão intensa que ela unificou e sintetizou os sentidos humanos da visão e da audição: “vendo o que era para ser ouvido e ouvindo o que era para ser visto”. Isto reflete o nível da sabedoria Divina na alma – chochmá, o yud do nome de D’us, que é o único poder da alma que percebe diretamente a unidade Divina.
“As tochas” representam a chama interna da alma, seu desejo de retornar e ser absorvido pela Luz Infinita de D’us. Esta é a experiência da profundidade de entendimento e meditação, biná, o hei maior do Nome de D’us.

A Chassidut nos ensina que o toque do shofar representa o poder Divino de “trazer para baixo” e gravar as palavras de D’us no coração do homem. O toque do shofar faz o coração primeiro tremer de temor, e, depois, desejar com toda a força de suas emoções, viver pela palavra de D’us e andar em Seu caminho. A raiz da palavra shofar significa “melhorar” – a fonte da motivação no coração que melhora e progride no cumprimento da Torá. Este nível de experiência Divina corresponde às midot, as emoções do coração, o vav do Nome de D’us.

Os primeiros três níveis da experiência Divina no Sinai são todas revelações vindas de cima. O nível final e completo da experiência é “o despertar de baixo” – a “montanha fumegante”. A palavra “fumegante” (ashein) é explicada na Cabala como sendo um acrônimo para as três dimensões abrangentes da realidade (física): “mundo” (“olam” = espaço), “ano” (“shaná” = tempo) e “alma” (“nefesh” = corpo humano vivo). A montanha simboliza o mais baixo dos elementos físicos da criação, terra, elevando a si mesma em direção aos céus.

Ver a montanha “fumegando” é experimentar a centelha Divina inata em todas as dimensões da realidade física, despertando a si mesmo no desejo de retornar a D’us, o Criador. Isto corresponde a malchut, o hei final do Nome de D’us (referido, na Cabala e na Chassidut, como “a teshuvá [retorno] inferior”, em contraste à “teshuvá elevada” do primeiro hei do Nome de D’us descrita acima).

Quando permanecemos acordados na noite de Shavuot, somos todos capazes, todos e cada um de nós, em seu próprio nível, de experimentar novamente a entrega da Torá no Sinai. O mistério do Nome Inefável de D’us se torna gravado na essência de nossas almas. Em todas as facetas de nossas vidas, nos tornamos capazes de experimentar Sua Unidade Absoluta, o “retorno” de nossa consciência finita de Sua Luz Infinita, a caminhada em (isto é, emulando)
Seus caminhos, e a elevação de toda a criação para reconhecer seu Criador.

Com esta consciência purificada, nos tornaremos verdadeiros recipientes, com os olhos abertos, para contemplar a revelação do Mashiach e a verdadeira e completa redenção de toda a realidade.

Que possamos merecer isto, este ano!
 
   
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