|
Muitos têm o costume de ficar acordado até
tarde na noite de Shavuot e ler Tikun, seleções de toda
a Torá, incluindo os Cinco Livros de Moshê, os Profetas,
Mishná, Talmud, Zohar e assim por diante. Algumas pessoas não
recitam Tikun mas simplesmente estudam a noite inteira, até o raiar
do dia.
Qual o motivo para esse costume de ficarmos acordados até tarde
em Shavuot, ou não dormir de todo?
O Midrash declara que na noite anterior à Outorga da Torá,
o povo judeu foi dormir. Por que eles foram dormir na noite antes de receber
a Torá? “Porque dormir na noite de Shavuot é doce,
e a noite é curta!” O Midrash prossegue dizendo que durante
aquela noite um milagre ocorreu e os mosquitos não os picaram.
Eu não sei onde você mora, mas onde eu moro, em Kfar Chabad,
temos infestação de mosquitos, e muitas vezes acordamos
no meio da noite… Você tenta encontrar aquele mosquito que
não está o deixando dormir. Isso pode durar horas. Mas naquela
noite, os mosquitos não incomodaram ninguém. Foi um sono
pacífico e agradável.
Quando D’us veio pela manhã para entregar-lhes a Torá,
continua o Midrash, eles ainda estavam dormindo. D’us diz: “Eu
vim e não havia ninguém; chamei e não houve resposta.”
D’us está pronto a dar-lhes este grande presente e todo mundo
está dormindo. D’us tem de acordá-los e Ele diz “Nu?!
Está na hora de receberem a Torá.”
Isso é o que o Midrash diz. Porém o que significa? Obviamente
deve haver algo mais. O Rebe enfatiza que a Torá é sempre
muito, muito cuidadosa sobre não dizer uma palavra negativa. Em
outras palavras, a Torá em geral é muito clara em fazer
as coisas de maneira positiva. Quando a Torá diz algo negativo,
tal como chamar um animal de espiritualmente impuro (tamê), isso
é apenas pelo propósito de instrução prática.
Onde não há instrução prática, a Torá
contorna para usar apenas palavras positivas.
A Torá descreve animais impuros como “que não são
puros”, em vez de impuros. Mas quando se trata de questões
relativas à Cashrut, quando a pessoa tem de conhecer claramente
a lei, a Torá usa expressões negativas.
Normalmente, palavras negativas não devem sair de nossos lábios;
use um eufemismo, a menos que tenha um motivo específico para ser
incisivo e explícito. Por exemplo, há uma doença
muito grave que não se deve chamar pelo nome, pois isso aumenta
seu poder. Ou quando você está falando de determinadas partes
da vida que são muito íntimas, pode falar sobre elas numa
maneira que as pessoas saibam o que você quer dizer, sem ser explícito.
Da mesma forma, por que o Midrash fala dessa maneira dos judeus antes
do recebimento da Torá? Digamos que eles não fizeram algo
bom – há motivo para publicar isso de maneira a que todas
as futuras gerações saibam como eles foram maus, que em
vez de esperarem ansiosamente pela Torá eles foram dormir? Afinal,
desde então estamos fazendo Ticun por isso, estamos tentando reparar,
o que significa que não foi algo positivo. Portanto vamos dizer
simplesmente que eles dormiram um pouco a mais, e dizemos Ticun. Porém
o Midrash e Nossos Sábios entram em todos os detalhes, pois há
diversas lições que podem ser aprendidas.
Simplesmente não faz sentido eles terem dormido demais naquela
noite, porque sabemos que desde o dia em que saíram do Egito, eles
começaram a contar os dias até o Sinai por causa do entusiasmo
de esperar pela Torá. É natural quando alguém deseja
algo contar os dias até sua chegada. Nossos Sábios dizem
que durante cada dia das sete semanas da contagem, os judeus no deserto
se elevaram a um nível espiritual mais alto. Portanto você
pode imaginar que quando eles atingiram o 49º dia da contagem e o 49º
nível de santidadde, eles estavam num nível muito mais elevado
que no dia em que começaram a contar. Na noite anterior ao recebimento
da Torá, tendo atingido um nível mais alto de entendimento
e sensibilidade – exatamente agora eles foram dormir, e dormiram
demais? Não faz sentido.
Os mestres chassídicos explicam que D’us nos deu uma alma
e a revestiu num corpo. Estamos plenamente conscientes do fato de que
nosso corpo é o que vemos e sentimos. Quando a alma deixa o corpo,
o corpo se transforma em cadáver, como uma boneca; não há
nada ali. O corpo é essencialmente subserviente à alma.
Ora, embora haja um grande propósito em viver neste mundo num corpo,
pois se este não existisse, D’us não teria criado
o mundo e não teria nos colocado nele, mesmo assim, fica claro
que a alma num certo sentido está confinada dentro do corpo. Há
uma certa restrição que a alma deve passar por estar dentro
de um corpo. Se a alma não estivesse num corpo, não teria
de parar de servir a D’us a fim de comer, dormir e lavar os pratos.
Há algumas necessidades que o corpo tem de deixar em compasso de
espera sobre aquilo que a alma deseja fazer vinte quatro horas por dia.
Portanto o corpo, num certo sentido, impede a alma de se expressar plenamente,
e de servir a D’us o tempo todo.
Uma pessoa fica cansada. A alma não. Após algum tempo você
fica entediado. Perde a linha de raciocínio. Não consegue
mais concentrar-se. Precisa dormir, precisa descansar, precisa tomar seu
café. Somos apenas seres humanos. Portanto , o corpo faz a alma
ir mais devagar. No entanto, quando alguém dorme, algo totalmente
diferente acontece. Durante o sono, embora a pessoa esteja obviamente
viva, o coração bata e a pessoa respire, um segmento da
alma deixa o corpo durante este tempo.
Há uma perda de consciência. A pessoa não ouve totalmente,
nem fala, nem vê. Há uma idéia de morte, um sussurro
da morte – o Talmud chama o sono de a sexta parte da morte. Muitas
pessoas morrem durante o sono. Porque durante o sono tudo diminui. O coração,
a respiração, tudo funciona num ritmo muito mais lento que
quando a pessoa está acordada. Durante o sono a alma que estava
dentro do corpo sobe até sua fonte acima.
Durante o sono, quando a alma está livre do corpo, pode num certo
sentido ir mais alto e atingir revelações que não
podem acontecer durante o dia, quando está desperta. No Sinai,
esta era a intenção dos judeus ao irem dormir. Eles sabiam
que tinham trabalhado durante sete semanas para se elevarem e ficarem
preparados para receber a Torá. Porém todos os preparativos
tinham sido feitos, de certa forma, durante o dia quando estavam despertos
e conscientes. E eles sentiram que tinham chegado a um nível tão
elevado que pensaram: Talvez agora, se formos dormir, nossas almas atinjam
um nível tão alto que poderemos receber a Torá enquanto
adormecidos. Pois estaremos num nível mais elevado do que aquele
atingido pelos próprios esforços. Esta era a verdadeira
intenção. Eles estavam esperando que através do sono
conseguiriam atingir um nível de santidade muito mais alto que
durante o dia.
É isso que o Midrash explica: O sono deles na noite de Shavuot
foi muito suave. O sono somente pode ser notável e sagrado e especial
se você está ao nível de Shavuot, se fez todos os
preparativos necessários. Então pode ir dormir com a esperança
de que coisas gradiosas aconteçam, e que verá grandes revelações
durante o seu sono.
“A noite foi curta”. Aqui “noite” alude à
ocultação. Sabemos que a escuridão, a noite, esconde
coisas. Você já tentou procurar seus óculos no meio
da noite e então pela manhã, eles estão bem ali na
mesinha de cabeceira, ao alcance da sua mão? À noite você
se atrapalha e não consegue encontrar os chinelos nem qualquer
outra coisa. Então o que a noite faz? A noite não muda nada.
Apenas esconde as coisas. Você não pode ver. Durante o dia
você vê tudo, é tão simples.
Os judeus atingiram um nível onde a ocultação foi
mínima. Eles tinham quase superado a maior parte da noite. Ainda
havia um pouquinho da noite restando, mas era muito menor que quando eles
começaram. Então eles sentiram: agora fizemos o possível
com a luz do dia, vejamos o que o sono pode fazer por nós.
D’us, reconhecendo suas boas intenções, disse: “Querem
saber? Eles são realmente tão sinceros que os ajudarei impedindo
os mosquitos de picarem,: Se D’us tivesse Se oposto ao sono deles,
não teria feito aquele enorme milagre, que os mosquitos que picaram
na noite anterior, de repente não entrassem em ação
naquela noite.
Por que, então, recitamos o Ticun ano após ano? Porque D’us
disse: “Eu sei qual era a sua intenção, mas vocês
cometeram um pequeno engano. Isso é tudo. Foi um erro inocente.
Não estou castigando.” Não vemos que ali havia algum
castigo. Não vemos no Midrash ou na Torá que houve qualquer
reprimenda ou castigo imposto a eles. A única coisa que D’us
disse foi: “Quero que vocês façam ticun. Não
façam aquilo de novo, e lembrem-se de que não devem fazer
isso novamente, todo ano Eu quero que fiquem acordados.”
Qual foi o erro deles? Foi um erro muito inocente que muitas pessoas ainda
cometem hoje – que o supremo propósito é seu mundo
espiritual, e não o físico. D’us, no entanto, queria
uma morada no mundo inferior, como declara o Midrash. Na verdade, fazer
uma morada para D’us neste mundo não foi possível
até recebermos a Torá, e D’us anulou o decreto separando
espiritualidade e fisicalidade, para que agora até o físico
possa tornar-se espiritual através do cumprimento das mitsvot,.
Assim, seu erro foi perfeitametne compreensível, pois ocorreu antes
de a Torá ser outorgada.
|