Luz… água… Torá!
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Em todo bom planejamento existe uma planta. Isto não foi criação de nenhum arquiteto, mas do maior estrategista do universo: D’us.

Antes mesmo de criar o mundo D’us tinha em mãos uma planta, onde delineou todo o processo de sua criação desde a primeira ação até o homem, em um processo contínuo. Sua planta chama-se Torá. Foi olhando para ela que o mundo começou a existir através da sua ordem, após os céus e a terra: "Que haja luz!" E então a partir de Bereshit, a Torá começa a se concretizar e ser trazida para a Terra.

A fé judaica não termina com "E D’us criou os céus e a terra." Ela começa aí. Continua a reconhecer que "Eu sou o Eterno, teu D’us, que te tirou do Egito." Ele é um D’us vivo, que continua a desempenhar um papel no universo que Ele criou. É um D’us soberano, que está preocupado com o comportamento do povo que Ele criou, e com essa finalidade encontrou maneiras de tornar Sua vontade conhecida aos homens.

O ponto principal na crença em um D’us vivo é a crença judaica de que Ele comunicou Sua vontade e Seus mandamentos à criatura a quem Ele concedeu o livre arbítrio, mas a quem Ele chamou de Seu servo obediente. A própria essência do Judaísmo repousa sobre a aceitação de um evento histórico-espiritual, do qual nossos ancestrais participaram em grupo, bem como na aceitação das revelações espirituais subseqüentes aos Profetas de Israel. O extraordinário evento histórico a que me refiro é a promulgação dos Dez Mandamentos no Monte Sinai. A vontade de D’us também foi manifesta na Torá Escrita, anotada por Moshê sob a Divina profecia durante o período de quarenta anos após o Êxodo.

Lado a lado com os Cinco Livros de Moshê (Pentateuco), acreditamos que a vontade de D’us também foi tornada manifesta na Tradição Oral, ou Torá Oral, que também teve sua fonte no Sinai, revelada a Moshê e depois ensinada oralmente por ele aos líderes de Israel. A própria Torá Escrita alude a estas instruções orais. Esta Torá Oral – que esclarece e fornece os detalhes dos mandamentos contidos na Torá Escrita – foi transmitida de geração a geração até que foi finalmente registrada no segundo século, para tornar-se a pedra fundamental sobre a qual foi construída a Torá.

A Torá é um registro de D’us fazendo contato com o homem, e vice-versa. Nenhuma interpretação do judaísmo é judaicamente válida se não postula D’us como a fonte da Torá.
O que é "a Torá"?

Tecnicamente, refere-se aos Cinco Livros de Moshê. Esta é a Torá Escrita (Torá SheBiktav). O rolo no qual está escrita e que é mantido na Arca Sagrada da sinagoga é chamado de um Rolo de Torá (Sêfer Torah). De certa forma, esta é a constituição do povo judeu. Por Torá entende-se também a Torá Oral (Torá She-B'al Pê) "que Moshê recebeu no Sinai, e transmitiu a Yeoshua, e Yeoshua aos Anciãos, e os Anciãos aos Profetas, e os Profetas aos Homens da Grande Assembléia…" (Ética dos Pais 1:1).

A Torá Oral incluiu os melhores pontos dos mandamentos, os detalhes dos princípios gerais contidos nas Escrituras e as maneiras pelas quais os mandamentos seriam aplicados. Por exemplo, a Torá proíbe "trabalhar" no Shabat. O que constitui "trabalho"? Como deve ser definido o "trabalho" para os propósitos do Shabat? Exceto por várias referências a tarefas tais como juntar madeira, acender fogo, cozinhar e assar, a Torá Escrita não fala. A Torá Oral o faz.

A Torá Escrita ordena que os animais necessários para alimento sejam mortos "como Eu vos ordenei" (Devarim 12:21). Como deverá ocorrer este abate? Que regulamentos o governam? A Torá Escrita não o diz, mas a Torá Oral sim.

A Torá Escrita nos ordena "atá-los como um sinal sobre as mãos e como faixa entre os olhos." Esta referência aos tefilin não esclarece como eles devem ser feitos, de que material, como devem ser colocados. A Torá Escrita não diz, a Torá Oral o faz.

A Torá Escrita prescreve a pena capital para vários crimes. Que regras legais e procedimentos deviam ser seguidos antes que tal veredicto pudesse ser aplicado? Quais eram as limitações? A Torá Escrita não diz. A Torá Oral sim.

Por fim, esta Torá Oral foi reduzida a escrita. Durante o segundo século da EC, ela foi incorporada à Mishná, que por sua vez tornou-se a pedra fundamental para a Guemará, que consiste dos monumentais registros e minutas das discussões de casos e debates legais conduzidos pelos Sábios. A Mishná e a Guemará juntas formam o Talmud.

A Torá, seja Escrita ou Oral, é o ensinamento que orienta o homem a como viver, Embora fale primeiramente com Israel, possui também diretivas para toda a humanidade. Preocupa-se com todos os aspectos da vida humana. Leis rituais, geralmente consideradas como "observâncias religiosas," são apenas parte do total complexo dos mandamentos. Os mandamentos da Torá, seus estatutos e regulamentos, cobrem toda a gama do comportamento humano e social. Afirma sua jurisdição em áreas de comportamento que em outras religiões geralmente são consideradas como pertencentes aos domínios da ética ou da moral, ou à jurisdição dos códigos de lei secular civil ou criminal. Até mesmo suas seções não-legais e não-estatutárias enfatizam verdades espirituais e transmitem discernimento à refinada ética extra-legal e normas morais de comportamento.

O restante dos livros da Torá, escritos no decorrer de um período de muitos séculos, consiste de Profetas (Neviim) e as Sagradas Escrituras (Ketuvim). Estes livros transmitem os ensinamentos dos Profetas no contexto da história de Israel por um período aproximado de setecentos anos. Relatam as visões que os Profetas tiveram de D’us e de suas contínuas lutas para promover maior lealdade aos ensinamentos da Torá entre o povo; de suas lutas contra os muitos falsos profetas e sacerdotes que tantas vezes desviaram o povo e fizeram-no voltar-se contra D’us e a Torá. Entre estes livros está o inspirador Tehilim, que reflete os mais profundos sentimentos religiosos do homem.

A Torá, com os Neviim e os Ketuvim são juntos chamados de Tanach. (Este é o que o mundo chama de "Antigo Testamento" mas que para os judeus sempre foi o único testamento.) Num sentido mais amplo, porém, o estudo de Torá refere-se não apenas às Escrituras e à Torá Oral, como também a todo o corpo de legislação rabínica e interpretação baseadas na Torá, que se desenvolveram no decorrer dos séculos. Pois a Torá foi sempre uma lei viva, constantemente aplicada por um povo vivo a condições reais que estavam sempre mudando. Embora estes sejam obviamente o resultado de esforços humanos, são parte integral de todo o corpo de jurisprudência religiosa ao qual a própria Torá concede status de autoridade: "E farás conforme o mandado da palavra que te anunciarem e farás de acordo com tudo que te ensinarem. Conforme o mandado da lei que te ensinarem, e conforme o juízo que te disserem, farás" (Devarim 17:10-11).

A Torá move a vida do mundo e é o legado da vontade do Criador expressa em cada uma de suas linhas, acompanhada por milhares de explicações e entendimentos, minuciosamente compostos e debatidos, sobre como devemos nos conduzir.

A Torá é comparada a água; não conseguimos atingir uma vida significativa sem beber de sua fonte. Embora estejamos imersos como peixinhos em um mar e na maioria das vezes tenhamos que nadar contra a correnteza, chegaremos em breve ao dia em que o conhecimento de Torá cobrirá a terra, como as águas que cobrem os oceanos. Entenderemos então a finalidade da luz, desde o primeiro dia da Criação e de nossas braçadas nas águas da vida como uma aliança eterna com D’us, desde a outorga da Torá no Sinai, até a Torá que reinará absoluta em uma nova era.

 
   
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