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Foi
uma semana inteira. Como manda nossa tradição, não
o vi ou falei com ele; nem sequer ouvi sua voz durante uma semana antes
de nosso casamento. E mesmo assim tenho sua imagem na minha mente, suas
palavras em meu coração, e seu ser gravado em minha alma.
É o dia de nosso casamento e acordei cedo para preparar-me. Por
fora, estão arrumando meu cabelo, fazendo minhas unhas, minha maquiagem.
Mas por dentro estou num mundo totalmente diferente. Recito salmos tentando
infundir cada momento com santidade. Jejuo, pois este é meu Yom
Kipur pessoal, meu Dia de Expiação e peço perdão
pelo meu passado, enquanto me purifico e me preparo para o meu futuro.
Em meu vestido de noiva, represento uma rainha e rezo pela capacidade
de ser uma coroa para meu marido. Não para ser seu enfeite, mas
o laço entre seu consciente e seu inconsciente, para permitir-lhe
ser o melhor possível. Assim como uma coroa está acima da
cabeça e também conectada com ela, assim a mulher judia
une o espiritual e o físico, a teoria com a realidade. A coroa
repousa nas têmporas, a parte mais sensível da cabeça.
Espiritualmente, a mulher também repousa nas têmporas. Ela
pode massagear onde existe dor, ao mesmo tempo em que assegura que o ego
não se envaideça, pois ela serve como suas fronteiras. E
ela mantém a cabeça erguida, porque é a rainha e
permite que ele seja o rei.
Tiro meus brincos, minha pulseira e colar. Em outro aposento, ele esvazia
os bolsos, desfaz o nó da gravata e desata os cordões dos
sapatos. Ele não está me desposando pela minha beleza física
ou jóias exteriores. Não estou casando com ele pelo dinheiro
em seus bolsos. Ele vem para ser desligado, sem laços, sem nenhuma
conexão a ninguém ou coisa alguma, exceto comigo e com nosso
compromisso mútuo.
A música tem início e meu chatan, meu noivo, está
para ser levado a mim. Ele cobrirá o meu rosto com um véu,
para proteger a santidade, a Divina Presença, que paira sobre o
rosto de uma noiva. Meu véu será opaco para que eu não
possa ver e ninguém possa me ver também. Meus olhos, de
qualquer maneira, estarão fechados para que eu sensibilize mais
minha capacidade de pensar e sentir. Neste momento, desejo a mais absoluta
privacidade e não quero ser distraída pelos olhares das
centenas de convidados.
Ao me velar, fazemos uma importante declaração mútua,
sem palavras. Reconhecemos que estamos nos casando com aquilo que vemos,
mas estamos também casando com aquilo que não vemos. Acreditamos
plenamente que somos a metade da alma um do outro. Somente juntos podemos
nos completar. Porém isso demandará esforços, muitos
esforços. Ele não é a resposta para minha imperfeição,
mas sim os meios para eu chegar lá. Portanto, reconhecemos que
amamos o que conhecemos e aquilo que sabemos, mas estamos também
nos casando com as partes que estão ocultas um do outro, e mesmo
de nós próprios. Estamos determinados a amar também
estas partes e a aprender a entender como elas são também
parte integrante de nossa restauração e nosso desenvolvimento.
Finalmente, após a semana mais longa de minha vida, meu chatan,
meu noivo, se aproxima de mim. É quase intenso demais para olhar.
Contemplo meu futuro marido por um instante mas então meus olhos
se enchem de lágrimas. Não posso mais ver, e não
preciso. Estamos para nos unir. Porém não somos apenas duas
pessoas. Nosso casamento representa a continuidade do povo judeu. Não
estamos apenas a ponto de nos unir um ao outro, mas ao fazê-lo,
estamos unindo o passado, o presente e o futuro.
Reunimo-nos agora novamente sob a chupá, para nos tornarmos marido
e mulher. A canópia é aberta de todos os lados para representar
como devem ser nosso lar e nosso coração, receptivos e abertos
a todos que nos cercam. Ficaremos fora, sob as estrelas, para aproximar
o céu da terra ao mesmo tempo em que nos elevamos para mais perto
do céu.
Agora sou eu a ser levada para ele, que me espera sob a chupá.
Quando me aproximo, circulo sete vezes à sua volta. Como há
sete dias na semana, culminando com a santidade do Shabat, assim também
eu o rodeio, envolvendo-o em amor e comprometimento, culminando comigo
ao seu lado. Assim como eu sou a coroa dele que repousa como um círculo
na sua cabeça, agora eu também crio aquele vínculo,
aquele alicerce, aquela segurança.
Num círculo, todos os lados estão à mesma distância
do centro e existe perfeita harmonia. Quando eu terminar meus sete círculos,
ele volta a circundar-me colocando um anel simples de ouro em meu dedo.
Este é nosso oitavo círculo, um acima do natural, os dias
da semana, e nos unindo com o sobrenatural, o Criador Acima. Sete bênçãos
são agora recitadas, imbuindo santidade adicional ao nosso relacionamento
e compromisso. Mas pouco antes de celebrarmos um com o outro, como marido
e mulher, devemos primeiro quebrar um copo.
A última coisa que meu marido faz sob nossa canópia nupcial
é pisar no copo. Tudo está em silêncio, e ouvimos
o barulho. O vidro despedaçado representa o sofrimento que sempre
deve ser lembrado, mesmo em nosso júbilo. Embora estejamos repletos
de felicidade, nós como um povo, como um mundo, não estamos
assim. E portanto é nossa responsabilidade lembrar que enquanto
nos alegramos, precisamos criar um mundo onde todos sejam felizes. E devemos
viver nossa vida com sensibilidade a todos os menos afortunados que nós,
e sermos gratos por todo o bem que nos foi concedido.
Depois que o copo é quebrado, está na hora de celebrar nossa
alegria. Removo o véu, enquanto meu marido e eu nos olhamos pela
primeira vez como casados. A música tem início, nossos convidados
começam a cantar e dançar, e somos levados da chupá
para começarmos juntos uma nova vida.Sara Esther Crispe é
escritora, editora, conferencista inspirada e professora. Mora com o marido,
Rabi Asher Crispe e seus três filhos, em Jerusalém.
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