|
Já
declarei muitas vezes que o casamento é um relacionamento entre
um homem, uma mulher e D’us. Tenho afirmado isso com paixão,
com esperança, e com sinceridade. Mas jamais senti tanto isso como
recentemente, quando tive uma experiência que mudou-me em mais maneiras
que consigo entender por completo.
Já compareci a muitos casamentos que juntam pessoas adoráveis
em enlaces maravilhosos com excelentes famílias. Todos nós
já fomos. Mas você já presenciou um casamento onde
sentiu realmente a magia de uma presença Divina como partes das
núpcias? Não quero parecer piegas, mas estive recentemente
num casamento no qual, pela primeira vez na minha vida, senti realmente
que D’us estava envolvido.
Sou apaixonada por minha religião, mas para ser honesta nunca tinha
me sentido amada por D’us – pelo menos não da maneira
concreta de quando uma criança diz: "Mamãe, eu te amo."
Este casamento em particular preencheu esta lacuna para mim.
O casamento foi entre um jovem rabino chassídico que conheço
e uma jovem do Brooklyn. Eles foram apresentados e sugeridos um ao outro.
Não foram forçados a nada: encontraram-se, conversaram por
um milhão de horas, viram-se mais algumas vezes, conversaram por
mais um milhão de horas, e então tomaram a decisão.
Eram um par formado no céu. Como bem disse um rabino presente:
"São duas almas que foram designadas por D’us a se juntarem."
E assim o fizeram.
Era meu primeiro casamento chassídico, portanto naturalmente fiz
muitas perguntas. Como me explicaram, ambos jejuam no dia da cerimônia.
É uma ocasião séria, quando duas almas se juntam
para a eternidade numa conexão com D’us e toda a humanidade.
Conforme eu caminhava pelo hall para ver Dov – o noivo – antes
da cerimônia, encontrei-o num salão no meio de um grupo de
chassidim. O que vi tocou-me profundamente: estavam rezando e cantando.
O noivo não tinha comido durante o dia todo, mas estava concentrado
na prece, recitando seus textos. Esta era uma das mais profundas e relevantes
transições de sua vida. Nada poderia estar mais distante
de uma "despedida de solteiro", como você poderia estar
imaginando. Esta é uma experiência puramente espiritual.
No decorrer da história, o Judaísmo Ortodoxo considera um
homem incompleto, até que se case. É a mulher quem tem a
capacidade de atingir uma conexão mais espiritual com D’us.
O homem deve trabalhar muito para se conectar. Juntas, suas almas se completam.
Umas moças me perguntaram se eu havia falado com a noiva. Respondi
que eu tinha acabado de encontrá-la no elevador e lhe dissera como
estava bonita. "Não, não" – disseram elas
– "nesta hora, pouco antes do casamento, ela está mais
conectada a D’us. Portanto, se você deseja alguma coisa, como
uma prece, esta é a ocasião para pedir a ela. A noiva é
quase como um conduíte."
Pessoalmente, sempre que penso em pedir algo a D’us, a primeira
coisa que me vem à cabeça são as crianças
com câncer nos hospitais – se D’us cuidar delas, eu
fico numa boa. Caso contrário, não peço nada. Meus
amigos que estão mergulhados na prece muitas vezes ficam frustrados
porque não consigo fazer algo egoísta. Então me levanto
e digo algo em particular para ela.
Em seguida o noivo é levado ao salão por dois homens, um
em cada braço, que o apóiam porque ele mal pode caminhar.
O noivo e eu nos conhecemos de Chabad; quando o vi, sabia que ele estava
completamente alterado. Foi maravilhoso ver a expressão em seu
rosto, e que tinha lágrimas nos olhos. Ele estava tão comovido
pelo que isso significava para toda a eternidade!
Ao se aproximar da noiva, ele colocou o véu sobre seu rosto, e
ela não conseguia ver através dele; a partir daí,
ela foi guiada, porque caso contrário poderia ir de encontro a
uma parede. Veja só a interpretação filosófica
e espiritual por trás do véu: Nós nos casamos porque
estamos tão empolgados pela outra pessoa; ela parece ser exatamente
aquilo que queremos. Tem boa aparência, é isso e aquilo,
mas na verdade não a conhecemos. Não conhecemos realmente
como é a pessoa no seu interior.
Estão ocultos, e levam um tempo para se revelar um ao outro. Assim
também, existem lados mais obscuros em nós que nem sempre
revelamos. Parte do ritual de cobrir o rosto da noiva é que o noivo
não está vendo sua bela noiva, mas sim a totalidade daquilo
com que ele está comprometendo sua vida – incluindo as coisas
que não conhece e não pode ver. Ela se compromete junto
com ele à mesma vida.
A cerimônia foi então levada para fora, com as estrelas reluzindo
lá no alto. O noivo fica de pé sob a Chupá (canópia)
e a noiva circula sete vezes em torno dele, para construir uma fortaleza
dentro da qual há uma intensa espiritualidade de amor e compromisso.
Este é o poder da mulher, porque ela está tão conectada
a D’us. Quando ela se junta a ele sob a Chupá, eles não
se beijam.
Ninguém da assistência joga nada sobre eles. Somente quando
tudo termina eles vão até uma sala para ficarem sozinhos,
onde juntos quebram o jejum. Esta é a primeira vez que eles se
tocam.
Foi incrível ver como tudo foi especial, e perceber que levou milhares
– milhares – de anos para criar este momento profundo e tocante.
Ali, sob as estrelas, pude sentir realmente a presença de D’us.
Pela primeira vez, eu sabia que eram um homem e uma mulher à vista
de D’us. Eu vi acontecer.
Dra. Laura
Schlessinger, Ph.D., MFCC, foi membro do corpo docente de Ciências
Biológicas da Universidade do Sul da Carolina, e professora de Psicologia
na Perpperdine University. Escreveu três livros que se tornaram best-sellers,
e seu programa no rádio, "Dra. Laura Show", é transmitido
nacionalmente. Reimpresso com permissão da edição Pêssach
2000 de Farbrenguen Magazine, publicado por Chabad da Califórnia. |