Casamento chassídico  
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  Por Dra. Laura Schlessinger
 

Já declarei muitas vezes que o casamento é um relacionamento entre um homem, uma mulher e D’us. Tenho afirmado isso com paixão, com esperança, e com sinceridade. Mas jamais senti tanto isso como recentemente, quando tive uma experiência que mudou-me em mais maneiras que consigo entender por completo.

Já compareci a muitos casamentos que juntam pessoas adoráveis em enlaces maravilhosos com excelentes famílias. Todos nós já fomos. Mas você já presenciou um casamento onde sentiu realmente a magia de uma presença Divina como partes das núpcias? Não quero parecer piegas, mas estive recentemente num casamento no qual, pela primeira vez na minha vida, senti realmente que D’us estava envolvido.

Sou apaixonada por minha religião, mas para ser honesta nunca tinha me sentido amada por D’us – pelo menos não da maneira concreta de quando uma criança diz: "Mamãe, eu te amo." Este casamento em particular preencheu esta lacuna para mim.

O casamento foi entre um jovem rabino chassídico que conheço e uma jovem do Brooklyn. Eles foram apresentados e sugeridos um ao outro. Não foram forçados a nada: encontraram-se, conversaram por um milhão de horas, viram-se mais algumas vezes, conversaram por mais um milhão de horas, e então tomaram a decisão. Eram um par formado no céu. Como bem disse um rabino presente: "São duas almas que foram designadas por D’us a se juntarem." E assim o fizeram.

Era meu primeiro casamento chassídico, portanto naturalmente fiz muitas perguntas. Como me explicaram, ambos jejuam no dia da cerimônia. É uma ocasião séria, quando duas almas se juntam para a eternidade numa conexão com D’us e toda a humanidade.

Conforme eu caminhava pelo hall para ver Dov – o noivo – antes da cerimônia, encontrei-o num salão no meio de um grupo de chassidim. O que vi tocou-me profundamente: estavam rezando e cantando. O noivo não tinha comido durante o dia todo, mas estava concentrado na prece, recitando seus textos. Esta era uma das mais profundas e relevantes transições de sua vida. Nada poderia estar mais distante de uma "despedida de solteiro", como você poderia estar imaginando. Esta é uma experiência puramente espiritual.

No decorrer da história, o Judaísmo Ortodoxo considera um homem incompleto, até que se case. É a mulher quem tem a capacidade de atingir uma conexão mais espiritual com D’us. O homem deve trabalhar muito para se conectar. Juntas, suas almas se completam.

Umas moças me perguntaram se eu havia falado com a noiva. Respondi que eu tinha acabado de encontrá-la no elevador e lhe dissera como estava bonita. "Não, não" – disseram elas – "nesta hora, pouco antes do casamento, ela está mais conectada a D’us. Portanto, se você deseja alguma coisa, como uma prece, esta é a ocasião para pedir a ela. A noiva é quase como um conduíte."

Pessoalmente, sempre que penso em pedir algo a D’us, a primeira coisa que me vem à cabeça são as crianças com câncer nos hospitais – se D’us cuidar delas, eu fico numa boa. Caso contrário, não peço nada. Meus amigos que estão mergulhados na prece muitas vezes ficam frustrados porque não consigo fazer algo egoísta. Então me levanto e digo algo em particular para ela.

Em seguida o noivo é levado ao salão por dois homens, um em cada braço, que o apóiam porque ele mal pode caminhar. O noivo e eu nos conhecemos de Chabad; quando o vi, sabia que ele estava completamente alterado. Foi maravilhoso ver a expressão em seu rosto, e que tinha lágrimas nos olhos. Ele estava tão comovido pelo que isso significava para toda a eternidade!
Ao se aproximar da noiva, ele colocou o véu sobre seu rosto, e ela não conseguia ver através dele; a partir daí, ela foi guiada, porque caso contrário poderia ir de encontro a uma parede. Veja só a interpretação filosófica e espiritual por trás do véu: Nós nos casamos porque estamos tão empolgados pela outra pessoa; ela parece ser exatamente aquilo que queremos. Tem boa aparência, é isso e aquilo, mas na verdade não a conhecemos. Não conhecemos realmente como é a pessoa no seu interior.

Estão ocultos, e levam um tempo para se revelar um ao outro. Assim também, existem lados mais obscuros em nós que nem sempre revelamos. Parte do ritual de cobrir o rosto da noiva é que o noivo não está vendo sua bela noiva, mas sim a totalidade daquilo com que ele está comprometendo sua vida – incluindo as coisas que não conhece e não pode ver. Ela se compromete junto com ele à mesma vida.

A cerimônia foi então levada para fora, com as estrelas reluzindo lá no alto. O noivo fica de pé sob a Chupá (canópia) e a noiva circula sete vezes em torno dele, para construir uma fortaleza dentro da qual há uma intensa espiritualidade de amor e compromisso. Este é o poder da mulher, porque ela está tão conectada a D’us. Quando ela se junta a ele sob a Chupá, eles não se beijam.
Ninguém da assistência joga nada sobre eles. Somente quando tudo termina eles vão até uma sala para ficarem sozinhos, onde juntos quebram o jejum. Esta é a primeira vez que eles se tocam.

Foi incrível ver como tudo foi especial, e perceber que levou milhares – milhares – de anos para criar este momento profundo e tocante. Ali, sob as estrelas, pude sentir realmente a presença de D’us. Pela primeira vez, eu sabia que eram um homem e uma mulher à vista de D’us. Eu vi acontecer.


Dra. Laura Schlessinger, Ph.D., MFCC, foi membro do corpo docente de Ciências Biológicas da Universidade do Sul da Carolina, e professora de Psicologia na Perpperdine University. Escreveu três livros que se tornaram best-sellers, e seu programa no rádio, "Dra. Laura Show", é transmitido nacionalmente. Reimpresso com permissão da edição Pêssach 2000 de Farbrenguen Magazine, publicado por Chabad da Califórnia.
     
 
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