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Há
muitos anos, viveu na cidade de Minsk um homem chamado Shmuel Nachun.
Embora sua ocupação principal fosse o estudo de Torá,
sua mente era tão arguta em assuntos de negócios que tornou-se
um árbitro e conselheiro legal em todo tipo de disputas comerciais.
Na verdade, era assim que ganhava confortavelmente a vida.
Shmuel Nachun e sua esposa tinham uma filha chamada Devora, a quem amavam
muito. Devora era uma criança de excepcional inteligência,
e o pai assumiu total responsabilidade pela sua educação.
Aos oito anos, ela estava estudando os Cinco Livros de Moshê e os
Profetas. Seu progresso continuava, e aos dez anos já sabia toda
a Torá, e começou a aprender Mishná e o Código
da Lei Judaica. Além disso ela estudava matemática, polonês
e sabia ler e escrever. Aos quinze anos, estudava o Talmud com os comentários
de Rashi.
Aos dezoito, casou-se com um jovem educado, e era uma recém-casada
feliz. Seu marido era bem sucedido nos negócios e ela logo teve
duas filhas e um filho.
De repente, a tragédia abateu-se sobre ela numa série de
duros golpes. Suas duas meninas morreram numa epidemia e no mesmo ano
o marido também morreu. Desolada, a jovem viúva voltou à
casa dos pais, com o filho pequeno. Mas três anos depois, o filho
também lhe foi tirado.
O que ainda lhe restava para viver?
Todos os dias, ela tentava ocultar dos pais a sua dor, mas de tempos em
tempos se trancava no quarto e chorava durante horas. Depois de algum
tempo, ela percebeu que deveria reunir os cacos de sua vida estraçalhada,
e atirou-se aos estudos com fervor maior que antes. Ela começou
também a envolver-se no bem-estar social das mulheres locais.
Em conjunto com duas amigas de infância, ela criou círculos
de estudo para as jovens de Minsk que não tinham tido a chance
de aprender Torá. Na verdade, seus grupos de estudo ficaram populares
e divulgados na cidade, fazendo dela uma palestrante muito procurada.
Devora encontrou grande consolo em sua obra pois, ao ajudar o próximo,
ela ao mesmo tempo amortecia a dor em seu coração.
Certo dia, seu pai foi abordado por um homem chamado Tzadok Moshe, com
uma sugestão de casamento para Devora e seu Rebe, um notável
erudito de Torá de Vitebsk, chamado Nachun. Devora expressou algum
interesse em encontrar o homem, e ficou acertado que ele viajaria a Minsk
para conhecer esta mulher extraordinária.
Em pouco tempo estavam noivos, e assim começou um novo episódio
na vida dessa mulher singular.
Estando acostumada ao alto nível de conhecimento de Torá
entre as mulheres de Minsk, Devora ficou chocada ante a ignorância
das mulheres em Vitebsk, e tratou de remediá-la. Logo formou os
círculos de estudo como fazia em Minsk. Além disso, ela
estabeleceu instituições para os doentes e necessitados.
Era muito feliz em sua nova vida, preenchendo seu tempo com estudo, serviço
social e dirigindo os negócios do marido.
Nachum não ficou meramente perplexo ao descobrir que sua esposa
era uma gerente tão capacitada para seus negócios, mas seu
extenso conhecimento de Torá o assombrou! Ele começou a
perceber mais e mais que tesouro que esta esposa representava, e seu respeito
e admiração por ela aumentaram ainda mais. Ele viu a mudança
que a vinda dela tinha provocado, não apenas em seu próprio
lar, que se tinha tornado uma verdadeira "Casa Aberta e Conselho
dos Sábios", mas também na cidade de Vitebsk em geral,
onde a influência dela era sentida e valorizada em todas as esferas
de atividade social e educacional! O que ele não sabia era que
Devorah encontrava tempo todos os dias para estudar o Talmud, e que ela
o estava estudando por inteiro pela segunda vez!
Devora não estava satisfeita em concentrar-se apenas nas mulheres:
sua ambição era ver Vitebsk como um centro de estudos judaicos.
Tendo isso em mente, ela engendrou um plano no qual alguns estudantes
promissores da pequena yeshivá de Vitebsk seriam sustentados para
estudar em uma das grandes yeshivot de outra cidade, onde eles se preparariam
para servir na sua cidade natal quanto voltassem. Nesse ínterim,
ela convenceu o marido a importar e manter, às suas próprias
custas, um grupo de professores e suas famílias para educarem o
povo de Vitebsk. Este plano demorou para ser implantado, mas dentro de
um ano dez professores foram instalados em Vitebsk, e o doce som da Torá
podia ser ouvido em toda a cidade.
Devora tinha feito seu lar em Vitebsk por dez anos, e seu sonho de tornar
a cidade um centro de Torá foi lentamente se tornando realidade,
devido a seus esforços, visão e rara capacidade.
Adaptado
de "Memórias do Lubavitcher Rebe" – Rabi Yossef
Yitschac Schneersohn. |