1º de Kislêv

   
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A completa recuperação do Rebe dos dois graves infartos que sofreu em 1977 é celebrada por seus chassidim todos os anos, no primeiro dia de Kislêv. Foi neste dia que o Rebe finalmente deixou o "770", após semanas de cuidados médicos intensivos, e voltou para casa. Eis aqui alguns trechos de diários e memórias de pessoas durante os primeiros dias após os ataques de coração do Rebe.


A principal sinagoga Lubavitch, o 770, está apinhada. Milhares de chassidim do mundo inteiro estão aqui para celebrar os dias festivos com o Rebe. Todos os olhos se concentram no Rebe ao começar as hacafot (dança circular) com a Torá. O Rebe levanta o Rolo da Torá. Seu rosto irradia o puro júbilo da festa. É o dia de Shemini Atsêret, um dia após Sucot, e o ano é 1977.

Termina a primeira hacafá. O Rebe caminha lentamente de volta ao seu lugar. Tem início a quarta hacafá. O Rebe esforça-se para juntar as mãos num aplauso. Pede uma cadeira e senta-se. Um arrepio percorre a sinagoga. O Rebe nunca se senta durante as Hacafot.

O Rebe inclina-se para a frente e fecha os olhos. Ouve-se gritos. "Água! Ar! Para trás!" Surgem copos. Todas as janelas à vista se transformam numa rota de fuga. Dentro de minutos, o 770 está vazio. Menos de cem pessoas permanecem lá dentro.

Os médicos correm para atendê-lo. O Rebe sorri e diz que está tudo bem. Ele está somente cansado; ninguém deve se preocupar. "Continuem com as Hacafot!" Quem poderia saber que o Rebe acabara de sofrer o primeiro de dois graves infartos.

A quinta e sexta hacafot são concluídas rapidamente. A sétima tradicionalmente pertence ao Rebe, e não será diferente nesta noite. Apesar de tudo, ele dança com seu cunhado, Rabi Shmaryahu Gurary, conhecido como "O Rashag". O Rebe sorri ao ver que o Rashag encerra a hacafá mais cedo. Após o término dos serviços, o Rebe deseja a seus chassidim o costumeiro "Gut Yom Tov!" O Rebe caminha lentamente para fora e sobe as escadas que levam a seu escritório, fechando a porta atrás de si. Somente D’us sabe o que a noite lhe reserva.

Os médicos que foram chamados insistem em levar o Rebe para o hospital. Ele se recusa terminantemente. "O que a pessoa faz se mora num lugar onde não existem hospitais?" pergunta o Rebe.

Nas primeiras horas da manhã, os Rabinos fizeram o mesmo pedido ao Rebe. Ele continuou inflexível. Os médicos discutiram o problemas entre si. Um deles aproximou-se da cama e disse: "Rabi, se não concordar em ser transferido a um hospital, iremos embora e estaremos livres de qualquer responsabilidade. O senhor está colocando sua vida em perigo."

Às duas da madrugada, os médicos deixam o prédio. Apenas algumas horas após um infarto, o Rebe estava sem cuidados médicos. Porém, dentro de uma hora – com a ajuda de um hospital judaico no Brooklyn que o secretário do Rebe tinha contactado – o quarto do Rebe tornou-se uma unidade de terapia intensiva. Às cinco da manhã, o ECG registrou um segundo ataque, mais grave que o primeiro. Naquele estágio crítico, Dr. Ira Weiss de Chicago, um renomado cardiologista, foi lembrado. Algumas horas depois, Dr. Weiss estava ao lado da cama do Rebe. Com lágrimas nos olhos, ele comentou: "Já tratei muitas pessoas que o Rebe me enviou. Testemunhei milagres que ele realizou para tantos. E agora tenho de tratar do próprio Rebe…"

Quando Dr. Weiss entrou no quarto, o ânimo do Rebe melhorou. Ele disse ao médico para tratá-lo como qualquer outro paciente. Dr. Weiss começou a examiná-lo. Quase que de imediato, as condições do Rebe começaram a melhorar.

Dr. Weiss foi um dos poucos médicos que consentiram em autorizar que o Rebe permanecesse no 770. Ele disse que o Rebe estava certo ao escolher não ir para o hospital, por diversas razões: a) O Rebe desejaria instruir pessoalmente os médicos sobre seu tratamento. Num hospital, isso seria praticamente impossível. b) Os médicos não estão sempre de plantão num hospital, e os assistentes fariam grande parte do trabalho. No 770, os médicos estariam sempre a postos para monitorar o Rebe. c) Um ambiente familiar ajuda na melhora do paciente.

A certa altura, um dos médicos disse ao Rebe: "Precisa cuidar de sua saúde. Se não o fizer, existem – D’us não o permita – uma chance de 25% de que ocorra uma recaída." O médico perguntou ao Rebe se este estava ouvindo. "Claro" – disse o Rebe – "você disse que se eu não tomar cuidado com a minha saúde, há uma chance de 75% de que a doença não volte!"
Na tarde do dia seguinte, o Rebe enviou uma mensagem aos chassidim: "Não se esqueçam de 'fazer os judeus felizes', [visitando] as diversas sinagogas [em toda a área metropolitana de Nova York]. Façam isso com um shturim [comoção]! O serviço vespertino deverá ser com o maior júbilo e – ainda mais importante – com um shturim!"

O Rebe anunciou que aqueles que desejassem ajudar na sua recuperação deveriam alegrar-se. Um chassid mais idoso que chorosamente desejou ao Rebe uma pronta recuperação foi admoestado pelo Rebe: "Está agindo de forma contrária à Torá, que ensina: 'Alegre-se nos seus dias festivos.' Nós (todos) desejamos que eu fique mais saudável – conseguiremos isso por meio de um aumento em simcha [júbilo]. Chorar é contra meus desejos."

Mais tarde naquele dia, na véspera de Simchat Torá, o Rebe perguntou a Rabi Leibel Groner se ele tinha participado da alegria em outras sinagogas. Rabi Groner respondeu afirmativamente, mas o Rebe perguntou: "Com um shturim?"

O Rebe então indagou o que estava acontecendo na sinagoga principal. Rabi Groner replicou que a reunião tinha sido marcada para as 21 horas. "Com um shiturim?" o Rebe desejava saber. "Diga a eles que o serviço deverá se conduzido com um grande shturim!"

As Hacafot daquela noite foram tão animadas que podiam ser ouvidas nos aposentos do Rebe. Quando o Rebe ouviu-os cantar "Der Rebe Iz Gezunt!" (O Rebe está saudável), ele sorriu abertamente e exclamou: "É assim que são os chassidim!"

       
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