Uma lição de beisebol

  por Dovid Zaklikowski
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O último ônibus da noite passava pela Avenida Kingston numa noite gelada de inverno em 1955, enquanto um jovem Shimshon Stock entrava com um amigo e o filho deste, um garoto que logo seria bar mitsvá, na sinagoga Lubavitch, no 770 da Eastern Parkway.

Dentro do 770, que logo se tornaria famoso como Sede Mundial Lubavitch, ficava o estúdio e escritório do Rebe, Rabi Menachem Mendel Schneerson, que alguns anos antes tinha aceitado a liderança desta pequena comunidade chassídica ainda lutando para se recuperar dos ataques do stalinismo e do Holocausto. Naquela ocasião, o Rebe tinha apenas um punhado de emissários espalhados em Israel, Estados Unidos, Europa e Norte da África. Porém, ele já estava construindo incansavelmente uma rede internacional de comunidades que logo seriam famosas mundialmente por sua maneira não convencional, porém contemporânea, de fazer contato com a juventude judaica.

Shimshon, nascido e criado no Novo Mundo, era o típico "garoto Americano". Porém ele tinha desfrutado uma amizade especial com o Rebe antes do falecimento do Rebe Anterior – o sogro do Rebe, Rabi Yossef Yitschac Schneersohn – que continuou depois que o Rebe aceitou o manto da liderança. Ele agora apresentava seu amigo e o filho de seu amigo ao Rebe, que cumprimentou-os com um caloroso e amigável aperto de mão, convidando-os a se sentarem.

O Rebe abençoou brevemente o rapaz, para que crescesse e se tornasse uma fonte de orgulho para o povo judeu e sua família. Quando se preparavam para sair, o Rebe surpreendeu os três americanos com a pergunta que fez ao jovem: "Você é fã de beisebol?"


O garoto respondeu que sim, era.

"Para que time você torce – os Yankees ou os Dodgers?"


O rapaz respondeu que era fã dos Dodgers.

"Seu pai gosta dos Dodgers como você?"

Não.

"Ele leva você para assistir aos jogos?"

Bem, de vez em quando meu pai me leva a um jogo. Assistimos um jogo no mês passado.

"Como foi a partida?"

Foi desapontadora, confessou o garoto. Por volta do sexto turno, os Dodgers estavam perdendo
por nove a dois, portanto decidimos ir embora.

"Os jogadores também abandonaram o jogo quando vocês saíram?"

"Rabi, os jogadores não podem sair no meio do jogo!"

"Por que não? perguntou o Rebe. "Explique-me como isso funciona."

Há jogadores e torcedores, explicou o fã do beisebol. Os fãs podem sair quando quiserem – não fazem parte do jogo e o jogo pode continuar, e de fato continua, depois que eles saem. Mas os jogadores precisam ficar e tentar vencer até que o jogo esteja terminado.

"Esta é a lição que eu desejo ensinar-lhe sobre o Judaísmo" – disse o Rebe com um sorriso.
"Você pode ser tanto um jogador quanto um fã. Seja um jogador."

Fora do 770, pai e filho se despediram de Shimshon, os três agora partilhando uma nova admiração por um pioneiro na educação judaica.

       
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