Reb
Mendel Futerfas foi um dos maiores chassidim do Rebe. Tornou-se conhecido
pela sua fé, alegria e otimismo. Trabalhava exaustivamente em prol
dos judeus soviéticos
e da educação judaica na Rússia. Jamais mediu esforços
e era capaz de
sacrificar a si próprio para dar continuidade ao judaísmo.
Nada para ele era difícil,
pois enxergava na neshamá, alma judaica, a ilimitada e infinita
luz Divina.
Quando estava prestes a sair da Rússia para salvar-se das perseguições,
voltou atrás e lá permaneceu. "Quem ficaria em seu
lugar para ajudar
os demais que permaneciam ou para lá seriam enviados?"
Ele: Reb Mendel Futerfas.
Transcrevemos
aqui uma conversa com Reb Mendel Futerfas
– Como era a vida nos campos de trabalho soviéticos?
– Foram dias de luz.
– Isso é um eufemismo?
– Não, quero dizer simplesmente. Aqueles foram os dias mais
inspiradores de minha vida.
– Como?
– Em toda a minha vida, sempre senti uma batalha entre o material
e o espiritual. Nos campos de trabalho, não havia batalha. Minha
vida era toda espiritual. Tudo que eu tinha de fazer era estudar Torá
e rezar.
– Não entendo. Você não tinha de trabalhar?
– Claro que tinha de trabalhar! Em um campo, meu trabalho era cuidar
de uma vara de porcos. Tinha de começar às 4 da manhã
e só terminava às 6 da tarde. No inverno, era tão
frio que certa vez as correias de meu tefilin congelaram. Quando comecei
a desenrolá-las, elas se partiram. O trabalho era duro e massacrante,
mas apenas fisicamente. Minha alma era livre. Não havia nada me
atrapalhando. Toda minha energia podia ser concentrada em prece e estudo.
[Presumi que Reb Mendel sabia as preces de cor, mas e quanto ao estudo
de Torá? Reb Mendel não era conhecido como o tipo de sábio
que tinha os volumes do Talmud na memória, portanto perguntei:]
– Você tinha livros em seu poder?
– Livros? Os russos me permitiriam estudar textos judaicos?
– Então como conseguia estudar?
– Como eu estudava? Imaginava o chêder que freqüentava
quando era criança. Eu costumava sentar na terceira fila. Lembrava-me
da mesa onde sentava, os livros que havia sobre ela. À minha direita
sentava-se meu amigo Berl, e à esquerda, meu amigo Zalman. Yossel
sentava-se à minha frente. Lembrava-me dos rostos deles, das brincadeiras
que fazíamos, dos segredos que contávamos uns aos outros.
E lembrava-me do melamed (professor): alto, com olhos sérios, mas
com um sorriso caloroso e amigo. Eu imaginava o professor e a sala de
aula em minha mente. A cena era tão vívida que eu conseguia
realmente ouvir o melamed falando: "Shnayim ochazim betalit…
Se duas pessoas estão segurando uma roupa, e uma delas diz: é
toda minha, e a outra diz é toda minha…" Eu escutava,
e concentrava-me para gravar suas palavras em minha mente. Logo ele tinha
me ensinado uma página do Talmud. Eu então fechava o quadro
do chêder e começava a revisar a página que tinha
acabado de aprender. Depois de algum tempo, estava gravada na memória.
Então eu voltava ao chêder para aprender outra página
do Talmud. Assim, aprendi muitos capítulos do Talmud e uma boa
porção do Tanya.