O dote da noiva

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Certa vez, uma moça muito humilde e órfã estava para se casar. Não tinha dinheiro para um vestido de noiva, nem para a festa de casamento; e o noivo também era muito pobre.

A jovem foi ao Rabi com lágrimas nos olhos, mas este lhe disse alegremente: "Não se preocupe, minha filha. Com a ajuda de D’us, celebraremos um belo casamento."

A noiva enxugou as lágrimas e voltou para casa contente e animada. Nem bem havia saido, e o Rabi já apanhava seu casaco para coletar fundos. Sua primeira visita foi à casa de um de seus generosos conhecidos, sempre pronto a lhe ajudar.

"Shalom Haleichem!," saudou-o o Rabi e a saudação foi retribuída com um sorriso e um recíproco cumprimento: ‘Aleichem, Shalom!’

"Estou muito honrado pela sua visita, Rabi," disse o anfitrião. "Se houver qualquer coisa que eu possa fazer, me diga por favor."

Mandou vir refrescos e pediu ao Rabi que aceitasse algumas frutas.

"Enquanto eu degusto as frutas deliciosas que você me ofereceu," disse o Rabi, "quero que aprecie as frutas que lhe trouxe…"

Vendo o ar de interrogação do outro, o Rabi continuou explicando:

"Pronunciamos em nossas preces matinais: ‘Estas são as coisas, cujos frutos o homem goza neste mundo, enquanto que o estoque ("capital") fica para ele no mundo vindouro: honrar pai e mãe, praticar caridade…hospitalidade para os itinerantes, visitar os doentes, dotar a noiva…’ "Está vendo, meu amigo," continuou o Rabi, "estou fazendo uma coleta para possibilitar que uma pobre moça órfã se case e vim aqui para oferecer-lhe esta grande mitsvá de Hachnassat Calá."

"Se o senhor ficar para o chá, assumirei a responsabilidade da despesa total do casamento," disse o anfitrião com um brilho nos olhos acrescentando: "Se permitir, vou lhe contar uma história e ficará sabendo por que estou tão ansioso e extremamente feliz por ter sido eu o escolhido para realizar esta mitsvá."

Enquanto tomavam chá, o Rabi escutou este incrível relato:

"Aconteceu há muitos anos, pouco depois de meu casamento. Eu ainda era muito jovem. Estava caminhando pela praça do mercado de minha cidade natal, e este seria meu primeiro dia de experiência; levava no bolso uma boa quantia em dinheiro para tentar a sorte e entrar no mundo dos negócios.

"O mercado estava repleto de gente, com muita agitação e aglomeração, gente comprando, gente vendendo, de todas as partes e cidades vizinhas. Havia barulho e exaltação em cada canto. Então avistei uma senhora, parada e solitária e muito aflita, pois soluçava compulsivamente. Fui ao seu encontro e lhe perguntei o que tanto amargava sua vida. Contou-me então que sua filha deveria casar-se no dia seguinte, mas ela não tinha um único centavo para o casamento e sua filha encontrava-se desconsolada, assim como a pobre mãe.

"Por um momento hesitei, mas o dinheiro no meu bolso, de repente, começou a pesar muito. Retirei todo o conteúdo de meu bolso e lhe entreguei sem pronunciar palavra. Afastei-me então rapidamente, antes que pudesse me agradecer.

"Estava a caminho de minha casa, pois não havia mais nada a fazer no mercado, já que não possuia mais um níquel. Um estranho no entanto, me deteve e me saudou, como se me conhecesse há anos. Oferceu-me uns diamantes para vender. Fiquei paralisado e atônito; eram lindas e valiosas, pois aprendera através do ofício de meu pai que trabalhava com pedras, em como avaliá-las. O preço parecia bem razoável, mas não havia escolha: ’Desculpe, gostaria muito de comprá-las, no entanto não tenho dinheiro.’

"O estranho não pareceu surpreendido. Disse: ‘Está tudo bem. Sei que você é um homem honesto; conheci bem seu pai. Leve-as em confiança e quando as tiver revendido, me pagará. Poderá me encontrar na sinagoga. Bom dia!’

"Sabia extamente o que deveria fazer com as pedras. Vendi-as sem dificuldade e obtive um bom lucro. Corri para a sinagoga e me apressei em pagar imediatamente minha dívida. E antes que eu pudesse pronunciar palavra, ele depositou em minhas mãos mais pedras preciosas, às quais novamente vendi com lucro. Quando voltei para pagar pelas pedras que levara a crédito, o estranho não se encontrava mais lá. Procurei-o por toda a cidade; pedi informações, descrevi sua aparência, vasculhei todas as ruas e bati nas casas, sem sucesso: não havia vestígio do homem. Nunca mais o encontrei.

"Guardei cuidadosamente aquele dinheiro na esperança que um dia encontraria seu dono. Quando inventariei meu negócio naquele dia, vi que o lucro que tivera era exatemente dez vezes maior do que a quantia que havia dado àquela pobre mulher para o casamento de sua filha. Desde então, sempre tive sucesso em meus negócios, graças a D’us.

"Agora está vendo, meu caro Rabi, por que estou tão feliz e ansioso por participar desta mitsvá? Permita-me realizar o casamento destes noivos na minha casa. Aqui está o dinheiro necessário para o vestido da noiva e também para o noivo, bem como para todas as demais despesas…"

O casamento foi celebrado com enorme entusiasmo e alegria, onde nada faltou. A noiva estava radiante de felicidade e agradecida a D’us, ao Rabi e a seu bem-feitor; o noivo parecia um príncipe e sob seu pé ouviu-se barulho de cacos de vidro se partindo… acabara de quebrar a taça em baixo da chupá sob os gritos de "Mazal Tov! Mazal Tov!"

Eles agora seguiam juntos e em frente. Formariam um novo e verdadeiro lar judaico, que serviria de modelo e orgulho para toda a comunidade.

       
   
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