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Existiu certa vez
um rei cujo palácio tinha sido saqueado por multidões enfurecidas.
Ele não derramou lágrimas pela madeira e pela pedra do palácio,
mas pelas jóias da coroa, transmitidas por muitas gerações,
pois para isso não havia consolo possível.
O rei reuniu seus conselheiros, mas nenhum pôde encontrar uma solução.
As jóias tinham sido espalhadas pelo reino e em outros reinos por
hordas de bárbaros. A mais preciosa das jóias tinha sido
levada através dos mares para os mais longínquos recantos
do globo. Porém o rei tinha uma filha que lhe era muito cara, e
em sua sabedoria, ela viu o que precisava ser feito.
Portanto, o rei e sua filha treinaram muitos pombos a voltarem ao palácio,
para reconhecer as jóias da coroa e levá-las de volta em
sua jornada. A cada dia, eles libertavam os pombos nos campos ao redor
do palácio e alguns descobriam as jóias espalhadas e as
levavam para casa. E o rei ficou feliz e sorriu para sua filha.
Então a filha do rei enviou os pombos para mais longe ainda, e
novamente eles retornaram, carregando mais algumas das jóias que
o pai tinha perdido. Mesmo que fossem enviadas para terras muito distantes,
elas voltavam rapidamente.
Porém as jóias mais valiosas, aquelas nas terras mais distantes
e nos locais mais recônditos, aquelas jóias ainda não
tinham sido recuperadas. Os pombos não se aventuravam a uma distância
grande o suficiente para encontrá-las – eles ficavam ansiosos
para voltar ao lar.
A filha do rei sabia o que tinha de ser feito, mas ela não podia
contar ao pai, pois era muito difícil, muito perigoso, horrível
demais. Mas ele olhou nos olhos dela e soube. E assim ele destruiu seu
palácio mais uma vez, arrasando-o até o chão, removendo
cada vestígio dele. Quando os pombos tentaram voltar, nada encontraram,
apenas um campo vazio com pedras espalhadas e madeira fumegante. Eles
estavam famintos e com saudades de casa.
Os pombos mais aventureiros viajaram para muito longe e encontraram outros
palácios, e naqueles palácios encontraram escondidas as
jóias mais preciosas do rei. Juntaram estas jóias, poliram-nas
e as guardaram debaixo das asas. E à noite eles choravam, pois
sabiam que ali não era o seu lar.
E agora tinha chegado a hora de todos retornarem
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