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Napoleão e o Alter Rebe

 
 

Depois que Napoleão tinha capturado a maior parte da Europa, ele saiu para conquistar também a Rússia. Como ocorrera em muitas de suas outras conquistas, meses antes de o exército de Napoleão chegar às fronteiras russas, agentes franceses entraram na área e começaram a recrutar cidadãos desiludidos e amargos.

A promessa de Napoleão de abolir o status deles como servos da nobreza e garantir-lhes direitos iguais atraiu muitos camponeses russos, especialmente nas aldeias da Polônia que a Rússia tinha anexado muitos anos antes.

Compreensivelmente, as pessoas oprimidas de toda parte consideravam Napoleão um libertador, e muitos o ajudavam abertamente a expulsar seus dominadores.

Um grande número de judeus perseguidos naquela época estavam ansiosos para se libertarem do Czar. Até então, eles tinham sido proibidos de se engajar em muitas ocupações; tinham de pagar uma taxa judaica especial, e eram forçados a morar em guetos. Napoleão prometeu mudar tudo aquilo. Então eles, também, ajudaram Napoleão e foram muito úteis na sua recente conquista da Polônia.

Muitos tsadikim esperavam que Napoleão vencesse e rezavam por seu sucesso. Eles acreditavam que uma vitória de Napoleão traria alívio dos duros decretos czaristas contra os judeus.

O Alter Rebe pensava diferente, ele disse: “Eu o odeio totalmente, pois ele é Satã que luta contra o bem com todo o jeito do mal; ele é a força da Kelipá e julgamento severo, o oposto do amor e bondade, de fato é a morte e o mal. Porém, tenho certeza de que ele não vai durar, como está escrito: ‘O mal mata o perverso’, e ‘a bondade de Hashem persiste o dia inteiro’, e chessed (bondade) prevalece sobre o din (julgamento)… A guerra entre chessed e guevurá é como aquela da água e do fogo, onde a água prevalece”.1

E assim ele orientou seus chassidim contra Napoleão. Numa carta confidencial que o Alter Rebe endereçou ao seu devotado chassid, Reb Moshê Meisels de Vilna, ele escreve2: … Foi revelado a mim durante a reza Musaf no primeiro dia de Rosh Hashaná que se Bonaparte for vitorioso, os judeus irão prosperar no setor econômico e político, mas seus corações serão separados e alienados do seu Pai no Céu. Mas, se nosso soberano Alexander (o Czar) for vitorioso, embora os judeus sofram econômica e politicamente, seus corações irão se tornar mais intimamente apegados a D’us.

“E este é o seu pecado [confirmando a previsão]: Nos dias que virão seu amado será tirado de você, e eles começarão a alistar alguns dos nossos irmãos judeus para o serviço militar.”

Por volta de Yud Beit Tamuz 5572 (1812), Napoleão cruzou as fronteiras da Polônia até Kovno e Vilna etc., com o maior e mais poderoso exército que o mundo já vira. Consistia de mais de 650.000 soldados de toda nação sob o império francês. Incluía 370.000 da Infantaria, 80.000 da Cavalaria e 1.400 da Artilharia.3

Foi então que o Alter Rebe começou a deliberar com sua família sobre fugir para o interior da Rússia. Porém, ele estava relutante em deixar Liadi por vários motivos, principalmente porque não desejava criar pânico entre os judeus da Rússia Branca.

Pediu aos seus chassidim que cantassem para ele a marcha que os soldados de Napoleão cantaram ao entrar na Rússia. Quando os chassidim cantaram “a Marcha de Napoleão”, o Alter Rebe respondeu que esse é um nigun de vitória. O Alter Rebe então foi a Dveikus, e quando voltou, disse: “O fim será ‘Didan Notzach’ – nosso lado será vitorioso!” Ele então decidiu que a canção seria usada em nosso serviço a Hashem. [Em Yom Kipur, antes do toque do shofar, (ao final de Ne’ilah), é costume Lubavitch cantar “A Marcha de Napoleão”4]

O Alter Rebe também enviou cartas a muitas comunidades judaicas, dizendo para que ajudassem o exército russo de toda maneira possível, encorajando-os a não desanimarem nem prestarem atenção às vitórias de Napoleão, pois eram apenas temporárias. A vitória final e completa pertenceria ao Czar.

Em segredo, ele até instruiu seus chassidim a espionarem contra o exército de Napoleão. Seu filho mais novo, Reb Moshê, que era fluente em francês, também respeitou esse pedido. Ele mudou-se para Dasvia, onde havia uma divisão do exército francês.

Como muitos tsadikim naquelas áreas, mais notavelmente Reb Menachem Mendel Rimonover e o Chozeh de Lublin, apoiavam abertamente Napoleão e rezavam pelo seu sucesso, o exército francês aceitava os judeus que ofereciam seus serviços.

Eles atuavam como guias mostrando o terreno e os pontos fortes e fracos das unidades russas locais. E muitos deles também serviam como intérpretes entre os habitantes locais e os franceses que não entendiam russo, polonês ou o dialeto local.

Reb Moshê Meisels, que era fluente em muitos idiomas incluindo o francês, também ofereceu seus serviços. Também foi recebido de braços abertos. Mal sabiam eles que esse judeu de Vilna era um seguidor do Alter Rebe que o instruíra a agir como um agente duplo. Ele deveria dar-lhes informação sobre o exército russo que eles conseguiriam descobrir por si mesmos, enquanto espionava para os russos e lhes dava os planos dos franceses.

Reb Moshê ganhou a confiança dos generais franceses e recebeu um cargo na equipe técnica do departamento estratégico francês. Ali, mapas da Rússia eram cuidadosamente estudados e preparados para os comandantes das tropas invasoras. Ele também ajudava na tradução de vários documentos e proclamações em lituano, polonês e russo, e vice-versa, pois conhecia bem esses idiomas. Assim Reb Moshê tinha acesso a material altamente secreto no Alto Comando Francês no fronte, que ele passava adiante, com risco óbvio, aos russos, por meio de canais confiáveis preparados pelo Alter Rebe.

Um dos primeiros feitos do movimento clandestino francês foi a destruição do depósito de munição em Shvintzion. Esse paiol altamente protegido simplesmente explodiu num dia de inverno. Além das enormes perdas de toda a munição naquele depósito imenso e da perda de muitos oficiais, alguns de alta patente, foi um golpe esmagador ao moral do povo russo, e ainda mais do governo.

Era um local tão protegido que todos concluíram que deveria ter sido um trabalho interno. Temiam que os franceses tivessem conseguido convencer alguns soldados russos a trabalharem contra o Czar e sabotar o exército. Aqueles oficiais não eram apenas soldados regulares, mas oficiais que tinham acesso a zonas de alta segurança. Todos no exército suspeitavam uns dos outros e sentiam estar sob vigilância. O moral caiu.

Todo guarda, sentinela e funcionário foi questionado se tinha deixado alguém entrar nos dias anteriores sem um passe e quem tinha autorizado os passes que lhes foram dados. O exército estava em polvorosa, e os franceses desfrutavam cada momento agonizante.

Desejando subir mais um ponto na escala, eles se prepararam para duplicar o ataque no maior depósito de munição em Vilna. Aquele depósito era o principal reservatório de munição para toda a região. Se fosse explodido, além da perda de munição e homens, seria um golpe fatal para a Rússia. A guerra chegaria ao fim antes de começar, pensavam eles animadamente.

O planejamento teve início. Pesquisar o local, descobrir onde os vigilantes ficavam e outros detalhes levou muitos dias. A instrução para os dois colaboradores foi feita no maior segredo, os únicos que tinham acesso à informação eram o agente francês, os dois colaboradores e Rebe Moshê Meisles, que conseguiu passar a informação ao comandante russo em cima da hora.

Certa noite um grande grupo de camponeses saía do bar, alguns mais bêbados que os outros. Fizeram barulho e confusão quando passaram pelo depósito. Entre eles estavam os dois colaboradores que discutiam em voz alta, quando de repente um deles insultou o outro e todos os guardas que escutaram sabiam que algo estava para acontecer. Com certeza a outra pessoa não deixaria um insulto passar em branco e “bebadamente” empurrou o outro. “Furiosamente” aquela pessoa pegou neve e para divertimento dos guardas a atirou no outro. A briga continuou por alguns instantes até que um deles pegou uma bola de gelo e a atirou. Porém, dessa vez ele errou o alvo e quebrou uma janela do depósito.

Os guardas imediatamente correram para os dois bêbados e os prenderam. Os dois logo ficaram sóbrios e pediram perdão, dizendo que fora um acidente. “Meu amigo é vidraceiro e tenho certeza de que substituirá a janela quebrada”, implorou ele. Temendo ser culpado por permitir que a janela fosse quebrada e fosse considerado um colaborador, o guarda concordou. Foi junto com os dois, entrando na cabana deles e viu muitas folhas de vidro encostadas à parede.

Pegando um vidro grande e algumas das ferramentas, os camponeses voltaram ao depósito. Assim que chegaram, foram presos. Suas súplicas foram silenciadas quando o comandante disse com zombaria: deixe-me ver o maravilhoso vidro que vocês nos trouxeram; é um vidro – e então olhando diretamente para eles continuou – ou é uma lente de aumento.

O choque nos olhos deles disse tudo que ele precisava saber e os dois foram levados para interrogatório.

A informação de Reb Moshê salvou o dia e muitas vidas. Eles estavam indo instalar esse vidro, que na verdade era uma lente de aumento. Portanto durante as poucas horas de claridade no dia seguinte, os raios do sol seriam aumentados muitas vezes e ficariam focalizados em um objeto fazendo-o esquentar muito, assim como uma criança queima uma folha com uma lente de aumento. Assim como uma caixa de munição superaquece e explode em poucos segundos, o prédio inteiro e aqueles por perto seriam engolfados num inferno de fogo e explosão.

A confiança no exército foi restaurada, os franceses não podiam entender como e por quê seus planos tinham falhado dessa vez, e o exército russo estava em dívida com dois judeus – o Alter Rebe e seu fiel chassid, Reb Moshê Meisels.

Porém, nem toda vez Reb Moshê teve tanta sorte; uma vez ele estava na sala dos Generais onde todos eles junto com Napoleão estavam estudando os mapas e traçando sua estratégia. Reb Moshê que estava de pé ao lado esperando instruções na verdade estava escutando cada palavra. Napoleão sentiu que ele fingia estar entediado, mas na verdade estava muito atento, ou ele percebeu que Reb Moshê fez um arranhão na sua bengala copiando a marca que ele tinha acabado de fazer no mapa. Napoleão saltou e colocou a mão sobre o coração de Reb Meisels e o acusou ameaçadoramente de ser um espião.

Reb Moshê conseguiu controlar suas emoções e batimentos do coração, e calmamente respondeu: “Sua Majestade, estou apenas aguardando ordens.”5 Vendo seu rosto calmo e ouvindo sua voz gentil sem detectar um aumento nos batimentos cardíacos, Napoleão decidiu que estava enganado e o dispensou.

Esses serviços patrióticos e valiosos deram a Reb Moshê Meisels o grato reconhecimento dos generais russos, e também atraíram a atenção do Czar. Por fim ele se tornou uma “persona grata” na corte de Alexandre, uma posição que usava para sua vantagem sempre que era necessária uma intercessão pessoal com o Czar por interesses judaicos.

Porém, nem todos tiveram tanta sorte; na verdade o filho mais jovem do Alter Rebe, Reb Moshê, foi capturado pelo exército francês e acusado de ser um espião. Foi condenado e estava aguardando a sentença. No entanto, a bondade de Hashem prevaleceu e antes que algo acontecesse, ele foi libertado quando o exército francês começou sua apressada retirada em derrota.

Deixando Liadi

Enquanto dispendia todos os esforços para conseguir reunir a inteligência, o Alter Rebe recitava Tehilim todo dia, rezando com coração e alma para que Hashem aumentasse Sua bondade e expulsasse o mal. Mas depois, o Alter Rebe previu que o inimigo estenderia sua invasão nas profundezas da Rússia.

Em 15 de Av, o inimigo aproximou-se de Borisov a caminho de Minsk, e o Alter Rebe disse que parecia não haver como deter seu avanço. Ele enviava frequentes mensageiros para consultar o General Tolotchim, que transmitia tudo a Vitebsk. O General Elianov que estava em Liadi, e até passara uma semana inteira na casa do Alter Rebe, viu quanto este estava profundamente abalado.

Embora viajar durante o inverno gelado estivesse além das suas forças e fosse ainda mais difícil para seus netos e bisnetos, por causa de seu ódio ao inimigo e como considerava Napoleão um “Mechashef”6 (alguém que pratica feitiçaria), ele de maneira alguma queria ficar mais um só dia sob o reinado e servidão do inimigo. Resolveu fugir dizendo: “Prefiro a morte do que viver sob seu governo. Não quero ser testemunha da calamidade que se abaterá sobre minha nação.”

E assim o Alter Rebe viajou para Krasna para estar com os Generais Elianov e Nebrovsky; ali deram ao Alter Rebe bons passaportes7 que lhe permitiriam viajar por todas as partes da Rússia.

O General Nebrovsky foi então movido para ficar sob o comando do Marechal Conde Burtinka, e foi deslocado para Smolensk com setenta mil soldados. Na sexta-feira da Parashá Reê. 29 de Menachem Av, o dia anterior a Rosh Chodesh Elul (5572/1812), por volta do meio-dia o inimigo chegou a Krasna com 40.000 homens e quase trezentos canhões.

O general foi pessoalmente, e disse para o Alter Rebe e família fugirem às pressas para Smolensk. Um grito irrompeu na família do Alter Rebe. Ninguém sabia o que fazer, se deviam escapar para as florestas, e todas as mulheres e crianças choraram. O Alter Rebe os admoestou firmemente e os aquietou, dizendo: não fugiremos para as matas, mas continuaremos nossa viagem em carroças puxadas a cavalos.

Sessenta carroças8 foram colocadas à sua disposição, mas não eram suficientes, e muitos tiveram de caminhar a pé. Da família do Alter Rebe vinte e oito crianças e adultos apinhados em carroças, e cerca de dez dos seus chassidim mais chegados com as famílias, acompanhavam o Rebe em sua fuga.

Em apreciação pelos serviços do Alter Rebe ao exército russo alguns soldados armados foram acompanhar e proteger a caravana. Com as instruções, eles cumpriam todos os pedidos do Rebe enquanto fosse humanamente possível.9

Tendo em vista o rápido avanço do exército francês, os generais sugeriram que a melhor rota de fuga seria através da cidade de Bayev. Mas o Alter Rebe decidiu ir por Krasna, apressando a caravana, a fim de cruzar o Rio Dnieper o mais cedo possível.

Foi relatado que no entusiasmo da fuga apressada, um dos bisnetos de Rabi Shneur Zalman, menino de dois anos de idade10, se perdeu. Felizmente, ele não chegou a ir muito longe. Uma busca no caminho de volta para a cidade descobriu o menino perdido ao lado da estrada, chorando. A fuga então continuou.

Após cobrir uma distância de cerca de três quilômetros, o Alter Rebe de repente pediu aos soldados acompanhantes que o deixassem ter uma carruagem mais leve com um par de bons cavalos. Ele entrou na carruagem com dois acompanhantes e, com mais dois guardas armados que agiam como condutores, voltou correndo para Liadi.

Chegando em sua casa deserta, ele ordenou que os homens revistassem cuidadosamente a casa para assegurar que nada tinha sido esquecido. Encontraram um par de chinelos velhos, um grampo de cabelo e uma peneira, que tinham ficado no sótão. Ele ordenou que fossem levados, e após remover o Sifrei Torah da sinagoga adjacente ele ordenou que colocassem fogo na casa antes que o inimigo chegasse. Ele então abençoou os moradores da cidade que tinham ficado para trás e rapidamente partiu de novo.

Nem bem eles tinham deixado a cidade pela estrada levando a Dnieper quando a expedição líder de Napoleão chegou à cidade pelo lado oposto. Pouco depois, o próprio Napoleão com sua comitiva entrou na cidade em cavalos a galope. O exército de Napoleão exigiu que as pessoas da cidade os levassem até a casa11 do Alter Rebe. Para seu desgosto a casa estava em chamas e todos os esforços para extingui-las foram em vão.

Napoleão queria ter algo que pertencesse ao Rebe e ofereceu uma boa recompensa para quem lhe levasse um objeto dele ou de sua família. Ao mesmo tempo advertia sobre as graves consequências se alguém escondesse um objeto deles. Porém, todas as ameaças não adiantaram. Nada foi levado a eles.

Enquanto isso, o Alter Rebe chegou ao Dnieper e o cruzou, e logo atingiu a caravana. Continuaram a jornada com toda pressa até meia hora antes do Shabat, quando chegaram a uma aldeia. Ali permaneceram durante todo o Shabat.

Após o término do Shabat, prosseguiram a viagem noite adentro. No dia seguinte, 2 de Elul, chegaram a Krasna e ali descansaram.

Naquela sexta-feira, 6 de Elul, com as notícias do avanço francês, a fuga foi retomada. Nem bem eles tinham partido, quando o inimigo atacou a força russa. Durante três horas, enquanto eles fugiam, escutaram o som da artilharia pesada.

O Alter Rebe ordenou que a família continuasse a viagem durante o Shabat, dizendo que não somente era permitido como uma mitsvá fazer aquilo para salvar suas vidas daqueles que querem feri-los.

Viajaram até chegar a cerca de 20 quilômetros de Smolensk. A estrada passava pela floresta, onde passaram a noite da sexta-feira. Ao amanhecer do Shabat eles entraram em Smolensk.

Não havia tropas francesas nem russas à vista na cidade. Ninguém parecia saber qualquer coisa sobre a situação. Mas de repente, por volta do meio-dia, foi reunida uma grande força com 30.000 soldados russos e 120 canhões. O comboio do Alter Rebe agora era incapaz de deixar a cidade, e eles ficaram terrivelmente assustados pelo que parecia ser o fim. Perto da noite, eles puderam escapar pela rua que levava à estrada de Moscou para Dorogobuz.

No domingo 8 de Elul eles escaparam de Dorogobuz juntamente com o governador da Cidade Tolstoy para Vyazma, onde ficaram até terça-feira, Yud Zayin Elul.

Na quarta-feira de Chai Elul fugiram para Mazaisk. Entre Chof Beit e Chof Zayin Elul eles viajaram de Mazaisk por um desvio por fora de Moscou, pois o Alter Rebe sabia com seu Ruach Hakodesh que o inimigo faria um contorno.

A carroça em que o Rebe viajava era a terceira na caravana. Na frente estava a carroça com Reb Menachem Nochum, filho do Mitteler Rebe, junto com dois soldados armados.

Sempre que a caravana chegava a uma encruzilhada, Reb Menachem Nochum parava e perguntava o caminho para o avô. Na maioria dos casos o Alter Rebe descia e caminhava até a encruzilhada. Ali ele se apoiava no cajado, perdido em contemplação. Após alguns momentos ele dizia ao condutor qual estrada deveriam tomar.

Em certa ocasião, após receber essas instruções, Reb Menachem Nochum, que liderava a caravana, pegou um caminho errado. Cerca de quinze quilômetros depois, o Alter Rebe perguntou se tinham passado por uma determinada aldeia no caminho. Então Reb Menachem Nochum percebeu seu erro e com grande desgosto informou ao avô sobre isto.

O Alter Rebe suspirou e disse: “É bom quando o neto segue a estrada escolhida pelo seu avô, e o contrário é o resultado quando o avô é obrigado a seguir a estrada escolhida pelo neto.”

Todos os chassidim que acompanhavam o Alter Rebe sabiam que ele tinha expressado a ardente esperança: “Que o Todo Poderoso tenha mercê e nos permita chegar ao distrito de Poltava antes de Rosh Hashaná.” O engano de Reb Menachem Nochum resultou em muitos atrasos e problemas, e talvez tenha sido até a causa da doença fatal que o Rebe contraiu no caminho. Reb Menachem Nochum nunca se perdoou por seu erro e sofreu remorso durante toda a vida.12

Chegaram a Tritza Zerka em Chof Zayin Elul e ali passaram Rosh Hashaná. Em Erev Rosh Hashaná o Alter Rebe confidenciou ao seu filho Reb Dovber (O Mitteler Rebe): “Estou muito preocupado com a batalha de Mazaisk [nos livros de história é mencionada como a Batalha de Borodino], pois o inimigo está levando a melhor e acredito que Napoleão também vai conquistar Moscou.” Ele então chorou amargamente, com lágrimas correndo pela face, e Reb Dovber também chorou.

Os chassidim relatam a seguinte história. Enquanto o Alter Rebe era da opinião de que era melhor o Czar vencer, outros tsadikim, como Rabi Shlomo Karliner, eram da opinião de que Napoleão deveria vencer. Como esses tsadikim discordavam sobre quem deveria ser o vencedor, a Corte Celestial decretou que prevaleceria a opinião de quem tocasse o shofar primeiro em Rosh Hashaná.

Reb Shlomo Karliner acordou cedo e começou a rezar assim que era permitido fazê-lo. Quando ele estava a ponto de tocar o shofar, disse que o Alter Rebe tinha vencido. O Alter Rebe também levantara cedo pela manhã, mas tocou o shofar antes de começar a rezar.

O Rebe escreve13 que embora sua história seja verdadeira, temos de atribuir isto a um outro tsadik, pois Reb Shlomo foi Nistalek (morto por um cossaco) muitos anos antes dessa guerra. Alguns dizem que foi Reb Yisrael Kosnitzer (O Maguid Koznitzer).

Até então, o exército russo tinha tido poucas perdas e se retirava mais profundamente na Rússia, vigiando a terra para que o inimigo não tirasse proveito de sua produção. Porém, ao mesmo tempo, isso causava enormes perdas aos cidadãos da Rússia. A Batalha de Borodino foi a primeira vez na guerra que o exército russo engajou abertamente os franceses em batalha. É interessante notar que a batalha começou no início da manhã, aproximadamente na hora em que o Alter Rebe tocou seu shofar.

No dia de Rosh Hashaná, o Alter Rebe chamou sua família e disse a eles em tom agradável e consolador: “Hoje tive uma visão durante a reza em que tem havido uma mudança para o melhor, e os russos venceram a guerra. E embora o inimigo vá tomar Moscou, ele não terá sossego. Alívio e libertação chegarão para nós… Assim foi inscrito no Alto…” Então comemos e bebemos com o espírito elevado, e nos alegramos com júbilo no coração.

Entre 3 e 5 de Tishrei eles deixaram Tritza Zerka e viajaram a Yurev. No Shabat Shuva antes de Musaf, o Alter Rebe chamou Reb DovBer (que mais tarde seria o Mitteler Rebe) e seu genro Reb Menachem Mendel (que mais tarde seria o Tzemach Tzedek). O Alter Rebe irrompeu em lágrimas que desciam pela sua face e gritava: “Infortúnio! Vejam! Toda a Rússia Branca será devastada pelo inimigo em retirada.”

O Mitteler Rebe voltou-se para o pai e disse: “Mas pai, o inimigo ainda não tomou Moscou, e se o fizer, talvez ele volte por outra direção?” A isto o Alter Rebe respondeu: “Ele certamente tomará Moscou, e logo, pois embora esteja exausto, e seja como um cadáver, sua vitória duramente conquistada o levará… a Moscou. Mas logo depois ele sofrerá uma perda de humilhação incomparável, pois ele não ficará ali, e voltará exatamente pelo caminho da Rússia Branca e não pelo caminho da Pequena Rússia. Guarde minha palavra.” E assim foi.

Entre 7 e 8 de Tishrei eles deixaram Yurev e na véspera de Yom Kipur chegaram a Vladimir. Ali souberam que o inimigo tinha tomado Moscou na segunda-feira antes de Yom Kipur, e nesse dia o Senado inteiro, fugindo de Moscou, passara por Vladimir.

Quando o Mitteler Rebe viu suas carruagens correndo ele foi até seu pai, desolado, e com lágrimas nos olhos, chamou o Alter Rebe até a janela, dizendo: “Veja, Pai, a fuga do Senado. E quanto à sua promessa de que o inimigo sofreria uma derrota ao tomar Moscou?”

O Alter Rebe abraçou o filho, e disse essas palavras, que brotavam do fundo de seu coração: “Veja que agora estou usando tefilin, e não o desapontarei. Garanto pela minha própria vida que o inimigo não irá além de Moscou, mas logo voltará. Ele não irá a Petersburgo, mas seu objetivo será voltar para casa, e encontrar provisões na rota através da Rússia Branca. Mas os russos não o deixarão, e seu confronto começará logo, creia-me.”

Entre 17 e 19 de Tishrei eles deixaram Vladimir e viajaram a Murum. A viagem continuou até Assi, onde descansaram em segurança às margens do Rio Oka. Mas somente por pouco tempo, então continuaram a viagem até os distritos de Razan e Tambov e o Ural. Na terça-feira 28 de Cheshvan eles chegaram a Kursk.

Nos portões de Kursk o Mitteler Rebe com sua esposa Rebetsin Sheina tiveram um filho. O brit foi programado com um banquete de painço e rabanetes.

“Em Kursk chegou um mensageiro de Tolstoy com uma mensagem para o governador local dizendo que o inimigo fora procurado durante quatro dias, de Kaluga a Vyazrna. Ficamos muito felizes e agradecemos a Hashem pela bênção e pela bondade, e nosso júbilo foi ilimitado.

Ao final do Shabat, (Parashá Vayetse), 10 de Kislev, quando eles estavam na aldeia de Zemievka, no distrito de Tambov, o Rebe previu que durante a semana seguinte Napoleão sofreria uma derrota em Moscou, e seu destino, que tinha sido selado no Rosh Hashaná anterior, na verdade logo ocorreria.

No dia seguinte, 11 de Kislev, saíram da aldeia de Zemievka e, viajando de aldeia em aldeia, chegaram a Veseyevka na quarta-feira.

No dia seguinte, sendo 15 de Kislev, o Rebe que há muito tempo era membro da Chevra Kadisha observou seu jejum anual. Após rezar Maariv e quebrar o jejum, o Rebe convidou seus chassidim para dizerem “L’Chayim” em celebração à infeliz retirada de Napoleão de Moscou naquele mesmo dia.

Sua alegria pela derrota do arquiinimigo da fé judaica foi prejudicada, porém, pelos tristes pensamentos sobre o renovado sofrimento de seus irmãos. Pois o Alter Rebe sabia que os remanescentes famintos, congelados e desabrigados do outrora orgulhoso exército francês iriam saquear os vestígios dos assentamentos judaicos em seu caminho. Pensar sobre os indizíveis sofrimentos que esperavam seus irmãos fazia as lágrimas brotarem de seus olhos e correrem pela face. Em 16 de Kislev viajamos pela aldeia Piena. Em 19 de Kislev recebemos notícias de que o inimigo tinha sofrido uma enorme derrota em Krasna, e “ele” está sendo caçado como um cão. A alegria continuou, pois tudo tinha se concretizado.

Em 8 de Tevet, no meio de um inverno severo, a caravana finalmente chegou à aldeia de Piena. O Alter Rebe decidiu ficar ali para um descanso.

Eles agora já tinham viajado mais de 1.800 quilômetros.14 Em meio à guerra selvagem e um inverno brutal, eles estavam sofrendo fome e frio, vivendo de pão e água. Em todas as aldeias eram recebidos com hostilidade, insultos e maldições, e se abrigavam nas cabanas repletas de fumaça dos camponeses.

Muitas das cidades onde pararam jamais tinham visto um judeu, e o preconceito contra eles era óbvio. Não apenas não queriam lhes dar comida ou abrigo, como também não queriam lhes vender nada. Somente por causa dos soldados russos que os estavam acompanhando, e ordenavam que lhes dessem comida e um local para ficar, eles de má vontade o faziam.

Conta-se que em uma das estalalgens onde eles pararam a princípio o dono recusou-lhe a entrada. Somente depois que os soldados deram ordens eles concordaram e permitiram que dormissem no celeiro. No entanto, ele declarou enfaticamente que não iria prender seus dois cães ferozes. Eles poderiam rosnar o quanto quisessem.

Aqueles que estavam com o Rebe ficaram petrificados de medo dos cães. Poderiam morder a qualquer momento quem chegasse perto deles. Porém o Alter Rebe disse que poderiam entrar. Assim que entraram no quintal, os cães se deitaram e ficaram quietos. O proprietário ficou estupefato. Aqueles cães normalmente latiam muito alto quando alguém entrava e até atacavam estranhos que se aproximassem. Porém agora eles estavam dóceis. Ele concluiu que o visitante deveria ser uma pessoa extremamente piedosa, a quem o Criador estava protegendo. Portanto respeitosamente ele se aproximou do Alter Rebe e disse: “Permitirei que fique em minha casa e terá seu próprio quarto. Estou pedindo em retorno que me abençoe com as três bênçãos seguintes: 1. Meu filho é extremamente forte e bem constituído. Prometa-me que ele não será convocado. 2. Quero ser abençoado com longevidade. 3. Quero ser próspero pelo resto da minha vida.

O Alter Rebe deu a eles aquelas bênçãos e ele imediatamente instruiu a família a preparar o quarto para o hóspede de honra. Poucos dias depois, quando o filho dos camponeses se postou perante os oficiais de recrutamento, apesar de sua compleição e força física, eles o consideraram não preparado e o mandaram para casa.

As outras duas bênçãos também foram cumpridas. Em reconhecimento, este camponês não deixava que nenhum outro viajante usasse o quarto no qual o Rebe esteve durante os últimos dias de sua vida. A única exceção era se fosse um judeu que quisesse rezar.

A aldeia de Piena era grande, com casas amplas que estavam meio vazias, pois a maioria da população masculina tinha sido convocada para o exército russo. Os aldeões eram amigáveis e ofereciam aos distintos mas destituídos refugiados acomodações relativamente confortáveis e lenha para a lareira sem cobrar.

Sem perder tempo, o Alter Rebe iniciou uma campanha para ajudar os judeus vítimas da guerra. Vendo o problema dos refugiados judeus das áreas atingidas, e para não criar uma escassez de abrigo e alimentos, o Rebe planejou dividi-los em três grupos, a serem instalados em três locais, as cidades de Haditch, Krementchug e Romnia.

Rabi Shneur Zalman nomeou três delegações para implantar seu plano. Uma delegação, liderada por seu filho o Mitteler Rebe, foi enviada àquelas cidades para fazer os arranjos necessários e preparar abrigo para os refugiados. Uma segunda delegação, liderada pelo seu filho Rabino Chaim Avraham, foi despachada aos distritos de Poltava e Cherson para levantar fundos para a reabilitação dos judeus da Rússia Branca.

Uma terceira delegação, liderada pelo importante chassid Reb Pinchas Schick de Shklov,15 foi enviada a Vitebsk para supervisionar a distribuição de ajuda e organizar as maneiras mais práticas de reabilitar as empobrecidas vítimas da guerra para que pudessem cuidar de si mesmas.

Por dez dias após sua chegada a Piena, Rabi Shneur Zalman trabalhou febrilmente em seus planos e projetos para aliviar o sofrimento de seus irmãos.

Porém, os quase cinco meses da fuga de Liadi a Piena no inverno gelado e especialmente a dor que ele sentia pelo sofrimento do povo judeu estavam agora cobrando seu preço. Na segunda-feira 18 de Tevet, o Alter Rebe caiu doente. Por causa de sua profunda amargura, sua vesícula biliar infeccionou. Sua condição ficava pior a cada dia. Ele pediu caneta e papel e escreveu uma carta16 e a deu a Reb Menachem Mendel (o Tzemach Tzedek) dizendo a ele: “Guarde esta carta até chegar a hora em que precisará dela.”

Aquela nota começa com as palavras Nefesh HaShfeilá (A Alma Inferior17). Nela, o Alter Rebe escreveu que o objetivo principal da descida da neshamá a este mundo, especialmente nessas últimas gerações, é cumprir mitsvot neste mundo materialista, especialmente tsedacá e atos de bondade como aconselhar outro judeu sobre suas necessidades materialistas.

Poucos dias antes de sua morte, o Alter Rebe apontou para o teto e perguntou ao neto: “Mendel, o que vê?” O Tzemach Tzedek respondeu: “Vejo as vigas do teto.” A isto, seu amado avô respondeu: “E eu vejo as palavras de Hashem que estão dando vida a elas.”

Ao final do Shabat seguinte (Parashá Shemot), o Alter Rebe rezou maariv e fez Havdala com plena clareza de mente. Aproximadamente às 10:30 da noite o Alter Rebe finalmente teve alívio de sua penosa jornada na terra, e devolveu sua alma a Hashem.

Após seu falecimento, a família não sabia onde deveria enterrá-lo, pois não havia cemitério judaico em Piena ou nas aldeias próximas. Ele lembraram que ao chegar em Piena, o Alter Rebe tinha declarado: “Em Haditch eu irei ficar definitivamente18.” Àquela altura, eles pensaram que ele queria dizer que as viagens os levariam para lá, mas agora a família entendeu isso como uma pista de que ele desejava ser enterrado ali. E assim, embora fosse uma jornada longa e difícil de Piena a Haditch, especialmente com as temperaturas gélidas do inverno e as estradas cheias de neve, a família e os chassidim estavam determinados a cumprir seus desejos e levá-lo para lá.

Porém, havia um problema grave. A Rússia estava então engajada nos últimos estertores da guerra contra Napoleão. Os oficiais russos notaram que muitas pessoas nas proximidades dos campos de batalha estavam morrendo de graves doenças bacterianas. Eles temiam que transportar o corpo dos mortos pudesse causar o irromper de uma epidemia devastadora.19 Portanto, decretaram que se alguém morresse tinha de ser enterrado no local da morte. Então, se um grupo grande tivesse de viajar para fora da aldeia a fim de enterrar o Alter Rebe em outro local, os oficiais certamente veriam aquilo e seriam impedidos de fazê-lo.

Então foi decidido que somente três pessoas viajariam na carroça com o corpo do Alter Rebe em sua jornada final. Assim, não atrairiam atenção indesejada nem tornariam público o motivo da viagem. Os três escolhidos para essa tarefa foram dois de seus netos, HaRav Menachem Mendel e Reb Menachem Nochum (o filho mais velho do Mitteler Rebe),20 acompanhados pelo filho do shochet local que conhecia as estradas. Os três mais tarde relataram os muitos milagres inacreditáveis que ocorreram pelo caminho.

A história a seguir talvez seja a mais conhecida delas: Sempre que eles paravam numa estalagem para se aquecer, um dos três permanecia na carroça para que o corpo do Alter Rebe nunca fosse deixado sozinho. Para espanto e choque de Reb Menachem Nochum, aquele que permanecera na carroça para guardar o Alter Rebe, de repente sentiu a carroça começar a tremer e então elevar-se no ar.

Ao sair correndo da estalagem, os outros dois entenderam por que aquilo tinha acontecido. Viram que um animal não-casher tinha se escondido debaixo da carroça, e assim que o espantaram para longe, a carroça desceu até o chão. Aparentemente, para impedir que o corpo sagrado do Rebe se tornasse impuro, a carroça milagrosamente se elevara no ar!

Em outra estalagem, alguns não-judeus notaram esse estranho comportamento, que alguém sempre estava permanecendo na carroça. Discutindo entre eles, concluíram que definitivamente deveria haver algo de muito valioso dentro da carroça. Por que uma pessoa ficaria ali apesar do frio cruel? Vamos emboscá-los e pegar seja o que for que estão guardando, planejaram eles. Ninguém saberia o que aconteceu com esses judeus, nem iriam se preocupar.

Devido aos olhares e a abrupta seriedade da conversa dos não-judeus, os dois que estavam na estalagem sentiram que estavam falando sobre eles. Percebendo que algo sinistro estava sendo planejado, os dois logo foram até a carroça e partiram o mais rápido possível.

Embora os não-judeus também tenham deixado a estalagem e os perseguido a cavalo, devido à bondade de Hashem, não os conseguiram alcançar.

Como foi mencionado, era proibido transportar um corpo de um local a outro para o enterro. Então, quando eles chegavam perto dos locais de vigilância criados por causa da guerra, eles colocavam o Alter Rebe na posição sentada para dar a impressão de que ele estava dormindo. Esperavam que como estavam viajando sem muitos pertences, os guardas não examinariam a carroça nem fariam muitas perguntas.

Em um dos postos de vigia entre uma província e outra, os guardas os pararam e exigiram que mostrassem os papéis de viagem. Ficou evidente que a intenção deles era interrogar cada viajante individualmente para verificar a autenticidade dos documentos. Isso lhes causou grande preocupação e medo. O que estes guardas fariam ao corpo do Alter Rebe, bem como a eles próprios, quando percebessem a verdade?

De repente um oficial chegou a cavalo e começou a conversar com os guardas. Vendo a carroça ali parada, fez sinal para que passasse.

Os chassidim concluíram essa história com a pergunta retórica: “Quem você acha que era o oficial?”

O capítulo seguinte é um resumo da biografia do Rebe Tzemach Tzedek:

Alguns anos após o falecimento do Alter Rebe, dois judeus chegaram a Haditch perguntando: “Onde está sepultado o tsadik?” Quem os visse não poderia deixar de pensar: “Por que esses judeus assimilados estão aqui? O que eles têm a ver com o Alter Rebe?” Todavia eles foram encaminhados ao Reb Menachem Nochum (um neto do Alter Rebe), que os levou ao túmulo do Alter Rebe.

Embora tenha ficado do lado de fora, ele podia ouvir a profundidade de suas preces comovidas. Compreendeu que eles deviam ter experimentado um despertar profundo e estavam de alguma forma conectados ao Rebe.

Reb Menachem Nochum esperou até que eles concluíssem suas longas preces, aproximou-se e pediu-lhes que explicassem qual era a conexão deles com seu sagrado avô, o Alter Rebe.

Mais do que felizes em responder, começaram sua história. “Devemos nossas vidas a ele. Mas deixe-nos contar desde o início. Crescemos numa cidade religiosa e sempre nos conduzimos pela Torá. Depois que casamos, ambos nos transformamos em alfaiates para sustentar nossas famílias. À medida que os anos passavam e que nossas famílias aumentavam, nossos ganhos não mais cobriam nossas despesas. Resolvemos viajar para outras cidade onde talvez tivéssemos mais sorte. A decisão de deixar nossas famílias por um longo tempo foi difícil, mas nossas esposas concordaram que seria necessário. Assim, com os corações apertados, partimos.

Inicialmente fomos apenas a cidades e vilarejos judaicos, assim podíamos rezar com um minyan três vezes ao dia. Mas a cada cidade que chegávamos, concluíamos que o alfaiate local mal podia sustentar-se, então não havia necessidade de estarmos lá.

Acreditando não haver escolha, decidimos abrir uma oficina em uma comunidade não-judaica, onde não havia alfaiates. No início fomos extremamente rigorosos em rezar diariamente três vezes (obviamente sem minyan) e em comer somente alimentos casher, mesmo que isso significasse passar sem frango ou carne por semanas.

Entretanto, à medida que nossa reputação espalhava-se, fomos ficando mais e mais ocupados e, num dia de inverno, infelizmente, ambos esquecemos da reza de Minchá. Quando lembramo-nos, já era noite. Oramos Maariv com pesar no coração, e prometemos que isso jamais se repetiria. É triste admitir, mas, alguns meses depois, quando isso ocorreu novamente, já não nos incomodou muito, e cada vez incomodava menos. Um de nossos melhores clientes viu que estávamos sozinhos e, de tempos em tempos nos mandava comida. Inicialmente nem pensávamos em consumi-la, mas depois de algum tempo passamos a comer os vegetais cozidos dizendo a nós mesmos que vegetais são casher.

Aos poucos, à medida que prosperávamos, começamos a escorregar: deixamos de rezar e não mais observamos o que comíamos e nem paramos de trabalhar durante o Shabat, até que desistimos de tudo. Nossa recente riqueza e a passagem de muitos anos não nos impediu de sentir muita falta das nossas famílias. Embora tenhamos nos tornado totalmente assimilados, percebemos que já estava na hora de reencontrar nossos entes queridos e esperávamos que eles nos aceitassem. Demos adeus aos nossos amigos, fizemos as malas e começamos nossa jornada de volta para casa.

Paramos em uma bela estalagem na cidade de Pena, onde pedimos um quarto e comida. Ao notar que éramos judeus, o proprietário informou não haver alimento casher. Já não nos importávamos com isso, então dissemos que estaria tudo bem, contanto que a comida fosse boa. Sorridente, ele disse: “está bem, mas deixe-me arrumar o seu quarto enquanto a refeição está sendo preparada”. Minutos depois ele conduziu-nos ao aposento. Assim que entramos, ele bateu a porta atrás de nós e trancou-a pelo lado de fora. Procuramos por uma janela, mas percebemos que tínhamos caído em uma armadilha da qual não havia escapatória. A única saída seria por uma janela, que estava emparedada.

Antes de pensarmos em uma estratégia, de repente a porta abriu-se, e o estalajadeiro, acompanhado de um jovem, entrou no quarto. Vendo que eles estavam armados com facas e machados, imploramos por nossas vidas, oferecemos-lhes todo nosso dinheiro em troca da nossa salvação.

Rindo, o estalajadeiro disse: “pensam que sou bobo? Assim que liberá-los vocês correrão até a polícia. Como pensam que fiquei tão rico? Mato cada um dos ricos que chega à minha estalagem. Não há outra escolha senão matar vocês dois.” Dito isso, ele levantou sua arma e veio furiosamente em nossa direção. Percebendo que nosso fim estava próximo, rogamos-lhe que nos concedesse pelo menos vinte e quatro horas para que nos preparássemos para encontrar o Criador.

Surpreendentemente ele concordou, mas advertiu-nos a não tentar nenhuma asneira. Ele estaria parado logo atrás da porta, e se fizéssemos alguma bobagem seríamos mortos imediatamente. Agradecendo efusivamente, esperamos até que saíssem, sentamos e choramos.

Aos poucos começamos a rever nossas vidas e percebemos o quanto poderíamos ter sido melhores se não tivéssemos deixado nossas famílias. ‘Olhe para nós agora. Ninguém sentirá nossa falta, e vamos morrer como goyim’. De repente ocorre-nos que em algum lugar na nossa bagagem estavam os nossos tefilin e sidurim que nem usávamos mais. Pegando-os, começamos a rezar de todo o coração e imploramos a Hashem que nos perdoasse. Prometemos que se Ele nos salvasse, iríamos servi-Lo apropriadamente. Inicialmente oramos em silêncio para que o estalajadeiro não pensasse que estávamos tentando algo. Sem que percebêssemos, nossa emoção superou-nos e nossas preces veementes saíram em voz alta dos nossos lábios.

Não sabemos por quanto tempo ficamos naquele quarto, nem o quanto oramos, mas, de repente, a porta se abriu, e o estalajadeiro e seus funcionários trouxeram uma cesta com frutas e outros alimentos e colocaram-na sobre a mesa. ‘Agora vocês podem sair quando quiserem’ – disse ele. ‘E podem levar todo o seu dinheiro. Nunca pretendi prejudicá-los. E a comida que estou lhes oferecendo é casher.’

Nossa gratidão a Hashem por ter salvo nossas vidas era imensa. Agradecemos ao estalajadeiro e hesitantemente perguntamos: “se você não pretendia nos ferir, por que fez isso conosco?”

O homem respondeu com uma grande reverência: “Há muitos anos, quando eu era pobre, um santo Rabino hospedou-se em minha casa. Antes de partir ele abençoou-me e disse: Quando dois judeus chegarem aqui e disserem que não se importam em consumir comida não-casher, ajude-os a arrepender-se.” Hoje, quando vocês chegaram, lembrei-me de suas palavras, e para descobrir se seriam vocês, informei que não tínhamos comida casher. Ao ouvir sua resposta, soube que eram vocês os dois judeus mencionados pelo Rabino. Não tive alternativa senão ameaçá-los de morte. Sentado do lado de fora, esperei até ouvir que haviam realmente se arrependido. Agora estou feliz por ter cumprido o desejo do Rabbi.”

Gratos por estarmos salvos, agradecemos o estalajadeiro por nos ter ajudado a retornar a Hashem. Perguntamos-lhe quem era esse grande tsadik e onde ele estava sepultado. Assim que nos contou, fizemos um pequeno desvio do nosso caminho de volta para casa e viemos direto para cá, e agora você sabe o que estamos fazendo aqui. Queríamos agradecer-lhe por nos ter ajudado a retornar e prometemos que jamais abandonaremos um ambiente e um modo de vida judaico.

Talvez haja um D'us

Sabe-se que o Alter Rebe faleceu em Piena e foi sepultado na longínqua cidade de Haditch. O motivo encontrado para isso é que ele havia mencionado: “Ficarei definitivamente em Haditch.” Como o Alter Rebe jamais revelou o por quê da escolha dessa pequena comunidade em detrimento de outras maiores nas redondezas, ninguém soube com certeza. Entretanto, os chassidim do Rebe Tzemach Tzedek disseram o que se segue.

Logo após o sepultamento do Alter Rebe, o governo russo enviou um comunicado à pequena comunidade judaica informando que o cemitério estava em um terreno do governo, que lhes havia sido doado por engano. Embora não tenham feito nada ilegal, eles teriam de remover todos os túmulos e enterrá-los novamente em outro local. O Mitteler Rebe não mediu esforços para evitar tal desrespeito para com o seu pai, fazendo contato com todos que pudessem convencer o governo a aceitar um outro terreno, ainda maior, no lugar daquele. Afinal, tinha sido um erro deles.

Após algumas intervenções, e especialmente porque o Alter Rebe havia ajudado o Czar a vencer a guerra contra Napoleão, o governo concordou.

Assim, os chassidim disseram que o Alter Rebe desejava fazer mais uma gentileza e impedir a profanação do túmulo de todos os judeus que haviam sido sepultados lá, sendo ele mesmo enterrado naquele local. Em seu mérito nenhuma sepultura foi removida. Mas como eles de fato convenceram o governo?

Os chassidim descobriram que um dos oficiais que tinha jurisdição sobre o assunto fora um chassid que abandonara o caminho do judaísmo. Lembrando que ele costumava ser bem próximo do Reb Moshe Vilenker, eles mandaram-no falar com ele. Ao entrar em seu escritório, ele disse: “Esses são os modos dos chassidim? Primeiramente os chassidim sentam-se e farbreng! Venha à minha casa e nós farbreng como nos velhos tempos e depois você apresenta sua reinvindicação. Não se preocupe. Cuidarei para que tudo seja casher.” Ele lhe deu seu endereço e os dois fizeram um farbrenguen.

Mesmo um tanto desconfortável, Reb Moshe entendeu que não teria escolha e disse que iria. Ao chegar, notou uma garrafa fechada de vodca casher e alguns vegetais. Eles cantaram juntos alguns nigunim, melodias chassídicas, e depois de algumas conversas, o oficial contou a seguinte história.

“Quando eu era um estudante em Liozna, o Rebe evidentemente sentiu que eu tinha ‘minhocas’ na cabeça e nutria dúvidas a respeito da crença dos judeus de que Hashem criara o mundo e tinha controle sobre tudo o que acontecia nele. Ele me chamou e mandou-me fazer uma visita ao tzadik Reb Aharon, de Karlin.Viajei até lá e fui informado de que ao contrário do Rebe, onde cada chassid entra na sala dele e apresenta sua dúvida, aqui você espera até ser chamado ou às vezes o Rebe sai da sala e diz algo, e a pessoa com quem ele estava falando percebe isso e entende a resposta.

Portanto esperei no pequeno beit hamidrash fora da sua sala e pude ver que o tsadik estava caminhando para cá e para lá, imerso em pensamentos. Após algum tempo ele saiu da sala, entrou no Beit Hamidrash e disse como se estivesse falando consigo mesmo: “Talvez depois que tudo [foi feito e dito] exista um D'us – efsher fort si is fahran a Gut”, e então voltou à sua sala.

Mais uma vez ficou claro que ele estava caminhando para cá e para lá imerso em pensamentos, e depois de algum tempo ele repetiu aquelas mesmas palavras uma segunda vez; ninguém saiu da sala pois pensaram que essa declaração não estava se referindo a eles e eu também não saí, pois não entendi que estava falando comigo. Naquela época da minha vida eu não estava concentrado nessa questão, apenas ocasionalmente passava pela minha mente.

Quando aquilo ocorreu pela terceira vez, entendi que devia ser a mensagem que o Rebe queria que eu escutasse, portanto saí da sala e voltei ao Rebe em Liozna. Como você sabe algum tempo depois deixei os caminhos dos chassidim e os caminhos do Judaísmo e vim para a capital em Petersburgo, e me tornei um alto funcionário.

Você está em minha casa. Vê o quanto sou rico. Vê como sou poderoso no governo, portanto muitas pessoas me pedem ajuda e muitas vezes me subornam com altas quantias. Tenho família, uma casa, riqueza, poder e tudo que uma pessoa possa desejar. Mas preciso dizer-lhe que não tenho felicidade. A cada momento do dia aquelas palavras ressoam em meu ouvido: ‘Talvez apesar de tudo exista um D'us.’

Ele então colocou o selo oficial que o governo aceitaria a troca de terra, e o cemitério judaico pode permanecer onde está.

Quando Reb Mendel Futerfas concluiu essa história, ele fez uma pergunta. “Se o Alter Rebe queria que esse judeu escutasse essas palavras, por que ele teve de enviá-lo à distante Karlin, se poderia ter dito aquilo para a própria pessoa?” Mas a resposta é que o Alter Rebe não podia sequer dizer as palavras “Talvez” exista um D'us.”


NOTAS

1. Os dois aspectos essenciais do inimigo são: a petulância e grosseria de Napoleão, destruindo muitas vidas sem qualquer sentimento, em sua busca pela vitória a qualquer preço, mesmo a auto-destruição. A arrogância e presunção de Napoleão, alegando todo crédito pela sua força e poder e sua sagacidade militar para conduzir a guerra… Sobre isso é dito: o homem que não coloca sua força e confiança em Hashem, Hashem o levará ao ponto mais baixo da degradação, para mostrar que é Hashem que dá força e valor etc. Na verdade ficou claramente demonstrado que a queda de Napoleão se deveu ao seu orgulho e sua arrogância…

2. A carta completa está impresa em cartas do Alter Rebe, pág. 150.

3. A Rússia tinha um exército muito menor com somente 180.000 na infantaria e 40.000 na cavalaria, e 800 na artilharia.

4. Devemos notar que o Alter Rebe tirou de Napoleão sua marcha da vitória, elevando-a pelo serviço a Hashem, enquanto Napoleão, como veremos mais tarde, fracassou em suas tentativas de obter algo do Alter Rebe.

5. Reb Moshê relatou que um dos ensinos fundamentais da Chassidut salvou sua vida. A Chassidut ensina que a mente deve governar o coração, e como ele entendia em sua mente que seu coração não deveria bater mais depressa, sua mente pôde controlar seu coração (se seu coração tivesse batido rapidamente, teria mostrado sua culpa).

6. Reshimas Hayoman pág. 368.

7. Baseados na informação daqueles passaportes e numa carta do Rebe Mitteler, pudemos mapear a viagem e ter uma ideia de quanto ele permaneceu em cada uma das cidades e aldeias durante sua longa viagem.

8. Deve-se notar que o chassid Reb Yitschak Zelver assumiu a responsabilidade de pagar todas as despesas da viagem. Para mostrar sua apreciação, o Alter Rebe disse a ele que responderia todas as suas perguntas. Quando o Mitteler Rebe ouviu isso, deu a Reb Yitschak algumas perguntas que ele não queria fazer pessoalmente ao pai. Um delas era: “Ele já tinha visto o Baal Shem Tov ou o Arizal?” O Alter Rebe respondeu: “Como é possível que os tenha visto?”

9. Não incluídos no grupo estavam o filho mais novo de Rabi Shneur Zalman Rabi Moshê, que morava com o sogro na cidade de Ulla, e respeitando o chamado do pai ofereceu seus serviços ao exército francês e seu irmão Rabi Yehuda Leib que estava em Yanowitz, no distrito de Vitebsk.

10. Além disso, por causa da guerram viajar de cidade em cidade era proibido e ir de província em província era quase impossível. Mas o exército deu passaportes especiais ao Rebe e sua comitiva. Baseados na informação desses passaportes e numa carta do Mitteler Rebe, conseguimos mapear a viagem e ter uma ideia de quanto tempo eles ficaram em cada cidade e aldeia e pararam durante sua longa viagem.

11. O menino era o pequeno Yehuda Leib, filho do Tsemach Tsedek que mais tarde seria conhecido cmo o Maharil.

12. Há uma anotação nos papéis de Napoleão onde ele instruiu seus soldados a deterem o judeu, Boruchavitch (este é o nome de família oficial do Alter Rebe).

13. Reb Menachem Nochum costumava passar muitas semanas de uma vez em Haditch, presumivelmente em conexão com o acima.

14. Igrot Kodesh vol. 15 pág. 450.

15. A distância entre Liadi e essas duas cidades é menos que 500 quilômetros. Porém, como tinham de evitar o exército francês, ele fez um caminho alternativo, viajando quase 4 vezes a distância, chegando a 1.800 quilômetros.

16. Também conhecido como Reb Pinchas Reizes.

17. A alma realmente humilde, sua principal tarefa é praticar Torá, em seu próprio benefício e em benefício dos outros, através de atos de bondadem amizade e bom conselho e questões de família. Embora a grande maioria desses atos esteja preocupada com questões falsas, é impossível praticar a verdadeira bondade de outra forma, pois a única verdade é a Torá, e a Verdade disse que o homem não deveria ser criado [pois está repleto de falsidades, etc.], emquanto a bondade disse: “Que seja criado,” pois ele é cheio de amor e bondade, e a Verdade foi atirada ao chão, e a Vontade foi criada em amorosa bondade com a verdade. Nas gerações anteriores, quando a essência do serviço Divino era a Torá, a qualidade da Bondade era mais incluída naquela da verdade, ou seja, seus esforços para induzir outros [a fazer boas ações] contribuições de tsedacá, etc., pela autoridade da Torá da Verdade (ensinada) pelos nossos Sábios. Porém neste dias de chegada iminente de Mashiach, quando o Tabernáculo de david caiu ao chão, no reino de Asiyah, e a essência do Divino serviço está numa categoria de não mais que “passos”, sem a Torá da verdade, as Mishanyot e Beraytot, as “asas” e “coxas” da bondade não estão de acordo com a Torá da verdade em esforço benevolente, mas somente através de favor e bos vontade de quem faz, que estão longe de ser genuínos, e o fim do ato está enraizado no pensamento que o precedeu. Mas mesmo que não haja outra maneira e seja baixa, o consolo do homem é aceitá-la com amor, ou buscar seus atos e retornar a D'us em seu desgosto, e então ele terá alívio.

18. Catorze anos depois, quando o sogro do Tzemach Tzedek o Rebe Mitteler faleceu, os chassidim pediram que ele aceitasse o Neslus, mas ele recusou. Foi então que o tio do Tsemach Tsedec Reb Chaim Avraham entrou na sua sala. O Tsemach Tsedec se levantou, mas Reb Chaim disse sim, eu sou seu tio, mas você é o Rebe! O Tsemac Tzedec perguntou: eu não teria recebido pelo menos uma pista de meu avô que eu deveria aceitar a nessius. Reb Chaim Avraham então perguntou: “Você não entende que este é o motivo para meu pai lhe dar a nota antes de seu próprio falecimento? Ele estava informando que você está para se tornar Rebe [e a hora é agora. É quando você precisa dar conselhos a judeus de perto e de longe, até sobre suas preocupações materiais.]”

19. Para uma explicação da conexão entre o Alter Rebe e motzo’ei Shabat Parashá Shemot, veja Likutei Sichot, vol. 16 pág. 33.

20. Segundo os chassidim, quando o Alter Rebe tornou conhecido que suas intenções eram mudar-se para a província de Poltava, muitas cidades queriam a honra e pediram que o Alter Rebe fosse para elas. O Alter Rebe não respondeu a elas, mas mencionou o assunto duas vezes à família e aos discípulos. “Em Haditch eu certamente estarei.” Disso, eles concluíram que ele desejava ser enterrado em Haditch.

 

       
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