No Banco da Praça

  Por Rabino Yossef Zukin
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Na parashá dessa semana, encontramos 53 mandamentos e um deles é emprestar dinheiro sem cobrar juros certamente, ou pelo menos dar Tsedacá (caridade) para judeus pobres. À primeira vista não dá para entender por que D’us, que é Infinitamente bom e possui todo o dinheiro do mundo deixa que existam judeus pobres e carentes.

Para entender aqui está uma história:

Uma senhora judia de meia idade foi até o grande Tsadic, Rabi Menasha de Savron, com uma pergunta de partir o coração.

Ela e seu marido tinham sido muito ricos, sua casa era aberta aos pobres, e suas mãos abertas para a caridade, mas então algo aconteceu. Pouco a pouco eles perderam tudo até que tiveram que viver de caridade. Ela não conseguia aguentar isso, como podia eles, que tinham sido tão generosos, agora ficar em plena miséria?

O rabino após ouvir seu desabafo com grande interesse, contou-lhe a seguinte história:

“Um rico homem de negócios viajou até um local distante para fazer um bom negócio. Ele levou seu gerente junto e uma maleta com uma grande soma de dinheiro. O negócio era praticamente certo e teria lucros altos. Depois de algumas horas de discussão eles chegou num acordo e apertou a mão dos seus novos parceiros dizendo que voltaria no dia seguinte com o dinheiro que tinha deixado seguro no cofre de seu quarto.

No entanto, no dia seguinte quando foi pegar o dinheiro percebeu que não estava lá. De repente, quando olhou para seu gerente, lembrou que tinham descansado na praça principal da cidade no dia anterior e que devia ter deixado a maleta no banco daquela praça lotada!

‘Guevalt!’ Ele suspirou com seu coração totalmente desesperançoso. Não tinha a menor chance de que o dinheiro ainda estivesse lá. Certamente uma das milhares de pessoas que passaram por lá deveriam ter notado a maleta e a levado consigo. Mas ele rapidamente fugiu desse pessimismo que não o levaria a nada e foi correndo até a praça junto com seu gerente. Milagre dos milagres, a maleta com o dinheiro estava lá, intocada!

Eles foram até seus parceiros e concluíram o negócio. No entanto, a partir deste dia o rico comerciante não foi mais o mesmo, tinha se tornado um homem extremamente triste.

Sem explicação, depois desse dia seus negócios começaram a cair e em menos de um ano perdeu todo o seu dinheiro, teve que demitir seus funcionários, os credores pegaram sua casa e suas posses e ele teve que passar a mendigar.

Por outro lado, seu gerente antigo tornou-se um homem proeminente até que, por ironia do destino, anos após aquele incidente, a situação estava completamente diferente: o homem que antes era rico acabou parando na casa de seu ex-gerente junto com um grupo de mendigos para pedir dinheiro.

O homem rico não o reconheceu, mas o ex-gerente sim e este ficou com o coração partido com compaixão por seu ex-chefe. Ele lhe puxou para o canto, deu-lhe uma moeda de ouro e pediu para que permanecesse Shabat como hóspede em sua casa.

O pobre ex-chefe ainda sem o reconhecer, lhe agradeceu profundamente e escondeu a moeda no seu sapato, mas um dos outros pobres percebeu.

Quando eles estavam no micvê se preparando para o Shabat, ele roubou o sapato do ‘chefe’ e levou ainda sua roupa toda, e saiu correndo antes que alguém percebesse o seu roubo.

Naquela noite, vendo que seu ‘ex-chefe ‘ não chegava, seu antigo gerente foi procurá-lo preocupado e acabou o encontrando no micvê, cantando e dançando como se fosse o casamento de sua filha… mas, vestia apenas com a roupa de baixo!

O gerente pediu para seus assistentes pegarem uma muda de roupas e pouco tempo depois estavam sentados à mesa de Shabat bebendo vinho e celebrando quando o gerente revelou sua identidade.

‘Mas tem uma coisa que eu não entendo’, ele perguntou ao ex-chefe. ‘Por que quando o senhor achou aquela maleta cheia de dinheiro há anos atrás o senhor ficou triste e agora que perdeu seus sapatos e calças estava dançando como uma criança feliz?’

‘A resposta é simples’, respondeu, ‘Existe uma roda do sucesso nesse mundo. Naquele momento, quando achei aquela mala sem que ninguém tivesse tocado nela no banco de uma praça central e lotada, percebi que tinha chegado no topo da roda. Tive uma premonição que daquele momento em diante só haveria descida. E foi o que aconteceu! Mas agora, além de não ter um centavo, perdi meus sapatos e roupa, sabia que tinha chegado no fundo do poço… o que indica que estou prestes a subir ainda mais alto do que antes!’

“E”, concluiu o Tsadic de Savron para a pobre senhora, “assim aconteceu com aquele homem e assim acontecerá com a senhora! Sua pobreza lhe deu um recipiente ainda maior para maiores bênçãos e riqueza que estão a caminho. Apenas não desista!”

Isso responde à nossa pergunta: com a chegada do Mashiach não haverá mais pobreza no mundo. Mas agora, no ‘exílio’, quando a criação parece estar longe e separada do Criador, temos pobreza espiritual e também física. E geralmente o único meio de conseguir as riquezas que merecemos é através da experiência com os altos e baixos da ‘roda do sucesso’.

       
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