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Estrelados por
astros de primeira grandeza, dois filmes sobre Alexandre o Grande parecem
estar a pleno vapor... O que não será mostrado são
as fascinantes interações que Alexandre teve com o povo
judeu e o complexo relacionamento que se desenvolveu entre os gregos e
os judeus e que prepararam o cenário para a história de
Chanucá.
O Cenário Histórico
Alexandre, nascido em 356 AEC, era filho de Filipe II (382-336 AEC), Rei
da Macedônia no norte da Grécia (e considerado um bárbaro
pelas cidades-estado ao sul da Grécia). Filipe criou um exército
poderoso, profissional, que uniu à força as cidades-estado
gregas fracionadas em um só império.
Desde a mais tenra idade, Alexandre mostrou possuir um enorme talento
militar, e foi designado como comandante do exército de seu pai
aos 18 anos, Tendo conquistado toda a Grécia, Felipe estava para
iniciar uma campanha para invadir o arquiinimigo da Grécia, o Império
Persa. Antes que pudesse invadir a Pérsia, Filipe foi assassinado,
possivelmente por Alexandre, que então se tornou rei em 336 AEC.
Dois anos depois, em 334 AEC, ele cruzou o Helesponto (atualmente, Turquia)
com 45.000 homens e invadiu o Império Persa.
Em três batalhas colossais – Granicus, Issus e Gaugamela –
que ocorreram entre 334 e 331, Alexandre liderou brilhantemente (e com
freqüência imprudentemente) seu exército até
a vitória contra os exércitos persas que superavam os seus
na proporção de dez para um. Em 331 AEC, o Império
Persa estava derrotado, o Imperador Dario estava morto, e Alexandre era
inquestionavelmente o Imperador do Mediterrâneo. Sua campanha militar
durou 12 anos e levou-o, e ao seu exército, a 15 mil quilômetros
de distância, até o Rio Indo, na Índia.
Somente a exaustão de seus homens e a morte precoce de Alexandre
aos 32 anos pôs fim à conquista grega do mundo conhecido.
Diz-se que quando Alexandre contemplava seu império, chorava porque
não havia mais nada a conquistar. Seu vasto domínio não
sobreviveu à sua morte, mas fragmentou-se em três grandes
blocos centralizados na Grécia, Egito e Síria, controlados
por seus antigos generais.
Quando estava no auge, o império de Alexandre ia do Egito até
a Índia. Ele construiu seis cidades gregas, todas chamadas Alexandria.
(Somente a Alexandria do Egito sobrevive até hoje). Estas cidades,
e os gregos que se estabeleceram nelas, levaram a cultura grega ao centro
das antigas civilizações da Mesopotâmia.
Os gregos não foram apenas imperialistas militares, mas também
culturais. Os soldados e os colonizadores gregos levaram seu estilo de
vida – idioma, arte, arquitetura, literatura e filosofia –
ao Oriente Médio. Quando a cultura grega se fundiu com a do Oriente
médio, criou um híbrido cultural – o Helenismo (Hélade
é a palavra grega para Grécia) – cujo impacto seria
muito maior e duraria muito mais tempo que o breve período do império
de Alexandre. Seja através da batalha campal, arte, arquitetura
ou filosofia, a influência do Helenismo sobre o Império Romano,
Cristianismo e o Ocidente foi monumental. Porém é a interação
entre os judeus e os gregos e o impacto do Helenismo sobre o Judaísmo
que queremos examinar mais de perto.
Desvio para Israel
Durante sua campanha militar contra a Pérsia, Alexandre fez um
desvio para o sul, conquistando Tiro e depois o Egito, passando pelo local
que hoje é Israel. Há uma história fascinante sobre
o primeiro encontro de Alexandre com os judeus de Israel, que eram súditos
do Império Persa.
A narrativa sobre o primeiro encontro de Alexandre com os judeus está
registrada tanto no Talmud (Yoma 69a) quanto no Livro da Antiguidade do
historiador judeu Josephus (XI, 321-47). Em ambas as narrativas o Sumo
Sacerdote do Templo em Jerusalém, temendo que Alexandre destruísse
a cidade, saiu para encontrá-lo antes que ele chegasse à
cidade. A narrativa descreve como Alexandre, ao avistar o Sumo Sacerdote,
desmontou e inclinou-se perante ele. (Alexandre raramente se curvava para
alguém). Na narrativa de Josephus, quando seu general Parmerio
lhe pediu para explicar sua atitude, Alexandre respondeu: “Eu não
me inclinei perante ele, mas perante aquele D’us que o honrou com
o Sumo Sacerdócio; pois eu vi esta mesma pessoa num sonho, com
esta mesma roupa.”
Alexandre interpretou a visão do Sumo Sacerdote como um bom presságio
e assim, poupou Jerusalém, absorvendo pacificamente a Terra de
Israel em eu crescente império. Como um tributo à sua conquista
benigna, os Sábios decretaram que o primeiro recém-nascido
judeu daquela época receberia o nome de Alexandre – que até
hoje permanece sendo um nome judaico. E a data do encontro entre eles,
25 de Tevet, foi declarada um feriado de menor importância.
Judeus e gregos
Assim começou o relacionamento mais complexo e interessante do
mundo antigo. Os gregos jamais tinham conhecido um povo como os judeus,
e os judeus jamais tinham visto alguém como os gregos. A interação
inicial pareceu ser bastante positiva. Para os judeus, os gregos eram
uma cultura exótica e nova do Ocidente.
Tinham uma profunda tradição intelectual que produzira filósofos
como Sócrates, Platão e Aristóteles (que foi tutor
de Alexandre durante dois anos). Seu amor pela sabedoria, ciência,
arte e arquitetura os destacava de outras culturas que os judeus conheciam,
O idioma grego era considerado tão belo que o Talmud por vezes
o chamou de mais bonita de todas as linguagens e os Rabinos decretaram
até que um Rolo da Torá fosse escrito em grego.
Os gregos jamais tinham conhecido alguém como os judeus –
a única nação monoteísta do mundo, com um
conceito ímpar de um D’us bom e infinito que cuida da criação
e intervêm na História. Os judeus tinham tradições
filosóficas e legais profundas e complexas. Tinham taxas de alfabetização
e infra-estrutura de bem-estar social incomparável no mundo antigo.
Os gregos ficaram tão fascinados com os judeus que se tornaram
o primeiro povo a traduzir a Bíblia em outro idioma quando o Rei
Ptolomeu II (cerca de 250 AEC) forçou 70 Rabinos a traduzirem a
Bíblia Hebraica em grego (conhecida como Septuaginta, que significa
“70” em grego).
Dois impérios gregos surgiram no Oriente Médio depois da
morte de Alexandre: os Ptolomeus no Egito e os Selêucidas na Síria.
A Terra de Israel era a fronteira entre estes dois impérios em
guerra. Inicialmente, os judeus estavam sob o controle dos Ptolomeus,
mas depois da Batalha de Panias em 198 AEC, Israel viu-se sob o domínio
dos Selêucidas e seu rei, Antiochus.
Enquanto grande parte da camada superior da sociedade judaica, juntamente
com o restante da população do mundo Mediterrâneo,
tivesse prontamente abraçado a cultura helenista (alguns a ponto
de denunciar sua identidade judaica), a grande maioria dos judeus permaneceu
fiel ao Judaísmo. Esta “rejeição” ao
estilo de vida helenista era visto com grande hostilidade por muitos gregos
e considerada uma forma de rebelião. As exóticas diferenças
que tinham servido certa vez como fonte de atração entre
as duas culturas agora criara a faísca para uma guerra cultural.
Para tornar as coisas piores, Israel era a fronteira entre estes dois
impérios gregos, e os judeus, que se recusavam a assimilar, eram
vistos como uma população desleal numa parte estrategicamente
vital do Império Selêucida.
Seria um equívoco enxergar o conflito como puramente gregos versus
judeus. A tensão interna na comunidade judaica contribui muito
para o conflito. Grande parte dos judeus helenizados tomaram sobre si
a tarefa de “ajudarem” seus irmãos mais tradicionais,
“arrastando-os” daquilo que consideravam como crenças
primitivas para o mundo “moderno” da cultura grega. (Este
padrão tem se repetido muitas vezes na história judaica
– na Rússia do século 19 e na Alemanha, para citar
apenas alguns exemplos.) Para ajudá-los em seus esforços,
estes judeus helenizados pediram a ajuda de seus aliados gregos, chegando
a aliciar o próprio rei, Antiochus IV Epifanes, ao conflito.
Na metade do século, Antiochus emitiu um decreto inédito
até então naquele mundo antigo multicultural e tolerante
no sentido religioso: Ele proibiu a religião de outros povos. Baniu
o ensinamento e prática do Judaísmo. O Livro dos Macabeus
(provavelmente escrito por um cronista judeu no início do Primeiro
Século AEC) assim o descreve:
“Não muito depois disso, o rei enviou um senador ateniense
para obrigar os judeus a abandonarem as leis de seus antepassados e deixarem
de viver pelas leis de D’us, e também a profanarem o Templo
em Jerusalém e chamá-lo de Templo do Zeus Olímpico.”
(Macabeus II 6:1-2).
Brutais perseguições gregas aos judeus desencadearam a primeira
guerra religiosa/ideológica da História – a revolta
dos Macabeus. O levante foi liderado pela família sacerdotal de
Matitiyáhu e seus cinco filhos, dos quais o mais conhecido era
Judah. Contra todas as expectativas, o exército de guerrilha dos
Macabeus derrotou os exércitos gregos, muito maiores, mais bem
equipados e profissionais. Após três anos de lutas, Jerusalém
foi libertada. O Templo, que tinha sido profanado, foi purificado e rededicado
a D’us. Foi durante este período que ocorreu o milagre de
Chanucá. Uma pequena ânfora de azeite usada pelo Sumo Sacerdote
para acender a Menorá no Templo, que teria sido suficiente para
apenas um dia, ardeu milagrosamente por oito dias.
O conflito se arrastou por diversos anos ainda, custando a vida de muitos
judeus, incluindo Judah Macabeu e vários de seus irmãos,
Por fim, os gregos foram derrotados e o Judaísmo sobreviveu.
Alguns argumentam que um milagre ainda maior
que o do azeite foi a vitória militar dos judeus sobre o Império
Grego. Porém a luz de Chanucá é o símbolo
da verdadeira vitória – a sobrevivência da luz espiritual
do Judaísmo. A milagrosa sobrevivência do Judaísmo
permitiu que os judeus tivessem um impacto muito maior sobre o mundo que
o tamanho minúsculo do povo judeu, dando ao mundo o conceito de
um único D’us e os valores da santidade da vida, justiça,
paz e responsabilidade social, que são os alicerces morais e espirituais
da civilização ocidental.Rabi Ken Shapiro é originário
de New Rochelle, NY. Diplomou-se no Vassar College com BA em Russo e Literatura,
e fez estudos de pós-graduação no Instituto Pushkin
em Moscou. Teve sua ordenação rabínica na Yeshivá
Aish HaTorah em Jerusalém, e Mestrado em História no Vermont
College da Universidade Norwich. Rabi Spiro é também guia
de turismo licenciado pelo Ministério do Turismo de Israel. Mora
em Jerusalém com a esposa e cinco filhos, onde trabalha como palestrante
e pesquisador no programa de divulgaç∫ao da Aish HaTorah. |