Tefilin, talit, sidur e... durex!

  Relato Por Steve Hyatt
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Ainda me lembro do dia em que Rabi Vogel entrou no meu escritório em Wilmington com um grande pacote debaixo do braço. Com um sorriso no rosto, ele entregou-me e me pediu para abrir.

Com a alegria de um menino na primeira noite de Chanucá, rasguei o papel e ali, à minha frente, estava o mais lindo conjunto de talit, tefilin e sidur que eu já vira. Eram os mais bonitos porque eram meus.

Quatro meses antes, Rabi Vogel tinha me emprestado talit, tefilin e sidur para que eu pudesse rezar Shacharit em casa. Após rezar regularmente, informei ao Rabino que eu estava pronto para voar ‘solo” e perguntei se ele me ajudaria a comprar o meu próprio conjunto. Ele disse que levaria algumas semanas, mas ficaria honrado em ajudar-me.

Oh, que linda visão. O talit era enorme e de um branco que saltava aos olhos. O couro do sidur era brilhante e as páginas estalavam quando eu as virava. E o tefilin… ah, o tefilin era maravilhoso. O cheiro do couro era penetrante! Eu mal podia esperar até a manhã seguinte, quando poderia envolver-me no meu talit e tefilin pela primeira vez.

Eu estava tão empolgado que mal dormi aquela noite. Lembro-me de ter olhado pela janela, esperando o sol aparecer acima da linha do horizonte. Quando finalmente chegou a hora, corri escada abaixo e coloquei-os lentamente, saboreando cada momento! Depois de colocar o tefilin no braço e cabeça e recitar as bênçãos apropriadas, vi meu reflexo no espelho. Por um momento, fiquei surpreso, porque eu parecia exatamente o meu falecido avô Fritz Lobenstein. O mesmo tipo de cabeça, o mesmo cabelo farto e ondulado, o tefilin posicionado da mesma forma na cabeça e braço, eu poderia ter jurado que estava olhando para “Poppa”.De alguma forma, o simples ato de colocar meu talit e tefilin parecia nos aproximar. Senti-me repleto com uma sensação de calor e satisfação que era impossível descrever.

A princípio a família e os amigos estavam um pouco cépticos de que eu conseguiria me disciplinar e colocar tefilin e talit todas as manhãs. No entanto, desde o começo foi moleza! Disciplinar-me para cortar da minha dieta bolo de chocolate, batata frita e sorvete foi difícil. Mas levantar um pouco mais cedo pela manhã e rezar nunca foi um desafio. Descobri que recitar o Modê Ani logo que acordava, colocar tefilin e talit e rezar era uma experiência revigorante. Quando você começa o seu dia exatamente como seus antepassados têm feito há mais de 3 mil anos, não pode deixar de sentir-se conectado a eles, bem como cheio de energia, entusiasmado e pronto para o dia. Encontrei uma confiança e paz interior que jamais pensei ser possível.

Uma bênção em minha vida é meu trabalho. Ele me proporciona a maravilhosa oportunidade de visitar diversas regiões dos Estados Unidos. E onde quer que eu vá, meus “companheiros” constantes são meu talit, tefilin e sidur. No decorrer dos anos meus “companheiros” perderam parte do seu brilho original. O uso constante de certa forma empanou o brilho do meu talit. As correias do meu tefilin perderam um pouco do antigo esplendor e a capa do meu sidur está tão surrada que preciso cobri-la com fita adesiva para impedir que se desmanche.

Mesmo assim, estes velhos amigos me dão mais conforto e alegria hoje que quando o Rabino os trouxe para mim. Eles me confortaram durante alguns vôos perigosos, me deram confiança enquanto eu rezava em aeroportos lotados, e me trouxeram grande satisfação quando eu rezava com meus novos amigos nos Batei Chabad que frequentei pelo país. O uso diário tinha desgastado sua fachada original, mas a verdadeira beleza apenas aumentava com o passar do tempo.

Toda vez que eu coloco mais um pedaço de fita adesiva na capa do meu sidur, numa tentativa inútil de mantê-lo intacto, tenho uma sensação poderosa de realização. A cada vez que acordo numa cidade diferente e coloco meu tefilin, sei que Hashem está comigo e com Sua ajuda conseguirei vencer os desafios que surgirão naquele dia. O júbilo que resulta da reza com aquelas duas pequenas caixas pretas pela manhã é indescritível.

Quando eu era jovem e ajudava meu pai a tirar as ervas daninhas do jardim, costumava reclamar o dia inteiro sobre o trabalho que aquilo dava. Papai gostava, e sempre faz questão de dizer: “Isso é trabalho somente quando você sente que tem algum outro lugar para ir. Se você prefere estar aqui, o trabalho se transforma em diversão.” Levantar e colocar talit e tefilin é como estar no jardim com meu pai. Somente é difícil quando você sente que preferiria estar fazendo alguma outra coisa. De alguma forma, o próprio ato de colocá-los conecta você com sua neshamá, sua alma. Desde a primeira vez que você os coloca, sente que é o certo, e que é algo que deve fazer. Você pode sentir que é alguma coisa pela qual a sua alma clama. O próprio ato o acalma, ajuda a colocar a vida em perspectiva e provoca uma sensação de alegria e satisfação incomparáveis.

Mas não aceite só a minha palavra. Sou um Diretor de Recursos Humanos por profissão, não um homem de vendas. Faça algo maravilhoso por si mesmo. Procure o seu Rabino de Chabad local, pergunte a ele se pode lhe emprestar um par de tefilin, talit e sidur. Se você precisar de ajuda com o tefilin ele ficará feliz e entusiasmado em mostrar-lhe como colocar. Então coloque-os de domingo a sexta-feira durante duas semanas. Ao final da segunda semana você não terá vontade de devolvê-los. Na segunda-feira seguinte estará no telefone, pedindo ao Rabino que encomende os seus. E depois de algum tempo, quando você estiver colocando um pedaço durex na capa solta do seu sidur, saberá exatamente o que estou falando.

Vá em frente; dê aquele telefonema!

       
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