|
Ainda me lembro
do dia em que Rabi Vogel entrou no meu escritório em Wilmington
com um grande pacote debaixo do braço. Com um sorriso no rosto,
ele entregou-me e me pediu para abrir.
Com a alegria de um menino na primeira noite de Chanucá, rasguei
o papel e ali, à minha frente, estava o mais lindo conjunto de
talit, tefilin e sidur que eu já vira. Eram os mais bonitos porque
eram meus.
Quatro meses antes, Rabi Vogel tinha me emprestado talit, tefilin e sidur
para que eu pudesse rezar Shacharit em casa. Após rezar regularmente,
informei ao Rabino que eu estava pronto para voar ‘solo” e
perguntei se ele me ajudaria a comprar o meu próprio conjunto.
Ele disse que levaria algumas semanas, mas ficaria honrado em ajudar-me.
Oh, que linda visão. O talit era enorme e de um branco que saltava
aos olhos. O couro do sidur era brilhante e as páginas estalavam
quando eu as virava. E o tefilin… ah, o tefilin era maravilhoso.
O cheiro do couro era penetrante! Eu mal podia esperar até a manhã
seguinte, quando poderia envolver-me no meu talit e tefilin pela primeira
vez.
Eu estava tão empolgado que mal dormi aquela noite. Lembro-me de
ter olhado pela janela, esperando o sol aparecer acima da linha do horizonte.
Quando finalmente chegou a hora, corri escada abaixo e coloquei-os lentamente,
saboreando cada momento! Depois de colocar o tefilin no braço e
cabeça e recitar as bênçãos apropriadas, vi
meu reflexo no espelho. Por um momento, fiquei surpreso, porque eu parecia
exatamente o meu falecido avô Fritz Lobenstein. O mesmo tipo de
cabeça, o mesmo cabelo farto e ondulado, o tefilin posicionado
da mesma forma na cabeça e braço, eu poderia ter jurado
que estava olhando para “Poppa”.De alguma forma, o simples
ato de colocar meu talit e tefilin parecia nos aproximar. Senti-me repleto
com uma sensação de calor e satisfação que
era impossível descrever.
A princípio a família e os amigos estavam um pouco cépticos
de que eu conseguiria me disciplinar e colocar tefilin e talit todas as
manhãs. No entanto, desde o começo foi moleza! Disciplinar-me
para cortar da minha dieta bolo de chocolate, batata frita e sorvete foi
difícil. Mas levantar um pouco mais cedo pela manhã e rezar
nunca foi um desafio. Descobri que recitar o Modê Ani logo que acordava,
colocar tefilin e talit e rezar era uma experiência revigorante.
Quando você começa o seu dia exatamente como seus antepassados
têm feito há mais de 3 mil anos, não pode deixar de
sentir-se conectado a eles, bem como cheio de energia, entusiasmado e
pronto para o dia. Encontrei uma confiança e paz interior que jamais
pensei ser possível.
Uma bênção em minha vida é meu trabalho. Ele
me proporciona a maravilhosa oportunidade de visitar diversas regiões
dos Estados Unidos. E onde quer que eu vá, meus “companheiros”
constantes são meu talit, tefilin e sidur. No decorrer dos anos
meus “companheiros” perderam parte do seu brilho original.
O uso constante de certa forma empanou o brilho do meu talit. As correias
do meu tefilin perderam um pouco do antigo esplendor e a capa do meu sidur
está tão surrada que preciso cobri-la com fita adesiva para
impedir que se desmanche.
Mesmo assim, estes velhos amigos me dão mais conforto e alegria
hoje que quando o Rabino os trouxe para mim. Eles me confortaram durante
alguns vôos perigosos, me deram confiança enquanto eu rezava
em aeroportos lotados, e me trouxeram grande satisfação
quando eu rezava com meus novos amigos nos Batei Chabad que frequentei
pelo país. O uso diário tinha desgastado sua fachada original,
mas a verdadeira beleza apenas aumentava com o passar do tempo.
Toda vez que eu coloco mais um pedaço de fita adesiva na capa do
meu sidur, numa tentativa inútil de mantê-lo intacto, tenho
uma sensação poderosa de realização. A cada
vez que acordo numa cidade diferente e coloco meu tefilin, sei que Hashem
está comigo e com Sua ajuda conseguirei vencer os desafios que
surgirão naquele dia. O júbilo que resulta da reza com aquelas
duas pequenas caixas pretas pela manhã é indescritível.
Quando eu era jovem e ajudava meu pai a tirar as ervas daninhas do jardim,
costumava reclamar o dia inteiro sobre o trabalho que aquilo dava. Papai
gostava, e sempre faz questão de dizer: “Isso é trabalho
somente quando você sente que tem algum outro lugar para ir. Se
você prefere estar aqui, o trabalho se transforma em diversão.”
Levantar e colocar talit e tefilin é como estar no jardim com meu
pai. Somente é difícil quando você sente que preferiria
estar fazendo alguma outra coisa. De alguma forma, o próprio ato
de colocá-los conecta você com sua neshamá, sua alma.
Desde a primeira vez que você os coloca, sente que é o certo,
e que é algo que deve fazer. Você pode sentir que é
alguma coisa pela qual a sua alma clama. O próprio ato o acalma,
ajuda a colocar a vida em perspectiva e provoca uma sensação
de alegria e satisfação incomparáveis.
Mas não aceite só a minha palavra. Sou um Diretor de Recursos
Humanos por profissão, não um homem de vendas. Faça
algo maravilhoso por si mesmo. Procure o seu Rabino de Chabad local, pergunte
a ele se pode lhe emprestar um par de tefilin, talit e sidur. Se você
precisar de ajuda com o tefilin ele ficará feliz e entusiasmado
em mostrar-lhe como colocar. Então coloque-os de domingo a sexta-feira
durante duas semanas. Ao final da segunda semana você não
terá vontade de devolvê-los. Na segunda-feira seguinte estará
no telefone, pedindo ao Rabino que encomende os seus. E depois de algum
tempo, quando você estiver colocando um pedaço durex na capa
solta do seu sidur, saberá exatamente o que estou falando.
Vá em frente; dê aquele telefonema! |