Oculto e revelado

  Por A. H. Glitzenstein
De Otzar Sippurei Chabad, compilado por Rabino A. H. Glitzenstein, adaptado por Yanki Tauber
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É uma tradição que em toda geração haja tsadikim ocultos (justos) que escondem sua grandeza dos olhos dos homens e vivem entre nós disfarçados como pessoas simples e ignorantes.

Rabi Gershon Kitover certa vez pediu ao seu famoso cunhado, Rabi Israel Báal Shem Tov, para mostrar-lhe um desses justos ocultos. A princípio, o Báal Shem Tov recusou, mas Rabi Gershon insistiu até que o mestre chassídico finalmente cedeu.

"Nesta sexta-feira à noite na sinagoga, olhe entre a turba de mendigos esperando perto da porta para serem convidados à refeição do Shabat. Um deles será um tsadic oculto," disse o Báal Shem Tov a Rabi Gershon, e descreveu o mendigo justo. "Mas você precisa prometer não deixar transparecer que conhece sua verdadeira identidade."

Rabi Gershon identificou prontamente o tsadic em disfarce, e convidou-o a partilhar suas refeições do Shabat. Porém, embora examinasse cada palavra e ação do convidado, não pôde discernir nada além do comportamento usual de um mendigo andarilho. Finalmente, não resistiu mais à tentação de pedir ao homem que agraciasse a refeição com algumas palavras de Torá.

"Eu? Dizer palavras de Torá? Um mendigo, filho de mendigos, que mal viu o interior de uma cheder? O que lhe deu esta idéia?" perguntou o convidado, uma nota de suspeita em sua voz. Rabi Gershon rapidamente deixou o assunto de lado.

No dia seguinte, porém, durante o almoço, Rabi Gershon não conseguiu resistir a outra tentativa. Finalmente, pensou ele, tenho um dos notáveis da geração à minha mesa – eu não deveria aprender algo com ele? Mais uma vez, pressionou o convidado a revelar alguma coisa da sua grandeza tão bem oculta. Dessa vez, o tsadic oculto pareceu hesitar um pouco, como se tentado a ceder ao pedido do anfitrião, mas somente por um momento fugaz; ele imediatamente recuperou sua pose de mendigo ignorante da noite anterior, protestando que aquele pedido era ridículo.

Mas na terceira refeição de Shabat, Rabi Gershon parecia finalmente ter adquirido alguma vantagem. Quando mais uma vez pediu ao convidado para iluminar a mesa com algumas palavras de Torá, a face do sagrado mendigo se transformou. Seus olhos começaram a reluzir com uma luz Divina, e suas feições grosseiras assumiram uma graça sublime. Abriu a boca para falar, mas antes que uma só palavra saísse dos seus lábios, ele de repente fechou-os, e com esforço óbvio, deixou seu assento e saiu da sala rapidamente. Quando Rabi Gershon conseguiu recuperar-se para correr atrás dele, o homem já tinha sumido.

No dia seguinte, quando Rabi Gershon foi procurar o Báal Shem Tov, ficou chocado por saber que seu cunhado estivera doente durante todo o Shabat. Na refeição da sexta-feira à noite, os discípulos do Báal Shem Tov tinham notado que algo estava faltando; no dia seguinte a situação tinha piorado e, a certa altura, quase no encerramento do Shabat, parecia que a própria vida dele estava em perigo. Porém a crise tinha passado, graças a D'us, e ele estava recuperando suas forças.

Quando Rabi Gershon entrou na sala do cunhado, o mestre chassídico disse a ele: "O que você fez? Por sua causa, quase parti deste mundo.

"Veja, a alma de todo justo tem duas faces – uma oculta e a outra revelada. O tsadic que comeu à sua mesa neste Shabat é meu "gêmeo" cósmico, cuja grandeza deve permanecer escondida enquanto eu servir abertamente como mestre e guia a serviço do Todo Poderoso. Porém a tentação de revelar-se para um tsadic oculto é muito forte, pois toda pessoa deseja influenciar abertamente aquilo que a cerca. Se ele o tivesse feito, minha alma teria de ser escondida do mundo; como já sou bastante conhecido, isso significa que eu teria de deixar a minha vida atual.
Felizmente, ele refreou-se bem a tempo."

       
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