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Quando
me mudei para Reno, Nevada, fiquei encantado ao descobrir que a Sinagoga
Chabad ficava apenas a três quilômetros de distância,
e pela primeira vez na minha vida eu poderia caminhar até a sinagoga
no Shabat.
Durante minha caminhada semanal no Shabat passo por diversos distritos
rurais bastante pitorescos. Na metade da jornada, avisto uma enorme árvore,
uma sempre-verde que provavelmente tem centenas de anos e dezenas de metros
de altura. Durante os últimos quatro anos tenho observado algo
estranho e, para mim, bastante místico. Todo Shabat, exatamente
às 9:20 da manhã, um casal de gaviões Cauda Vermelha
está majestosamente pousado no topo desta árvore imensa.
Ambos olham para minha família, meus amigos e eu quando passamos,
e então, sem exceção, eles voam na direção
da sinagoga. Isso não acontece uma vez ou outra, ou várias
vezes por mês. Acontece todas as vezes que passo debaixo da árvore
no Shabat, às 9:20 h. Seja verão, inverno, primavera ou
outono, sempre posso contar com meus "amigos" me esperando e
depois voando enquanto passo por ali.
Quando contei às pessoas este interessante fenômeno, todos,
incluindo minha família, ouviram educadamente e então disseram
que eu estava exagerando. Até meu melhor amigo, Baruch Smith, olhou
para mim um tanto incrédulo. Isso até que ele passou uma
noite de Shabat em minha casa e na manhã seguinte caminhou comigo
para a sinagoga. Agora, Baruch acredita. Como os gaviões estavam
ali somente no Shabat, achei que tinha de haver uma explicação
bíblica para a aparição deles. Deveriam ser meus
anjos guardiães, ou anjos disfarçados. Pedi a todos uma
explicação mas ninguém conseguiu equiparar minha
experiência com uma explicação espiritual definitiva.
Com o passar dos anos, desisti de buscar uma explicação
e apenas apreciava esta singular experiência do Shabat. Comecei
até a acenar para meus "amigos", desejar-lhes "Bom
Shabat" toda vez que ali passava. Quando meus pais se mudaram para
Reno, e começamos a caminhar juntos até a sinagoga, eu "os
apresentei" aos gaviões, e eles se maravilharam com sua aparição
regular todo Shabat. Embora eu tivesse me resignado a pensar que não
deveria haver uma explicação espiritual, ainda tinha uma
incômoda necessidade de entender por que eles estavam sempre ali
exatamente quando passávamos nas manhãs do Shabat. Mal sabia
eu que a resposta tão esperada estava logo ali.
Há alguns meses, minha Tia Meredith e Tio John vieram de Boston
para passar alguns dias conosco. Quando chegaram, soubemos que meus tios
jamais tinham tido um jantar de Shabat na sexta-feira à noite,
portanto minha esposa Linda e eu estávamos determinados a fazer
de tudo para mostrar a eles o verdadeiro júbilo encontrado na mesa
do Shabat. Não é segredo na família que Tio John
adora sopa com kneidalach, bolinhas de matsá, portanto Mamãe
preparou um caldeirão da sua receita super-secreta. Tio John não
cabia em si quando Mamãe colocou a tigela fumegante na frente dele.
O sorriso em seu rosto iluminava a sala inteira.
Sentados ao redor da mesa, minha tia, meu tio, e meus pais partilhavam
histórias sobre o que fora crescer e trabalhar em nossa cidade
natal, New London, em Connecticut. Rimos, choramos, e finalmente todos
foram dormir com sorrisos no rosto, alegria no coração e
estômagos lotados com a sopa de kneidalach de mamãe.
Na manhã seguinte, estávamos sentados ao redor da mesa do
desjejum e contei ao meu tio sobre o fenômeno dos dois gaviões.
Tio John, um observador de pássaros de primeira classe, ficou intrigado
pela minha história e disse: "Rapaz, eu daria tudo para vê-los
de perto." Com um sorriso nos lábios, eu respondi: Bem, por
que não vai conosco à sinagoga e no caminho eu lhe mostro
os gaviões?" Ora, qualquer que seja o motivo, Tio John jamais
tinha entrado numa sinagoga no Shabat. Então ele estava um pouco
relutante em começar agora. Educadamente, declinou da minha oferta.
Cerca de 30 minutos depois, quando Papai e eu estávamos prontos
para sair, Tio John mudou de idéia e disse que, se a oferta ainda
estivesse de pé, ele adoraria ir conosco. Como um ávido
observador de pássaros ele realmente queria ver os gaviões
e também estava curioso sobre o que meu pai e eu achávamos
de tão agradável no Beit Chabad que ficava ao pé
da cadeia de montanhas de Sierra Nevada.
Saímos de casa exatamente como sempre fazemos, às 9 da manhã.
Ao longo do caminho encontramos alguns amigos e continuamos nossa caminhada
montanha abaixo rumo à sinagoga. Exatamente às 9:20, para
grande surpresa de meu tio, nossos amigos emplumados apareceram voando
e pousaram na árvore. Todos paramos para contemplar aquela visão
maravilhosa e refletir sobre como continuava a acontecer Shabat após
Shabat. Após olharmos para nossos amigos de todos os ângulos,
tivemos de puxar Tio John para continuar nossa jornada. E como se estivessem
esperando pela deixa, os gaviões voaram na direção
da sinagoga.
Quando lá chegamos, apresentei meu tio a todos e o Rabino Cunin
começou a reza matinal. O serviço de duas horas passou voando
e antes que o último " Shabat Shalom" fosse pronunciado,
trouxemos mesas, fizemos o kidush e começamos a entoar canções
e apreciar a maravilhosa comida da Rebetsin. Quando alguém colocou
uma panela de cholent em frente ao meu tio, ele perguntou-me o que era.
Disse a ele que era cholent, um prato básico de muitos almoços
de Shabat. Ele provou cepticamente uma colherada, sorriu e comeu o restante
com grande prazer, e depois pediu para repetir! Mais um tesouro do Shabat
descoberto! Quando chegou a hora de ir embora, meu tio falou que entendia
por que meu pai e eu éramos atraídos à sinagoga.
Disse que as pessoas eram maravilhosas, o rabino agradável e receptivo,
e o cholent era ímpar!
A caminho de casa nossos amigos emplumados voaram até uma árvore
próxima como que nos desejando uma boa volta para casa, e depois
voaram para longe. Meu tio de 80 anos, meu pai de 77 e eu caminhamos o
último quilômetro de volta montanha acima com um passo firme
e felizes. Não pude deixar de pensar que Reno realmente era um
lugar especial. Um lugar onde no espaço de dezoito horas, um judeu
de 80 anos podia se aquecer à luz das velas do Shabat, comer sopa
de bolas de matsá, ir à sinagoga, comer cholent e ver gaviões
de cauda vermelha de perto e pessoalmente; e tudo isso pela primeira vez.
Depois que meus tios partiram, finalmente entendi a missão dos
gaviões. Eles tinham esperado pacientemente Shabat após
Shabat, ano após ano, até Tio John aparecer. Estavam lá
para seduzi-lo e guiá-lo em sua primeira caminhada à sinagoga.
Eles não estavam me vigiando, estavam esperando por ele. Nunca
tinham sido meus gaviões, sempre tinham sido os gaviões
de Tio John. Se eu não tivesse uma história sobre este fenômeno
inacreditável, Tio John talvez não ficasse intrigado o suficiente
para fazer a caminhada de seis quilômetros, ida e volta, à
sinagoga.
Se esta história não for suficientemente inacreditável,
é interessante notar também que meu pai e eu temos passado
pela imensa árvore sempre-verde em cinco manhãs de Shabat
consecutivas desde que Tio John foi embora, e nunca mais vimos os gaviões.
Coincidência? Não creio.
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