Na própria pele

 

Por Shoshanah Brombacher

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Numa pequena cidade vivia um homem muito rico e muito avarento. Toda vez que o rabino local batia à sua porta para angariar fundos para os pobres, o avarento convidava o rabino a entrar, oferecia uma xícara de chá e conversava sobre seus negócios. Quando o rabino começava a falar sobre a provação dos necessitados durante o inverno, o avarento o cortava dizendo que os pobres gostam de reclamar – a vida deles não era tão má assim como o rabino pensava. De qualquer forma, ele não tinha dinheiro na casa no momento, e não poderia dar coisa alguma naquele dia. O rabino poderia voltar em outra ocasião?

O avarento então acompanhava o rabino até a porta, voltava para sua mansão aquecida e confortável, sentando-se em sua poltrona favorita ao pé da lareira, contente e satisfeito consigo mesmo. Porém o rabino não estava satisfeito. Os pobres não tinham dinheiro para comer ou para comprar lenha, e estavam passando fome e frio.

Certa vez, o rabino bateu à porta do avarento. Era uma noite gelada, e a neve cobria as ruas desertas. O avarento convidou o rabino para entrar, como de costume. Porém o rabino recusou.

"Não", disse ele, "não me demorarei." E perguntou sobre a saúde do avarento, pela saúde da sua família, sobre os negócios, e falou durante muito tempo sobre os assuntos da comunidade. O avarento, obviamente, não podia mandar o rabino embora, não seria educado. Porém ele estava se sentindo bem desconfortável. Tinha atendido à porta de chinelos, vestindo uma camisa fina e calças de pijama. O rabino, usando um casaco grosso debruado de pele, um chapéu lhe cobrindo as orelhas e pesadas botas de inverno agasalhando os seus pés, falava sem parar. Não, não queria entrar. Não, não era preciso, já estava de saída. Os pés do avarento começaram a congelar.

De repente ele entendeu. "Oh, Rabino! Aqueles pobres sem roupas quentes ou lenha para o inverno… Eu não sabia. Jamais imaginei que pudesse ser assim. Isso é horrível. Jamais pensei, sinceramente! Algo tem de ser feito!"

Ele entrou na casa e voltou com uma bolsa cheia de moedas de ouro. Queria voltar à sua lareira o mais rápido que pudesse. Precisava de um chá quente. O rabino agradeceu-lhe e aceitou o dinheiro. Ele, também estava gelado depois daquela longa conversa, mas não se importava. Os pobres teriam um bom inverno naquele ano.

A partir daí, aquele homem mudou suas maneiras. Tornou-se um contribuinte assíduo aos fundos para os pobres, as noivas, estudantes sem recursos, dinheiro para Pêssach e para muitas outras causas. Naquela noite, aprendera uma boa lição.

       
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