Gragger

 

Por Nissan Mindel – Extraído de O Segredo do Sucesso, publicado por Kehot.

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Num Purim há muitos anos, na cidadezinha de Vardik, na distante Rússia, todos estavam tristes e preocupados. Em vez de esperarem ansiosos pela alegria do feriado, temiam que toda a comunidade judaica estivesse para ser destruída. Quase parecia como os tempos do primeiro Purim – tão grande era o perigo.

O filho do poderoso Czar tinha saído para caçar nos bosques com um grupo de amigos. Eles tinham se perdido e por acaso chegaram à aldeia de Vardik. Todas as pessoas ficaram empolgadas por terem visitantes tão ilustres em seu meio. Deram a eles os melhores aposentos na estalagem local, a melhor comida, e bolos deliciosos.

No dia seguinte, o príncipe adoeceu de repente, e foi incapaz de voltar para casa. Mensageiros foram enviados ao Czar para relatar as más notícias. Em pouco tempo, o Czar e vários ministros importantes chegaram a Vardik.

Eles tinham levado numerosos médicos, que começaram imediatamente a examinar o príncipe. Todos tentaram curá-lo, mas nenhum conseguiu. O príncipe estava gemendo de dor. Seu rosto estava vermelho, e ele queimava de febre. Na maior parte do tempo, estava desacordado.

Recusava todo alimento e bebida. Sua própria vida estava em perigo. E então um dos ministros disse que era culpa dos judeus o príncipe estar doente, porque tinham lhe servido comida estragada. Isso, é claro, era ridículo e falso, mas todos estavam tão preocupados sobre a doença do príncipe que acreditaram no ministro.

Infelizmente, muitas vezes na história, quando havia algum tipo de problema, homens perversos colocavam a culpa em judeus inocentes.

E assim os judeus de Vardik ficaram muito assustados, pois sabiam que suas vidas poderiam estar em perigo.

Na véspera de Purim, dois anúncios foram colocados nas árvores. Informavam que se o príncipe não se recuperasse até o final do dia seguinte, todos os judeus de Vardik seriam considerados responsáveis. E também, como o príncipe estava muito fraco, todos deveriam fazer o mais absoluto silêncio.

Porém a Meguilá precisava ser lida. Os judeus se reuniram silenciosamente na pequena sinagoga da rua principal, bem ao lado da estalagem onde o príncipe jazia gravemente enfermo. Todos na sinagoga foram avisados de que deveriam sentar-se absolutamente imóveis, pois o Rabino iria ler em voz baixa. As crianças tinham sido avisadas para deixar seus graggers em casa, pois o anúncio tinha pedido silêncio. (Um gragger é um reco-reco - rash rash em hebraico - instrumento ruidoso usado durante a leitura da Meguilá; toda vez que o nome do perverso Haman é mencionado, as crianças sacodem os graggers e fazem bastante barulho, para mostrar seu desprezo por ele).

Os pais pareciam muito sérios e tristes. As mães, na seção das mulheres, estavam chorando. Não havia o espírito de Purim no ar, com toda a certeza.

De repente, ouviu-se um barulho horrível. O nome de Haman fora pronunciado, e o pequeno Yaacov estava sacudindo seu gragger com toda a força. Feliz, com um sorriso enorme nos lábios, ele estava tocando o gragger, alheio ao que estava ocorrendo a sua volta.

Todos ficaram apavorados. O Rabino continuou a leitura. As pessoas balançavam a cabeça. Faziam sinais a Yaacov para ficar quieto. Um homem quis tirar o gragger do menino, mas Yaacov não permitiu. Todos temiam que Yaacov fosse gritar e fazer muito barulho se fosse forçado a entregar seu gragger, portanto teve permissão de continuar com ele. Ninguém conseguia dizer-lhe para parar de usar o instrumento, pois durante a leitura da Meguilá é proibido falar. Estavam esperando que Yaacov entendesse e deixasse o gragger de lado.

As janelas do quarto onde estava o príncipe foram abertas para deixar entrar o ar fresco. Reunidos ao redor da cama estavam os ministros, os médicos e o Czar. Havia um silêncio total no aposento. O príncipe estava pálido e enfraquecido. Não tinha mais forças. Seus olhos estavam fechados e ele parecia não estar sequer respirando.

Mas o que era aquilo? Quem ousava quebrar a regra do silêncio? Todas as pessoas no quarto correram até a janela para ver quem era o culpado. No momento seguinte deram um pulo de susto, pois ouviram uma voz por trás deles pedindo um pouco de água.

Era o príncipe, completamente acordado. “Que barulho alegre eu escutei! O que é? Por favor, tragam-me um pouco de água. Nunca tive tanta sede na minha vida. Rápido, por favor. Sinto-me tão seco.”

O barulho do gragger tinha acordado o príncipe.

Dali a alguns dias ele estava bem, e toda a comitiva retornou ao palácio. Os judeus da cidade estavam salvos, e tiveram o Purim mais alegre que conseguiam se lembrar.

Yaacov foi o herói do dia. As pessoas o abraçavam e beijavam. Deram tantos nasherai [guloseimas, em idish]a ele que só terminou de comer em Pêssach.

       
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