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Existiu
certa vez um homem pobre que ouviu dizer que numa terra distante, do outro
lado do mar profundo e perigoso, havia um lugar onde os diamantes eram
tão abundantes como a poeira – tudo que se precisava fazer
era abaixar-se, pegar um punhado e encher os bolsos.
Após
uma viagem longa e difícil, o homem chegou àquela terra
maravilhosa. Tudo que tinha ouvido era verdade! Diamantes de todos os
tamanhos estavam espalhados pelo chão – até a areia
era formada por bilhões de minúsculas gemas faiscantes.
Um grupo de crianças se reuniu para observar o estranho homem que,
ajoelhado no chão, enchia os bolsos com pedras e pedrinhas, porém
nosso amigo estava muito ocupado para notar as crianças.
Para celebrar o fim de sua pobreza, o viajante encomendou um luxuoso jantar
no melhor restaurante da cidade. Sentindo-se generoso, ele entregou ao
garçom um pedra de tamanho pequeno e disse a ele que podia guardar
o troco. Nem é preciso dizer que teve de passar o resto da noite
lavando louça na cozinha para pagar pela sua extravagância.
Ele logo entendeu que aquelas pedras, que no seu país valeriam
milhões, eram totalmente inúteis. Aqui, a moeda corrente
usada pelo povo para pagar por bens e serviços era o peixe. De
fato, poucas pessoas se lembravam que o peixe era originalmente consumido
como alimento. Ninguém se incomodava com o mau cheiro que emanava
das carteiras, bolsos e armários com dinheiro.
Quando superou a decepção pelo seu sonho perdido, nosso
viajante revelou-se como um indivíduo ambicioso e esperto. Trabalhou
muito, investiu sabiamente, e não demorou muito para se tornar
o homem mais rico do país. Suas empresas estavam instaladas na
parte mais malcheirosa da cidade, e seus cofres guardavam milhares de
toneladas de peixe.
Finalmente, chegou a hora de voltar para casa. Ele telegrafou à
família: "Estou rico. Jamais precisaremos de mais nada na
vida. Preparem uma recepção triunfante." Ele carregou
sua fortuna numa frota de navios e empreendeu a longa viagem.
Familiares e amigos, vestidos com as melhores roupas, o esperavam ansiosos
no porto. Obviamente, não havia nada a ser feito com aquela carga
imensa de peixe estragado, exceto voltar alguns quilômetros e despejá-la
em alto mar.
Mais tarde naquele dia, quando ele estava se despindo para dormir, algumas
pedrinhas minúsculas caíram dos bolsos de suas roupas, espalhando-se
pelo chão da casa. Ele e a família nunca mais precisaram
de nada na vida.
A
alma, em sua morada lá no alto, ouve histórias maravilhosas
sobre uma terra distante. Para ali chegar, é preciso cruzar um
mar profundo e traiçoeiro. Enormes tesouros, assim é dito,
estão ali para serem apanhados à vontade. Uma moeda dada
para caridade, uma prece recitada, uma vela acesa para receber o Shabat,
uma palavra bondosa dirigida a um irmão com problemas – os
reinos mais elevados, sem corpos físicos e realidade material,
conseguem apenas sonhar com tais tesouros.
A alma desce ao mundo material e descobre que tudo aquilo que fora dito
sobre este lugar é verdadeiro. Os diamantes enchem as ruas. Para
onde quer que se volte, a pessoa tem oportunidades incontáveis
de cumprir mitsvot, fazer o bem e realizar atos Divinos. Basta apenas
curvar-se até o chão e encher os bolsos.
Porém esses "diamantes" não são valorizados
nesta terra estrangeira. "Riquezas" de um tipo inteiramente
diverso acenam; então, quando chega a hora de voltar, muitas almas
se vêem carregando enorme quantidade de carga inútil para
casa.
Porém nenhuma alma pode passar por nosso mundo sem apanhar pelo
menos algumas mitsvot ao longo do caminho – gemas que enriquecem
os céus e fazem a viagem ter valido a pena…
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