Um bom coração não basta

 

Por Rabino David Azulay

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Conversando recentemente com um jovem sobre a importância de praticarmos mitsvot em nosso dia-a-dia, ele retrucou dizendo que o importante na vida é ter um "bom coração, ser honesto e correto e respeitar o próximo; o resto é detalhe". Infelizmente, muitos gostam de fazer esta afir-mação; por isso vou contar aqui uma parábola que responde muito bem a estas argumentações.

Era uma vez uma cidade na qual todos os habitantes tinham um bom coração, melhor dizendo, tinham um "coração de ouro"!

O rabino deste povoado, já cansado de falar que apenas "bom coração" não é o suficiente, resolveu ensinar uma lição definitiva. Comprou um bode, degolou-o e o colocou na rua sem que ninguém percebesse. Cobriu-o com um tecido preto e começou a simular um pranto sentido. Dizia em voz alta: "Era um tsadic (justo), jamais roubou ninguém, tinha um coração de ouro, nunca fez mal a ninguém; ai! ai! ai, que perda."

Formou-se uma multidão em volta do corpo e todos que viam a tristeza do rabino participavam do luto pela morte do "justo". Depois de muitas lágrimas serem vertidas pela alma do falecido, chegou a hora de levar o corpo ao cemitério. O pranto continuava, pois havia centenas de pessoas presentes.

Quando baixaram o corpo na cova e retiraram o pano preto… para espanto de todos, era um bode. Todos ficaram atônitos, perguntando: "Que brincadeira é esta? Isso não se faz! Chorando pela morte de um bode!" – gritava uma senhora que tomara parte em toda a cerimônia. "Se soubesse que era um animal, não perderia meu tempo!" – reclamava a outra.

O rabino então pediu a palavra e disse:
"Esperem um pouco. Posso explicar. Afinal, este bode sempre foi bonzinho, tinha um "coração de ouro" e nunca roubou ninguém. Além de ser honesto e correto, nunca fez lashon hará (maledicência), nunca trouxe problemas a ninguém. Isso é muito raro hoje em dia."

A moral da história é que, se um bode, com suas limitações, "faz" tudo que é bom, nós, que possuímos uma alma Divina, um potencial infinito, não devemos nos contentar somente com o "coração de ouro"; é necessário que façamos muito mais, e assim seremos muito mais felizes e nos sentiremos muito mais realizados.

       
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