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Rabi
Zeira foi um dos mais importantes sábios na Babilônia. Lá
ele desfrutou uma boa vida porque estudou Torá com os maiores sábios
e também era altamente respeitado. Mas, Rabi Zeira suspirava por
Erets Yisrael e por seus sábios, portanto decidiu viajar à
Terra Santa, e estudar Torá com Rabi Yochanan, em Tibérias.
Porém, esta não foi uma decisão fácil. Naquele
tempo, a viagem da Babilônia a Erets Yisrael era longa e dura. Com
freqüência, um viajante tinha que se defender dos ladrões
de estrada e até mesmo de animais selvagens.
Mas, Rabi Zeira tinha outras razões para hesitar em partir. Seu
querido professor, Rabi Yehudat ben Yecheskel, havia se oposto a viajar
para a Terra de Israel, pois acreditava que o povo judeu era obrigado
a permanecer no exílio na Babilônia e que não lhe
era permitido voltar a Erets Yisrael. Além disso, Rabi Zeira encontrava-se
temeroso que seria indigno de morar na Terra Santa devido a algum pecado
do qual não teria se arrependido completamente.
Foi revelado em sonho, a Rabi Zeira, um sinal Divino de que todos os seus
pecados estavam perdoados, e ele decidiu ir para a Terra de Israel. Mas,
sentia-se amedrontado, pois seu professor poderia proibi-lo de partir
- uma ordem que seria incapaz de desrespeitar. Assim, passou a evitar
Rabi Yehudá e não foi despedir-se dele. Mas, Rabi Zeira
sentiu que não poderia partir sem ao menos ver seu professor pela
última vez. Então, um dia, Rabi Zeira observou Rabi Yehudá
falando com alguém.
Ao ver seu professor, e até mesmo conseguir ouvir algumas de suas
sábias palavras, Rabi Zeira sentiu que poderia deixar a Babilônia
e ir para Erets Yisrael.
No caminho, Rabi Zeira chegou a um rio que não tinha ponte. O barco,
que normalmente levava as pessoas através do rio não era
visto em parte alguma. Como atravessaria?
Localizou uma estreita prancha que se assentava através de todo
o rio e, em cima dela, havia uma corda que estava amarrada aos pilares,
um em cada lado do rio. Este percurso era para os pescadores e trabalhadores
que não tinham tempo de esperar pelo barco. Eles andavam para trás
e para frente da prancha há muitos anos e, por isso, não
sentiam mais dificuldade. Rabi Zeira não era um homem jovem, nem
tampouco forte. Contudo, agarrou a corda e começou a andar para
frente e para trás naquela molhada e escorregadia prancha. Algumas
vezes, os pés de Rabi Zeira escorregaram na água fria e
outras vezes quase caiu, mas segurou a corda de maneira firme, por todo
o caminho. Quando alcançou o outro lado do rio estava exausto e
ensopado.
Durante todo esse tempo, um homem estava de pé na margem do rio
observando Rabi Zeira atravessá-lo. Odiava os judeus e logo compreendeu
que Rabi Zeira era um judeu sábio, e gritou-lhe: "Vocês
são um povo atrevido! Desde o início, agiram negligentemente!
Antes mesmo de saberem o que estava escrito na Torá, vocês,
judeus, prometeram: ‘Nós faremos e nós escutaremos!’
Esta é a maneira correta de se agir? Não! Primeiro, você
escuta alguma coisa, e depois, decide se é o que você quer
fazer ou não até hoje, vocês são ainda um povo
atrevido, exatamente como sempre o foram!
"Por que não esperam pelo barco e atravessam o rio sem nenhum
perigo e até confortavelmente? Não, vocês têm
que atravessar imediatamente até mesmo correndo algum risco. Isso
não é ser atrevido?"
Rabi Zeira era paciente e não perdeu a calma com o homem rude.
"Estou no meu caminho para Erets Yisrael" – respondeu
suavemente. "Era o maior desejo de Moshê Rabênu e Aharon,
o Cohen, entrar em Erets Yisrael. Mas, a eles não foi permitido
chegar à Terra Santa. Quem sabe se eu conseguirei alcançar
Erets Yisrael? Não posso perder tempo para chegar lá! Cada
minuto a mais é muito precioso para mim. Como poderia esperar o
barco?"
Rabi Zeira finalmente alcançou Erets Yisrael a salvo. Estabeleceu-se
em Tibérias e estudou na grande yeshivá de Rabi Yochanan.
Fontes: Talmud Bavli,
Ketuvot 112a; Talmud Bavli, Shabat 41a (certo) |