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Era
uma tarde de domingo, 6 de julho de 2003, e eu estava chegando ao final
de uma bem sucedida missão de três semanas em Israel, dedicada
a reagir a uma nova onda de atividade missionária. Além
de palestras, novas entrevistas e encontros com funcionários do
governo, meus colegas e eu distribuímos milhares de cópias
de uma nova versão em hebraico do Livro editado por "Jews
for Judaism", "Judeus para o Judaísmo" – "A
Resposta Judaica aos Missionários". Naquele dia, eu estava
viajando de carro, com minha mulher Dvora e nosso filho, da cidade de
Tsefat, ao norte, para Tel Aviv.
Mais ou menos às 4 da tarde resolvemos fazer uma parada para descansar.
Pouco antes do trevo Zikhron Ya'akov, saímos da Rodovia 70 e paramos
em um pequeno restaurante a uns 15 metros da estrada. Quando descemos
do carro, ouvimos o som de pneus derrapando, e olhamos na direção
da rodovia, testemunhando um acidente horrível. Um táxi
branco em alta velocidade apanhou em cheio um pedestre que caminhava ao
longo do acostamento. Vi e ouvi o impacto, e observei quando o pedestre
foi atirado no ar e deu um salto mortal completo por cima do carro, caindo
de cabeça no asfalto.
Fui Capelão da Polícia por mais de dez anos no Departamento
Policial do Aeroporto de Los Angeles, e estava habituado a reagir em numerosas
situações de crise. Meu treinamento inclui Primeiros Socorros
e RCP, bem como Aconselhamento em Crises e Gerenciamento Avançado
do Estresse em Incidentes Críticos. Graças a este treinamento,
não entrei em pânico e dentro de segundos os anos de treino
afloraram, e assim pude ajudar no controle da situação.
As pessoas ao meu redor demonstravam choque e descrença. Gritei
para que elas procurassem ajuda. A minha ordem fê-las sair de seu
estupor e correram imediatamente para dentro do restaurante, em busca
de um telefone para chamar os serviços de Emergência.
Voltei minha atenção para a estrada, e corri aqueles quinze
metros, pulei o guard-rail e ajoelhei-me perto da vítima. Era uma
garota de uns 14 anos, que jazia de lado, imóvel, com sangue saindo
por trás da cabeça e da boca. A mim juntou-se Danny Eitan,
um policial aposentado e oficial do exército israelense, que estava
passando na direção oposta quando testemunhara o acidente.
Juntos, procuramos pelos sinais vitais. Quando percebi que tanto o pulso
quanto a respiração estavam ausentes, gritei que deveríamos
começar a RCP. Danny abriu as vias aéreas e fez a respiração,
enquanto eu fazia compressões no peito.
A cada vez que eu terminava as compressões eu gritava "Od
Paam" ("Outra Vez") para Danny, indicando que ele deveria
fazer duas respirações. Isso continuou por quatro vezes,
até que a revivemos.
Fiz uma avaliação física em busca de ferimentos adicionais
e não encontrei nenhuma outra perda de sangue externa de importância.
Um médico em visita ao país chegou à cena e eu, percebendo
que a vítima estava sendo monitorada, voltei minha atenção
às três amigas da jovem, que estavam ali de pé no
acostamento, tremendo incontrolavelmente, chorando e entrando em choque.
Tirei-as da cena do acidente e levei-as ao restaurante. Fiz com que se
sentassem, providenciei água e ofereci-lhes palavras de esperança.
Após descobrir que o primeiro nome da vítima era "Hadas",
fiz uma curta prece e deixei suas amigas sob os cuidados de minha mulher,
que é uma terapeuta diplomada.
Como estava muito quente ali fora, quisemos abrigar a vítima do
sol. Pedi que arranjassem algum tipo de material para proteger a vítima,
e uma canópia foi providenciada a partir de uma caixa grande de
papelão.
Voltando para o lado da vítima, amparei sua cabeça para
prevenir algum trauma. Ela ficava tentando empurrar minha mão,
mas com a ajuda de algumas pessoas que seguraram seus braços, pude
estabilizar sua cabeça e pescoço. Chamando-a pelo primeiro
nome, dissemos palavras de encorajamento até que a ambulância
chegou.
Em condição critica, Hadas foi levada a um hospital em Hadera
onde trataram seus ferimentos internos. Foi então transferida a
um centro traumatológico em Tel Aviv, para receber cuidados nos
ferimentos da cabeça. Após quatro dias de tratamento, foi
declarada "fora de perigo" e espera-se que tenha uma recuperação
completa. Graças ao meu treinamento, pude reagir profissionalmente,
porém foi mais do que treino que salvou sua vida.
Depois que a ambulância levara Hadas ao hospital, Danny, que não
é religioso, voltou-se para mim e declarou: "Não era
para eu estar neste local a uma hora dessas." Respondi que eu também
jamais poderia estar ali, nem mesmo em um milhão de anos. Na verdade,
o "atalho" que me fora ensinado naquela manhã por Rabi
Saul Leiter, do Instituto Accent em Tsefat, levou-me a nove estradas diferentes
até chegar ao local do acidente.
Ajudei Danny a colocar tefilin pelo mérito da completa recuperação
de Hadas e prometemos manter um vínculo de amizade pelo resto da
vida. Hadas está em casa agora, e segundo seus agradecidos pais
ela está a caminho da cura total.
A Divina Providência nos colocou no lugar certo na hora exata. Eu
pensava estar indo para Israel para combater missionários e salvar
almas judaicas da conversão; mal sabia que fora enviado para salvar
a vida de Hadas.
Rabi Ben-Tzion Kravitz mora em Los Angeles e é o fundador de "Jews
for judaism", Judeus para o Judaísmo Internacional.
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