Respeito aos pais II

 

Contos da Guemará - Talmud Yerushalmi, Peá

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Respeito através da atitude

Até que ponto deve-se mostrar respeito aos pais?

O respeito pelos pais também significa garantir que tenham comida, bebida e outras necessidades satisfeitas. Mas a atitude do que se tem ao fazer é mais importante do que o ato em si.
Houve certa vez um homem idoso que foi morar com o filho, fraco demais para viver sozinho.

Todo dia o filho alimentava o pai com frango recheado e outros pratos deliciosos, mas era evidente que não gostava de fazer isso. Ele o servia com a cara amarrada, mostrando ao pai que considerava aquilo um fardo do qual não podia escapar.

O pai gostaria de saber como o filho arrumava dinheiro para alimentá-lo com iguarias tão saborosas, mas ficava intimidado pela cara soturna do filho e comia em silêncio, sem lhe perguntar nada.

Certa vez, porém, não conseguiu mais se conter e comentou: "Meu filho, onde consegue tanto dinheiro para me servir pratos tão saborosos todos os dias? Você não é tão rico assim".

"Cale a boca!", o filho exclamou rispidamente, "coma o que lhe é oferecido, assim como faz o cachorro; quando comem não latem."

Profundamente insultado, o pai terminou a refeição em silêncio.

Nossos Sábios se referem a este filho quando dizem: "Uma pessoa pode servir frango recheado ao pai e ainda assim merecer o Guehinom!"Há outra forma de se demonstrar respeito aos pais.

Nossos Sábios disseram que uma pessoa pode colocar seu pai movendo um pesado moinho e fazê-lo trabalhar exaustivamente e ainda assim ganhar um lugar no olam habá.

Um governo maléfico certa vez decretou que cada família judia deveria mandar um homem para empurrar as pedras dos moinhos do palácio. Naquele tempo, as pessoas costumavam moer o trigo em imensas pedras redondas. Para movê-las, usavam bois e burros. Os animais andavam em círculo, fazendo girar as pedras. Desta forma, o trigo era transformado em farinha.

O novo decreto estipulava que deveriam ser usados os próprios judeus, e não animais, para fazer funcionar os moinhos do rei.

Havia no reino uma família judia pobre cujo chefe todo dia preparava um pouco de farinha de trigo em seu pequeno moinho doméstico. Porém, quando soube do decreto, e que teria que trabalhar no moinho do palácio, ficou muito preocupado com o destino de sua família.

"Quem irá moer a farinha para o nosso pão de cada dia?", perguntou.

Ele não podia mandar seu pai servir o rei, pois o trabalho lá era muito pesado e os funcionários do rei estavam constantemente humilhando os judeus que substituiam os animais, na moagem do trigo.

Por fim, o filho não teve saída. Decidiu pedir ao pai que moesse a farinha da família, para que ele pudesse ir ao palácio. Ele explicou a situação em voz baixa e suplicante.

O pai, embora idoso, concordou sem hesitar. Assim todo dia ele se curvava no moinho, para que a família tivesse farinha para o pão.

Quando os Sábios souberam disso, disseram: "Um filho pode alimentar o pai com frango recheado, e ainda assim ir para o Guehinom. Outro filho pode colocar o pai para trabalhar num moinho – e contudo chegar ao Gan Eden!"

       
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