Três Mitsvot

 

por Yehudit Cohen

indice
 

"Durante o crescimento, eu não me rotulava. Era apenas uma judia muito orgulhosa, não-consciente" – começa Shaina Rahmani, uma calorosa e inteligente mãe de oito filhos que mora em Brighton, Massachussets. "Creio" – continua Shaina – "que fiquei mais propensa a tornar-me observante porque nunca ouvira nenhum dos típicos preconceitos sobre judeus religiosos". Eu os respeitava.

Ao terminar o ensino médio, Shaina foi para Israel por alguns meses. Ela passou algum tempo num kibutz onde foi exposta, pela primeira vez na vida, a sentimentos anti-religiosos. "Eu jamais vira pessoas com tanta raiva de judeus religiosos" – recorda Shaina.

Quando foi visitar uma amiga que estava estudando numa yeshivá em Jerusalém, ela já tinha certeza de que os judeus religiosos eram bitolados. "Ao descer do ônibus, vi as crianças do bairro religioso onde ficava a yeshivá recolhendo pedras.

Dirigi-me rapidamente até a yeshivá e indignadamente censurei o rabino encarregado da educação das crianças por ser tão intolerante que as crianças estavam prestes a atirar pedras em mim somente porque eu não estava vestida recatadamente. Após acalmar-me, ele explicou que as crianças estavam recolhendo pedras para fazer um fogueira para Lag B'Omer… Senti-me um pouco mais segura, mas não tinha a menor idéia sobre o que seria Lag B'Omer.

O rabino convidou Shaina para passar o Shabat com a família dele. Shaina concordou, e teve uma das experiências judaicas mais significativas em sua vida. Aquilo mudou sua forma de encarar o Judaísmo. "A mulher dele era fantástica e as crianças, educadas. O rabino ficou acordado a noite toda conversando comigo e com minha amiga. Eu não podia apreciar que tinha sido judia por tanto tempo e não sabia quem eu era, o que era a Torá. Eu nada sabia sobre Avraham, Yitschac e Yaacov. Minha educação judaica até então tinha sido baseada em tradições familiares, uma falta de definição que precisava ser revista e redimensionada.

"Havia um significado no Judaísmo, algo muito mais profundo, inteligente e sensível, ao qual eu nunca fora exposta. Quando me preparei para voltar aos Estados Unidos e entrar na faculdade, eu sabia que não poderia simplesmente virar as costas àquilo tudo. Eu tinha de explorar o Judaísmo, ou rejeitá-lo. E a cada vez que queria rejeitá-lo, a imagem de minha avó vinha à minha mente.

Meus avós tinham sido exemplos vivos de Judaísmo em nossa família. Quando criança, eu sempre tinha conversas com minha avó sobre assuntos judaicos. Meu avô liderava nossos sedarim. Ele era o líder da Sociedade Funerária em Port Jervis. Imagens de meus avós mescladas a motivos judaicos flutuavam em minha mente."

Shaina planejava explorar o Judaísmo e tornar-se mais observante enquanto estudava na Universidade de Boston. Durante o primeiro semestre, ela conheceu Moshe Rahmani. "Nós nos conhecemos enquanto estávamos indo em direções diferentes com respeito à religião. Ele viera do Irã, de uma família religiosa com 12 irmãos e irmãs. Ele contou-me como o pai dele costumava sentar-se com eles nas tardes de Shabat e contar histórias da Torá e sobre grandes líderes judeus. Quando indaguei por que não usava kipá, ele respondeu: 'Por que preciso usar? É algo que está em meu coração.' Ele sabia bastante sobre o Judaísmo, que era uma profunda parte dele, mas não estava cumprindo mitsvot. Transferiu-se para a Universidade de Massachussets e seguimos caminhos diversos."

Shaina foi para Israel e estudou em Machon Alta Yeshivá na cidade mística de Safed. "Quando voltei à Universidade de Boston mudei-me para perto do Beit Chabad. Fiquei completamente imersa num padrão Lubavitch de desenvolvimento. Eu sabia que queria me casar com alguém muito religioso.

"Havia um rabino no Beit Chabad, Shmuel Klatzken, com quem eu iria explorar conceitos realmente profundos. Na verdade" – diz Shaina com uma risada – "eu costumava ir com ele até sua casa, a 45 minutos de caminhada, depois dos serviços da manhã de Shabat, apenas para poder discutir coisas com ele. Então eu andava todo o caminho de volta ao Beit Chabad para a refeição do Shabat."

Antes de se formar, Shaina retomou o contato com Moshe. "Eu sabia que Moshe ainda era a mesma pessoa que eu conhecera quando tinha dezoito anos. Ele não era ligado ao Judaísmo por intermédio do Rebe e da Chassidut. Mas eu sabia também que sua criação profundamente judaica seria uma âncora para mim. Ele crescera num lar realmente judeu. No Shabat pela manhã ele ia à sinagoga, voltava para casa e escutava histórias de Torá. Sua mãe era uma tsadeket. Cada palavra que saía de sua boca era uma bênção.

"Decidi que queria realmente casar-me com Moshe, mas ele estava hesitante. Meu coração me dizia que ele era perfeito para mim, mas minha mente me dizia que ele não era adequado. Escrevi uma carta ao Rebe, pedindo uma bênção para que nos casássemos. A resposta do Rebe chegou em alguns dias. 'Esta pessoa que você menciona, se ele prometer manter-se casher, guardar o Shabat e permitir que você cumpra Taharat Hamishpachá [leis da pureza familiar], e se ele continuar a estudar e crescer nessa direção, será um bom shiduch [parceria] e em boa hora, e me lembrarei de vocês no local de repouso de meu sogro.'

Chorei quando recebi a resposta do Rebe. Eu tinha a bênção do Rebe para desposar Moshe, se ele concordasse em cumprir aquelas três mitsvot básicas, mas eu ainda sentia que estava dizendo adeus ao Rebe, pois a criação de Moshe está profundamente enraizada na tradição sefaradita."

Depois que se casaram, Shaina organizou uma aula sobre filosofia chassídica para homens em sua casa, nas quintas-feiras à noite. "Rabi Gurkov ensinava-me, e meu marido caía no sono. Finalmente, porém, ele começou a permanecer acordado. Por meio do estudo da Chassidut, Moshê aprendeu que as mitsvot são a maneira de nos conectarmos a D’us. Aos poucos, meu marido ficou mais sensível à idéia que não basta ser culturalmente sefaradita, que as tradições não são o suficiente. É preciso haver um senso de obrigação e responsabilidade."

Shaina se maravilha ao ver como Torá e mitsvot são "naturais" para Moshe. Pouco a pouco, segundo Shaina, Moshe começou a ver que há uma imensa luz nos ensinamentos da Chassidut.
"Moshe não teve qualquer problema em gravitar para a luz, depois que ele a reconheceu. Foi uma expressão natural de sua alma. Ele viu que é realmente uma maneira linda de expressar o Judaísmo."

       
top