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Eu vim da Hungria,
um pequeno país na Europa Central. Há um antigo ditado húngaro:
"Todo mundo é húngaro."
É verdade! Se você procurar a fundo no passado de sua família,
tenho certeza de que encontrará uma avó húngara,
ou um bisavô, ou pelo menos um amigo que tem alguma conexão
com meu país. Portanto, agora que você entende que somos
realmente da "família", tenho certeza de que ficará
interessado em ouvir o que esta jovem judia húngara tem a dizer,
e como eu cheguei a Nova York vinda da Hungria.
Cresci de maneira totalmente não religiosa. Nunca observávamos
coisa alguma, nem mesmo os Grandes Feriados. Eu tinha cerca de 15 anos
quando percebi por completo que era judia. Até então, eu
tivera algum senso de ser "diferente". Eu sabia, por exemplo,
que ao final da Segunda Guerra minha mãe e o pai dela estavam na
lista negra e quase foram levados. Embora eu tivesse ouvido esta história
muitas vezes, não entendia realmente o que aquilo significava.
O Judaísmo era algo sobre o qual jamais conversávamos. Nem
mesmo hoje, minha mãe admite ser judia.
Durante anos e anos, nada tive a ver com o Judaísmo, e todo meu
conhecimento foi adquirido por meio de filmes. Há cerca de quatro
anos, senti vontade de aprender um pouco mais sobre o assunto. Porém
passaram-se mais dois anos antes que eu transformar aquele desejo em ação
concreta, e começasse a ler livros sobre o Judaísmo. O "momento
decisivo" ocorreu quando descobri que há um Beit Chabad em
Budapeste. Lá oferecem diversos tipos de aulas sobre uma variedade
de tópicos. Comecei a freqüentar as aulas de Cabalá
nas noites de terça-feira. Um mês depois, na metade de julho,
fui à Casa de Chabad para um Shabat. Era a primeira vez na minha
vida que eu assistia a um serviço e fazia a primeira refeição
de Shabat, convidada na casa de meu professor, Rabi Shlomo Sherman.
Desde o momento em que decidi ir até chegar no Beit Chabad para
o Shabat, estava muito ansiosa. Tinha este medo dentro de mim, como se
estivesse fazendo algo de errado ao ir à sinagoga, e me preocupava
com o que as pessoas diriam se soubessem que eu estava indo.
Fiquei tão empolgada que meu coração começou
a bater depressa demais, e precisei tomar um remédio para me acalmar.
Graças a D’us, este foi o único incidente negativo!
O serviço foi lindo e a refeição estava deliciosa.
Pela primeira vez, ouvi o kidush recitado sobre o vinho, lavei minhas
mãos na maneira prescrita antes de comer o pão. Lembrei-me
até de não apagar a luz no banheiro depois de usá-lo,
pois era Shabat e não se pode acender ou apagar luzes neste dia
especial.
Lenta mas firmemente, comecei a cumprir mitsvot (mandamentos). Então,
em dezembro último, Rabi Baruch Oberlander, diretor do Chabad na
Hungria, perguntou-me se eu queria ir para Nova York estudar Torá.
Pedi a meu chefe no trabalho uma licença não remunerada
de dois meses.
Embora eu tivesse Mestrado em Literatura Inglesa, estava trabalhando como
gerente de escritório.
Pensei que dois meses seriam o tempo exato para umas férias de
estudo de Torá. Porém meu chefe recusou-se a conceder este
tempo. Agora eu tinha de decidir se conservava meu emprego bem pago, ou
se me demitia e deixava tudo para trás. Enquanto tentava tomar
uma decisão, estava lendo um livro chamado Aproximando o Céu
da Terra, de Rabi Tzvi Freeman, uma coleção da sabedoria
do Rebe. Naquele livro, encontrei algo que me ajudou a decidir. "Não
há lugar para preocupação. Você tenta decidir
um curso de ação. Se você não tem a experiência
necessária para decidir, peça conselho a alguém que
tenha – pai, um professor, um especialista – alguém
de confiança, mas que esteja também consciente sobre o seu
caminho espiritual.
"Uma vez que tenha tomado a decisão sobre o caminho a seguir,
siga-o, e confie em D’us, pois está fazendo o que acredita
ser a coisa certa. Ele cuidará para que tudo corra bem."
Eu queria estudar Torá mais a fundo, e sabia que teria de deixar
meu emprego e a Hungria para poder fazê-lo. Já tomara minha
decisão e comecei a fazer os preparativos. Às vezes você
precisa se esforçar para fazer o que quer, e isso a faz questionar
se está ou não fazendo o que é certo. Porém
às vezes as coisas acontecem tão facilmente que você
sabe que tomou a decisão correta. E isso foi exatamente o que aconteceu
comigo.
Por exemplo, todos diziam que eu teria de esperar pelo menos meia hora
quando telefonasse para a Embaixada Americana, mas eles atenderam de imediato.
Disseram que eu teria de esperar duas ou três semanas por uma entrevista,
mas consegui a minha no prazo de uma semana. Eu soube também que
seria difícil conseguir o visto (uma verdade, pois cerca de 80%
das pessoas são recusadas), mas consegui o meu após uma
breve entrevista. Mais ou menos na mesma época recebi meu primeiro
cartão de crédito, portanto pude pagar minha passagem aérea.
Tudo correu tão bem que eu sabia que estava destinada a ir para
os Estados Unidos.
Durante as primeiras semanas de minha estada, eu me sentia como se estivesse
num filme. Tudo aquilo que eu vira no cinema – os semáforos,
os carros da Polícia de Nova York, táxis amarelos, etc.
– tudo aquilo era real! Tudo era tão diferente de tudo que
me era familiar na Hungria – as pessoas, as lojas, a comida. Até
o caixa automático funcionava de modo diferente. Levei quase vinte
minutos para conseguir usá-lo pela primeira vez.
Acostumei-me a Nova York e me apaixonei pelo estudo de Torá na
Escola Machon Chana. As aulas são excelentes, os professores melhores
ainda, e há muitas jovens com o mesmo desejo de aprender que eu
tenho.
Originalmente, eu estava planejando ficar nos Estados Unidos por dois
meses, mas já estou aqui por seis meses, e ainda não marquei
minha viagem de volta.
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