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"É
uma história louca" – começa Rabino Pinny Young,
ao relatar um incidente ocorrido em 1994. "Meu amigo e colega de
estudos rabínicos, Mendel Lipsker, e eu, fomos enviados como emissários
do Rebe à Ucrânia. Instalamo-nos na cidade de Krivoyrog,
e a partir dali íamos visitar judeus em toda a Ucrânia."
Poucos meses depois de Rabino Young e Lipsker chegarem a Krivoyrog, o
governo israelense enviou um grupo de jovens à Ucrânia para
encorajar as pessoas a fazerem aliyà (mudar-se para Israel). Naquela
ocasião, os estudantes rabínicos já eram bem conhecidos
na comunidade judaica. E assim, foi natural que eles ajudassem os israelenses
que desejavam organizar uma colônia de férias de inverno
com duas semanas de duração para 250 estudantes universitários
judeus de toda a Ucrânia. Além de ajudar a organizar o evento,
os jovens estudantes rabínicos eram considerados como "conselheiros
espirituais" dos jovens.
"Todos tomaram trens em toda a Ucrânia" – relembra
Pinny. "Nós nos encontramos em uma cidade e depois viajamos
juntos a um hotel com pista de esqui nos Montes Cárpatos. Decidimos
ir até a cidade para verificar os 'locais judaicos' e incorporá-los
a nosso programa. Obviamente havia um cemitério judaico, mas havia
também uma sinagoga! Esta, no entanto, não estava realmente
em uso, mas nós os levamos para lá no Shabat.
"Durante as duas semanas, engajamos muitos participantes e membros
da equipe israelense em discussões filosóficas sobre o Judaísmo,
Torá e mitsvot ", acrescenta ele.
A antiga União Soviética em 1994, e especialmente a Ucrânia,
não era aquilo que é hoje" – diz Pinny. "Certa
vez, quando pedi um táxi, terminei com uma carroça puxada
a cavalo. E a carroça em si era um pedaço surrado de madeira"
– diz ele.
"Em outra vez que pedi um táxi, desta vez um verdadeiro, pedi
ao motorista se ele poderia nos mostrar alguns pontos de interesse judaico
na área. Meu russo era bom naquela época. Portanto, fiquei
chocado quando ele me disse: 'Fale comigo em ucraniano.' Sorri para ele
e disse que não sabia falar ucraniano. O que aconteceu em seguida
foi totalmente bizarro.
"O musculoso motorista ucraniano pegou uma faca longa e afiada, ameaçando-me
com ela. 'Fale ucraniano' – disse ele maldosamente. Minha mente
disparou. Saberia eu alguma palavra em ucraniano?
"O motorista passou a faca pelo seu próprio braço,
cortando-se e fazendo o sangue correr. 'Fale ucraniano ou farei isso na
sua garganta' – disse ele ainda mais cruelmente.
"Ele falava a sério" – diz Pinny, seus olhos demonstrando
o medo que sentiu naquele dia. "Eu já estava na Ucrânia
por tempo suficiente para saber que coisas assim aconteciam, e que aquele
sujeito falava realmente a sério. Rapidamente, pesei minhas opções.
Se tentasse lutar com ele, certamente perderia. Se corresse, com certeza
ele me alcançaria.
"E de repente, aquilo brotou em minha cabeça. Eu sabia alguma
coisa em ucraniano. Eu conhecia uma canção! O Rebe tinha
ensinado uma música em ucraniano num farbrenguen (reunião
chassídica) e eu conhecia as palavras!" Pinny gesticula como
um cantor de ópera e começa a cantar com sua voz melodiosa:
"Stav yapitu…" (A canção é sobre
trabalhar a semana inteira e depois afogar as mágoas na bebida.
É uma parábola sobre a alma, que durante a semana fica envolvida
no mundo profano, mas no Shabat se envolve com a Torá, mitsvot
e santidade.)
"Aquele sujeito, o gigante valentão, achou muito engraçado.
Cantei a música novamente para ele e nos tornamos grandes amigos.
Ele nos contou tudo que queríamos saber e então insistiu,
agora que éramos grandes amigos, em tomar um drinque conosco. Ele
serviu-nos um copo grande de vodca, que fingimos beber mas na verdade
jogamos fora."
Quando eles retornaram ao grupo, ainda estavam um tanto abalados. Obviamente,
Pinny contou a todos o que tinha acontecido. "Discutimos a idéia
de hashgachá peratit, Divina Providência, e como foi providencial
que o Rebe tivesse ensinado uma canção em ucraniano e que
eu soubesse a letra." Era uma boa história para regalar os
amigos nos próximos anos, declara Pinny.
"Casei-me com Sonya, e nos mudamos para Buffalo, Nova York. Certo
dia, há cerca de um ano, eu estava visitando meus sogros que também
moram em Buffalo. Havia um hóspede que viera de Israel, Dr. Shimon
Reif, um gastroenterologista pediátrico. Ele começou a nos
contar uma história sobre um casal Lubavitcher de sua amizade que
morava em Karnei Shomron em Israel. Disse-nos que a mulher não
era originalmente observante. Porém, quando jovem ela tinha sido
enviada pelo governo israelense para dirigir programas para a juventude
na Ucrânia.
"Dois estudantes rabínicos Lubavitcher ajudaram a organizar
uma colônia de férias de inverno com seu grupo, e no decorrer
da colônia eles tiveram muitas discussões interessantes sobre
o Judaísmo. Tiveram também alguns incidentes assustadores,
incluindo um desentendimento com um motorista de táxi.
"Ao retornar a Israel, Dr. Reif continuou relatando, a moça
refletiu sobre aquelas discussões. Ela ficara impressionada com
o entusiasmo dos estudantes rabínicos, como eles se comportavam,
sua alegria ao cumprir mitsvot, sua franqueza, e decidiu que ela também
começaria a ser mais observante.
"'Sabe o nome dela?' perguntei a Dr. Reif. 'Sim, seu nome é
Bete Shayovitch' – disse-me ele. 'Sabe o nome dos estudantes rabínicos?'
perguntei novamente. 'Não' – disse-me ele.
"'Bem" – repliquei – "um deles era eu!"
Ficamos todos tão assombrados pela hashgachá peratit! Dr.
Reif anotou meu endereço e assegurou-me que o daria a Bete quando
voltasse a Israel. Pouco tempo depois, recebemos um envelope enviado por
Bete, contendo uma carta e uma fotografia dela, do marido e de seus dois
filhos."
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