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Dr.
Abraham Twerski é um famoso psiquiatra e rabino que descende de
uma longa linhagem de líderes chassídicos. Dr. Twerski fundou
e dirige um centro bem-sucedido de reabilitação para viciados
em drogas e têm escrito diversos livros populares sobre o vício
das drogas e bem-estar espiritual. Em Dias Festivos e no Shabat, ele se
recolhe ao lar, onde recebe convidados para as refeições
festivas com sua família. Durante essas refeições,
ele relata notáveis histórias chassídicas que têm
sido passadas de geração em geração –
legados da tradição oral judaica.
Durante uma refeição no Shabat, depois que Dr. Twerski tinha
relatado uma história especialmente comovente, um dos convidados
sugeriu: "Por que não reúne estas histórias
num livro? São tão tocantes, mas não consigo lembrar
os detalhes de modo a fazer-lhes justiça quando as conto para alguém."
Dr. Twerski ficou em silêncio e olhou pensativamente para o homem.
"Eu costumava dizer a mesma coisa para meu tio" – disse
após alguns instantes.
Mais tarde, naquele mesmo ano, Dr. Twerski publicou sua primeira obra
de não-ficção, intitulada "De Geração
em geração".
Em Venice, na Califórnia, Marilyn recebeu um exemplar do novo livro
de Dr. Twerski como presente de um amigo. Na casa dos trinta, Marilyn
era divorciada, e criava seu único filho, David. Ela não
tinha crescido numa família religiosa, e pouco sabia sobre Judaísmo,
sua religião. Por recomendação de uma amiga, compareceu
a algumas palestras sobre Judaísmo, e ficou tão comovida
que começou a freqüentar a sinagoga e a aprender mais. Logo,
estava incorporando algumas práticas do em sua vida, como manter-se
casher e guardar o Shabat. Marilyn era uma conferencista renomada em nutrição
esportiva, e fizera parte da equipe das Olimpíadas de Verão
em 1984. Em junho de 1986, ela foi a uma palestra que tinha agendada em
Atlantic City, e tudo correu bem até seu vôo de volta para
casa.
No itinerário, ela teve uma escala em Filadélfia, depois
uma segunda em Pittsburg, de onde pegaria o avião para Los Angeles.
O vôo de Atlantic City para Filadélfia foi sem incidentes,
e ela estava ansiosa para voltar e rever o filho David, que na semana
seguinte estaria partindo para seu primeiro acampamento. Seria a primeira
vez que eles se separariam por um período mais longo, e ela não
podia deixar de sentir-se um pouco melancólica a respeito. Acho
que meu filho está crescendo, pensou ela.
Porém assim que passou pelo portão no Aeroporto de Filadélfia,
ela ouviu pelo alto-falante: "Vôo 181 para Pittsburg sofrerá
um atraso de quinze minutos devido às condições climáticas.
Pedimos desculpas por qualquer inconveniência."
"Oh, não" – disse Marilyn. Sentiu uma ponta de
pânico lhe invadindo. Consultou o relógio. Com sorte, ela
chegaria bem a tempo de pegar seu vôo de conexão para Los
Angeles. Enquanto esperava impaciente, houve outro aviso: "O vôo
181 para Pittsburg sofrerá outro atraso de vinte minutos."
"Eles não sabem que as pessoas têm vôos de conexão
para pegar?" gritou ela.
Seu peito se apertou. Agora realmente temia perder sua conexão,
e correu ao balcão de reservas para indagar sobre outros aviões
indo para Los Angeles. Descobriu logo que não havia nenhum que
pudesse solucionar seu dilema. Como judia observante, ela não poderia
dirigir ou embarcar num avião num feriado judaico ou no Shabat;
a Lei Judaica o proíbe. Um feriado judaico de dois dias estava
para começar ao pôr-do-sol daquele dia, que era uma quarta-feira,
seguido imediatamente pelo Shabat, que não terminaria até
tarde da noite de sábado. Se ela perdesse o vôo, não
havia como chegar em casa antes da tarde de domingo. E seu filho estaria
indo para o acampamento no domingo pela manhã!
Tudo estava desmoronando. Ela ainda precisava ajudar David com a mala
– e como ela o levaria ao aeroporto no domingo? Mesmo que ele conseguisse
uma carona com um amigo, como ela poderia perder a saída dele para
sua primeira estadia fora de casa? E onde ela ficaria durante os três
próximos dias – de modo a observar adequadamente o feriado
e o Shabat? Estes pensamentos passavam pela sua cabeça até
que finalmente anunciaram que o vôo 181 estava pronto para o embarque.
Ela se corroeu durante todo o percurso de Filadélfia a Pittsburg,
esperando e rezando para conseguir chegar a tempo. Quando o avião
aterrissou e taxiou até o terminal, ela agarrou sua mochila e correu
para a saída, um tanto frenética. Correu o caminho todo
até a conexão, mas não adiantou. O vôo para
Los Angeles já tinha partido.
"Oh, não!" gritou ela, subitamente paralisada pela fúria
e frustração. Por um instante, ficou parada ali, soluçando,
sentindo profundamente a injustiça da vida.
Após alguns minutos, acalmou-se, reuniu sua coragem e telefonou
ao seu rabino em Los Angeles.
"Fique em Pittsburg para o feriado e o Shabat" – aconselhou
ele. "Nós ajudaremos com seu filho. Encontre uma família
judia para se hospedar."
Como não conhecia ninguém em Pittsburg, tentou contactar
algumas sinagogas locais. Mas com a aproximação do feriado,
os escritórios estavam fechados. Tentou algumas outras organizações
judaicas. Nada. O pânico começou a tomar conta dela novamente.
Conferiu a carteira; estava quase sem dinheiro. Jamais se sentira tão
frutrada.
Então, subitamente, o nome Abraham Twerski brotou na sua mente.
Ele morava em Pittsburg. Sim, tinha certeza disso. Ela se lembrava do
nome, na orelha do livro escrito por ele, "De Geração
em Geração". Dirige uma clínica para viciados
em drogas em Pittsburg! Preciso encontrá-lo.
Tomou um táxi até o hospital de Twerski, gastando quase
todo o dinheiro que possuía. Entrou e foi até seu escritório,
mas estava vazio. Ela lançou outro grito de desespero. Marilyn
encontrou uma das sócias do médico. "Por favor, dê-me
o telefone da casa dele" – ela pediu.
"Desculpe, mas não posso fazer isso" – respondeu
a sócia. Marilyn explicou sua situação, mas seus
modos frenéticos e nervosos apenas deixaram a sócia mais
desconfiada.
"De todas as pessoas, o Rabino poderia entender" – implorou
Marilyn. "Por favor, você precisa ajudar-me. Nem sequer me
sobrou dinheiro para um táxi."
A aflição de Marilyn era tão evidente que a moça
finalmente disse que chamaria o filho do Dr. Twerski, que também
trabalhava no hospital. Ela o chamou em casa, e ele providenciou para
Marilyn passar o feriado e o Shabat com uma família perto da residência
de Twerski. O filho do Dr. Twerski logo chegou ao hospital, e levou Marilyn
à casa do vizinho. Ela quase não podia conter sua gratidão
e alívio.
Quando ele a deixou lá, desejou-lhe um alegre feriado.
"E para você também, feliz feriado" – replicou
Marilyn, "E mais uma vez, obrigada!"
A anfitriã de Marilyn cumprimentou-a calorosamente à porta,
cercada pelo aroma convidativo de chalot recém-assadas. "Estamos
felizes por tê-la conosco" – disse ela. "Venha,
deixe-me mostrar-lhe o seu quarto." Acompanhou Marilyn escada acima
e deixou-a sozinha. Aliviada, mas ainda inquieta por causa do filho, Marilyn
ligou imediatamente para uma amiga em Venice para certificar-se de que
ele estava sendo bem cuidado e de que chegaria ao aeroporto a tempo. Ligou
então para David e explicou o que tinha acontecido. Ela ocultou
seu próprio desapontamento, assegurando a si mesma que o filho
estava em boas mãos.
Então caiu na cama, exausta e faminta, e começou a relaxar
pela primeira vez em horas. Repassou os cansativos acontecimentos do dia
em sua mente. Refrescou-se e desceu. A casa estava repleta do espírito
do dia festivo, e os cumprimentos e o cheiro delicioso que vinha da cozinha
eram intoxicantes. Acendeu velas com as outras mulheres na sala de jantar
enquanto esperavam os homens voltarem das preces na sinagoga.
Os homens chegaram com grande alarido e efusivos cumprimentos, e a família
colocou Marilyn no lugar de honra para o jantar. A atmosfera calorosa
e as alegres canções arrebataram Marilyn e elevaram seu
espírito de uma maneira que ela não tinha esperado –
criando dentro dela um sentimento de receptividade a tudo que o destino
tivesse para lhe oferecer. Quando se recolheu para dormir aquela noite,
teve um sono calmo e profundo.
No dia seguinte, estava combinado que Marilyn almoçaria na casa
dos Twerski, ali perto. Após ouvir os infortúnios de Marilyn
na noite anterior, a Sra. Twerski disse: "Deve haver um motivo para
tudo isso."
No almoço, Marilyn sentiu a magia da noite anterior voltando. Do
outro lado da mesa, diversos homens estavam engajados em conversas variadas,
e um deles, Steven, começou a chamar sua atenção.
Ele tinha olhos claros e amigáveis, um jeito caloroso, e demonstrava
uma admirável convicção de suas crenças. Era
também engraçado. Várias vezes, Marilyn riu de seus
comentários de improviso, e à medida que a refeição
progredia, ela sentiu que as observações eram dirigidas
especialmente para ela.
Ao final do almoço, Steven ofereceu-se para caminhar com Marilyn
até a casa onde ela se hospedava. Andaram lentamente, conversando
à vontade. Não demorou muito para Marilyn sentir que o conhecia
a vida toda. Ficou desapontada quando chegaram, procurando por alguma
desculpa para continuar a conversa. Durante o restante do dia, tudo que
conseguia pensar era Steven.
Na manhã seguinte, ela perguntou à anfitriã onde
Steven estaria almoçando depois do serviço matinal na sinagoga.
Marilyn arranjou para almoçar no mesmo lugar. Porém quando
chegou a hora do almoço, Steven não apareceu. Oh, como pude
me enganar assim? pensou Marilyn. Seria eu a única a sentir a conexão?
Ela pensou que talvez o vinho e as canções da noite anterior
a tivessem iludido, e não pôde deixar de sentir-se desapontada.
Na noite de sábado, Marilyn empacotou suas coisas para a viagem
de volta para casa na manhã seguinte. O telefone tocou. Era Steven.
"Olá. Gostei tanto de conversar com você" –
disse ele.
O coração de Marilyn deu um salto. "Eu também."
"Eu mudei meus planos para o almoço e no dia seguinte àquele
fui ao local onde você está hospedada, para almoçarmos
juntos. Mas creio que você foi a algum outro lugar." Marilyn
sorriu, mas decidiu não dizer nada.
"Você parte amanhã?" perguntou ele.
"Sim, logo cedo."
"Gostaria de sair para tomar alguma coisa hoje à noite?"
"Sim" – disse Marilyn – "gostaria."
Naquela noite eles saíram, e sentiram uma conexão tão
forte quanto a do outro dia no almoço. No
dia seguinte, ele levou-a até o aeroporto.
Quando Marilyn chegou em casa, estava justamente tirando a chave na fechadura
quando o telefone tocou. Era Steven.
"Fez uma boa viagem?" perguntou ele.
"Sim. Acabo de entrar."
Ele não perdeu tempo com rodeios. "Gostaria de ir a Los Angeles
para te ver."
Na semana seguinte, Steven foi a Los Angeles e, não muito depois,
Marilyn visitou-o em Pittsburg. Cinco semanas depois, nenhum deles tinha
dúvidas sobre os sentimentos que um nutria pelo outro, e ficaram
noivos. Depois de casados, estabeleceram-se em Pittsburg, não muito
longe dos
Twerski, e hoje têm quatro filhos. Porém seu encontro predestinado
foi colocado em movimento muito antes que a neblina fizesse o vôo
de Marilyn se atrasar.
Quem era o jovem cavalheiro que sugeriu educadamente que o Dr. Twerski
eternizasse seus contos chassídicos num livro? Aquele cavalheiro
era Steven.
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