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Criação do mundo: 5766 anos

  por Tzvi Freeman
 

Se você encontrar alguém na rua e quiser determinar a idade dessa pessoa, tem duas opções. Poderia examinar as provas circunstanciais, ou poderia perguntar a esta pessoa: "Com licença, qual a sua idade?"

Comecemos com o primeiro método e façamos isso sistematicamente. Temos provas esmagadoras de que o universo atualmente está em expansão. Tudo que precisamos fazer é medir a velocidade da expansão atual, seu tamanho e sua massa total, e podemos voltar a quando o universo deve ter começado. O resultado? A estimativa atual é de quinze bilhões de anos.

Facílimo, não é? Bem, nem tanto. Veja você, estamos perdendo um passo importante – exatamente o primeiro. Podemos rastrear nosso universo até o ponto inicial, um único globo prestes a explodir. Mas o que o fez explodir? Como ele chegou lá? O que veio antes?

Portanto, agora temos de rastrear alguma coisa até o nada. Isso não é tão simples. Se quisermos fazê-lo integralmente, precisaremos reconstruir vários graus do nada e algo nesse ínterim, e descrever de que maneira um evoluiu até o outro. Todas aquelas coisas que nossos instrumentos
científicos não podem medir – a ciência lida apenas com coisas que são alguma coisa. A ciência se perde ao discutir algo antes que este se tornasse alguma coisa. Para ser mais técnico, a ciência pode discutir causalidades temporais, mas não as ontológicas (i.e., que estuda as propriedades) Isso significa que se você fizer a pergunta "Como nosso universo veio a existir?" a um cientista, poderia da mesma forma fazê-la a um contador, artista ou corretor de imóveis. Por outro lado, os cabalistas lidam exatamente com aquilo: Uma hierarquia de ser, começando com a Fonte Suprema que transcende todo o sistema de ser e não ser, e seguindo por uma cadeia sistemática e interligada (a evolução) de universos múltiplos que terminam em nosso mundo físico, de base rochosa. Mas nada disso está dentro do domínio das ciências físicas, que confiam em medidas precisas dos fenômenos ou seus efeitos.

Ao contrário, como escreveu o Lubavitcher Rebe ao Rabino Dr. Herzog em 1956 (1), o que se
segue é uma tradução livre do hebraico: "Segundo as conclusões da ciência contemporânea, a aniquilação do nada – retornar ao nada, ou o oposto, a criação de alguma coisa a partir do nada – são impossibilidades dentro da lei natural. E além disso, a criação ex-nihilo, sob uma perspectiva científica, é mais implausível que ter um ser humano sendo criado a partir do barro inanimado, sem nenhum estágio intermediário."

Agora demos um nó nestas obras. Como pode a ciência dizer há quanto tempo o mundo existe, quando não consegue descrever – ou sequer permitir a possibilidade de descrição – dos processos pelos quais o mundo veio a existir?

Nascimento Cósmico

Para fazer uma analogia, examinemos um alienígena para determinar sua idade. Eu anuncio a este ser amigável e cooperativo que segundo meus cálculos, ele nasceu há 108 anos, ao que ele responde: "Quem disse que eu nasci?" Este é um bom argumento.

Talvez nosso amigo tenha tomado forma gradualmente, passando por um período quando não estava nem vivo nem inanimado. Se isso ocorreu, como determinamos o ponto para começar a contagem de sua idade? Ou talvez ele existisse inicialmente como um ser etéreo, e somente ontem materializou-se como um alienígena completamente adulto.

Se você acha que isso o coloca em desvantagem, imagine se virássemos a mesa e perguntássemos ao alienígena para calcular nossa idade. Ele faria um exame completo em nós e nosso ambiente e determinaria que, dadas as forças cosmológicas conhecidas pela sua civilização, e devido à composição química e energética de nosso planeta, para desenvolver um bio-sistema tão complexo a partir da terra, levaria cerca de 2 milhões e meio de anos. A isso respondemos que nós humanos na verdade já nascemos com os membros e órgãos no lugar certo.

Não se surpreenda se ele rejeitar completamente esta noção como absurda. Até mesmo um terráqueo, Maimônides, apresentou 43 razões pelas quais nascer vivo é racionalmente impossível.
Se você já esteve numa sala de partos, sabe o que ele quer dizer: num momento, uma pessoa nova, completa, aparece no planeta Terra. Isso não parece, bem, normal.

Mesmo assim, em nossa biosfera, o nascimento é a forma padrão de origem. As coisas tendem a entrar em cena completamente montadas. Talvez o alienígena não soubesse disso. Mas o ser humano não tem desculpa para deixar de integrar este fenômeno em sua intuição. Em vez disso, insistimos em especulações que simplificam muito o cosmos em padrões evolucionários ordenados, graduais num plano de existência único e horizontal.

É exatamente isso que estamos fazendo aqui: quando voltamos no tempo até a origem do universo como um único globo e somente então fazemos a pergunta: "Ora, como isso veio parar aqui?" estamos arbitrariamente quebrando uma resposta única em duas etapas. Estamos dizendo: Primeiro ele veio a existir. Depois evoluiu até seu presente estado. Talvez o processo tenha sido partilhado em múltiplos estados de ser, por isso os processos ocorreram em níveis variados?

Uma analogia simples da geometria: Desenhe um quadrado. Agora faça uma trilha do canto superior direito daquele quadrado até o canto inferior esquerdo. Você foi primeiro ao canto inferior direito, e depois ao esquerdo? Ou fez uma diagonal reta até sua meta?

Assim, também, há duas coordenadas:

  • O processo que levou ao projeto e formato de nosso cosmos.
  • A transição ontológica do nada para alguma coisa.


Talvez eles tenham ocorrido simultaneamente, na seqüência. Ou talvez não. Este é exatamente o ponto; não temos como saber.

Mas a resposta é crucial à nossa busca, porque há um outro fator desconhecido: Como o tempo se comporta num estado de ser mais elevado? Quando forma e substância estão mais frouxamente definidas – como seriam num estado pré-material – a causa e efeito podem ocorrer num curto período de tempo? Na verdade, faz algum sentido sequer falar sobre tempo nestes estágios?

O Útero de D'us

Antes que você se sinta completamente perdido, deixe-me dizer que na verdade, temos algum ponto de referência. Pela forma na qual D'us criou céu e terra – o macrocosmo, assim Ele fez Adam – o microcosmo. O ser humano inclui processos que combinam com todos os níveis da hierarquia ontológica acima mencionada. Nós não realizamos simplesmente tarefas materiais, nós falamos sobre elas, pensamos a respeito delas, temos sentimentos para com elas, imaginamos como estas tarefas serão em algum lugar de nossa consciência ou pré-consciência, e – até mesmo antes de qualquer destes – começamos com um simples desejo para que algo seja.
Portanto, ao examinarmos aqueles processos dentro do microcosmo de nossa própria psique, temos uma idéia de como tudo isso funciona no grande macrocosmo.

E dito e feito, uma descoberta espera por nós: quanto mais alto subimos na hierarquia, mais depressa estes processos ocorrem. Aquilo que leva anos para realizar demora apenas horas para descrever, minutos para sonhar, e uma fração de um relâmpago para desejar e conceber.

Se o cosmos foi concebido e incubado no útero da mente Divina, em qual estágio nasceu na massa contínua que medimos com nossos sentidos físicos? É concebível que processos geológicos, químicos e orgânicos que levariam bilhões de anos em nosso reino possam ocorrer dentro do equivalente a horas ou minutos, ou até nano-segundos – ou talvez em zero tempo – quando ocorre num estado de ser mais elevado ou que não é contado a partir de nossa perspectiva?

Tomemos os oceanos como exemplo. A narrativa em Bereshit começa a discutir a concepção do Criador de um único oceano, e conclui com Sua real criação de múltiplos oceanos. Poderia o afastamento continental ter ocorrido dentro do período de gestação, entre a concepção e o nascimento – dessa maneira separando o grande oceano? Se assim for, muitas dúvidas estariam respondidas: o afastamento continental requer enormes gastos de energia que deveriam derreter a terra em pouco tempo (2). Talvez num âmbito ontológico o processo pudesse ocorrer não-destrutivamente, bem como extremamente rápido.

E quanto à origem da vida? O Ramban (Nachmânides, erudito judeu do 14º século) entende o Gênesis como afirmando que a água, por meio de seu movimento, metamorfoseou-se nas criaturas do mar. Esta, então, é uma descrição de um tipo de processo evolutivo. Não é apenas D'us dizendo peixe, e os peixes estão lá. D’us direciona um elemento natural para tornar-se peixe, assim como Ele direciona a terra a fazer brotar a vegetação. Porém isso ocorre rapidamente e com direção deliberada. A origem da vida a partir de produtos químicos inanimados permanece um enigma ardiloso para os biólogos – é estatisticamente impossível ter ocorrido por acaso. Esta síntese poderia ter ocorrido, como afirmamos, no útero da mente criativa de D’us, num plano mais elevado do ser?

É interessante notar que a Cabalá também descreve um processo incremental de formação – embora em termos muito além da mecânica bruta do evolucionismo materialista. Ao invés de organismos físicos transformando-se em formas mais e mais complexas, o antigo Livro da Formação descreve as letras que formam as palavras da narrativa da Criação passando por uma (quase) interminável série de permutações para recombinar e gerar todos os detalhes de todos os exemplos do cosmos.

O processo tem sido comparado ao funcionamento da mente humana: a mente começa com a simples semente de uma idéia. Depois, em estágios graduais, gera diversos conjuntos de corolários, analogias e aplicações, cada qual com seu conjunto específico de palavras pelas quais a mente articula estas idéias para si mesma e para os outros. Certamente, este paradigma fornece uma alternativa coerente ao darwinismo para explicar a aparente filogenia das espécies.

Há muito tempo, os cientistas presumiram que tinham a chave para o conhecimento absoluto. Os últimos 150 anos nos levaram ao conhecimento de que não existe tal coisa no âmbito do padrão humano da percepção e razão. Quando se trata de fatos no mundo real, podemos dar alguns tiros certeiros na verdade. Quando se trata de questões sobre o futuro, podemos fazer especulações limitadas. Quando se trata de conhecer a origem das coisas, o materialistmo empírico está completamente fora de seu domínio.(3) Talvez atualmente estejamos prontos a reconhecer um lugar para a visão interior do profeta e do místico.

A Resposta Alternativa

Como dissemos anteriormente, há um outro método para determinar a idade, além da hipótese e da especulação. Se o sujeito é um ser consciente, podemos perguntar-lhe: "Com licença, por acaso sabe a sua idade?"

No caso do cosmos, já perguntamos. Evidentemente, alguns chamariam isso de especulação, ou até "imaginação primitiva". Mas então, pergunto-me como os cientistas daqui a cem anos chamarão as especulações dos atuais cosmologistas? Quanto a mim, minha compreensão da Torá é que ela não é uma voz humana, mas a voz da própria essência do cosmos.
Então perguntamos.

A resposta na data desta resposta é 5766 anos de idade (4).


Notas:
1 – Vale a pena ler a carta na íntegra. Foi publicada em Ma Rabbu Maasecha, página 262, e em Igrot Kodesh, vol. 13, página 143.
Para ser sincero, a inequívoca rejeição do Rebe a qualquer associação entre o darwinismo e o Gêneses sempre me intrigou. Muitos teólogos estiveram dispostos a ansiosos a "reinterpretar algumas linhas da Torá para ceder espaço aos cientistas, ao passo que a comunidade científica é quase universalmente intolerante com aqueles que saem da linha do Sagrado Darwinismo. Teria sido mais conveniente para o Rebe concordar com os cientistas e assim agradar a ambos os lados. Mas então li um ensaio de um importante cientista americano, Prof. Wolfgang Smith (Cosmos, Bios, Theos, pág. 115, ed. Margenau e Varghese, Open Court, Chicago, 1992). Vale a pena ler o ensaio em sua totalidade (bem como o livro), e admito ter emprestado parte de sua terminologia neste ensaio. Para citar um parágrafo sucinto:
No fundo, o evolucionismo é a negação da transcendência, a tentativa desesperada de entender a vida no plano horizontal de suas manifestações. Por outro lado, a religião está forçosamente preocupada com a transcendência e a dimensão vertical, na qual somente o re-ligare ou reconectar, pode ser efetuado. A suposta fusão, portanto, daquelas doutrinas opostas constitui um dos acontecimentos mais bizarros nestes tempos já confusos e desconcertantes.
2 – Veja Cook, Melvin A. 1966. Modelos Pré-históricos da terra, Max Parrish, Londres. Citado em Milton (veja abaixo), pág. 63
3 – Como um adendo, para demonstrar os riscos da extrapolação antecedente, aqui está uma tabela de tempo geocronométrica que indica uma idade muito menor do planeta Terra do que aquela utilizada pelos biólogos e geólogos. Uma descrição desses indicadores, juntamente com a tabela abaixo, pode ser encontrada em outro livro recomendado, Os Fatos da Vida, por Richard Milton. Grande parte do material pode ser encontrado na ediçnao revisada, Abalando os Mitos do Darwinismo.


Método  Idade indicada da Terra

Hélio radiogênico na atmosfera – Menos de 175.000 anos
Efeito Poynting-Robertson – Menos de 100.000 anos
Persistência da poeira interplanetária – Menos de 100.000 anos
Não-equilíbrio do carbono – 14 Menos de 30.000 anos
Persistência de cometas de curta duração – Menos de 10.000 anos
Decadência do campo magnético – Menos de 10.000 anos
Níquel dissolvido nos oceanos – Menos de 9.000 anos
Poeira meteórica na atmosfera – Origem recente da Terra
Afastamento continental (ruptura da capa de gelo) – Origem recente da vida

4 – Esta idade está de acordo com a antiga tradição judaica, e pode ser calculada compilando-se as cronologias escritas na Torá.


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