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Alguns anos atrás,
pouco antes de Rosh Hashaná, fui de táxi para minha casa,
em Crown Heights. Ao chegar, percebi que tinha esquecido minha pasta no
táxi. Localizar um determinado táxi em Nova York é
como tentar encontrar uma agulha num palheiro. Mesmo assim, tentei. Nela
estavam livros judaicos preciosos e papéis importantes fundamentais
para meu trabalho como educador. Mas de nada adiantou e desisti.
Para minha surpresa, poucos dias depois, um homem chamado Sam me telefonou
dizendo que estava com minha pasta, e que eu poderia ir buscá-la
em outra parte do Brooklyn. Ao que parece, um irlandês que pegara
aquele táxi depois de mim a encontrara. Quando o motorista lhe
disse que não se daria ao trabalho de procurar o dono e a jogaria
no lixo, o irlandês teve consideração e a levou consigo.
Ao procurar sinais de identificação, viu livros com letras
hebraicas e resolveu entregá-la ao único judeu que conhecia,
aquele Sam, que se deu ao trabalho de me localizar.
Quando fui pegar a pasta, Sam e eu começamos um papo sobre Crown
Heights, que ele se lembrava de sua infância, quando ia visitar
parentes que moravam lá. Uma coisa levou a outra, começamos
a conversar sobre os chassidim Chabad-Lubavitch que moram lá atualmente
e Sam falou que tinha uma filha que estava um pouco interessada em judaísmo.
Eu lhe disse que ficaria feliz em recebê-la para passar um Shabat
conosco, agradeci-lhe novamente por sua gentileza em me devolver a pasta
e fui embora.
Naquela época, a campanha do Rebe pelo acendimento das velas de
Shabat estava ganhando força e tinha como objetivo trazer mais
luz espiritual (e física) para o mundo por meio das velas de Shabat
de cada mulher e cada menina judia. Com isso em mente, voltei a procurar
Sam armado com um castiçal e uma mezuzá. Expliquei-lhe nosso
objetivo e nossas preocupações e mais uma vez lhe disse
que sua filha estava convidada a passar um Shabat com minha família.
Mas só tive notícias dela quando recebi a carta abaixo,
poucos meses atrás:
“Meu nome é Sara G. Sou a filha do homem que lhe devolveu
uma pasta que tinha sido encontrada num táxi há uns três
anos e meio. Quando ele lhe contou sobre meu interesse crescente em judaísmo,
o senhor lhe deu uma mezuzá e um kit de acendimento das velas para
mim, e disse que esperava que eu os utilizasse para trazer um pouco mais
de luz para este mundo sombrio.
“Comecei a acender velas de Shabat e afixei a mezuzá na porta
do meu quarto, onde ela está até hoje. Acender velas de
Shabat foi apenas o começo, para mim, pois me fez querer entender
o que estava por trás dessa mitsvá, a santidade que passei
a amar.
“Cerca de um ano depois de o senhor me ter dado o castiçal
e a mezuzá, eu aprendera o suficiente para começar a comer
kasher. Foi difícil, mas persisti e desde então só
como kasher.
“Quando fui para a universidade, estudei hebraico e comecei a freqüentar
aulas de Torá uma vez por semana com mais algumas pessoas. Essas
aulas me fizeram querer aprender mais ainda, por isso resolvi ir para
o Beis Chana Institute em Minnesota neste verão, para estudar.
Embora eu esteja indo sozinha, estou esperando ansiosamente a experiência,
pois sei que quando chegar lá não vou estar sozinha, pois
lá há muitas outras moças e mulheres com muito pouca
experiência religiosa. Acho que vai me fortalecer e me ajudar a
resolver meu caminho futuro, mais estudo universitário ou mais
estudos judaicos.
“Tenho pensado no senhor, e me arrependo de não ter aceito
seu convite para Shabat. Acho que ainda não estava preparada. Tinha
que aprender sozinha.
“Sei que muito tempo se passou desde que o senhor me deu o castiçal
e desde então o senhor deve ter distribuído tantos outros,
que pode ser que nem se lembre mais que deu um para meu pai me dar. Mas
eu queria que o senhor soubesse o que ele fez por mim. Uma mitsvá
é eterna, nunca é tarde demais para aprender. E eu não
queria que o passar do tempo me impedisse de lhe dizer que o senhor fez
uma grande mitsvá.
Shalom,
Sara”
Há uma continuação a essa carta. Quando Sara voltou
de Minnesota ficou um tempo em casa com sua família e depois mudou-se
para Crown Heights. Sua mãe ficou tão inspirada por tudo
que Sara aprendeu que resolveu começar a estudar Torá, aos
domingos, no Machon Chana.
A força de uma vela de Shabat ou, na verdade, de qualquer mitsvá,
é realmente grandiosa. |